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História Crown Victory (Namjin) - Death Lord


Escrita por: Mione_Bane

Notas do Autor


Boa madrugada meus amores. Como vocês estão?
Estou vivendo um impasse quanto a minha rotina desregulada de sono, mas que em breve eu espero que tudo se resolva.
Mesmo comunicando a vocês que ficaria um tempo afastada devido a minha cirurgia oftalmológica, não fora tão intensa quando achei que fosse, ainda vivendo alguns impasses diários, estou ótima para ler e escrever.
Vale lembrar que essa história se trata de uma ficção e que as ações dos personagens de modo algum se refere as características e personalidades dos nome citados. Tudo aqui é ficção e fantasia! Por favor, sabem diferenciar as coisas e não leiam se não sentirem-se confortáveis!
Sem delongas, vamos ao capítulo. Bebam água e boa leitura!😘

(Senhor da morte - Tradução do capítulo)

Capítulo 20 - Death Lord


Fanfic / Fanfiction Crown Victory (Namjin) - Death Lord

“​Seokjin deixou o mundo com um último pensamento, envolvendo sua mente colapsada: não existe justiça nesse mundo, a menos que você a faça com as suas próprias mãos.”

__________

 

10 anos depois....

A brisa suave e gélida do impetuoso inverno banhou a face corada do rapaz, fazendo os seus fios platinados deslizarem para trás em direção ao vento. O jovem mantinha seu olhar fixo em uma porção de densas árvores. Apurou seus ouvidos, escutando o farfalhar suave das folhas cobertas de neve, porém junto a isso, ouviu um som quase imperceptível de passos.

Se não tivesse sido treinado por anos, aquele som passaria despercebido.

Cautelosamente, empunhou o arco que estava em sua mão esquerda, retirou uma flecha da aljava e se preparou para o próximo movimento, mantendo seu olhar fixo onde havia ouvido o ruído. Mãozinhas delicadas deslizaram pelo seu torço e segundos depois, um rostinho brotou por cima dos ombros, aconchegando-se confortavelmente nas costas do rapaz de fios platinados.

Mesmo diante desse movimento, o jovem não hesitou em disparar uma flecha certeira em direção a moita densa de árvores, quando viu o risco de um vulgo negro se mover no meio a imensidão branca, que cobria a paisagem.

— Acertou ele papai? — a voz suave e infantil ecoou pelo ouvido direito do rapaz, e esse soltou um suspiro, assentindo em confirmação. — É um lobo? — tornou a perguntar curioso, enquanto se remexia nas costas do pai.

O rapaz de fios platinados não disse nada, não tinha certeza do que havia capturado. Desceu a colina a passos suaves, embrenhando-se no meio das árvores cobertas de neve. Além da aljava posta em sua costa, estava o seu filho de aproximadamente seis anos, envolvido por um saco que transpassava o tronco do mais velho, como uma bolsa protetora. A posição possibilitava que as pequenas pernas, envolvidas por um tecido grosso e botas de couro ficassem expostas juntamente com suas mãozinhas e o rosto sapeca que carregava um gorro cinza e um cachecol vermelho, dando um belo contraste com a brancura da neve.

Continuaram a descer, e antes de se aproximar da moita de árvores que contemplou ao longe, no topo da colina, o rapaz engatou mais uma flecha no arco, pronto para disparar ao mínimo movimento.

— Esconde-se — ordenou para a criança, que rapidamente abaixou sua cabeça, escondendo o seu rosto atrás da costa do pai.

O jovem avançou mais alguns passos, pronto para disparar a flecha quando finalmente ficou à frente do oponente, que acertou minutos atrás. Todavia, parou assim que seus olhos capturaram o volume espessos dos tecidos escuros e rastros de sangue que pincelavam a neve.

Ele não havia acertado uma besta feroz ou um lobo como julgou, mas sim, havia acertado o que parecia ser um humano. Repousou o arco no chão conforme se abaixava para descobrir, o que de fato, era aquilo. Com isso, a pequena criança em suas costas não aguentou conter a curiosidade que o envolvia, ergueu sua cabeça repleta de fios castanhos escuros, observando por cima dos ombros do pai, enquanto suas mãozinhas o apertavam.

