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História Crossed Histories - I See Fire


Escrita por: Gigi-do-Malik

Notas do Autor


Hey lady's dessa corte maravilhosa!! Como vocês tão? Principalmente, como tá 2017?

Bom, aqui estou eu com mais um capítulo e espero do fundo do coração (como sempre) que vocês gostem szz Esse cap também não tem nada de muito especial, foi meio difícil de escrever, mas espero tomar um rumo no qual os próximos sejam emocionantes e vocês adorem!!

A música de hoje é uma das minhas preferidas do Ed, mas é retratada de um modo diferente e tem tudo a ver com a história e com o cap passado, onde a Pho acha um certo garotinho suspeito que vocês também vão conhecer melhor! É um personagem que eu tava louca pra introduzir aqui, vamos ver o que ele vai fazer, né?

Boom, boa leitura dudes <3:

Capítulo 26 - I See Fire


Fanfic / Fanfiction Crossed Histories - I See Fire

                                    Lânia (Europa)

Entro no quarto pingando tanto quanto a chuva lá fora. Evito tocar nos móveis e seguro a imensa vontade de me jogar na cama que parece muito convidativa agora; já basta estar encharcando todo o chão de um aposento que nem é meu.

Vou até a janela, sentindo o vento gelado bater em meu rosto, trazendo junto consigo o cheiro de grama molhada e terra. Inspiro o ar fortemente, tentando absorver as sensações nostálgicas que ele traz. Lá em baixo, o breu reina na noite, mas a floresta ainda é clareada pela Lua e pelas poucas tochas. 

Após encarar a paisagem mágica por alguns minutos, pareço me dar conta que estou realmente molhada pelo aguaceiro que nos pegou desprevenidos enquanto voltávamos das colinas e que partes de meu corpo também estão com terra, talvez por ter me agarrado tanto à Edward.

— Droga — murmuro, voltando o olhar para o quarto e encontro o respectivo dono entrando pela porta. 

— Desculpe a demora, fui parado algumas vezes e ainda tive que pedir nosso jantar. Vai comer aqui, não é? — ele começa a tirar a camisa molhada, mostrando seu peitoral de tirar o fôlego e ficando nu da cintura para cima. Ruborizo rapidamente e desvio o olhar.

— Não estou com fome. 

Edward para de fazer o que está fazendo e me encara.

— Eu também não, mas precisamos comer. E precisamos de um banho também. 

Dito isto, ele vai até a corda vermelha no canto do quarto – igual à que eu quase nunca uso — e a puxa. Meu rosto se contorce em confusão.

— Bom, então vou até meus aposentos tirar essa camada de sujeira e água gelada — digo, começando a caminhar até a porta enquanto me repreendo de todas as formas possíveis por ter aceitado a proposta de ver vindo até aqui, mas sou barrada quando sua mão segura meu braço com carinho. 

Os olhos azuis esverdeados de Ed me encaram com súplica de forma intensa.

— Você vai voltar, não é? — ele sussurra, chegando mais perto — Não vou conseguir ficar sozinho aqui.

Seguro a respiração por um segundo ou dois enquanto seguro seu olhar, estou relutante, mas nós dois sabemos que essa é uma batalha perdida. Nunca conseguirei deixá-lo nesse estado, não depois do que ele acabou de fazer. E, principalmente, não depois de todos esses momentos que estamos acumulando juntos. 

— Vou — ponho minha mão por cima da sua, no meu braço e aperto levemente — Sempre voltarei.

Nós dois sorrimos pelo duplo sentido da frase e ele chega mais perto, depositando um beijo em minha testa.

.

.

.

Acordo com o barulho de um trovão alto e poderoso que ilumina todo o quarto de Edward com uma intensidade muito melhor que todas as velas presentes aqui. Fico desnorteada por alguns segundos, tateando a cama, mas não encontro ninguém. É só levantar o olhar para vê-lo concentrado em algo no canto do quarto, sentado em sua escrivaninha onde, dias atrás, me mostrou algumas de suas composições. E, a julgar pela contração dele, aposto que é exatamente isso que ele está fazendo.

Aproximo-me calmamente, evitando fazer barulhos. Chego perto o suficiente para ver os rabiscos no pergaminho e espalmo minhas mãos por suas costas, deixando-as passear como se fosse uma massagem.

— O que está fazendo? — pergunto perto de seu ouvido.

Ed olha assustado por cima do ombro, abrindo um sorriso tímido logo depois.

— Compondo — ele aponta para o pergaminho — Não consegui dormir, senti que precisava desabafar de alguma forma. Então comecei uma música e estou quase terminando. Acho que é para Afonso, mas há uma parte um pouco... abstrata, digamos assim.

