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História Corte de Luz e Sangue - A Emissária


Escrita por: CeriseBordeaux

Notas do Autor


Bom dia, queridos leitores! Espero que sua semana esteja sendo proveitosa e que tudo esteja correndo bem em suas vidas!

Esse é um dos meus capítulos prediletos até agora, então torço para que vocês também gostem dele. Muito obrigada por todo o carinho e apoio, por todos os comentários, favoritos e compartilhamentos, fico muito feliz que estejam gostando de CdLeS.

Enfim, sem mais delongas, fiquem com o sétimo capítulo.

Com carinho,

—Cherry🍒

Capítulo 7 - A Emissária


Fanfic / Fanfiction Corte de Luz e Sangue - A Emissária

A tempestade já começara quando pus os pés em Rosehall. Meu corpo inteiro doía e minha cabeça girava, sem falar das minhas mãos que volta e meia sofriam com espasmos desde que eu deixara a gruta. Para piorar, minhas sapatilhas se encontravam em um estado tão deplorável que era melhor andar descalça. 

Tomei o cadeado dourado em minhas mãos e tive dificuldades para abri-lo por culpa de meus dedos — tão rígidos que poderiam se partir com qualquer movimento brusco. Quando, por fim, consegui abri-lo, empurrei o portão com o pouco de força que me restava e pulei para dentro da propriedade, fechando-o atrás de mim. Tranquei o cadeado, olhos apertados por conta das gotas de chuva. 

Suspirei, cansada. Finalmente estava segura.

Atravessei o jardim da frente sabe-se lá como, minha mente ainda revivendo o medo da caverna. Nunca ouvira falar sobre uma toca de nagas; normalmente elas apenas vagavam pelas florestas, às vezes montavam “acampamentos” em topos de montanhas, mas uma toca? Era surreal. Era pavoroso.

Trovões retumbavam e relâmpagos iluminavam o céu, mas era a terra molhada sob meus pés nus que me ancorava ao agora. Estava viva. Estava segura. 

Mas as pessoas lá fora não podiam dizer o mesmo.

Meu peito se apertou com o pensamento. Quantos não se aventuravam pelas estradas antigas, ainda mais perigosas que a floresta, para arrumar comida? Quantos não se enfiaram naquela exata caverna para nunca mais voltar?

A Corte Primaveril não estava só repleta de morte. Estava amaldiçoada com ela. 

Pingando, caminhei pelo corredor da entrada até chegar ao ponto onde se encontrava minha bolsa. Larguei a adaga, um ruído alto ecoando pelo ambiente. Não que me importasse. Comecei a revirar tudo dentro de minha bolsa, procurando o mapa que trouxera comigo para me auxiliar na viagem.

— Ophelia? — Tamlin indagou, voz rouca e sonolenta. — Está tudo bem?

— Sim — falei, ríspida.

    Fui até a mesa de centro, abrindo o rolo de papel enquanto me ajoelhava sobre o tapete. Certo. Rosehall se localizava ao norte da floresta e era banhada por alguns riachos oriundos das montanhas a este-sudeste, então, considerando que provavelmente algum rio ou riacho passava pela região da caverna, onde ela ficava?

    O olhar de Tamlin ainda pesava sobre minha pele. Estava me desconcentrando. 

    Ergui o rosto, encarando-o com irritação. Sua feição estava contorcida em confusão conforme ele absorvia meu estado. 

— O que é?

— Você está molhada!

— Ótima observação, agora volte a dormir — mandei, voltando a estudar o mapa. Algumas gotas de água molhavam-no, manchando nomes e desenhos. — Merda, será que nada hoje vai—

    Dedos calejados agarraram meu queixo, me forçando a levantá-lo. Olhos verdes me avaliavam sob longos e espessos cílios, sobrancelhas franzidas e lábios apertados em uma linha fina. 

— Para onde foi? — empurrei sua mão para longe.

— Está tudo bem, Tamlin, vá se deitar. 

— Você está fedendo a medo — ele acrescentou —, o que aconteceu?

    Por um instante, eu não disse nada. Eu ainda conseguia sentir o cheiro podre da caverna, a textura nojenta do ovo de naga sob meus dedos, a escuridão me tragando… Só notei estar apertando a mesa quando a madeira estalou alto, quebrada.