— Ele está morto, papai? — sua voz saiu baixa, mas o homem mais velho conseguiu interpretar seu tom assustado.

Cautelosamente, virou o corpo, deixando-o de barriga para cima. Não conseguiu enxergar o rosto da pessoa, já que essa estava completamente coberta de sangue seco e sujeira. Rastros de uma pele bronzeada poderiam ser vistas em algumas regiões, mas a coloração amarronzada e preta já havia tomado boa parte da aparência.

Guiou seus dedos suavemente em direção as narinas da vítima, sentindo um leve ressoar. Suspirou aliviado, pelo menos ainda estava respirando, o que retirava um pouco a culpa dos seus ombros.

Cuidadosamente, inspecionou o corpo da vítima em busca de algo que pudesse ajudá-lo a identificar. Além da flecha cravada em sua perna direita, haviam cortes por todo corpo em várias regiões, esses cortes pareciam ter sido feitos por espada. Um odor prurido emanava do corpo, fazendo a pequena criança nas costas do jovem platinado tampar suas narinas com a mãozinha direita. O arqueiro sentiu uma leve presença de alfa, quase imperceptível e dissipável ao vento, como se a cada segundo que passasse, aquele resto de alma estava deixando aquele corpo completamente dilacerado.

Rapidamente, o rapaz retirou a criança de suas costas, entregando sua aljava de flechas e o arco, e tentou levantar aquele corpo em retalhos. Todavia, por ser um ômega, não tinha muita força para sustentar o corpo de um alfa desacordado, mesmo sendo um ômega muito forte devido aos treinos que recebeu durante anos, ainda havia uma distinção palpável entre suas forças.

Entretanto, isso não o impediu de carregar o corpo colina a cima em um rastejo desenfreado. Seu filhote tentou ajudar em alguns momentos, porém era obvio que o rapaz de fios platinados estava enfrentando dificuldades em levar aquele conjunto de ossos em direção a cabana, em que moravam no interior da densa floresta.

Depois de fazer várias pausas ao longo do percurso, avistou sua cabana de palha em meio a relva densa. Soltou um longo suspiro de alívio, esse que não se prolongou quando viu alguém mover-se de um lado para o outro, parando assim que o viu chegar. Sua mente o alertou com a culpa palpável em seus olhos, e um sorriso frisado emanou de seus lábios.

Ele chegou mais cedo do que o esperado!

— Eu disse para você não sair hoje para caçar. Você não me ouvir? — a voz do alfa ecoou no ouvido do jovem rapaz que suspirou, já acostumado com aquele tom super protetor. — Será que terei que confiscar o arco que eu lhe dei? — perguntou retoricamente ao aproximar do ômega. — O que? Você atirou em um humano?

O jovem alfa de fios castanhos perguntou alarmado ao ver o ômega arrastou o corpo moribundo para o interior da cabana de palha. Apertou a bochecha do pequeno filhote ao vê-lo aproximar, seguindo o pai ômega, super curioso, como sempre foi, que nem deu muita atenção pela sua chegada.

— Foi um acidente — comentou, observando o rapaz ajuda-lo com o corpo pesado. — Estava em uma distância muito grande, e ele se movia meio corcunda como se fosse um animal, pensei que era um lobo.

— Já disse que não quero vê-lo caçando pela mata, muito menos, levando o Jinyoung consigo. É muito arriscado, principalmente com os últimos acontecimentos.

Havia falado aquilo tantas vezes para o ômega, mas sabia que, assim que virasse as costas e fosse tentar vender os repolhos que plantavam, ou fazer algum trabalho braçal para trazer o pão para dentro de casa, o rapaz pegaria o seu arco e o filhote, e iriam caçar, não dando importância para suas palavras.

— Não espere que eu fique dentro de casa, como um animal enjaulado, enquanto você se mata de trabalhar — comentou descontente, o que fez o alfa suspirar, já previa aquelas palavras saindo da boca do ômega. — Eu quero ajuda-lo, e também na minha última caçada, consegui dois esquilos e você gostou muito de comer algo que fosse diferente de arroz e repolho.

Um bico chateado formou em seus lábios ao dizer aquilo, enquanto pegava uma bacia de água. O alfa sorriu bobo e encantado, algo que não passou despercebido pelos olhos atentos do ômega.

