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História Crônicas de Paragon - Remendando o passado


Escrita por: Alexianka

Capítulo 37 - Remendando o passado


Fanfic / Fanfiction Crônicas de Paragon - Remendando o passado

“Não ouso tocá-la sempre, temendo que o beijo

Deixe meus lábios queimados. Sim, Deus, um pequeno êxtase

Breve êxtase amargo, que se tem por um grande pecado;

Porêm sabeis quão doce é o sabor ofertado”.

- Algernon Charles Swinburne, “Laus Veneris”

 

Lost Precipice

Dias Atuais

 

Cada membro restante da guilda Holy Avenger estava absorvido em seus deveres respectivamente, mesmo assim todos demonstravam grande tensão na expectativa de receberem alguma notícia dos três esquadrões mandados em missão.

Leila, Precision e Colombary examinavam o lado norte de Lost Precipice, os três margeavam o rio subterrâneo procurando alguma construção desconhecida onde poderia haver outro diário escondido, isto é claro era como procurar uma agulha num palheiro. Lost Precipice possuía pelo menos 21 construções em ruínas descobertas e pelo menos o dobro a serem encontradas se especulava. A asura Amy junto com Ashira acreditavam que o local era uma imensa cidade abandonada, o motivo de tal abandono era desconhecido, era improvável que os minions de Mordremoth houvesse expulsado os moradores quando invadiram o lugar, o estado de abandono do local demonstrava séculos de ausência humana.

Outro ponto misterioso era a ausência de restos mortais ou de outros seres vivos no lugar, não existiam cemitérios em Lost Precipice em contraste aos inúmeros templos em devoção aos Deuses, vários templos em honra aos Deuses Humanos podia-se ser vistos em tamanhos e formas variadas, porém nada que comprovasse que algum dia alguém houvesse habitado as ruínas, era como se toda a população de Lost Precipice houvesse desaparecido de uma hora para outra.

Leila sentiu um arrepio ao conjecturar esta idéia, após ouvir sobre a fragmentação do tempo, ela ficou imaginando o que aconteceria caso o passado deixasse de existir, será que o presente e por ventura o futuro nunca aconteceriam? Fazendo uma população inteira desaparecer.

- Você está bem Leila? Colombary perguntou preocupado colocando a mão no ombro da bela guerreira.

Leila empurrou a mão do amigo, ela não gostava que a tratassem como uma pessoa frágil, Leila era grata pelo modo como Colombary e Precision a protegiam, mas já fazia muito tempo que ela aprenderá a se defender e esconder suas fraquezas.

 Leila usava Alice como um exemplo, uma exímia guerreira, forte, corajosa e acima de tudo implacável quando lutava pelo que amava. Um sorriso apareceu no rosto dela, Alice amava Shuurei, um amor lindo aos olhos de Leila, puro, inocente, muito deferente do caótico triangulo amoroso que ela se encontrava. Leila olhou para Colombary, ele parecia triste pela atitude dela ao empurrar a mão dele de seu ombro, Precision fingia examinar algumas rochas próximo ao rio, ela sabia que ele a cada minuto fintava os dois com os olhos, esta estranha química entre os três já havia causado grandes estragos ao longo dos anos, mesmo assim Leila considerava esses os dias mais felizes de sua vida, dias esses que ela faria qualquer coisa para preservá-los, a qualquer preço.

- Desculpe Colombary, eu estou nervosa.

- Eu que peço desculpas, vivo tratando você como a mesma menina que conhecemos a 10 anos atrás.

- Vocês dois já terminaram com essa melação toda? Achei algo aqui. Disse Precision irritado.

Leila e Colombary foram até onde Precision estava achando que talvez ele tivesse tido sorte e achado outro diário, mas Precision acabou com tal esperança antes mesmo deles chegarem.

- O que você achou irmão? Colombary perguntou.

- Outro diário? Leila perguntou com esperança.

- Não. Achei sangue. Ele mostrou as mãos sujas.

Havia sangue sujando a rocha próxima ao rio e algo que Precision apanhou do chão.