    Tamlin ofegou, e eu me encolhi. Me afastei do móvel no mesmo instante e nos entreolhamos em choque. 

— Eu… Me desculpe. — minha voz falhou.

    Em resposta, ele apenas suspirou. — Está tudo bem, nunca gostei dessa mesa mesmo. Se machucou? 

— N-não sei — murmurei, subitamente sentindo-me sufocada.

     Ele tomou minha mão trêmula nas suas, avaliando-a, limpando-a do excesso de madeira residual. 

— Nada de sangue, não precisará do unguento — comentou com um riso seco.

Então subiu o olhar mais uma vez. 

Devagar. Muito devagar. 

Deteve-se em meu pescoço por algum tempo, um brilho estranho passando por seus olhos. Não, não no meu pescoço. No muco verde que se prendia ao decote da camisola.

Fiz uma careta. Era por isso que o fedor parecia agarrado a mim. Devia ter caído quando levantei o ovo na caverna. Era nojento. 

Cutuquei o muco, contudo ele continuou grudado ao linho. Bufei.

Tamlin pigarreou, virando o rosto e soltando minha outra mão.

— Está gelada. Melhor eu arrumar uma roupa seca para você. — balbuciou, se levantando.

— Eu posso ir, não precisa—

Não! — exclamou de imediato, olhos arregalados conforme se virava para as escadas. — Não, eu… Você não vai saber onde está, deixa que eu pego. — ele gesticulou em minha direção. — Não saia daí!

Seus passos apressados pelas escadas aos poucos se tornaram mais e mais fracos até sumirem. Esquisitos. Machos eram extremamente esquisitos. Não podiam ver uma coisa nojenta que já começavam a passar mal.

Revirei os olhos. 

Fracote.

Enquanto esperava, voltei ao mapa. As montanhas de este-sudeste originavam dois rios, mas nenhum deles passava pelo centro-oeste da floresta. Olhei para o outro lado. As nascentes do noroeste também não passavam por aquela região em específico. Nenhum corpo d’água aparecia, e também não havia indícios de uma caverna ou gruta sobre o desenho; era como se não houvesse nada ali. 

Passei as mãos pelo rosto, bufando alto.

— O que tanto quer com esse mapa? — Tamlin perguntou ao surgir na sala. Suas bochechas estavam coradas e um pouco de suor se acumulava sobre sua pele. Um cheiro diferente emanava dele, mas não pude identificar o que era.

— Estou procurando um rio — expliquei, correndo os dedos sobre o papel.

— Existem vários deles aí, não?

— Não o que eu quero. Ele passa por cima de uma caverna.

    Ele colocou a muda de roupa ao meu lado e murmurei um agradecimento.

— Caverna? 

    Coloquei meus cachos para trás, tirando-os da frente do meu rosto para enxergar melhor. As gotas de chuva ainda rolavam por minha pele, e me incomodavam profundamente. Odiava ficar molhada no frio. — Olha, vai ficar difícil conversar com você se tudo o que eu disser for repetido. Parece que está virando um papagaio!

    Tamlin revirou os olhos. — Que infantil.

— Claro, olha a sua idade e olha a minha!

— Será que você pode falar de uma vez onde fica essa droga de caverna?

— Fica a oeste daqui. Mais ou menos perto de um carvalho velho…

    Seu rosto empalideceu, a postura rígida. 

    Inclinei o rosto para o lado, encarando-o com preocupação. 

— Tudo bem?

    Ele abriu a boca, mas tornou a fechá-la. Sua mão correu pela superfície enrugada do papel, rápida e precisa, e então parou entre dois montes. Seu indicador repousava sobre um corredor fino, cercado de árvores.

— Vereda das Heras. É onde o carvalho fica.

— Então a caverna deve estar aqui em algum ponto… — murmurei comigo mesma.

— Seja lá o que pretende fazer, esqueça. — falou, firme. — Lá não é seguro.

— O quê?

— As criaturas rondam por ali. Ir até lá não… Não é sábio. 

    Dei uma risada. — Tarde demais para me avisar.

— Como é?

— Eu ouvi barulhos lá fora, então fui à floresta. — contei. 

— Você está maluca?! — massageei a ponte do nariz. 

— Pare de escândalo, vai acabar piorando minha enxaqueca! 

— É noite e você estava só, poderia ter morrido lá!