— E o que vamos fazer com esse corpo? — questionou, ao passo que o ômega se ajoelhava próximo ao corpo, repousado em uma cama de esterco.

— Iremos tratar os ferimentos, depois descobrir quem ele é.

O rapaz de fios platinados torceu uma pequena toalha para retirar o excesso de água, passando-a pelo rosto do desconhecido, mas foi bloqueado pelas mãos do alfa, que segurou gentilmente seu braço.

— Deixe que eu faço isso — retirou a toalha das mãos do menor, que assentiu já esperando por aquela atitude. — Consegui comprar mandiocas para fazer um guisado — comentou, enquanto retirava as vestes puídas e depreciativas que o desconhecido usava.

— Vou preparar o jantar! Jiny vem com o papai, deixa o seu pai cuidar do nosso mais novo amigo — comentou, virando-se para o filho que já se ajoelhava ao lado do alfa de fios castanhos.

A contragosto, formando um biquinho chateado em seus lábios, a criança levantou-se, seguindo o pai ômega pelo segundo cômodo da pequena cabana de palha.

[....]

Semanas depois, o casal ainda desconhecia sobre a identidade do amigo desconhecido. Todavia, estavam satisfeitos pela recuperação do rapaz, os ferimentos leves tinham se curados, ficando apenas os ferimentos mais graves. O jovem rapaz de fios platinados estava esperançoso, esperando que o homem acordasse em breve.

Sentado próximo ao corpo do desconhecido, o ômega consertava um casaco de lã do alfa, que sempre usava nos trabalhos pesados próximos ao pequeno vilarejo que tinha a beira da floresta. Seu pequeno filhote brincava com duas águias e um lobo feito de papel, que o pai alfa lhe deu de presente no seu aniversário de seis anos. Resmungava algumas palavras, narrando algum conto, fazendo o ômega sorrir alegre, tocando os fios castanhos escuros do filho alfa.

Movimentos inoportunos despertaram a atenção do jovem de fios platinados, fazendo-o se voltar para o corpo, antes adormecido, mas que agora estava dando leves sinais de vida. Imediatamente, o ômega abandonou a costura e correu na direção do alfa, buscando ajuda-lo.

Devido aos ferimentos graves que ele recebeu em sua face, a carne estava um pouco desfigurada, o que impedia-o de descobrir sua verdadeira face. O homem tinha dificuldade para sentar, e o ômega bloqueou qualquer tentativa.

— Não se mova. Você tem cortes no abdome que ainda não cicatrizou — comentou, fazendo o alfa se deitar novamente.

O homem tentou conversar, porém, como a muito tempo não usava sua voz, não conseguiu pronunciar nada coerente.

— Jiny, pega um copo de água para o papai.

A criança abandonou suas águias e o pequeno lobo, e correu na direção do outro compartimento da cabana. Minutos depois, voltou com um copo de água na mão e entregou para o papai.

O rapaz de fios platinados, levou o copo de água em direção aos lábios do desconhecido, ensinando-o a segurar o copo para que não caísse e derramasse água. Checou sua temperatura corporal, guiando sua mão na testa do homem, suspirando aliviado pela temperatura ter abaixado, o que indicava que a febre tinha passado.

Pouco tempo depois, o alfa de fios castanhos entrou na cabana, segurando uma enxada em suas mãos. Ao ver o desconhecido acordado, abandonou a enxada na entrada e correu, parando ao lado do ômega. Alguns segundos depois, sentiu a presença fraca, que muito indicava ser um alfa lúpus. Sobressaltou em choque, levando suas mãos em direção a cintura delgada do ômega, posicionando-o protetoramente atrás do seu corpo.

— O que foi? — o ômega perguntou, olhando por cima dos ombros do rapaz de fios castanhos.

— Você não sentiu? Ele é um lúpus.

O jovem olhou atentamente na direção do amigo desconhecido, tentando sentir sua presença, segundos depois, essa veio fraca e quase imperceptível. O aroma forte do almíscar pincelou sua narina, e junto a ele, veio uma brisa suave e calorosa banhada pelo cheiro amadeirado misturado com o maracujá.