— Como assim?

— Bom, descobri alguns anos atrás que tenho um dom exótico para inventar nomes — ele ri, negando para si mesmo — Fica legal em algumas músicas, misturado à imaginação, à realidade e à ficção. 

Balanço a cabeça e chego mais perto.

— E eu posso ver essa letra? — arqueio a sobrancelha, esperançosa.

— Claro — ele ri, passando a mão pelo papel e arrastando-o para o meu lado. Christopher se levanta da cadeira e indica para que eu me sente ali. Faço o que ele pede e, antes de começar a ler, sinto suas mãos em meus ombros e costas, exatamente como eu fiz há pouco.

— Acho que vou nomeá-la de: Eu Vejo Fogo. Tive visões de quando estávamos no funeral... E quando a fogueira foi acessa, era o único lugar para que eu conseguia olhar. Para todo aquele fogo queimando e consumindo a palha, fiquei meio hipnotizado. E então tive essa ideia quando chegamos; acho que não ficou ruim. 

Analiso o pergaminho com cuidado, como se ele fosse rasgar apenas com meu olhar e depois de uma grande lufada de ar, me permito ler.

— É... Perfeito, Ed! — digo, inspirando uma grande quantidade de ar para conter as emoções que me invadiram desde que comecei a leitura — Você é um ótimo criador de histórias, duvido que um dia faça algo ruim! Estou impressionada com a profundidade da melodia, como você expressou seus sentimentos...

— É o mínimo que poderia fazer depois de ter nove irmãos. E é como me sinto. 

Espero um pouco, digerindo a ideia e engulo seco. Decido falar sobre outra coisa que chamou minha atenção, já que essa ainda é uma ferida aberta demais para ser tocada.

— A parte que fala sobre o seu povo me chocou um pouco... É assim que você se sente também?

— De todas as formas possíveis, Phoebe. Meu povo é tudo para mim. Se um dia eles caírem, eu vou cair também, ou vice-versa. Todos queimaremos; essa é a posição de um rei: sempre na beira de um fogo cruzado. E quando ele finalmente bater à porta, à espreita, certamente eu serei atingido com a maior fúria guardada.

Observo-o admirada por um longo tempo. Meus olhos passam por cada parte de seu rosto, analisando as expressões que confusas que ele faz enquanto o olho, séria. Acho que Edward Christopher Sheeran nunca vai deixar me de surpreender. 

— Você é tão incrível — murmuro, levantando da cadeira e, com um passo, nossos corpos ficam a uma distância não muito segura.

— O quê? — ri, confuso. Mas suas mãos na minha cintura mostram que ele está gostando de minha reação.

— Vai ser um rei maravilhoso — colo nossas testas, perdendo um pouco a noção do que estou falando ou de como formular outra frase.

— E você vai ser uma...

Somos interrompidos por três batidas na porta e então a cabeça de Rupert entra para dentro, com cautela. Ele sorri envergonhado ao ver nossa posição intima e eu e Ed nos afastamos.

— Papai convocou todos a uma reunião de emergência.

Rup nos olha como se pedisse desculpas e logo depois recebo o mesmo olhar de Edward.

— Em plena madrugada? O que aconteceu, irmão?

O ruivo mais novo bufa, frustrado.

— Assuntos de Estado. Algo grande, pelo que parece.

Dou de ombros e Ed pega rapidamente uma blusa mais quente no armário, devido ao tempo lá fora e volta até mim.

— Preciso ir, mas durma aqui se quiser. Espero não demorar muito — seus lábios tocam rapidamente os meus antes de sair em disparada pela porta, deixando-me sozinha em seu quarto.

Respiro fundo, sentando na cadeira novamente.

Não consigo controlar meus pensamentos imaginando o quanto isso é inapropriado, no que as pessoas podem pensar se descobrirem. Vão pensar o pior, obviamente e então nunca me casarei. Bufo, frustrada. 

Mas também não consigo conter a curiosidade que tenho em saber qual seria o final da frase de Ed. Afinal, eu serei o quê? O que ele sabe que eu serei com tanta convicção assim?

Nego com a cabeça, levantando e arrumando a cama até que ela fique em perfeito estado, não quero que as pessoas pensem coisas erradas sobre nosso relacionamento “inocente”. Enfim, escorro os dedos pelos cabelos e vestido e me dirijo para a porta, louca para sair e pensar em um lugar onde os não vou ser atacada e humilhada por minha própria mente. Porque quando Ed está aqui tudo faz silêncio e parece certo, mas é só ele virar as costas que a realidade me atinge como um soco no estômago.  