- O que acha que aconteceu aqui? Leila indagou.

- Me parece que alguém foi jogado lá de cima e caiu bem aqui.

- E onde está o corpo?

- O rio pode ter subido e arrastado o corpo. Precision falou olhando o curso das águas.

- E o que é isso em sua mão? Colombary falou.

- Estava jogado aqui, pode ser uma pista.

Na mão de Precision estava um lenço e gravado nele o nome de Isaty.

 

 

Lost Precipice  24 horas antes

Quarto de Deia e Isaty

 

Isaty estava nu em pé diante do espelho em seu quarto, Deia continuava deitada na cama admirando seu marido, os dois tinham acabado de fazer amor e como acontecia sempre após o ato consumado Isaty se tornava distante, ele examinava seu reflexo no espelho, isto deixava Deia triste, ver o marido desta maneira achando que era uma máquina com defeito ao qual lhe faltava uma peça, isso a atormentava todos os dias.

O humor e brincadeiras eram uma arma usada por ele para desviar a atenção das pessoas, cada dia de cada hora Isaty temia que seu segredo fosse descoberto, quando eles foram se juntar a Holy Avenger e apresentados a Ashira, a vice-líder descobriu o segredo no momento em que falou com Isaty, sempre havia esse risco, mas a procura pela cura da bloodstone obrigava ao grupo de Ascalon a estar sempre em movimento.

Deia não podia esquecer o olhar de pavor feito pelo marido, Ashira embora não entendesse os motivos de Isaty prometeu guardar segredo, porem ela alertou que outras pessoas observadoras como ela poderiam descobrir, bastando observar os detalhes mínimos em Isaty, característica marcante entre os membros da Durmand Priory, mesmo Deia não entendia o motivo dele não aceitar quem era, uma leve desconfiança sempre passou por sua cabeça, se Isaty aceitasse quem era poderia ficar mais difícil de resistir as investidas de Antony.

Deia espantou as lembranças ruins da memória segurando a mão do marido e puxando-o para a cama do casal, ela o beijou passando as mãos em seus cabelos, Deia gostava de imaginar os cabelos ruivos de Isaty longos, mas se ele deixasse que eles crescessem seria mais fácil de ser descoberto o segredo, porque apesar de tudo Isaty era uma linda mulher no final das contas.

 

 

Na Manhã do Dia da Conclave

 

Isaty avançava pelo guild hall em meio a seus pensamentos confusos, tinha acabado de receber um chamado de Ashira informando que Alexian havia pedido para que ele fosse ao seu escritório, isto evitou uma possível discussão com Deia sua esposa pela manhã. O motivo das constantes brigas era sempre a mesma causa, Antony Solar Cran.

Isaty suspirou desanimado, mas armou seu sorriso característico antes de chegar ao escritório, talvez Alexian tivesse finalmente conseguido a informação que Isaty tanto almejava, ele chegou a porta do escritório abrindo-a sem bater, ambos eram amigos que não exigiam tais formalidades.

Ao entrar no escritório viu Alexian com o rosto tenso, parecia preocupado e nervoso. Isaty ergueu uma sobrancelha já imaginando do que se tratava, apertou a mão de seu líder, os cabelos curtos ruivos e rosto delicado igual ao de uma mulher sempre criavam boatos maldosos que se perdiam já que Isaty era casado com a ranger Deia, se todos da guilda soubessem que ele na verdade era uma garota causaria um alvoroço, Isaty sorriu para Alexian e falou.

- Sentindo arrepios da coluna até o coxis novamente senhor? Disse ele com um sorriso travesso no rosto. Usar humor era uma estratégia empregada por Isaty para aliviar horas de tensão. Algo que seus companheiros de guilda apreciavam. Isaty era como uma luz no fim de um túnel muito longo e escuro.

- Ás vezes fico imaginando o que faria seu humor acabar Isaty. Alexian comentou cruzando os braços e recostando na cadeira, ele tinha a expressão cansada.

