História Courtesy Call - Tension

Chuuya estava prestes a perder a cabeça.

Tudo começou a algumas semanas atrás, quando seu vizinho passou a discutir com sua esposa altas horas da madrugada, impedindo que o ruivo pudesse ter uma boa noite de sono. Chuuya acabou não reclamando sobre isso, até porque ele não gostava de se meter na vida dos outros, e aquele era apenas alguns incidentes isolados que não voltariam a se repetir, certo?

Errado. A partir dali seu vizinho passou a praticamente todas as noites ficar bebado, chorando e gritando alto o quanto queria sua mulher de volta. Sendo esse o motivo do ruivo agora parece praticamente um zumbi cambaleando de um lado para o outro no bar onde trabalhava.

Claro, apenas isso não seria o bastante para o fazer ir a loucura, afinal, umas noites sem dormir direito não são o bastante para fazer alguém como Chuuya perder a sanidade. Não, os acontecimentos seguintes até o presente que pareciam um teste de paciência e controle próprio.

Seu pagamento estava atrasado, o que o obrigava a comer mais comida congelada e requentada do que o recomendado. Isso sem contar os cortes em gastos que teve que fazer. Seu cabelo parecia estar piorando devido ao fato dele não ter dinheiro para comprar shampoo de qualidade, tendo que usar algumas amostras grátis que conseguiu arranjar na última vez que foi com Ane-san no shopping.

Um dos seus colegas de trabalho havia se demitido e Tachihara acabou por ficar resfriado, o impedindo de ir trabalhar. Então, seu chefe resolveu empurrar todo o trabalho deles para cima de si, "argumentando" que se ele achasse aquilo ruim deveria ir procurar outro emprego, algo que Chuuya absolutamente não fez pois ainda precisava pagar suas contas.

Em resumo, sua vida estava indo de mal a pior e quanto mais pensava nisso, mais irritado e cansado ficava, então por enquanto resolveu ignorar tudo isso em favor de terminar seu trabalho o quanto antes para tentar conseguir dormir esta noite.

O bar onde trabalhava era pequeno e apertado. O papel de parede azul era amarelado e rasgado em diversos pontos com fotos e quadros aleatórios pendurados ali, as mesas eram de madeira velha e as cadeiras eram de plástico branco tão sujo que parecia quase cinza. O ar cheirava a cerveja barata, as luzes velhas muitas vezes falham e em geral o lugar todo era o pesadelo de qualquer decorador. E ainda assim eles tinham diversos clientes, algo que surpreendia Chuuya desde o momento que colocou os pés ali.

No entanto, hoje era uma dessas noites chuvosas onde o bar fica praticamente vazio, sendo apenas o som da tv o único barulho que podia ser escutado ali dentro. Os únicos seres vivos ali presentes além do ruivo eram:Um casal de adolescentes se pegando sem demonstrar nenhum pudor ou vergonha, um velho dormindo de qualquer jeito em sua cadeira e um homem muito bem vestido encarando seu copo de whiskey no balcão.

'Que diabos esse cara quer aqui?' Se perguntou Chuuya, não conseguindo parar de encarar o outro a sua frente.

Ele usava um terno preto que parecia custar o triplo de qualquer roupa que o ruivo tivesse, um casaco preto de aparência antiga estava jogado sobre seus ombros como se fosse uma capa. Seu cabelo era castanho curto, estando completamente bagunçado, parecendo estar assim de propósito.

Porém, o que acabava por chamar mais a atenção eram as bandagens que ele tinha sobre um de seus olhos, sendo possível ver a ponta de mais ataduras envolta de seu pescoço e braços.

"Noite parado em?" Comentou o estranho enquanto pegava seu copo entre seus dedos finos e balançava lentamente o mesmo em movimentos circulares, encarando  o líquido com certo fascínio, parecendo satisfeito com o som do gelo batendo um contra o outro. Seu sorriso era pequeno, dando a impressão de que ele não tinha o costume de sorrir a algum tempo.

"Fico feliz que esteja assim." Murmurou irritado. Estava cansado demais para se importar com as coisas que saiam de sua boca.