Céus, Edward é um príncipe! Um príncipe herdeiro! Vão casá-lo com uma princesa afim de uma aliança monárquica e eu vou ser deixada de lado. Devo ser louca em ver algum futuro para nós dois, afinal ele não deve ser tão iludido a esse ponto. Ed é uma pessoa realista e sabe que não seremos mais do que somos agora.

E, de repente, até a ideia de ficar aqui como dama de honra da futura mulher dele parece uma tortura mental interminável.

Abro a porta, ávida por ar e por uma cama onde possa me jogar e divagar num futuro imaginário, mas o que encontro do outro lado não é agradável. Não deixa minha consciência limpa, só a faz ficar mais suja e em alerta. Há inúmeras trombetas tocando dentro de mim, gritando “Perigo!” e “É bom que você tenha uma ótima desculpa ou ficará mesmo sem um marido, Phoebe Georgie Bailke” 

— O-olá — digo com a voz rouca e hesitante. Tenho vontade de me enfiar em um buraco e ficar enterrada lá para sempre, contudo o que posso fazer é sorrir sem graça para a mulher a minha frente.

Lillian me olha de cima a baixo, assim como não evito fazer com ela. Ela usa um vestido simples e uma manta por cima dos ombros – não uma roupa propriamente dita para deitar, mas algo mais casual que o habitual –, seus cabelos castanhos estão soltos nos ombros e seus olhos me encaram com espanto. Minha atenção para em sua mão, onde ela tem um pergaminho deslacrado e tenta esconder atrás de si ao ver que já reparei nele, mas é inútil.

— Olá — sua voz soa sutil e incerta, assim como a minha — Vim entregar algo ao príncipe, pode chamá-l.... Pode chamar Vossa Alteza para mim?

Algo uma sobrancelha quando vejo que ela iria se referir a Ed com algo mais íntimo, confirmando algumas suspeitas e criando várias outras. Por fim, decido não julgar. Em alguns anos ou meses, pode ser eu nessa mesma posição embaraçosa.

— O príncipe não está — tomo o cuidado de me referir a ele formalmente, não quero tropeçar em minhas próprias palavras como Lillian. Engulo seco, continuando — Está em um compromisso com o rei. 

Não sei o que dizer a seguir. Pergunto se ela quer deixar algum recado? Não! Pareceria que eu vou ficar aqui por toda a noite e isso vai piorar minha situação. Digo que estou de saída? Não! Pode parecer que entrei aqui sem permissão e que estou bisbilhando as coisas do príncipe. Por fim, estou em uma encruzilhada onde não vejo saídas rápidas.  

Mas, felizmente, Lillian parece não querer dificultar as coisas.

— Ah, tudo bem — ela diz com a voz fraca, mas ao notar isso, ajeita a postura e me olha de forma imponente — Entregarei a ele depois, não precisa avisar que estive aqui.

— Na verdade, estou de saída.

Fecho a porta atrás de mim e ficamos nos encarando em pleno corredor. Os olhos dela faíscam com raiva e decepção e os meus estão mascarados por algum tipo de superioridade estranha que não sinto verdadeiramente; por dentro estou com medo dos boatos que ela pode criar e com medo de me afundar neles. Meu coração está acelerado e cada sentido está alerta ao perigo. 

Depois de alguns segundos constrangedores, decido que alguém precisa se afastar primeiro. E, mesmo com muitos riscos, decido que essa pessoa deve ser eu. Dou alguns passos de costas na direção à saída e logo depois me viro, caminhando de cabeça erguida e olhos cerrados.

— Phoebe... — Lillian se apressa em dizer, fazendo-me voltar para ela com surpresa estampadas em todos os atos — Não vou contar a ninguém que esteve aqui... Caso esteja pensando nisso. Espero que possa fazer o m....

— Obrigada — digo, sincera e posso jurar que deixei transparecer minha gratidão e alivio na voz — Manterei a discrição também, senhorita Comiotto.

Com isso, me viro e saio o mais depressa dali, virando o corredor e então começando a correr. Não quero pensar em como escapei dessa vez, nem em como o próximo encontro embaraçoso com alguém pode ser fatal. 

.........