-Seria necessário algo pior que os Elder Dragons Zhaitan e Mordremoth juntos senhor. Mas mudando de assunto, descobriu o que os textos antigos dizem?

- Tenho minhas suspeitas, convoque uma reunião do conclave... mas mudando de assunto Isaty, como estão as coisas entre você e Antony?

A pergunta desarmou Isaty, o sorriso desapareceu de seu rosto dando lugar a uma melancolia profunda.

- Senhor... tudo está como sempre esteve.

- Entendo Isaty, você sabe que eu e Ashira estamos procurando a cura para ele, estamos fazendo o possível.

- Eu sei senhor, não é este o problema.

- Quer falar a respeito?

- Outra hora. O senhor está muito ocupado com estes textos antigos.

- Minha preocupação prioritária sempre será você e Antony.

- Obrigado senhor.

 

Quarto de Antony

 

A água fria caia em cima da nuca de Antony, ele tentava fazer com que a dor latejante da cabeça diminuísse, derrotado ele ergueu a cabeça para o espelho, o reflexo de seu rosto mostrava os olhos verdes com olheiras profundas, o cabelo preto estava desgrenhado e a barba não feita revelando o quanto ele havia envelhecido em poucos mais de 10 anos. Antony estava com 28 anos agora, mas sua aparência atual o fazia parecer mais velho na casa dos 40, ele levou as mãos tremulas a água e jogou no rosto, passou as mãos no cabelo jogando-os para trás, Isaty tinha saindo de seu quarto poucos minutos atrás deixando o recado que Alexian realizaria uma conclave, como sempre Antony tentou falar com Isaty chegando ao ponto de segurá-lo pelo braço, as palavras ditas ressoavam em sua cabeça ainda.

- Espere Isaty.

- Já dei o recado Antony, tenho de avisar os outros membros e como este lugar é maior que o estomago de Khanum devo demorar para acabar.

A piada não surgiu efeito, Antony continuava a encarar Isaty sem soltar seu braço.

- Até quando você vai me evitar, já se passaram 10 anos Isaty, não somos mais crianças.

- Você nunca foi uma criança Antony, mesmo quando agia como uma.

- Isaty eu ainda te amo.

- Se continuar falando isso para mim eu vou embora Antony, sumo da guilda e você nunca mais vai ouvir falar de mim e de Deia.

- Quê se dane a guilda e quem liga para Deia?

- Eu ligo, eu a amo! Sou o marido dela.

- Isaty você não é um marido! É uma mulher fingindo ser um homem por mais de 23 anos!

- Me solta!

- NÃO! Não até você entender...

Antony não finalizou o que dizia, porque Isaty avançou para ele beijando-o, um beijo voraz e faminto, Antony o pegou no colo entrando com ele no quarto e deitando Isaty na cama, Antony lutou com a fivela da armadura até removê-la, depois desfez a faixa que escondia os seios de Isaty.

- É a última vez Antony, estou dizendo.

- Sim meu amor, exatamente como me diz todas às vezes.

 

 

“As vezes somos menos infelizes em sermos enganados

Por aqueles que amamos que em ouvirmos deles a verdade!”

- François La Rochefoucauid, “Maxims”

 

Isaty saiu do quarto de Antony ajeitando a fivela da armadura ao virar a esquina para subir as escadas do salão de reuniões deu de cara com a esposa, Deia o encarava de braços cruzados, o rosto demonstrava amargura de longa data, alguém que há anos tolerava as escaladas de Isaty, mas não mais...

- Não vai dizer nada? Você nem se esforça mais em esconder de mim seus sentimentos por ele. Deia falou com os olhos marejados.

- Deia, eu...

- CHEGA ISATY! Estou cansada, chega de viver a sombra desta sua paixão por Antony.

 - Deia, por favor, me compreenda.

- 10 anos Isaty! Por 10 longos anos você me trai com ele, sei que não é todos os dias, que você tem surtos de fraqueza, sei que se esforça, mas sejamos francos um com outro, seu desejo por ele é maior que sua força de vontade.

- Eu juro amor foi a última vez!

