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História Creepypastas - A Bruxa


Escrita por: _AliceZoss_

Capítulo 30 - A Bruxa


Fanfic / Fanfiction Creepypastas - A Bruxa

Nós deveríamos ter ficado longe.

Mas olha, éramos crianças. Nós pensávamos que éramos imortais. Estávamos errados.

A bruxa elétrica morava numa cabana quase um quilômetro adentro na floresta, na periferia da cidade. Ela ocasionalmente podia ser caminhando orgulhosa entre as árvores, murmurando coisas sem sentido para si mesma. Ela ganhou o apelido de "bruxa elétrica" por causa de suas roupas.

Sobre seu ralo e fino cabelo loiro, ela usava um capacete de plástico com dúzias de fios multicoloridos que se projetavam do topo e pendiam como cabelos.

Ela vestia um colete preto, no qual havia embutido um recorte do raio-X das costelas de alguém. Naturalmente, isso atraia o fascínio e, às vezes, a ira das crianças na vizinhança. O principal delas foi Sam Westom.

Ele era uma daquelas crianças nascidas com um instinto natural de procurar os diferentes do bando e puni-los. Foi ideia dele invadir a casa da bruxa elétrica.

"Só quero olhar em volta
," ele disse, entre mordidas da batata assada de outra criança. "Talvez tirar algumas fotos."

O refeitório era barulhento mas, mesmo assim, Sam falava alto demais.

"Não seja idiota," disse eu, mais discretamente. "Você vai ser preso."

"Preso?" Sam disse. "Isso nem ilegal é. Não é como se aquela bruxa louca fosse dona da cabana, ela só mora lá. Nós temos tanto direito de entrar lá quanto ela."

"Continua sendo uma ideia estúpida. E se ela te pegar? Ela é maluca, não sabemos o que ela vai fazer com você."

"É," ele respondeu. "Por isso eu não vou sozinho. Você vai comigo."

Eu atirei uma das batatas fritas empapadas da cantina nele, mas ele desviou.

"Com certeza," falei, ironicamente. "Se minha mãe descobrir isso, fico de castigo até o apocalipse, e mais um pouco."

"Hm," Sam começou. "Você não acha que ela ficaria mais chateada por ter um franguinho como filho?"

A mesa ficou em silêncio. Os olhos observadores dos meus colegas se voltaram pra mim, e eu soube que não havia nada a fazer. Sam invocara a "palavra com f", então agora eu não teria outra escolha além de segui-lo em sua jornada imbecil. Era isso ou encarar a zombaria dos meus amigos pra sempre. Timothy Jenkins uma vez havia se recusado a comer uma pimenta no segundo ano. Nós estávamos na quinta série agora, e as pessoas ainda caçoavam dele pelos corredores.

"Tudo bem," disse entre dentes cerrados. Então joguei outra batata nele. Dessa vez, acertando em cheio seu rosto.

Anos depois, eu me arrependeria de fazer isso. Deveria ter sido mais gentil, eu diria a mim mesmo. Mas claro, não tinha como saber o que estava por vir.


Nós estávamos na beira da floresta, e eu já me arrependia da decisão. O céu era de um cinza metálico, e o cheiro de chuva pairava no ar. A atmosfera se agitava com eletricidade - uma tempestade estava a caminho.

De perto as árvores eram tão grandes que tentar olhar suas copas fazia o chão se mover e girar sob mim.

"Assustado, hein?" comentou Sam.

"Não," eu menti. Meu coração saltitando como um peixe tentando voltar à água. Não olhei pras outras crianças, com medo deles verem o medo em meu rosto.

Não sou um franguinho.

"Sim, claro," disse Sam, rolando os olhos. "Continue suando assim e logo você vai estar de pé em uma poça."

"Você vai estar numa poça quando dermos de cara com a bruxa," devolvi. "Mas não vai ser suor."

Pra minha surpresa, Sam riu.

"Beleza," respondeu. "Essa foi muito boa. Mas estamos perdendo tempo. Vamos."

Ele bateu forte nas minhas costas e eu tropecei em direção às árvores. Tinha acabado de retomar meu equilíbrio quando vi ele correndo na minha frente.

"Você vem?" ele gritou pra mim, seguido de outros dois gritos.

Eu suspirei, engolindo meu medo, e o segui.


Chegamos à cabana da bruxa em quinze minutos. O vento já havia se agitado nessa altura, e a floresta ganhava vida com o farfalhar dos galhos de árvores balançando.

"E se ela estiver em casa?" eu sussurrei, alto o bastante apenas pra ser ouvido entre o assoviar do vento.

"Então talvez ela nos faça alguns biscoitos," disse Sam.

Ele não esperou pela minha réplica, caminhando confiantemente até a porta.