Oh, olho enevoado da montanha abaixo
           Cuide das almas dos meus irmãos
             E caso o céu se encher com fogo e fumaça
             Continue vigiando os filhos de Durin

Se isto é para terminar em fogo
           Então devemos todos queimar juntos
            Veja as chamas subirem alto na noite
             Chamando ao pai, oh, se prepare e iremos 
        Assistir as chamas queimarem
      A encosta da montanha

E se nós morrermos esta noite
            ​Nós devemos morrer juntos
            Levante uma taça de vinho pela última vez
          Chamando ao pai, oh
        Se prepare e iremos
          Assistir as chamas queimarem
       A encosta da montanha

Desolação vem sobre o céu

Agora eu vejo o fogo
              No interior das montanhas
           Eu vejo o fogo
          Queimando as árvores
        E eu vejo o fogo
         Esvaziando almas
       ​E eu vejo o fogo
     Sangue na brisa
E eu espero que você se lembre de mim

Oh, se meu povo cair
          Certamente eu vou fazer o mesmo
           Confinado nos buracos das montanhas
           Ficamos muito perto da chama
         Chamando ao pai, oh
          Aguente firme e iremos
           Assistir as chamas queimarem
         A encosta da montanha

Desolação vem sobre o céu

E se a noite está queimando
         Vou cobrir meus olhos
           Pois se a escuridão voltar então
          Meus irmãos morrerão
             E enquanto o céu estiver caindo
          Colidirá nessa cidade solitária
            E com aquela sombra sobre o chão
         Ouço o meu povo gritando

Eu vejo o fogo
          Oh, sabe eu vi uma cidade em chamas (fogo)
           Eu vejo o fogo
          Sinto o calor sobre a minha pele (fogo)
         E eu vejo o fogo
             Queimar na encosta da montanha
                    I See Fire – Ed Sheeran

.........

                                     ​Lânia (Europa)

Os galhos das árvores que nos cercam balançam com a batida quente e malcheirosa do vento. O fogo agora já deve estar apagado a essa altura, mas o dor ainda é muito presente.

Estou ao lado do garoto, que continua dormindo. Afago seus cabelos com quase a maior leveza que já pus na mão – a maior foi quando toquei em Valentim pela primeira vez (e ainda mais insegura que quando peguei Afonso), eu estava trêmula e com medo, mas exultante ao mesmo tempo – enquanto vejo seu rosto impassível no sono. No começo, fiquei com medo do que pensariam se vissem, mas aos poucos a vontade se tornou incontrolável e simplesmente decidi que não devo ligar. É apenas um garoto que vai acordar assustado e rodeado de estranhos que não são da melhor laia hoje e talvez ele se sinta melhor com uma demonstração de afeto e não de ódio, como as que ele viu ontem. 

Enquanto mexo cuidadosamente em seus cabelos pretos curtos, observo suas feições. Ele não deve ter mais do que doze anos, mas duvido que tenha mais que dez. As bochechas são cobertas por algumas sardas e levemente rosadas, dando um aspecto angelical nele. Os olhos estão inchados pelo choro, talvez o desespero de ver a morte bater à porta. Se meu casamento tivesse ocorrido mais rápido, eu quase teria idade para ser a mãe dele. Céus!

Após algum tempo esperando, quando a madrugada já não é mais tão escura, sinto ele se remexer ao meu lado. Primeiro, as pernas, depois leva o braço até o rosto e, finalmente, dá um pulo assustado olhando ao redor. Seus olhos arregalados param em mim e ver a imensidão azul do olho dele me lembra o de Edward. As grandes órbitas angelicais de Edward Sheeran. 

— Olá — digo e me esforço o máximo para minha voz soar gentil e amigável.

Ele se arrasta para o lado rapidamente e pega um pedaço grande e grosso de graveto, apontando-o para mim.

— Quem é você? Onde estamos? O que quer comigo? — seus olhos continuam vagando confusos pelo ambiente do nosso acampamento, mas eu estou sozinha ali. Os outros estão, provavelmente, decidindo algo pelas minhas costas. Mas ao menos tenho o consolo de que Max não entregará o menino antes de ter uma conversa franca com ele. 

Estou em minha forma feminina maltratada, implorei a Malena até ela ceder, nem um pouco satisfeita. Pode ser um erro irreversível, assim como uma forma de deixá-lo menos acanhado. Duvido que ele ao menos me reconheça, tampouco que vá me denunciar.  

— Bom, desculpe, mas acho que eu sou quem devo fazer essas perguntas — dou um sorriso de lado e pego o cantil que Norman encheu especialmente para ele — Beba, deve estar com sede.

— Não aceito nada de estranhos — ruge.

— Ótimo — recolho minha mão, pensando em Valentim e no quanto eu deveria ensinar isso a ele, mas não posso e, no entanto, estou fazendo exatamente o contrário — Você é um garoto esperto, então. Não deve mesmo aceitar coisas de estranhos, mas estava gritando socorro a plenos pulmões ainda há pouco e inalou muita fumaça, seu corpo precisa disso. 

Ele continua me olhando como a presa olha para o predador antes de ser atacado. Suspiro, colocando o cantil de lado.