- Você diz isso sempre, só existe uma maneira de você nunca mais ceder a ele, seria Antony estar morto.

- Amor...

- Eu juro Isaty! Eu vou abandoná-lo se isso não acabar!

 

Taverna do guild Hall

 

Antony estava em sua terceira garrafa de vinho, o taverneiro Gamli Adal Steinnson já o olhava com desaprovação, porém Antony o ignorava como fazia com qualquer servo, o olhar de indiferença dos olhos verdes vagavam distantes, a barba por fazer e cabelos longos pretos o faziam parecer mais velho do que era realmente, Blaijem chegou se sentando na cadeira a frente parecendo nervoso.

- Estou aqui como você me pediu. Eu entendi a parte da fortuna que faremos vendendo os textos antigos, mas por que precisamos de Zelos? Nem essa urgência toda, nós podemos esperar uma melhor oportunidade de roubá-lo. Blaijem falou para Antony.

Os dois estavam sentados em uma mesa no fundo da taverna e falando aos sussurros, Antony serrou os punhos, ele finalmente havia se decidido, fazia semanas que ele vinha pensando em um plano para obrigar Isaty a tomar uma decisão a respeito dos dois e a descoberta dos textos antigos seria essa oportunidade, usar Zelos e Blaijem, dois gananciosos era a parte mais fácil, a parte complicada seria durante a reunião, Antony teria de improvisar conforme Alexian fosse revelando o conteúdo dos textos.

- Eu não entendo esses princípios idiotas que a guilda prega: igualdade, fraternidade e lealdade. Em teoria é como propaganda barata, tudo muito bonito de se ouvir. Antony começou a falar para Blaijem, ele tinha de construir seu personagem de maneira metódica.

- Concordo com você Antony, Alexian é mole demais para comandar.

 - Exatamente, na prática, na vida real isso tudo é perda de tempo. Eu já tentei abrir os olhos de Alexian, é inútil! Não pense mal de mim por falar assim de Alexian, ele é uma boa pessoa, mas um péssimo líder aos meus olhos. Para se comandar é preciso pulso forte, se desprender dos sentimentos, emoções só atrapalhavam o julgamento, nisto meu falecido pai Sebastian tinha razão, uma guilda é um negócio que deve gerar lucros, não um lugar para se fazer amigos. Se lembrar do pai o fez ter ânsia de vômito.

Antony pegou outra garrafa e bebeu direto do gargalo, ele nunca seria igual ao pai e desde o infortúnio de sua morte, Antony pensou que poderia se tornar diferente do que foi criado para ser.

 - Zelos está um pouco relutante, mas ele gosta muito mais de dinheiro do que de sua moral. Antony falou por fim.

- Ok. Basta me avisar quando for agir. Blaijem falou bebendo também.

- Sim. Antony pensou, o plano podia dar certo, desta maneira tudo que era seu por direito finalmente lhe seria dado, Isaty finalmente seria seu.

 

Salão Principal

 

- Aconteceu algo Isaty? Ashira perguntou, ela sabia que as coisas estavam complicadas para o amigo.

- Ashira não sei o que fazer, Antony está me assediando incansavelmente, sou fraco.

- Podemos expulsá-lo da guilda se você quiser.

- NÃO! Não é isso que quero, ele precisa ficar! Eu preciso dele perto, tenho de vigiá-lo.

- Por causa da bloodstone?

- Sim, os efeitos vêem e vão nele, tenho medo dele ter uma recaída e acabar tentando encontrar mais, os boatos do retorno da White Mantle tem aumentado.

- Você acha que ele voltaria para os Lunáticos?

- Não sei Ashira, estou desesperado, eu só confio em você e em Alexian para encontrar uma cura.

 

Conclave

 

O conclave se reuniu em volta da tavola redonda, um conjunto de mesas que formavam um círculo perfeito, simbolizando não haver diferenças entre nenhum dos integrantes. Alexian sacou sua espada e a colocou sobre a mesa anunciando o inicio do conclave, todos os integrantes repetiram o gesto, este era outra tradição da guilda, para demonstrar respeito e imparcialidade dos membros, todos deviam colocar suas armas sobre a mesa a sua frente, e ela só deveria ser retirada ao fim do conclave.