"Oh? Posso saber o motivo?" Ele tomou um gole do whiskey antes de voltar a colocar o copo sobre a mesa, agora encarando o outro com seu olho descoberto e postura menos inclinada. Seu sorriso era mais aparente do que antes, parecendo estar contente em trocar palavras com um desconhecido qualquer.

"Estou morrendo de sono, não tenho dinheiro, estou vivendo na base de comida congelada e meu chefe é um babaca." Não era comum Chuuya sair por aí desabafando seus problemas, ainda mais para alguém que nunca viu antes. Porém, como dito antes, ele estava realmente cansado.

A expressão do homem azedou por um momento, não parecendo estar feliz com o que ouviu. Soltando um suspiro ele olhou ao redor antes de voltar a encarar o ruivo com o mesmo sorriso de antes.

"Coitado, não consigo imaginar como é viver assim." Pelas suas roupas e jeito que falava era óbvio que esse cara era rico, talvez ganhando por mês mais do que Chuuya ganharia em dois anos. Isso acabava por levantar mais perguntas no entanto, afinal, se ele tem dinheiro ele pode muito bem ir beber em um lugar menos patético, certo?

"Qual seu nome?" Resolveu perguntar por curiosidade mais do que tudo. E não é como se gostosões ricos aparecem sempre por ali, então Chuuya precisava aproveitar cada oportunidade que a vida lhe dava.

"Dazai Osamu, e o seu?"

"Chuuya Nakahara."

Após isso, Dazai voltou a encarar seu copo e Chuuya voltou a encarar os outros clientes com uma expressão exausta no rosto. Ambos ficaram em silêncio pelo que pareceram horas até o moreno voltar a falar.

"Diga, quantos anos você tem?" Aquela não era uma pergunta incomum, por conta de sua aparência (e altura) muitas pessoas achavam que Chuuya era um adolescente e não um adulto, sendo isso algo que o ruivo sempre odiou com todas as suas forças.

"24, e você?"

"24 também."

"Porque a pergunta?" Levantou uma sobrancelha de forma questionadora, dando sua total atenção para o mesmo.

"Hm, você é tão pequenininho, achei que fosse uma criança~" Explicou sorrindo quase como uma raposa, claramente achando seu comentário engraçado, algo que Chuuya discorda completamente.

"O que disse?! Quer que eu te espanque seu merda???" Seu rosto se contorceu em raiva, e sem pensar duas vezes ele acabou dando um soco tão forte sobre o balcão que o barulho acabou por assustar o velho que antes dormia ali perto.

Dazai pareceu surpreso com a reação dele, logo começando a rir levemente, deixando Chuuya ainda mais irritado do que antes.

"Gostei de você, Nakahara-san." Disse sem mais nem menos antes de se levantar, colocando algumas notas de dinheiro sobre o balcão, sendo claramente o dobro do preço real do whiskey barato que sequer terminou de beber.

"Só some da minha frente." Suspirou irritado enquanto contava o dinheiro e começava a juntar seu troco.

"Pode ficar com o resto do dinheiro, está precisando certo?" Falou antes de se virar e ir embora sem olhar para trás.

Aquela era a maior gorjeta que já recebeu na sua vida.

Talvez as coisas não iriam ficar tão ruins assim.

[ ... ]

Daza no fim das contas acabou por se tornar um cliente regular, sempre aparecendo tarde da noite quando o bar está perto de fechar e costuma ficar vazio. Ele bebia um copo de whiskey, conversava um pouco com Chuuya e antes de ir embora deixava uma enorme gorjeta para o ruivo.

A companhia era mais do que bem-vinda, mesmo que o moreno acabe sendo um idiota na maior parte do tempo ele era mil vezes melhor que os velhos bêbados que costumam passar por ali.

Hoje era mais uma dessas noites. Só que diferente das outras, apenas os dois estavam ali.