"Oláá, Sra. Bruxa Louca," falou. "Estamos aqui pelos seus mundialmente famosos biscoitos de chocolate."

Minha respiração congelada na garganta enquanto assistia. Lentamente, a porta abriu com um rangido, revelando a bruxa elétrica.

Ela não disse nada, apenas piscou duas vezes. Sua boca se contorceu. Ela olhou pra mim, murmurou alguma bobagem baixinho.

Finalmente, ela se afastou para nos deixar entrar. Relutantemente, eu segui Sam até a cabana.

O interior era como num sonho bizarro. As paredes eram de ferro corrugado, manchado pela ferrugem, assim como o teto, e a coisa toda parecia prestes a colapsar a qualquer momento. Mas você mal podia ver as paredes através de todo o lixo que as cobria.

Havia microscópios, prateleiras de tubos de ensaio, um tambor plástico de uns duzentos litros cheio de agulhas hipodérmicas sujas.

Havia jarros de animais em conserva: sapos, ouriços-do-mar e fetos de porcos, e potes de órgãos em conserva: corações, fígados e dois cérebros.

Filmes de Raios-X pendiam como retratos, em molduras caseiras feitas com galhos de árvores mortas, cobertas por liquens. Um em particular chamou minha atenção - era uma imagem de um cérebro com uma massa do tamanho de uma bola de golfe no meio do lado esquerdo.

A bruxa me pegou olhando. Ela bateu no lado de sua cabeça, e então apontou pra um dos jarros de órgãos. Dentro, suspenso num fluido verde escuro, estava uma massa cinzenta de tecido cerebral. Apertei minha mandíbula com feroz determinação, para não vomitar. A bruxa sorriu.

Então, ela falou.

"Sentem," disse enquanto gesticulava para uma mesa de damas dobrável feita de papelão no centro da sala, com quatro cadeiras de plástico diferentes entre si ao redor. Sam e eu nos sentamos. A bruxa sentou também, nos mostrando um sorriso amarelado e quase desdentado.

"É tão bom ter visitas," ela disse. "Vocês gostariam de um pouco de chá?"

Olhei ao redor, mas não encontrei uma chaleira em lugar nenhum. Ou um fogão, pra começar.

"Não, obrigado," respondi.

A bruxa balançou a cabeça, ratificando.

"Bem, o que posso fazer por dois jovenzinhos tão charmosos?"

Antes que eu pudesse responder, Sam soltou um suspiro de irritação.

"Você só pode estar brincando comigo," ele disse.

"Perdão?" perguntou a bruxa.

"Viemos aqui ver a velha bruxa louca e tudo que conseguimos é uma velha chata? O que eu deveria contar pros meus amigos?"

O sorriso da bruxa esmoreceu, e uma expressão de dor atravessou seu rosto. Ela se foi por um momento, substituída outra vez por um sorriso. Dessa vez, no entanto, havia algo diferente sobre seu sorriso. Ele não alcançava os olhos dela. Ela se inclinou pra frente, e falou em voz baixa.

"Bem, acontece" disse ela, "que eu sou uma bruxa."

"Ah, é?" disse Sam. "Prove."

O sorriso da bruxa se alargou, e seus olhos assumiram um brilho desagradável.

"Sam," comecei, "eu não acho que nós deveríamos-"

"Cala boca, cagão," respondeu Sam.

A bruxa gargalhou.

"Não há com o que se preocupar, jovenzinho," ela disse. "Na verdade, seu amigo deve estar animado. Tenho um presente muito especial pra ele."

"Você tem?" disse Sam. Sua expressão era cautelosa, mas a ansiedade em sua voz o traiu.

"Ah, sim," disse a bruxa. "Vou te mostrar."

Ela se levantou, e foi até o canto do barraco. Ela se agachou ao lado de um caldeirão de ferro preto que parecia pesado, e removeu a tampa. Abaixando-se, ela tirou algo, antes de recolocar a pesada tampa de metal, que fez um baque. Quando ela se virou vimos - um pequeno cristal que emitia um brilho azul na escuridão do barraco.

Ela vasculhou uma gaveta e tirou de lá um velho medalhão. Destravando o pingente, ela colocou o cristal dentro, então se virou e o deu pro Sam, que apanhou aquilo com seus dedos gananciosos.

"Esse é um amuleto muito especial," disse a bruxa. "Trará boa sorte ao portador. Com ele, você poderia governar o mundo algum dia."

"É mesmo?" disse Sam. "Qual é o truque?"

"Sem truques," respondeu a bruxa. "Apenas regras. A primeira regra é que toda noite, antes de dormir, você precisa tirar o cristal e beijá-lo. Tenha em mente de o fazer muito gentilmente, ou ele vai quebrar. A segunda regra é que você não pode deixar ninguém usar, ou sua sorte será transferida pra quem usar. A terceira regra é que você nunca deve tirá-lo."