Alexian começou a falar explicando os motivos da convocação, Antony mantia os olhos fixos em Isaty que estava sentado ao lado da esposa, Deia ocasionalmente lhe lançava um olhar de desprezo que Antony ignorava.

- Não vejo nada fascinante em alguns papeis escritos há alguns anos. Disse Antony de braços cruzados falando com Alexian.

Até aquele momento nada de útil que pudesse ser usado por ele havia sido falado. Mas quando Alexian revelou sobre a ligação dos Elders Dragons com os 6 Deuses Humanos, Antony começou seu show.

- Isso é uma besteira, vamos acreditar nisso? Sendo que a única pessoa que alega ser capaz de traduzir os textos sequer sabe falar nosso idioma. Disse Antony sorrindo, aparentemente satisfeito consigo mesmo com seu comentário.

 É claro que ele sabia que Ihara falava a língua deles, todo membro da Priory tinha obrigação de conhecer vários idiomas, mas mostrar ignorância ajudaria no personagem.

- Infelizmente há um erro no que você disse Antony. Eu saber falar seu idioma. Disse Ihara deixando todos espantados, exceto Ashira e Amy.

- Isso é ridículo! Mais um motivo para não confiar nessa tradução, se me permitir Alexian eu posso levar este diário a pessoas qualificadas a traduzir os textos sem perigo de erros. Antony falava apressadamente, não esperava uma reviravolta desse tipo. Porém o diário agora parecia ainda mais valioso do que antes, isso aumentaria a cobiça de Zelos e Blaijem, fazendo os dois se convencerem que o diário era valioso.

- Mais qualificado do que a Priory... Perguntou Ashira erguendo uma sobrancelha.

- Gostaria que você dissesse quem. Indagou Ashira não entendendo o interesse de Antony.

 Antony foi pego de surpresa, pensou rápido em uma resposta e falou sem muita certeza.

- Os zephyrites. Eles não são descendentes do povo de Cantha.

- Realmente sim. Faz sentido. Não imaginava que você conhecesse alguns deles. Disse Ashira ainda não convencida. Ela batucava um dos dedos na mesa olhando de esguelha para Isaty.

- Vocês me subestimam. Tenho ótimos contatos pelo mundo.

Ainda bem que Antony havia se lembrou de Takato, o zephyrite membro dos lunáticos, falando desta maneira ele traria desconfiança para Ashira e Ihara, ambos eram inteligentes, notariam que existia algo errado, mas não teriam como saber o que.

- Imagino que tenha. Disse Ihara olhando fixamente para Antony. Ele começava a desconfiar de algo, assim como Ashira.

Alexian já esperava reações negativas quando começasse a revelar o conteúdo do diário, porém a atitude de Antony era suspeita. Alexian indagou o que aconteceria assim que revelasse a parte mais importante ali escrito.

- Como é que é? Antony se levantou batendo com força as mãos na mesa, outros também pareciam desconfortáveis com o rumo que estava indo esta história.

 Havia chegado a hora, a hora de se passar por um louco, Isaty acreditaria que a bloodstone estaria afetando seus julgamentos o obrigando a acompanhá-lo.

- Antony antes de você começar a discutir ou questionar, gostaria pelo menos de terminar o relato. Se você me permitir é claro? Disse Alexian o fulminando com um olhar severo.

- Muito bem. Mas aviso Alexian que você está entrando em terreno perigoso. Você como um guardian deveria saber.

- Sei muito bem disso Antony...

Alexian concluiu a história, Antony vestiu o personagem se lembrando de como agia sobre efeito da bloodstone. Parecer um louco era fácil e até divertido, Antony se sentiu um jovem novamente aqueles dias iniciais quando estava com Isaty e Yerko.

- Heresia!!! O que você está dizendo é heresia!!! Gritava e bufava Antony como um histérico.