O aroma de canela e lenha queimada se apossou de meus sentidos. Toquei meu pulso. Podia sentir o calor se espalhando por minha pele, como se ele ainda estivesse sendo apertado.

— Estou viva, não estou? — retorqui, omitindo a parte de que havia sido salva por um desconhecido. 

    Ele me encarou, inexpressivo. — Você é louca.

    Dei de ombros.

— Talvez, mas se eu não tivesse saído, muito provavelmente ainda estaria no escuro a respeito do que está acontecendo.

— Do que está falando?

— Tem uma toca de naga nesse lugar! Eu sei que elas não costumam fazer isso — argumentei, agitada. —, mas, Tamlin, eu vi. Ninguém me falou. Eu vi! É uma toca! — apontei para a gosma verde na camisola. — Está vendo isso? É por culpa de um dos ovos de naga que encontrei lá, tem centenas deles em diversos estágios de desenvolvimento.  E você pode até não me levar a sério, mas… 

— Eu acredito em você.

Parei. 

Pisquei uma, duas, três vezes. 

— O que disse?

— Que acredito em você. 

— Confesso que não estava esperando isso…

— Eu não poderia fingir o contrário, não depois…

— Depois do quê?

Ele suspirou. — Antes de você aparecer em Rosehall, eu não estava usando essa forma. A fera era quem estava no controle desde… — sua voz falhou. 

— Feyre. 

    Com relutância, assentiu. 

— Desde então, abandonei a mansão. Passei a viver lá fora, sobrevivendo do que encontrava feito um animal. Eu não lembro de nada desses últimos anos, salve por poucos momentos. — seu rosto estava virado para a lareira, ainda acesa. A voz pingava de amargor, de pesar. — Mas eu me lembro de uma noite específica. Chuvosa como essa. Lembro que senti uma presença estranha me acompanhando enquanto corria, mas estava tão cansado, tão fora de mim que achei ser coisa da minha cabeça.

— E o que aconteceu?

— Eu fui atacado. — disse, perdido em seus próprios pensamentos. — Eu só consigo lembrar da dor e das presas, e do sangue escorrendo pelo meu corpo. E de repente, eu vi. Era uma naga, mas não como as que encontrei antes. Não, ela era… Era muito mais animalesca, muito mais feroz. Não faço a mínima ideia de como conseguir escapar. — ele deu uma risada amargurada. — Talvez tenha sido o desespero, mas a única coisa que eu conseguia pensar era em vir para cá. Para casa. Em sentir o cheiro dela uma última vez.

— Foi quando eu te encontrei.

    Tamlin assentiu. — Eu lembro vagamente de sentir seu cheiro. E de pensar que não era o dela. 

— Você esperava morrer.

— Eu queria morrer. 

— E ainda quer?

    Ele deu de ombros. — Não importa. Eu não posso, de qualquer forma. Não sem causar mais prejuízos à Corte.

    Assenti.

— Sem contar na crise de sucessão — completei. 

— Pois é…

     Silêncio se instaurou entre nós. Desconfortável. Tenso. 

— Onde a encontrou? A naga, quero dizer.

— Perto do carvalho. — ele se virou para mim. — Foi por isso que você estava cheirando a medo, não? Você encontrou uma também.

— Eu me escondi a tempo de não ser percebida. 

    Seus lábios se curvaram em um sorriso de canto. — Pensei que fosse corajosa. Pelo menos era o que parecia, pela forma que falou comigo na biblioteca.

— Sou corajosa, não suicida, meu senhor. 

— Fez bem em não bancar a heroína. Seria uma pena perder minha nova emissária tão cedo.

    Arqueei uma sobrancelha. — Emissária?

— Não gostou?

— Não é isso, só… Eu pensei que já tivesse um.

— Se não quer o cargo, é só falar. — replicou. — Eu o darei a quem queira.

    Revirei os olhos. — Como quem? Que eu saiba sou a única disponível para isso!

— Ainda há Lady Hortelã! Que ofensa esquecê-la!

    Sorri. — Penso que acabará se arrependendo de sua escolha, meu senhor. Ela é conhecida por ser muito exigente, especialmente quando se trata de pagamentos e presentes.

— Como todas as outras fêmeas.

— Bom ponto. Infelizmente, receio que não a terá ocupando essa posição.

— Ah, e por quê?

— Porque eu aceito. 

— Graças à Mãe. Detestaria ter que explicar porque Lucien foi substituído por uma égua! 

