“No meio da noite
Quando os anjos gritam
Não quero viver uma mentira, que eu acredito
É hora de fazer ou morrer...”
Sara
Alguém bateu na porta e entrou. Era Mandy.
– Desculpe se interrompi algo, mas precisamos de vocês. – Ela tentou parecer séria, porém fracassou. Dava pra perceber a animação dela ao entrar no quarto e ver eu e o Pedro que ainda estávamos abraçados.
Nós a seguimos até o nosso quarto. Rosane já estava acordada, Emerson a abraçava.
– … tudo culpa sua! – disse ao me ver.
– Ela não tem culpa de nada, Rosane – Pedro me defendeu – se tem algum culpado aqui sou eu, nunca devia ter metido o Emerson nessa...
– Vocês querem parar com essa discussão! Ninguém aqui é culpado, somos todos inocentes. – Mandy falou – Nós estamos aqui porque Emerson disse que você tinha um plano, Pedro.
– Eu? – Ele olhou confuso para Emerson.
– Cara, você disse que nós tínhamos que fazer algo para parar com essa carnificina já que lá fora parece que ninguém se importa com o que acontece aqui.
– Mas eu não disse que tinha um plano, só expus minha opinião.
– Talvez você tenha razão, Pedro, talvez a gente possa fazer algo. – concordou Miguel.
– Mas o quê?
Nós todos ficamos calados, tentando pensar em algo, foi Pedro quem falou.
– Jacson, você disse que a escola tem três saídas?
– Tem...
– Onde elas vão dar?
– Elas dão em uma estação de metrô, só não sei exatamente em que parte, porque meu pai nunca me disse.
– Sabe qual a extensão dessa passagem?
– Uns 2 km. Por que? No que está pensando?
– Uma passagem fica embaixo do vestiário masculino e as outras? – perguntou Pedro ignorando a pergunta de Jacson.
– Uma fica na cozinha do refeitório e a outra... na sala do diretor.
Pedro ficou pensativo. Por fim falou:
– Nós podemos usar a passagem do vestiário masculino e a do refeitório para tirar as pessoas daqui.
– Não dá! – discordou Emerson – São quase duzentas pessoas para evacuar daqui em menos de quatro horas e bem debaixo do nariz deles. Isso é loucura!
Ele tinha razão, não dava pra fazer isso.
– Tempo não é problema, se planejarmos tudo, podemos fazer isso em quatro horas sim...
– Eu concordo com o Pedro. – Disse Jacson – Mas o nosso maior problema não é tempo e sim, como vamos fazer isso sem os caras perceberem que estamos esvaziando a escola.
– Peraí! Vocês não estão falando sério né? – perguntou Jess, ela parecia incrédula.
– Jess, nenhum de nós aqui pretende morrer ou sofrer nas mãos daquele canalha do Daniel. Não viu o que aconteceu com o Jared e com a Rose? Quer continuar tendo pesadelos e rezando pra você ou um amigo seu não serem os próximos?
– Isso aí, Mandy. – Ângela concordou – Nós demos que dar um jeito de sair daqui e levar toda a escola junto. Essa situação toda está me sufocando.
– Nós todos vamos ter que pensar em uma forma de fazer isso – disse Pedro – nós somos onze e se pensarmos bem, podemos arranjar um jeito e juntos tirar essas pessoas daqui e impedir que mais inocentes morram.
Todos concordaram, mas Jess ainda parecia estar duvidando dessa possibilidade.
– Nós vamos precisar marcar outra reunião pra decidir o que fazer, mas não pode ser dessa forma, se começarmos a nos reunir com muita freqüência os caras vão desconfiar. – Disse Emerson que parecia empolgado com a idéia de tramar contra os caras bem debaixo do nariz deles.
– Podemos fazer as reuniões à noite – sugeriu Eric.
– Onde? – Perguntou Miguel.
– Pode ser aqui – respondeu Jacson.
Os garotos sorriram. Eu e os outros ficamos boiando, tentando imaginar como eles iam sair do quarto deles e entrar aqui sem os guardas noturnos verem.
– A escola não tem só passagens para a rua... – explicou Jacson ao notar que não estávamos entendendo nada.
Ele arrastou a cômoda que estava no canto do quarto para o lado e expôs um quadrado na parede de mais ou menos um metro quadrado, ele abriu-o. Era uma porta e dava para o quarto dos meninos ao lado.
