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História Corvo - A saída


Escrita por: InfiniteVitium

Capítulo 4 - A saída


-7 anos depois, 2015-

Acordo com uma forte luz irritando meus olhos, tento me levantar, mas algo me prende. Olho para o meu corpo e vejo várias cintas de couro me segurando, em minhas pernas, meus braços e minha barriga. Quando já estava achando que algo de errado tinha acontecido na cirurgia e iriam retroceder a época em que me consideravam maluca. A loira burra chegou, com luvas ensanguentadas e uma roupa toda branca.

--Parabéns Tarja, depois de vários testes com seu cérebro e sua anatomia, finalmente pudemos constatar que você está com a sua sanidade equilibrada. – Ela falou tudo aquilo como se fosse uma grande conquista com um lindo sorriso falso no rosto.

--Certo, então vocês apenas descobriram o obvio. Parabéns para vocês também, agora posso sair desse inferno?  -- Não fiz rodeios, ela já sabia que eu queria sair dali mesmo e se eu demorasse demais naquele lugar minha curiosidade sobre o que aconteceu naquela sala iria aumentar e eu começaria a perguntar como ela fez eles acreditarem que não sou mesmo maluca, sempre acharam isso. Aquele bando de médicos imbecis.

--Fique calma, minha jovem, iremos chamar sua tia e então você irá embora. – Disse o velho com sua bengala, um sorriso carinhos no rosto e uma expressão de curiosidade. Aquele velho deveria estar se perguntando como aquela garotinha que acreditava ser um corvo pode ter se recuperado.

Mas isso não é importante, só queria saber por que minha tia iria me buscar se meus pais me abandonaram. Eu não deveria ser emancipada ou coisa assim? Bem, é até de se esperar minha mãe deixar a bomba-relógio nas mãos da minha pobre tia Beth.

--Por que meus pais não vão me buscar? – Tive que fazer essa pergunta idiota, sabe é o que pessoas normais perguntam já que elas são idiotas o tempo todo. –Ou por que eu não posso sair sozinha? Já tenho 18 anos.

Quanto mais aquele velho parecia ter feito a cirurgia mais eu me preocupava, vai que ele mudou algo no meu cérebro? Nada contra aposentados, idosos e velhos. Mas ele não está muito velho para fazer qualquer coisa? Sabe, velhos são inúteis. Isso não foi comprovado cientificamente pela China?

Enfim, os dois idiotas ficaram se entre olhando e não falavam nada. Como odeio pessoas que omitem coisas, odeio pessoas assim mais do que odeio pessoas que mentem e dizem que é para o seu próprio bem. Eu sei que não é. Todos sabem que não é.

A russa com aquela expressão de ódio de sempre apareceu do outro lado da mesa, onde eu estava, e ela olhou para mim como se me odiasse mais do que viver.

--A tia da menina, chega em 1 hora. Acho melhor arrumarmos ela. – Ela disse de braços cruzados, olhando para a minha testa.

Por que ela tá olhando para minha testa?

--A Sra tem razão peça para que o menino... – O velho parecia estar tentando lembrar de algo, mas acabou desistindo.  -- ... traga roupas e os equipamentos. – Equipamentos? Tá, já entendi. Fodeu.

O velho e a russa saíram do meu campo de visão e só a loira ficou perto de mim, ela se virou enquanto arrumava alguma coisa numa outra mesa. Quando voltou para me olhar me advertiu sussurrando e sorrindo. – Vai doer para caralho. – Disse enquanto segurava uma seringa comprida. – Mas fique tranquila. Você não vai morrer, agora. – Ela apertou o liquido todo de uma vez no meu pescoço. Pelo menos ela não mentiu, doeu muito e depois que desmaiei não senti mais nada.  

 

▲ ▼ △ ▽

Acordei nos braços de alguém –acho que de algum segurança ou algo assim- conseguia ouvir cantos de pássaros e a luz do sol na minha pele chegava a irritar. Passei tantos anos trancada naquele hospício que não sabia mais como era sentir aquelas coisas, antes achava elas lindas, agora me dão ânsia de vomito.

--POR QUE ELA ESTÁ DES-A-COR-DA-DA? – Gritou alguém com uma voz fina que só podia ser da minha tia. –O que vocês cientistas malucos fizeram com o anjinho que é a minha sobrinha?