— Certo — continuo — A nascente de onde peguei isso não fica muito longe. Se não confia em mim, podemos ir até lá e conversarmos no caminho. Eu falo sobre mim e você fala sobre você.  

O garoto pondera um segundo ou dois, olhando para o chão e mordendo o lábio. Por fim, ele me encara e, sem dar resposta, se levanta. Surpresa e aliviada, faço o mesmo. 

— Antes de tudo, sou Phoebe — estendo minha mão — Qual o seu nome?

Ele parece não ter a mínima ideia do que o nome significa, então apenas me olha mais uma vez.

— Chandler — estende sua mão também — Chandler Riggs.

— É um prazer, Chandler.

Sorrio e começo a caminhar com ele ao meu encalço. No começo, ficamos calados, mas sei que o único motivo de Malena ainda não tê-lo abandonado é pela extração de informações e sei que serei muito mais amigável com ele do que Emma nisso. 

— Então.... — mordo o lábio, assustada em como perdi a forma para socializar. Como pretendo falar com meu filho, então? — O que aconteceu com sua vila?

Chandler chuta uma pedra no caminho e mantém seu olhar fixo no chão.

— Fomos atacados. Um homem estranho chegou um dia antes e falou com outro homem todo de preto em um cavalo. Ouvi dizerem que eles não se preocuparam em serem discretos. Poucas horas depois, mais deles apareceram queimando tudo o que viam pela frente.

Prendo a respiração, surpresa. Acho que essa informação, de certa forma, elimina todas as nossas teorias. Mas algo ainda não se encaixa, não parece certo. E precisamos descobrir rápido o que é.

— Hm... Sinto muito — balbucio, sem sabe o que falar — E sua família?

— Meu pai morreu — ele funga, virando a cabeça para o lado e permanece assim.

— No ataque? 

— É.

— E você não tem mais ninguém? — pergunto, sentindo meu coração se apertar.

— Não. Sou filho de um ferreiro, minha mãe morreu quando eu tinha cinco anos e não tenho irmãos. Quando os homens chegaram, os aldeões foram até meu pai pedindo socorro e ele deu todas as armas que tínhamos. Acabou saindo junto com eles e me mandou ficar em casa, mas eu vi pela janela quando ele morreu. 

Engulo seco e fico feliz por termos chegado a nascente. Chandler se joga na água tão rapidamente que me assusto, com medo de ser algum bicho. Logo, ele está com a língua para fora, bebendo avidamente toda a água que consegue e escorre pela pedra.

Quando ele parece mais calmo e saciado, sinto que devo dizer algo.

— Meus pêsames... Pelos seus pais. Sei como é difícil perder as pessoas que ama.

Chandler me olha curioso, como se quisesse souber se eu realmente sinto muito, mas somente assente e volta sua atenção para a água. Ele parece saber que está todo coberto de cinzas, porque começa a esfregar o rosto e os braços como se estivesse tomando banho. Vou até uma árvore e viro de costas, dando privacidade caso ele queira tirar alguma peça de roupa. Minha cabeça trabalha a mil em várias situações com Valentim no lugar do garoto atrás de mim e é simplesmente doloroso demais para sequer pensar. Se as coisas fossem mais fáceis...

— Pronto — ele diz, aparecendo na minha frente e tirando-me dos devaneios — Sua vez de falar sobre você.

— Ah, o que quer saber?

— O que estava fazendo na minha vila àquela hora da noite? Estava com os homens que nos atacaram?

— Não! — respondo de imediato, minha voz soa indignada, mas sei que ele não tem como saber se eu sou uma pessoa boa e suspiro — Eu e meu grupo estávamos de passagem. Íamos parar na cidade vizinha, mas vimos fogo e tentamos ajudar. Então mais homens chegaram e saímos correndo, mas eu e meu amigo ouvimos você gritar e te salvamos.

Ele me analisa bem por um instante, sua boca numa linha fina e os olhos estreitos.

— Obrigado — ele diz, por fim — Por salvar minha vida.

— Não por isso — sorrio, oscilando o olhar entre ele e o caminho de volta para o acampamento — Agradeça ao meu amigo também. Ele fez a maior parte.

Chandler assente.

— Sabe... Você é um garoto muito forte. Quantos anos tem?

— Dez.

— Foi o que eu imaginei — murmuro mais para mim mesma. No restante do caminho, observo a postura do menino Riggs. Ele tem o andar de alguém cansado, os olhos ainda inchados e o corpo todo encharcado. Mesmo com todos os acontecimentos, todos os conhecidos que estão mortos, ele está sendo forte na minha frente. E eu admiro isso. Principalmente depois de perder o pai. Mas ele não é frágil como as outras crianças da sua idade – ou ao menos não quer ser na frente de uma estranha.