- Senhor mesmo não gostando de concordar com Antony, o que está escrito no diário pode ser um relato de um louco ou uma piada. Como podemos sequer cogitar em acreditar em algo assim? Disse Remmy desconsertado, ele não gostava de se opor ao líder, ainda mais a favor de Antony.

- Enfim alguém mais com juízo aqui! Nós somos guardians, honramos os Deuses, nosso poder é concedido por eles. Não está afirmando que esse poder é do nosso pior inimigo... está?

 Tanto importava Deuses, Dragões, fortuna, o que importava sempre seria Isaty.

- Usar o poder do próprio inimigo é algo inteligente, grandes estrategistas charr já se valeram desta estratégia. E enquanto aos Deuses, nós charr matamos os nossos, tudo o que eles desejam é nos controlar. Não somos nós que precisamos deles, são eles que precisam de nós. Falou Rytlock.

- Cale a boca charr, você sequer deveria estar aqui.

Irritar Rytlock, fazer Isaty se preocupar em defendê-lo, Antony sempre podia contar com o charr para uma boa discussão.

- Gostaria de ver você tentar me tirar daqui humano.

 Antony ameaçou avançar na direção de Rytlock. Porem Isaty e Zelos o seguraram e o fizeram sentar novamente.

- Antony acho que você está precisando de um chá de hortelã. Por sorte tenho uma receita ótima de minha tia Matilda. Disse Isaty as mãos dele tremiam ao tocar o peito de Antony, um olhar de pavor surgia de seus olhos fazendo Antony esboçar um leve sorriso.

- Calma cara. Rytlock não é conhecido por poupar adversários em disputas. Sussurrava Zelos no ouvido de Antony.

- Heresia eu digo!!! Você está louco Alexian! Como pode acreditar nessa blasfêmia! Antony bufava de ódio.

Blaijem o viu daquele jeito e Imaginou que Antony não queria mais o diário para vender, queria destruí-lo, ver queimar até virar cinzas, isso não seria lucrativo para ninguém.

- Pois eu não irei participar desta balburdia! Se querem ser crucificados ou queimados em uma fogueira que seja! Eu estou fora!

Chegou a hora da verdade, a hora do fim do Ato.

- Antony reconsidere. Você está deixando se levar pelo nervosismo Isaty falou parecendo em pânico, a esposa o encarava com um olhar cortante.

- Lamento Isaty. Somos amigos, mas não vou mais fechar meus olhos para as loucuras de Alexian. Sei que você é cego em relação a ele e a esposa. Não sei por que dessa idolatria, mas não vou mais aceitar. Se é realmente meu amigo venha comigo e todos aqueles que também acham isso tudo loucura vamos fundar uma guilda de verdade. Não este circo!

- Eu que lamento ouvir isso Antony, lamento mesmo. Disse Isaty pela primeira vez sério, a esposa dele havia agarrado a mão de Isaty por baixo da mesa o impedindo de se levantar.

 Zelos e Blaijem fizeram menção de se levantarem. Porem pareceram reconsiderar e permaneceram sentados em silencio.

- Então é isso? Que todos vocês queimem no fogo de Balthazar! Ao dizer isso Antony saiu da sala de reunião rumando para a saída, o espetáculo havia acabado.

 

Quarto de Antony

 

Antony havia demorado demais. Da saída da sala de reuniões até seu quarto onde apanhou todas suas coisas ele deveria ter levado mais de 30 min. Pelos seus cálculos a reunião já deveria ter terminado, ninguém veio falar com ele, Antony tinha certeza que Isaty viria, ele aguardou o máximo que podia sem levantar suspeitas.

 Agora de cabeça mais fria ele tentava pensar em um plano. Antony iria embora com certeza, todo o espetáculo que ele encenou não faria sentido se permanecesse ali.

Antony precisava de um coringa. Ao pensar essa frase ele sorriu. Era claro o que deveria fazer e quem devia procurar.