— E eu estou quase ofendida por competir pela posição com minha própria montaria! — confessei, bocejando. — Agora preciso provar que sou mais capaz do que Hortelã. Que patético!

    De repente, o cheiro do muco se intensificou, assim como as lembranças da caverna. 

Minha respiração vacilou. 

— Essa situação com as nagas… Ela está me preocupando. — massageei minhas têmporas. — Pouco mais de trinta pessoas habitam no Vale da Alegria, se elas atacarem não restará ninguém, isso sem contar as outras pequenas comunidades que sobrevivem pela Primaveril.

— E o que faremos? — Tamlin me perguntou. — Atacar diretamente seria estúpido. Não sabemos quantas nagas se encontram ali ou a extensão de suas habilidades, já que aparentam ser de uma raça diferente. 

— Sim, eu sei! — suspirei. — Colocar a vida do que resta da corte em perigo é a última coisa que queremos, então contar com eles nisso está fora de cogitação. 

— Então devemos estudá-las, é isso? Esperar o melhor momento para atacar?

    Semicerrei os olhos para o mapa.

    Corri meus dedos pela extensão norte do desenho, traçando as linhas finas do limite da corte. Olhei para Tamlin.

    Suas narinas dilataram.

— Não.

— Como sua Emissária, acredito que essa seja nossa única opção.

— Você está enganada!

— Não há nada errado em pedir ajuda!

— Nesse caso, há, sim! 

— Por quê? — retruquei. 

— Beron é um desgraçado sádico, ótimo em cobrar mais do que alguém de fato lhe deve. Ele vai espalhar para os quatro cantos de Prythian que a Corte Primaveril só se reergueu por conta dele. Quero distância dele!

— E o Grão-Senhor da Estival?

Ele revirou os olhos. — Tarquin é Tarquin. 

— Que quer dizer com isso?

— Que ele é jovem! 

Franzi o cenho. — Desde quando isso é um problema? Será que sou inútil por conta de minha idade também?

— Não é isso! — apressou-se em dizer. — Tarquin é facilmente manipulável! Foi roubado pela Corte Noturna bem debaixo de seu nariz e continua em bons termos com ela! Eu não preciso de mais uma marionete de Rhysand ao meu redor!

— Manipulável ou não, ele está abrigando o seu povo sem receber nada em troca. — falei, respirando fundo. — Ele está fazendo o melhor que pode por um povo que nem ao menos lhe deve lealdade. Digo porque vi tudo isso. Vivi tudo isso. 

    Tamlin não disse nada, apenas trincou o maxilar e cruzou os braços.

— Tamlin, seu povo está sofrendo. Você, melhor do que ninguém, sabe o que é ser separado daquilo que ama, que chama de lar. Sabe como dói. — repousei minha mão em seu ombro. Seu corpo retesou sob meu toque e ele me encarou, chocado por minha ação. — Não permita que aqueles que estão lutando para ver essa corte melhorar sejam mortos. Não permita que seu povo o odeie ainda mais.

— Eu não posso… — respondeu.

— Sei que não quer envolver a Corte Noturna nessa situação, e torço para que, de fato, isso não precise ocorrer — interrompi. —, mas você tem que decidir. Ou entrega essa corte à morte de vez, ou engole o seu orgulho e dá uma nova chance a ela. A si mesmo.

    Ele suspirou e inclinou o corpo para trás, encostando-se no divã às nossas costas. Seus olhos estavam fechados, a respiração controlada, porém pesada. 

— Meu pai ficaria furioso em ouvir uma sugestão dessas — murmurou.

— Ele está morto. 

    Seu rosto contorceu-se em irritação.

— Obrigado por apontar o óbvio. 

— Você tem que fazer suas próprias escolhas. Pare de pensar no que seu pai, seus irmãos, ou seja lá quem for faria. Eles não são você. 

— Eles sabiam o jeito certo de governar, já eu nunca tive interesse nisso. E esse fardo está em minhas mãos agora. — ele bufou. — A Mãe me odeia.

— Sabiam mesmo? — indaguei. — Porque aparentemente você tem se baseado neles em tudo o que faz, mas a corte ainda assim está deplorável.

    Tamlin grunhiu e encarou o teto.

— Você retruca tudo que eu digo! 

Não pude evitar gargalhar. — Isso porque ainda não me viu negociado em um mercado!