E eu sei o quão doloroso é perder os pais, eu perdi os meus. Os perdi quando comecei essa maldita missão. Além de me deserdarem, eles admitiram vergonha em público e nada me machucou mais que isso. Meus próprios pais! Mas sei que não deveria esperar uma postura diferente deles, a vida de Baltazar é a monarquia e a vida de minha mãe é meu pai. Zach tentou se manter neutro no assunto – apesar do anúncio valer por todos os Bailkes e Sheerans, então não sei o que aconteceu com ele. Houve rumores que eles tentaram me passar por morta, mas Edward não permitiu e, finalmente, a história de que a lenda era real e que eu era a escolhida veio à tona. Tudo virou um caos. Parece que foi a séculos atrás.

Quando ponho os pés no acampamento, vejo rostos preocupados.

— Phoebe, céus, imaginamos que tinham sido pegos! — Barbra exclama, visivelmente aliviada e seu olhar para em Chandler. Ela se esforça para abrir um sorriso amigável, embora eu veja relutância em seus olhos. Barbra sabe que se conversar demais com ele não vai ser capaz de deixá-lo à deriva por aí, principalmente depois de ouvir a história que eu acabo de ouvir.

— Pessoal, esse é Chandler. Ele tem uma história bastante peculiar para contar a vocês — pisco para Max e vejo o alivio em seu rosto, ele sabe que tenho um bom argumento para fazê-lo ficar agora — Chandler, esses são... 

{...}

Após ouvir tudo, vi o rosto de Malena vacilar mesmo que por um segundo. E isso é tudo o que eu preciso para convencê-la.

Chandler Riggs contou sua história a algumas horas e todos ouvimos com atenção. Depois disso, a manhã finalmente apareceu totalmente e, com ela, a fome. Então Emma e Norman foram caçar e Malena se encolheu junto aos utensílios mágicos dela, pensando. Barbra e Max conversaram muito, não de uma forma amigável em todos os momentos e durante todo esse tempo fiquei com o garoto, embora tenhamos conversado pouco.

— Phoebe, preciso falar com você — Max chega até mim por trás, colocando a mão em meu ombro. 

— Claro — olho para Chandler — Tudo bem por você?

Tenho medo de deixá-lo aqui sozinho, mesmo que não esteja longe. Ele não falou muito com os outros, só o necessário.

— Eu fico com ele — Barbra para ao seu lado, sorrindo — Tenho a impressão de que conversamos muito pouco. E eu não mordo.

Assinto, levantando-me e seguindo Max para um lado um pouco distante da árvore onde Barbra tenta, animadamente, iniciar uma conversa com um Chandler fechado, com medo e sem graça.

— O que foi? — pergunto após notar seu olhar pesado sobre mim — Não conseguiu convencê-la?

— Não, isso é o de menos. Você sabe como ela é, vai acabar caindo nas graças do carrancudinho aí.  

— Então o que é?

— É só que... Ele lembra muito a mim quando morava com meus pais. E lembra ela, você sabe. Não quero cometer o mesmo erro duas vezes.

— Max, eu sei que esse garoto é como uma sombra no seu passado... Mas eu realmente não aconselho ficar se martirizando por aí. O que aconteceu com Wendy nunca poderá ser desfeito, mas Chandler é outra história. E nós ainda temos tempo de salvá-lo.

— Não tivemos tempo de salvar Wendy — ele resmunga, fechando a cara e sei que está emburrado e com o coração partido. 

— Nunca cometeremos esse erro novamente. Emma e Malena podem não entender, mas você sabe que Barbra já concordou e Norman nunca se oporia.

— Barbra não concordou.

— Ainda — pisco um olho, sorrindo levemente. Dou-lhe as costas, pronta para sair.

— Phoebe — sua voz me chama, insegura, fazendo-me parar — Nunca cometeremos mesmo? Digo... O erro. Quer dizer, Valentim está vindo e eu sei que Riggs te fez pensar nisso.

— Nunca — asseguro — Estou tentando não misturar as coisas e vem sendo difícil... Mas eu não consigo evitar pensar.

Solto um suspiro pesado, esfregando as mãos com força pelo rosto. Escorro-as também pelo meu cabelo, que vem crescendo com os meses e já está quase na altura do busto.

— Não consigo não acusar a mim mesma de estar fazendo uma besteira egoísta.

— Você é a pessoa menos egoísta que eu conheço, Phoebe — Max discorda, segurando gentilmente no meu braço — E está mais do que na hora de fazer algo por você. Pela família que você ainda quer preservar, mesmo depois de tudo o que Edward fez.