"Vejo que está sozinho hoje." Comentou encarando seu copo. Mesmo após semanas interagindo com o outro Chuuya ainda não fazia ideia do porque ele fazia aquilo. E agora que pensava nisso, Dazai praticamente nunca falava de sua vida, parecendo mais do que contente em apenas falar o mínimo possível sobre si mesmo.

"Sim, isso anda acontecendo muito. Se bobear, logo esse bar de merda entra em falência." Disse dando de ombros. Se isso fosse acontecer teria que procurar outro emprego, muito provavelmente acabando em um lugar pior que aquele.

"Isso parece horrível!" Exclamou em um tom surpreso extremamente falso e dramático, colocando uma mão sobre o peito e arregalando os olhos de uma forma quase cômica.

"É, parece." Comentou entre um bocejo. Havia confrontado seu vizinho sobre a barulheira dele e pelo jeito aquilo o ofendeu, pois agora ele fazia mais barulho ainda é totalmente de propósito. Talvez Chuuya fosse acabar na prisão por assassinato, pelo menos ali ele teria uma boa noite de sono.

"Mais Chuuya, se isso acontecer você perdeu seu emprego!!!!" Disse sorrindo de forma quase debochada.

"Eu já sabia isso, idiota." Respondeu já começando a perder sua paciência.

"Não seja rude, você fica mais feio desse jeito." Concluiu sorrindo feito o babaca que era.

"EU NÃO SOU FEIO!!!" Gritou irritado enquanto batia uma mão sobre o balcão.

"Diga, quer saber uma forma simples de ganhar dinheiro?" Ignorando completamente o olhar indignado do menor, Dazai se inclinou em direção ao mesmo, parecendo estar se divertindo demais com toda a situação.

"E porque acha que eu acreditaria em qualquer merda que me falar?" Chuuya podia ser muitas coisas, mas idiota não era uma delas.

"Vamos, ao menos me escute, sim?"

Revirando os olhos e passando uma mão por entre seus cabelos, o ruivo soltou um suspiro irritado antes de acenar positivamente para o outro, indicando que deveria continuar.

"É um negócio bem simples na verdade. A única coisa que precisa fazer é virar meu cachorro!"

"O QUE!??"

Olhando de forma surpresa e confusa para o outro, Chuuya arregalou os olhos se perguntando se o outro estava completamente louco. Porém, mesmo que seu tom de voz seja irritantemente doce e alegre, sua expressão facial era séria, sendo a primeira vez que o ruivo via o outro dessa forma.

"A única coisa que precisa fazer é me manter companhia e seguir minhas ordens. Claro, isso também significa que talvez vamos acabar fazendo sexo em algum ponto, mas apenas se você quiser. Em troca, eu te pago e compro as coisas que você quiser" Apoiando seu queixo sobre a palma de uma mão, o moreno encarou o ruivo de forma intensa, claramente estando esperando uma resposta.

"Soa como um Sugar Daddy bizarro com passos extras…." Murmurou o menor ainda em choque sobre tudo que estava acontecendo.

"Sim, é basicamente isso." Sorriu levemente, parecendo contente em saber que ele havia entendido o que tentava dizer.

Chuuya respirou fundo enquanto encarava o chão pensativo.

Ele estava mesmo desesperado ao ponto de aceitar essa proposta sem sentido? Iria mesmo fazer isso apenas pelo dinheiro?

"....como isso funciona?" Perguntou ainda sem encarar o outro.

"Você faz as coisas que eu mando, saímos em encontros e coisas do tipo. Sabe, o básico de qualquer Sugar Daddy e talz. Maaaas, a diferença é que você também de certa forma vai trabalhar para mim como meu secretário!" Explicou com simplicidade a sua ideia totalmente estúpida.

Agora Chuuya tinha duas opções:Aceitar a proposta e voltar a comer comida de verdade. Ou recusar a proposta e continuar usando shampoo barato que estraga seu cabelo.

A escolha era bem fácil.

"Se tentar algo idiota eu quebro seus dedos."

"Nem sonharia em fazer isso."

No futuro, quando olhasse para trás, iria perceber que era bem óbvio que as coisas não seriam tão simples quanto achou que fossem.