— Eu conheço esse cheiro!

A fala do alfa despertou a curiosidade do ômega, que saiu de trás do homem – que chamava de marido, mesmo não sendo casados formalmente –, caminhando em direção ao desconhecido. Pegou o copo e o ajudou-o a deitar-se confortável na cama de esterco. O leve movimento, fez o tecido fino que revestia o seu corpo mover-se, e uma porção de sua pele ficou visível. Linhas suaves e esbranquiçadas, como o esboço de uma pequena cicatriz de anos, brilhou na pele bronzeada do homem.

O alfa de fios castanhos piscou os olhos desconcertado. Quando o seu esposo trouxe o desconhecido naquele dia, ele havia limpado aquela região, mas não tinha notado a marca. Também, naquele dia estava muito distraído, que nem prestou atenção em suas ações, fez tudo no automático.

— Oh! — exclamou assustado, finalmente percebendo quem era realmente aquele desconhecido.

O tom de sua voz despertou o interesse do ômega, que se virou para o alfa, encarando sua face com uma pergunta pairando em sua mente. O rapaz de fios castanhos manteve a expressão assustada em sua face, como se ela estivesse congelada. O menor notou o rosto do companheiro ficar branco como a neve, e o sangue sumir devido ao choque.

— Tae, o que foi? — perguntou preocupado, chamando o companheiro pelo seu apelido carinhoso.

— Eu achei que ele estivesse morto há dez anos — comentou exasperado, aproximando-se do desconhecido que já tinha voltado a fechar os olhos, permanecendo alheio ao mundo a sua volta, devido aos graves ferimentos em seu corpo.

— Você sabe quem é ele? — o rapaz de fios castanhos assentiu.

— Quando estive em Kwangju, esbarrei com ele uma única vez, mas o cheiro e a presença forte são incomparáveis. Nunca senti um aroma tão forte e característico como o dele, em toda a minha vida. É completamente inesquecível.

— Pelos deuses, diga quem ele é, Taehyung — exigiu, não suportando aquele mistério.

— O antigo príncipe de Kwangju, Kim Namjoon — comentou convicto, o rapaz de fios platinados olhou para trás, assustado pela confissão.

— Você tem certeza?

— Não teria, se não fosse pela marca em seu pescoço. Eu já vi uma igual a essa, no pescoço do... nos.... — Não conseguiu concluir sua fala.

Fazia muito tempo, que eles não mencionavam aquele nome, que se tornou um símbolo sagrado entre os povos nortistas. Era um pesar enorme, uma dor excruciante que pairava sobre o povo, ao lembrar do príncipe ômega sacrificado nas mãos dos inimigos.

Jimin não precisou ouvir mais nenhuma palavra, para saber a quem o marido se referia. Kim Seokjin, o jovem ômega, príncipe de Hanseong, que morreu sendo o príncipe consorte do reino de Kwangju a dez anos atrás, nas águas revoltas do rio Nakdong em terras do Oeste, pelas mãos do rei de Pusan, Choi Seunghyun.

— Eu achei que ele estivesse morto.

— Ao que eu saiba, os mortos não retornam para o mundo dos vivos. É uma surpresa e tanto ele ainda estar vivo. Pelo visto, não enfrentou boas situações, para estar nesse estado.

Taehyung se perguntava internamente o que havia acontecido com Namjoon. Tudo o que sabia até então era que o príncipe sulista sofreu uma emboscada que deveria ter lhe matado.

[....]

Dias depois, após a verdadeira identidade do amigo desconhecido ser revelada, Namjoon finalmente despertou, ainda muito dolorido pelas lesões em processo de cicatrização, mas, felizmente, consciente de seus atos. Jimin lhe serviu um mingau de farinha, deixando o lúpus mais disposto e satisfeito por não ver mais rostos encapuzados, perseguindo-o por quilômetros em uma chuva de facas e flechas.

— Acredito que você não deve-se lembrar de mim, mas quero que saiba, nós não lhe faremos nenhum mal — Taehyung comentou, quando tentou trocar o curativo do lúpus, e esse se retraiu em fuga. — Kim Namjoon, certo?