Quando ela terminou as regras, Sam já havia colocado o medalhão no pescoço.

"Ei, acho que você não é tão ruim assim," disse ele.

Ele não fazia ideia.


No dia seguinte, no intervalo, éramos astros do rock. Não só havíamos nos aventuramos na floresta e conhecido a bruxa elétrica, mas também voltamos com um souvenir. O medalhão foi passado da mão esbaforida para a mão ansiosa, pra que todos pudessem ver o cristal azul brilhante dentro dele. Sam não deixava ninguém usá-lo, assim como a bruxa havia aconselhado, mas ele estava cobrando dois dólares por vez para deixar as crianças beijá-lo pra dar sorte.

Assisti a coisa toda com uma sensação crescente de desconforto.

"Você tem certeza de que devia estar fazendo isso?" perguntei.

Ele deu de ombros.

"A bruxa não disse que não podia."

Balancei a cabeça e fui embora - eu não queria fazer parte daquilo.

O dia seguinte foi quando as coisas começaram a dar errado.


A primeira coisa que notei foi que estavam faltando dois alunos na nossa mesa no almoço, Randall Evans e Jacob Culver. Na verdade, o refeitório parecia bem menos barulhento que o normal e, quando olhei em volta, percebi que era porque nossa mesa não era a única com estudantes em falta - quase todas estavam.

Sam estava aqui, mas parecia que não havia dormido a noite toda. Sua pele estava pálida e enrugada, e pesadas olheiras descansavam sob seus cansados olhos.

"Ei, você está bem?" perguntei.

"Estou," ele retrucou, soando mais cansado do que com raiva.

"Sério? Porque você não parece-"

Fui interrompido por uma torrente de vômito esverdeado que irrompeu de sua boca, cobrindo toda a mesa. Todos na mesa se levantaram e ficaram boquiabertos diante de Sam, que se levantara e agora cambaleava perigosamente pra frente e pra trás.

"Eu disse," falou ele. "Nunca me senti melhor."

Isso foi a última coisa que ele disse antes de seu corpo despencar no chão como um lenço de papel molhado.

"Enfermeira!" Eu chamei, sem pensar. "Enfermeira!" gritei até que a Sra. Hutch, a enfermeira da escola, viesse apressada, ofegando enquanto suas gordas bochechas coravam. Ela se inclinou sobre a figura prostrada de Sam. Ele estava gemendo baixinho, e apertando o medalhão, que estava sob a camisa. Sra. Hutch levantou a camisa. Ela engoliu a própria respiração num som agudo, e disse "Ah meu Deus."

O medalhão descansava sobre o peito de Sam. Atrás dele e ao redor, a pele havia se tornado preta. Sra. Hutch arrancou ele do pescoço, quebrando a corrente. Ela abriu o medalhão, e pela primeira vez, a ouvi xingar.


Sam estava morto.

Depois que ele desmaiou na escola, a enfermeira ligou pra emergência, e uma ambulância o levou correndo pro hospital. Ele sucumbiu à sua doença três dias depois. A causa da morte foi registrada como envenenamento por radiação, e o cristal brilhante azul foi enviado pro departamento de física da universidade local, sendo positivamente identificado como Cloreto de Césio.

A polícia procurou o barraco da bruxa, mas não havia sinal dela. Eles disseram que, a julgar pelo lixo hospitalar na cabana, ela provavelmente pegou o césio em alguma clínica de câncer abandonada, onde as máquinas de radioterapia não haviam sido corretamente descartadas.

Na semana seguinte, mais dezessete crianças foram hospitalizadas. Quatro morreram. O resto de nós foi posto em quarentena e analisado para prevenir efeitos da radiação. Após alguns dias, nos deixaram ir.

A bruxa nunca foi encontrada.

O prefeito e os vereadores da cidade todos concordaram que a história não deveria ser retratada publicamente, em respeito às famílias, e que qualquer jornalista que violasse o acordo de silêncio se provaria um "inimigo da decência."

Tenho certeza que eles simplesmente não queriam aquela publicidade negativa.

Eu realmente queria que houvesse um fim mais satisfatório pra essa história, que a bruxa fosse pega e punida pelo que fez. Queria que Sam não tivesse deixado mais ninguém tocar no medalhão.

Acima de tudo, queria que eu nunca tivesse visto essa maldita bruxa elétrica em primeiro lugar. Talvez então eu tivesse levado uma vida normal.

Em vez disso, tenho vinte e quatro anos e estou no hospital pra minha terceira cirurgia de câncer de pulmão. Se há uma moral nessa história, tenho certeza pra caralho que não sei qual é, exceto talvez que o mundo é cruel, um lugar perigoso no qual sofremos pelos pecados dos outros.

De qualquer forma, não tenho mais nada a dizer, exceto:

Fim.



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