O caos sempre foi a especialidade da família Solar Cran. Antony jogou a mochila nas costas quando pensou em sair retornou e abriu a gaveta da cômoda pegando um livro de poesias, ele abriu e leu um verso:

 

“Sua aflição tem sido minha angústia; sim, retraio-me

E pereço em sua desventura desafortunada.

Vasculhei os picos e as profundezas, a extensão

De todo o nosso universo, com esperança desesperada

De encontrar consolo para sua selvagem inquietação”.

- James Thomson, “The City of Dreadful Night”

 

 Antony guardou o livro de poesias e saiu do seu quarto, não se dando ao trabalho de trancá-lo. Não iria voltar para ele, enquanto caminhava para a entrada do guild hall notou as preparações dos outros para a missão, alguns deles nem se davam ao trabalho de olhar para Antony, outros apenas acenavam com a cabeça.

- Que se danem todos! Foi seu pensamento, onde estaria Isaty.           

 Quando estava quase na entrada do guild hall próximo a última ponte de acesso, notou uma pessoa parada encostada na coluna. Antony sorriu, imaginando que pelo menos um não o abandonará.

- Hora, hora. Que surpresa. Fiquei na dúvida se você me deixaria ir embora assim sem falar nada comigo.

 Não ouve resposta. A pessoa apenas andou na direção de Antony e parou a sua frente.

- Não vai dizer nada? Não vai nem tentar me fazer mudar de idéia?

Isaty o abraçou erguendo a cabeça com os olhos cheios de lágrimas, Isaty queria tocar Antony, sentir os cabelos negros em volta dos dedos, ver se os braços musculosos eram tão firmes quanto se lembrava, ou se as palmas calejadas eram ásperas.

 Isaty lutou contra esse impulso usando toda sua força de vontade para isso e falou.

- Porque está agindo como um louco? Você falou coisas sem sentido, nunca ligou para os Deuses, alem disso parecia um idiota.

- Sou um excelente ator Isaty, posso interpretar qualquer papel, até mesmo o de um completo idiota ganancioso que não liga ou ama ninguém. Eu poderia ter tido um futuro nos palcos, posso até ouvir a platéia me aplaudindo.

- IDIOTA, PORQUE FEZ ISSO TUDO? Isaty gritou.

- Por você? Porque quero que venha comigo Isaty, deixe tudo para trás. Seremos só eu e você!

- Deia... não vou abandoná-la Antony, já falei isso.

 Antony sorriu. Ele já começava a preparar as palavras certas para poder manipulá-lo, infelizmente não teve sequer tempo disso, Deia surgiu de repente vindo por trás de Isaty, uma faca foi retirada do cinto dela e enfiada na barriga de Antony.

Um olhar de espanto cobriu seu rosto, a faca então subiu estripando-o como um porco. Deia se lembrou das instruções de Luuh dadas na casa de Oroko há 10 anos atrás de como matar uma pessoa. O corpo cambaleou e foi direcionado para o precipício despencando no rio subterrâneo.

 Deia encarou Isaty que parecia em choque, ele retirou um lenço do bolso e limpou a lâmina da faca jogando o lenço no precipício. Depois ficou alguns segundos olhando para o rio pensando no que tinha acabado de fazer, até que se afastou da beirada indo embora levando a esposa com ele.

 

Escada Norte

 

Isaty empurrou a esposa contra a parede, as mãos tremiam em seu ombro, os olhos vermelhos de tanto chorar.

- Você o matou! POR QUÊ? PORQUE FEZ ISSO?

- Por quê? Porque eu o odeio! Matei por sua causa! Eu avisei você Isaty, mais de uma vez!

Isaty a largou se afastando dela e subindo as escadas para o salão.

- Isaty! Deia falou.

- Volte para o quarto, preciso pensar, preciso ficar sozinho.

Luuh procurava Isaty entre os membros da guilda que se encontravam no salão. Conseguiu localizá-lo vindo dá área da taverna. Ela avançou rapidamente em sua direção o agarrando pelo colarinho da camisa que aparecia por baixo da placa peitoral da armadura. Luuh o empurrou contra a coluna de pedra exigindo explicações.