A simples menção do seu nome, o deixou surpreso. Seus olhos castanhos saltaram exacerbados em direção ao jovem de fios castanhos que tentava lhe ajudar. Taehyung liberou um sorriso calmo, assentindo em confirmação diante da pergunta incrédula que estampava a face de Namjoon.

— Sim, eu conheço você. E se eu quisesse lhe fazer mal, não teria salvado a sua vida, muito menos, dividido o pouco do nosso mingau com você — sua fala fez Namjoon suspirar aliviado, deixando que o outro lhe tocasse, para fazer um novo curativo em seu abdome.

— Quem é você? — sua voz saiu seca, devido à falta de uso.

— Kim Taehyung! No passado, fui o conselheiro-supremo do rei de Hanseong, Kim Taeseok, seu sogro.

Depois de alguns segundos em hesitação, Namjoon assentiu levemente, evitando balançar a cabeça que pesava.

— Por que me salvou? Você, como qualquer outro nortista, deveria desejar a minha cabeça em uma bandeja — questionou, e Taehyung suspirou, terminando o curativo e sentando-se de frente para o lúpus.

— Seu próprio pai disse que você estava morto, de repente você me aparece vivo, realmente é algo no mínimo curioso, você não acha? — questionou retorico. — Matar sulistas é o passatempo predileto para qualquer nortista, mas não um sulista como você. Acredito que seu próprio pai tenha lhe traído, estou curioso para saber a sua versão da história.

— Não tenho recordações nítidas do que aconteceu — Namjoon resmungou depois de alguns segundos, fazendo Taehyung arquear a sobrancelha, um pouco descrente. — Lembro vagamente dos meus homens sendo atacados por um numeroso exército de povos estrangeiros. Éramos um pequeno grupo diante de dez mil alfas. Em instantes, meus homens foram mortos, e eu também estaria morto se não tivesse escorregado do barranco, descendo ladeira abaixo e caindo em meio a relva densa de árvores volumosas, que camuflaram o meu corpo.

Levou uma mão até a cabeça, massageando a têmpora, que latejava devido a simples menção do seu passado.

— E depois? — questionou-o curioso. — Como veio parar nessa situação, parecendo um presunto fatiado?  

— Eu não sei bem, lembro que acordei algumas horas depois devido as picadas de insetos que haviam na mata. A dor insana me fez rastejar a procura de água, caí em um rio. Tenho vagas lembranças de ser carregado por dias, imagens incompreendidas de algum animal feroz, talvez um tigre ou um lobo. Acordei tempos depois em meio a um vilarejo em chamas, lembro de correr para se proteger, mas fui pego por homens encapuzados. Me acorrentaram e me levaram para longe. Me trataram como um escravo, e as vezes como uma atração para os nobres, me colocando em coliseus para lutar contra animais.

Taehyung engoliu em seco, sentindo um bolo amargo formar em sua garganta.

— Não lembro direito o que eles estavam fazendo comigo, mas sei que me tratava como um objeto de estudo. Testaram muitas ferramentas em meu corpo que impedia que eu conseguisse usar a minha força total para fugir. Além das porções de enfraquecimento, eles colocaram um objeto incomum em meu ombro que limitava as minhas forças. Quando consegui retira-lo, um pouco da minha consciência voltou ao normal e a realidade me envolveu. Estava muito longe de casa, e precisava urgentemente me livrar daquele lugar e voltar para Kwangju.

— No entanto, sem dinheiro e sem alimento ficou impossível, certo? — Namjoon assentiu em confirmação.

— Passei anos tentando voltar para casa, e sendo perseguidos por rostos encapuzados, que tentavam me matar a todo custo. Quase me deixaram aos pedaços. A única alternativa que tive foi fugir pelo mar, me escondi nos depósitos de um navio de carga. Ao chegar em terra firme, os homens notaram a minha presença e tentaram me atacar, chamando-me de ladrão. Lembro de me arrastar pela floresta, mas o inverno rigoroso não me deixou andar muito, então eu vim parar aqui. Onde estamos?

— Goseong, uma região minúscula próximo a província de Wonju, abandonada a mercê dos entraves da vida por Namong.