– Todos os quartos da escola têm isso? – perguntei boquiaberta.
– Todos!
– Alguém mais sabe disso? – perguntou Miguel.
– Não, só nós.
– Então você, Emerson, Pedro e Miguel vão vir por aí, mas e Bruno, Eric e Ângela? – perguntei.
– Eu e Eric estamos no mesmo quarto – respondeu Miguel – não tem ninguém com a gente e nosso quarto é ao lado do deles.
– A Laura e a Tania estão comigo, mas acho que posso dar um jeito. Se elas me pegarem, digo que vou me encontrar com Bruno. Elas vão acreditar. – disse Ângela.
Claro que vão, Angie é uma santa, jamais desconfiariam que ela está tramando algo. E felizmente ela estava no quarto ao lado do nosso.
– Então está tudo certo! – disse Pedro, podemos marcar a próxima reunião pra daqui a três noites, à meia-noite que é quando todos já estarão dormindo.
Todos concordaram. Separamos-nos para não levantar suspeitas e foi cada um para um lado. Rose e Emerson ficaram no quarto conversando. Eu convidei Ângela para irmos à biblioteca depois da contagem das quatro que seria logo.
Eu precisava encontrar um livro pra ler à noite, senão ia ficar nervosa demais se ficasse esperando até a meia-noite sem nada pra fazer. Ficamos na biblioteca durante algum tempo, Ângela tentou acessar a internet, mas é claro que não estava funcionando. Voltamos para o refeitório para jantar e fazerem a última contagem. Depois fomos cada um para seu quarto.
Quando entrei no quarto, Rosane teve um piti.
– O que está fazendo aqui?
– Ela dorme aqui, Rose. – Mandy respondeu.
– Não dorme mais! Eu não vou dividir o quarto com ela.
Rosane pegou o colchão e as minhas coisas e atirou tudo em cima de mim.
– Vá dormir em outro lugar. Aqui você não fica!
– Rose, a Sara não pode sair agora, se ela for pega fora do quarto...
– Não me interessa o que vai acontecer com ela! Aquele louco me agarrou porque não conseguiu fazer nada com ela. A culpa é toda dela!
– Tudo bem, eu dou um jeito. – disse pegando minhas coisas e abrindo a porta.
– Você não pode fazer isso, você sabe que Rose só está um pouco nervosa e...
– Ela tem todo o direito de fazer isso, foi por minha causa que tudo aconteceu. Eu mereço!
– Ainda bem que reconhece que a culpa é sua – disse Rosane.
– Eu vou ficar bem! – eu disse isso e saí arrastando o colchão pelo corredor. Mandy ficou gritando para eu voltar, mas eu ignorei.
Estava indo para a biblioteca quando fui barrada.
– Fora do dormitório a essa hora? O chefe não vai gostar de saber que estão desobedecendo as ordens dele. – disse o cara que me encontrou.
– Eu estou indo pra biblioteca sabe, estudar um pouco. – Eu sabia que essa mentira não ia colar. Pelo menos eu tentei.
– Vem comigo. – ele saiu me puxando pelo braço. Deixei as coisas onde estavam.
Chegamos à diretoria e ele bateu na porta.
Daniel atendeu e ficou surpreso ao me ver.
– O que aprontou dessa vez, Srta. Samers? – perguntou.
– Peguei ela fora do dormitório, subindo para a biblioteca.
– Biblioteca? Não acha que está muito tarde para retirar livros? – perguntou irônico.
E não sabia se respondia ou não. Resolvi ficar calada pra não dizer besteira.
– Você sabe das regras, Samers, nada de andar por aí depois das oito da noite. Vou ter que te castigar pra servir de exemplo.
– O que vai fazer? – perguntei tremendo e com medo de ouvir a resposta.
Ele olhou para o cara que me levou lá e mandou:
– Leve-a para aquele lugar que combinamos que ficariam aqueles que desobedecessem as regras. Nada de água ou comida até eu mandar.
– Sim, chefe.
O cara saiu me arrastando.
Eu tinha ouvido direito? Daniel mandou o cara me deixar passar fome. Isso é pior do que eu imaginava. Esse cara não tem escrúpulos mesmo.
Nós subimos até o último andar, mas ao invés de virar para a biblioteca, ele foi em direção ao auditório. Me levou até atrás do palco onde havia um quarto que servia de camarim quando havia apresentações ali e me largou lá.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.