 - Porque me colocou em seu esquadrão Isaty?

Isaty tinha uma expressão cansada e nervosa, uma gota de suor escorria pelo seu rosto, Isaty explicou a Luuh que a idéia tinha sido de Rytlock, olhando para ela, Isaty se lembrou de Tybalt, da perda de Luuh e imaginou se ela havia se sentido da mesma maneira que ele estava se sentindo agora, totalmente quebrado por dentro.

Isaty se aproximou de Alexian e falou perto do seu ouvido. Alexian tinha acabado de ter uma discussão com Salvatory a respeito de Antony.

- Alexian posso ter uma palavrinha com você em particular? Isaty falou não olhando para a esposa.

Os dois se retiraram do salão principal indo ao escritório de Alexian. A porta atrás dos dois foi fechada e Alexian se sentou na cadeira em frente a mesa oferecendo a outra cadeira a Isaty.

- O que esta lhe incomodando Isaty? Está preocupado com o que Salvatory disse?

 Isaty se sentou cruzando as pernas tentando decidir se devia falar o que havia acontecido, se teria coragem de entregar a esposa desta maneira, por fim ele desistiu.

- Não sei se foi boa idéia realmente ter deixado Antony partir pelo menos não daquela maneira. Isaty falou desviando a assunto.

- Você acha que ele vai falar a respeito do diário? Ou pretende voltar aos Lunáticos?

- Não. Mas acho que ele seria útil nas incursões. Falar de Antony causava dor a Isaty.

- Antony fez a escolha dele. Não podemos obrigá-lo a permanecer na guilda ou aceitar tudo que na opinião dele é certo. Faremos o seguinte. Assim que tudo isso se resolver eu irei pessoalmente procurá-lo para conversar. Diacordo?

- Sempre o conciliador. Diacordo senhor. Então por enquanto vamos deixá-lo em paz. Quem sabe ele reflita em sua decisão estando sozinho onde possa estar. Disse Isaty suando pela testa, o escritório de Alexian parecia se fechar sobre ele, Isaty estava ficando asfixiado.

- Você esta bem Isaty? Aconteceu algo? Alexian perguntou preocupado.

- Não senhor. É que eu o conheço a muito tempo. Passamos por muita coisa juntos em Ascalon. Você devia ter conhecido o pai dele. Figurinha adorável. Isaty quase vomitou ao lembrar de Sebastian.

- Sebastian Solar Cran? Perguntou Alexian, a mão do líder tremeu, Isaty notou algo estranho no olhar de Alexian.

- Você o conheceu senhor?

- Pessoalmente não. Mas a fama o precede, líder dos separatistas, político, culpado por mais de 6 mil mortes de inocentes em Ascalon.

- Sim. Se existe algo que ninguém lamentou foi a morte daquele miserável. Não esperava que as coisas chegassem a este ponto... bem, obrigado por me ouvir senhor. Nos vemos quando retornarmos das incursões.

- Certo Isaty. E boa sorte ao voltar a Ascalon.

- Lar doce lar. Falou Isaty se levantando para sair da sala. O suor escorrendo pelo queixo, ele tinha de sair rápido ou acabaria desmaiando.

Isaty saiu respirando fundo o ar fresco, levou a mão ao bolso querendo pegar o lenço, mas se lembrando que tinha usado ele para limpar a faca que Deia usará para matar Antony, Isaty levou a mão a boca e correu para a lateral do precipício e vomitou. A expressão mudando como se lembrasse de algo importante, ele alisou a barriga com a mão trêmula e abriu um sorriso indo em direção o seu esquadrão. Enquanto caminhava pensou.

- Deia. Eu sinto muito. Sinto pelo que fiz e ainda vou ser obrigado a fazer... com você.

Todos Atuam...

 

 

“Então compartilhai a vossa dor, permiti esta triste libertação.

Ah, fazei mais do que compartilhá-la! Dê-me toda a vossa aflição”.

- Alexander Pope, “Eloisa to Abelard”



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