— Nunca conheci uma fêmea que falasse tanto! Minha cabeça está girando por sua culpa!

— Logo, logo você se acostuma.

— Duvido.

— Se não quer me ouvir, só precisa aceitar minha proposta. — cantarolei.

    Contra a luz alaranjada da lareira, sua pele brilhava como ouro derretido. Seus cabelos louros escorriam por seus ombros, luz pura emoldurando seu rosto inegavelmente típico da Corte Primaveril; masculino, mas de uma maneira delicada, com traços finos e angulosos. Seus olhos encontraram os meus, verde no preto. Tão, tão verdes que eu podia jurar serem feitos de jade.

    Ele, por fim, estalou a língua com impaciência. — Você é terrível. Pois bem, faça como desejar. 

— Prometo não decepcioná-lo, meu senhor. — agarrei a pilha de roupas limpas e me coloquei de pé, um grunhido de desconforto escapando de mim. Andei até a porta da sala de visitas, me segurando no batente para me virar na direção do Grão-Senhor. — Agora, se me der licença, eu vou tomar um banho.

— Faça isso — falou, bocejando. —, esse gosma fede tanto quanto seu mingau.

    Fiz um gesto vulgar. — Da próxima vez, te deixo morrer de fome.

    Tamlin apenas inclinou a cabeça para trás, me ignorando por completo.

    Subi as escadas com cuidado para não escorregar devido às gotas que ainda escorriam por minhas roupas e cabelo. O corredor cheio de portas se tornava mais e mais familiar para mim, e já não me sentia receosa ao atravessá-lo sozinha à noite.

    Quando entrei no banheiro, notei que um ponto tênue de luz iluminava o cômodo. Tamlin provavelmente acendera a vela quando viera buscar a roupa — não era de se espantar que tivesse demorado tanto para uma simples tarefa. Despejei o balde de água na banheira e coloquei a roupa sobre o peitoril da janela fechada, despindo-me e soltando meu cabelo logo em seguida. 

Encarei meu reflexo no espelho comprido em um dos cantos do lugar. 

Meus olhos, grandes e redondos, eram circundados por uma sombra acinzentada, meus lábios e bochechas tinham perdido o rubor, e minha pele parecia ainda mais pálida que o normal. Meu pulso direito estava manchado de vermelho — um presente de meu salvador. Longos e espessos fios negros paravam um pouco abaixo de meus quadris, descendo anelados ao redor de meu corpo e cobrindo meus seios. 

Arqueei uma sobrancelha.

Pareciam maiores. 

Subi a mão por eles, apertando-os suavemente enquanto me estudava. Estavam mais pesados do que da última vez. Bufei. Não serviam para nada além de deixar minhas costas doloridas.

Quem dera fossem menores!

Intensifiquei o aperto, irritada. Os bicos acastanhados escaparam por entre meus dedos, sendo esmagados antes que eu pudesse me dar conta do que ocorrera. Arregalei os olhos. 

Uma sensação estranha percorreu meu corpo, rápida e vigorosa. Um som alto ressoou. Só então notei que ele tinha saído da minha garganta. Soltei meus seios imediatamente.

Eu tremia, calafrios florescendo por minha pele. Olhei para baixo, encarando o tom avermelhado que eles assumiam. Por algum motivo, senti meu rosto esquentar. 

Balancei a cabeça e entrei na banheira, a água fria parecendo espantar a sensação horrível que ainda se apossava de mim. Esfreguei o sabão em meu corpo com força e rapidez, evitando me aproximar dos bicos enrijecidos. Não queria sentir aquilo nunca mais! Tomaria cuidado dobrado ao tocar em meus seios a partir de agora!

Quando terminei, me sequei com pressa e vesti a camisola marrom, evitando me virar para meu reflexo.

Terrível.

Momento terrível.

Ao chegar na sala de visitas, Tamlin ergueu o rosto do livro que estivera lendo mais cedo e abriu a boca por um instante, mas logo a fechou de novo. 

Me deitei no divã, encarando o teto com o rosto ainda queimando e a respiração irregular. Puxei as cobertas rapidamente. Eu parecia um casulo.

— Boa noite, Tamlin. — falei, fingindo tranquilidade.

    Ele manteve-se quieto por um tempo, mas por fim respondeu:

— Boa noite, Ophelia.



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