História Cristais - Aplauda e chore, Soo

Eu. Você. Nós. A esperança é uma droga alucinógena, querida, e eu sabia que não iria dar certo, Kyungsoo, porque, enquanto os teus olhos anormalmente grandes para a média se viravam para mim, brilhantes como estrelas, eu desprezava qualquer coisa além da última camada terrestre.

 Você tentou

Eu temia que não poderíamos ser apenas uma, Kyunsoo, porque, enquanto eu me encantava pelos números primos, você adorava os pares e qualquer coisa divisível por dois, por nós.  Divisões sempre foram desprezíveis aos meus olhos. 

Você sabe, querida.

Eu previa que a faria chorar, Kyungsoo, porque, das duas você era a que mais precisava de força, e embora meus braços fossem grandes o suficiente, eles não foram capazes de cobrir toda a tua estrutura frágil e servir de barragem para a tua dor - talvez eles nem quissesem parar sua essência, Soo, visto que era a mim a quem recorria no aperto e meus braços eram sempre os primeiros a se banhar com suas lágrimas.

Você sentiu.

Eu conhecia todas as suas fraquezas, Kyungsoo, e expunha as minhas para você também. Mas quando elas se mostravam armas contra os outros, nossas diferenças voltavam a aparecer, porque, enquanto você recolhia seus cacos para tentar cola-los no peito, eu em toda minha agonia egoísta, afiava-os mais e mais e moldava os trilhos da nossa relação para lugares em que eu já me machucara.  Queria que cada um que ousasse me amar pisasse nos meus estilhaços e escorregasse no sangue e amor que eu nunca serei capaz de dar ou sacrificar, queria ver-te sofrer com o que sobrara do meu coração e assim ganhar o seu. Eu consegui,  certo?

É meu inferno, querida, eu sempre consigo.

O nós não existe mais 

Eu sentia que doeria, Kyungsoo, e doeu, doeu como carregar o céu e o inferno nas costas sem qualquer apoio. Doeu em você, doeu em mim. E na dor se diferenciam os fortes, amor, e esse é outro ponto em que você se faz campeã, porque, enquanto carregas seu fardo sem reclamar, eu jogo anjos e demônios para todos os lados e me entrego a eles numa vida sem equilíbrio, sem respeito ou perdão. Torno-me o que odeio e odeio o que já fui.

Você sofreu.

Eu queria que desse certo, Kyungsoo, mas... as possibilidades eram tantas, e a diversidade me assusta tanto quanto a constância. E enquanto você é capaz de perdoar e seguir em frente, eu guardo tudo em mim, exceto as coisas boas e cristalinas. Eu sigo, paro, volto e mudo de idéia e decido continuar e volto e arrasto tudo comigo. 

Eu destruo o que você conserta, eu te machuco e você perdoa, você esquece e eu quero explodir, ser tudo enquanto você nem se importa em ser nada se eu estiver do seu lado. Você é tão linda e eu quero ser linda, mas não consigo. Não posso.

Eu fiz isso. Eu e meu egoísmo.

Talvez, quando a saudade se torne mais do que é capaz de se suportar sozinha, você romantize meu egoísmo e tente consertar os versos tortos e mal escritos que compuseram nosso amor - mais seu do que meu? -, não julgo-te por isso,Kyunggie, mas quero que saiba que, dentre todas as minhas ações e todos os meus erros, afastar-te de mim foi o mais próximo de um acerto  - o único da minha existência.

( não podemos chamar de vida )

Porque,  no fim, eu sempre serei egoísta na mesma proporção que você é frágil  e uma combinação dessas só pode acabar em tragédia, e eu não me encontro disposta a fechar as cortinas sem aplausos, querida.

Adeus.