A voz da minha tia, aquilo me deu nostalgia. Não a ouvia reclamar de tudo a um bom tempo. Sempre amei a minha tia por ela ser toda expansiva e doida e exagerada. Mas minha mãe a detestava, sempre odiou. Minha avó me contava –antes de morrer- que minha mãe adorava implicar com a minha tia, dia e noite, que ela era gorda demais e feia demais e idiota demais. Porém para tristeza da minha mãe, minha tia nem ligou para o que aquela idiota dizia e continuo a vida dela. Hoje em dia minha tia é uma famosa empresária, acho que ela comprou a Channel ano passado.

--Fabio! – Ela deu um gritinho agudo falando com o homem que me carregava. – Coloca ela no banco do passageiro. – Ela foi chegando perto de mim e me observando enquanto o tal de Fabio me colocava no banco. – NOSSA! Mais que roupa horrível é essa? Esses médicos não sabem de nada sobre moda, devem ter perdido esse senso por terem ficado numa caverna estudando por tanto tempo. Isso faz um mal para saúde... – Então ela parou, isso não era um sinal bom. Significa que ela vai gritar mais. – VOCÊ TÁ ACORDADA! Ah pode levantar então, nem vai ficar deitada não, senta aí.

-- Eu to cansada. – Eu disse e ela me olhou colocando as mãos na cintura.

Revirei os olhos e me sentei, logo depois ela entrou no carro de algum tipo de modelo importado –- não sei marcas de carros, não me interessam --- ela se sentou no banco da frente e o tal de Fabio era na verdade o motorista dela, já que entrou no carro e parecia familiarizado com os gritos da minha tia.

--Senhora Beth? – Ele perguntou de maneira formal. –Posso ir?

--Claro que pode! Não sei por que ainda tá parado nesse lugar horren-do! – Ela falando daquele jeito engraçado já me fazia rir, e olha que eu pensei que ia demorar para fazer isso.

--Então, só para saber. Eu vou ter que ir para escola? – Perguntei já querendo que a resposta fosse “não, minha sobrinha, você pode ficar vagabundando para o resto de sua vida. Já que sofreu de um trauma terrível. ” Mas é claro que essa não foi a resposta.

--Claro que sim! Acha que eu vou te criar para ser o que? Uma vadia qualquer? – Ela esperou a resposta que não veio. –Nananinanão! – Ela falava e mexia o dedo indicador. –Já até vi sua escola, a JK, eles deixaram você entrar e fazer o Ensino Médio. Mesmo já sendo tão velha. – Ela começou a falar e eu comecei a ignorar. Não queria voltar para aquele lugar, não conseguiria voltar.

--Eu tenho que estudar lá? Tia, por favor me deixa estudar em outro lugar. Eu já to velha demais para escola, aquelas crianças vão ficar me enchendo o saco. Eu posso estudar até em casa. Por favor.  – Comecei a implorar, tentei usar minha velha tática dos olhos brilhando quando ela olhou para mim, mas faz tempo que não uso isso. Acho que fiquei com uma cara muito estranha pela reação dela.

--O que você... tava fazendo com os... Enfim, qual o seu nome? – Ela me perguntou ficando numa postura militar.

--Tarja. – Respondi sem o menor animo

-- E o que você é? – Ela perguntou, aquilo fazia parte de uma brincadeira nossa. Não reparem na idiotice.

--Uma guerreira. – Respondi ainda sem o menor animo

--E o que guerreiros fazem? – Ela perguntou ainda animada

--Lutam e vencem seus maiores desafios. – Respondi sem menos animo que eu já não tinha.

--Então, não. Você vai estudar na escola que você estudou e vai suportar as crianças chatas. – Ela percebeu que eu fiquei triste, segurou minha mão de maneira amigável e fraterna. – Pelo menos algumas semanas, eu sei que você consegue Tarja. – Ela disse convicta.

--Mudando de assunto... Onde estamos? – Perguntei tentando identificar aquela rodovia.

--Ah, algum lugar de Minas. – Ela respondeu olhando para estrada. – Mais tarde quer comer um pão de queijo? Já te aviso, a viagem daqui até o aeroporto e depois até São Paulo é cansativa e dá fome, muita fome. E você deve tá morrendo de fome, da finura que tá.

E foi assim durante aquela viagem toda, matei saudades da minha tia e as vezes ignorei o que ela falava, apenas o jeito dela me fazia mais feliz e mais mentalmente saudável do que todos os remédios que aqueles médicos me deram. 



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