— Mencionar Edward é tolice. Ele não é minha família, não mais. Vocês são. Vocês e Valentim.

Ele sorri. 

— Estaremos aqui para o que precisar. Além do mais, o castelo está em ruinas, onde acha que ele vai ficar? Não sabemos o que ou quem perderemos embaixo das pedras, não pode deixá-lo para trás.

— Eu sei... Mas estamos tão vulneráveis aqui. Quer dizer, passamos fome e frio, não temos uma cama para dormir à noite nem paredes. Como acha que ele vai viver aqui? Como acha que ele vai acreditar que sou mãe dele quando tudo o que fiz foi abandoná-lo? Como acha que ele vai me aceitar? Ou como acha que ele não vai estranhar o ambiente, depois de quatro anos de puro luxo? Max, eu mal me acostumo! Eu!

Antes que eu pudesse prever, lágrimas escorriam por todos os lados. Max faz aquela cara de pena que eu simplesmente odeio e vem me abraçar, mas estou fragilizada demais para recusar. Tudo o que preciso é de um amigo que não possa me julgar e sei que Max é o único nesse momento.

— Vamos dar um jeito, Bailke. Se isso significa sua felicidade, prometo fazer as bruxas moverem mar e terra para abrigar Valentim conosco. E, no final do dia, você é a única que continua achando essa ideia uma loucura egoísta, porque nem Emma concorda com você.

— Deve ser porque ela é pessoa mais egoísta que eu conheço — digo entre soluços, fazendo nós dois rirmos.

— Bom, não dá para discordar — ele me solta — Vamos, precisamos explicar para esse menino quem são os loucos com quem ele está se metendo. 

.

.

.

— Meu nome é Maximilian Prontifer. Eu sou filho de um ferreiro, assim como você e muitos outros garotos. É uma profissão bem comum — Max ri — Eu sempre me orgulhei do que a gente era, desde muito cedo eu amava acompanhá-lo no trabalho e depois comecei a fabricar minhas próprias armas para usá-las sem muita prática depois. Éramos uma dupla implacável, eu e meu pai; não sei quem tinha mais orgulho do outro. Juntos, nós conseguimos um pequeno espaço com os senhores feudais de onde morávamos, não éramos famosos e nosso sobrenome não carregava prestigio, mas amávamos o oficio e aos poucos nossa situação foi ficando cada vez mais estável. Nada demais, mas ás vezes meu pai podia comprar algo além de comida e os materiais necessários, como um vestido para minha irmã ou um colar para minha mãe. Eu era muito feliz, ainda mais me imaginando fazer aquilo eu gosto, mas não era isso que o destino tinha reservado para mim desde o começo.

Chandler o olha hipnotizado, mal desviando o olhar para a carne, que vai mecanicamente para sua boca enquanto ele absorve todos os detalhes do passado de Max. Está de noite, parece que passou voando e que não é tão difícil quanto parece ficar com um ser mais dependente como uma criança e isso me acalmou um pouco. Chandler entendeu que não podemos ficar no mesmo lugar por muito mais que um dia e não reclamou em caminhar algumas milhas. 

Depois, paramos num terreno irregular e acendemos uma fogueira, assando alguns bichos que Emma e Norman conseguiram mais cedo. Max disse-me no caminho para cá que sentia que ele e Riggs se dariam bem depois de uma conversa franca e aqui estamos nós três, encostados em uma árvore.  

— O que destino reservou para você? — sua voz tem um tom curioso, a primeira vez que vejo Chandler realmente se interessar por algo.

— Isso — ele aponta para nós com a cabeça — Foi difícil no começo, mas não me arrependo. Eu conheci as melhores e mais importantes pessoas, literalmente — ele ri, sendo acompanhado por mim, que dou um tapa no seu braço; mas Riggs não entende a piada e fica confuso. Decidimos não contar a ele quem somos, mais por precaução dele que nossa, afinal, podem usar qualquer desculpa sobre informação para torturá-lo caso algo dê errado e não queremos esse peso a mais na consciência — Conheci o amor da minha vida e, apesar de todas as dificuldades, sou um homem pleno. Sabe... Perdemos muitas pessoas até aqui, tantas que só sobramos nós, mas estamos sujeitos a isso em qualquer situação, então ao menos foi por uma coisa que descobri amar mais do que meu oficio. 

— O que é? — Chandler torna a perguntar, mas dessa vez é acompanhado por meu olhar curioso também.

Maximilian olha diretamente para mim e abre um sorriso antes de dizer.

— Meu país.

Sorrio, assentindo e fechando os olhos. Sei que ele não estaria fazendo isso se realmente não acreditasse na causa, mas ouvir tão diretamente não deixou de ser chocante. Imagino se eles realmente se sentem como eu em relação ao país, porque apesar de ser um misto de sentimentos confusos e alguns bastantes ruins, entre eles o que mais se sobressai é o amor. E, mesmo que eu queira com cada célula do meu corpo, sei que não sou capaz de fazer algo que venha a prejudicar verdadeiramente todos os meus súditos. Eu nunca seria capaz, aprendi a amar cada canto de Cantberg com Edward, e essa é provavelmente a melhor coisa da nossa relação depois de Valentim. 

— Sabe, garoto — Max continua — Você precisa ter orgulho da sua nacionalidade, do lugar que vem. Precisa aprender a amar a água, as formas, a paisagem, o relevo, até mesmo o ar.... Porque tudo isso é parte de você, parte da sua história e de muitas outras pessoas e, quando estivermos em crise, igual à que estamos agora, a responsabilidade de zelar pelo seu lar vai ser sua e das várias crianças de hoje. Precisa amar agora para escolher o caminho certo depois, para não cair nas armadilhas e falsas crenças.  

— Vocês são rebeldes? — a pergunta assusta, é inesperada, mas não há como negar. O tom de voz usado também é muito calmo e natural para ser acusador. 

— Somos — eu respondo, colocando a mão no joelho dele e apertando de leve — E temos muitíssimo orgulho disso. Lutamos pelas coisas que as pessoas não entendem, por coisas que nem mesmo nós entendemos, sacrificamos nossas vidas pela causa e morreremos por ela também. E um dia, todos vão nos agradecer por isso.

Ele nos olha surpreso, mas antes que possa responder algo, Malena vem até nós com a expressão mais animada do mundo. 

— Phoebe, tenho ótimas notícias — ela balança um pergaminho aberto na mão, mas reconheço o selo grudado em uma das partes dele. Prendo a respiração, já imaginando do que se trata — Estamos a somente dois dias da casa do seu amigo, Marcus DeLacour! 


Notas Finais


Playlist: https://www.youtube.com/watch?v=mllXxyHTzfg&index=28&list=PLA-tSOmDx5ECxYzB0fMLCCwIQCA88KEmI
Hm... eu ia colocar a letra dentro do capítulo, quando a Phoebe estava lendo, mas achei que ficaria muito grande e repetitivo, afinal eu também decidi não encurtar as frases, então foi assim mesmo! Quem ainda não conhece a letra, é só olhar ali na divisão :D

COMO FOI ESSE CAPÍTULO?
O que vocês acharam do Chandler?? E o que acham sobre o reencontro da Phoebe com o Marcus???? Isso é MUITO importante, gente! Não sei se vocês já sacaram, mas eu percebi que tem gente que não, então é assim: a Pho tem com o Marcus a mesma relação que tinha com o Ed antes da missão. Entenderam? Alguém aqui tem alguma ideia sobre o porquê da Lillian ter ajudado a Phoebe!? OU O QUE TINHA NAQUELA CARTA NA MÃO DELA???
Eu sempre tento detalhar tudo o máximo possível para vocês não ficarem perdidas.

PS: O Chandler aqui é bem novinho, como quando ele começou a atuar em TWD (embora em alguns banners meu ele esteja mais velho)
https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/5c/87/9a/5c879a871b5ac1a9eab921e67da2586c.jpg

Queria fazer o favor de pedir pra vocês divulgarem CRH pra quem sabe que gosta do Ed, sério, eu vou ficar muito agradecida se puderem fazer isso por mim.

Indicações do capítulo:

Mr. Scamander da @AnnieMcFly (de novo!) com Newt Scamander, de Animais Fantástico e Onde Habitam. Gente, sério, sem comentários para essa fanfic perfeitamente maravilhosa (e muito menos para a autora, que já se tornou uma das minhas preferidas!). Então, sério, leiam que não vão se arrepender:
https://spiritfanfics.com/historia/mr-scamander-7517839

E The Scarlet Letter da Parabatai @Thory com Zayn Malik. Eu não sei se vocês lembram, mas antigamente a @Thory tinha uma fanfic com o Zayn que se chamava The Royals, bem querida aqui no site, mas que foi excluída. Bom, a senhorita autora belíssima voltou com a fanfic, mas com um enredo diferente. Melhor fanfic da vida, leiam 2.0::::::::::
https://spiritfanfics.com/historia/the-scarlet-letter-7543849

Boom, vou indo, amores
COMENTEM, COMENTEM, POR FAVORZINHO!
XxGigi ☪☮ɘ ✡أ☯†


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