Ao que Namjoon se lembrava, Goseong ficava no Norte, não era nenhuma surpresa que Namong agora estaria governando o reino nortista. Para falar a verdade, já esperava por isso desde a morte do antigo regente. Seu ‘pai’ havia jurado tomar posse de todo o território coreano.

— Quanto tempo faz que eu desapareci? — perguntou recesso.

Estava com muito medo da resposta que ouviria. Medo de ter chegado tarde demais, para voltar a Kwangju e resgatar o seu ômega.

— Dez anos!

As palavras o atingiram com tanta intensidade, que foi impossível respirar por alguns segundos. A dor dilacerou o seu coração, comprimindo-o na caixa torácica, reduzindo-o a nada. Sim, já não havia mais tempo.

Mais uma vez, ele chegou tarde demais!

— Como ele está? — perguntou assustado, Taehyung não precisou de um nome para compreender a quem ele se referia.

Soltou um longo suspiro, e observou Jimin entrar no cômodo segurando uma xícara de chá, fazendo-o suspirar aliviado.

— Bebe! Você precisa se recuperar — Jimin ditou, estendendo a xícara para o lúpus, que a recebeu de prontidão, sorvendo um pouco do conteúdo e sentindo o gosto amargo de cogumelo.

— Passei anos em terras estrangeiras, sequer entendia seu idioma. Fui escravizado e torturado, necessito saber o que aconteceu com ele. Preciso salvá-lo das mãos de Namong — deu mais alguns goles na bebida fumegante, abandonando a xícara vazia em suas mãos.

Taehyung trocou um olhar com o esposo, soltando um longo suspiro, antes de continuar.

— Você não pode mais salvá-lo — soltou simples, fazendo os olhos de Namjoon saltarem. — Ele já está morto!

Pontinhos luminosos formaram ao redor dos olhos de Namjoon, e ele sentiu a dor excruciante de mil agulhas, perfurando o seu coração. A culpa o corroeu em um furor desleal, um ‘não’ evaporou dos seus lábios, inaudível, apenas um mover de lábios.

— Depois que você foi para a fronteira. O casamento do príncipe Jungkook foi anunciado e toda a nobreza de Kwangju marchou para Hanseong. Seu pai tinha planejado uma rebelião naquela noite, e aproveitou a cerimônia para tomar Hanseong. O evento ficou conhecido como o ‘Casamento Sangrento’, uma vitória desmedida para a corte sulista. Choi Siwon influenciou o príncipe Seokjin a buscar refúgio e proteção em Pusan, mas ele foi traído e preso até... — uma lágrima silenciosa desceu do olho esquerdo de Namjoon. — Até ele tentar fugir e acabar sendo morto pelo o exército de Seunghyun. Ele caiu do penhasco e ninguém nunca mais o encontrou. Dizem que seu corpo ainda jaz nas profundezas do rio Nakdong.

— No fim, eu não consegui protege-lo. Nem ele, e nenhum dos nossos filhos — sua voz saiu em um sussurro quase inaudível, enquanto as palavras queimavam em sua garganta.

— Anjos como ele não podem cavalgar até o inferno com você — Jimin pontuou, retirando a xícara das mãos trêmulas de Namjoon.

— Seu pai tomou Hanseong, assim como todos os Quatro Reinos. Sem a presença de uma figura de poder, o Norte entrou em ruínas e o povo sofre nas mãos de Namong, sendo torturados e escravizados, enquanto que o clã Jung tornou-se protetor do Norte. Choi Seunghyun não ofereceu nenhuma resistência para com Namong, devido a sua aliança no Casamento Sangrento, o que restou apenas o rei de Seosan, que depois que foi pressionado, cedeu-se facilmente. Durante todos esses anos, o mundo foi regido por punhos de ferro em nome de Namong. Ele não tolerou nenhum opositor, mandou todos para a forca ao tentar se rebelar. No fim, não restou nenhuma bondade.

— Alguns sábios acreditam que isso é alguma maldição lançada sobre o povo coreano. Afinal, o inverno rigoroso se prolonga em nosso território durante todo esse tempo do reinado de Namong. De norte à sul, de leste à oeste — Jimin completou a fala do esposo.

— Ele sofreu muito? — Namjoon questionou, tão baixo quanto a brisa matinal.

— Ele foi acorrentado e torturado por vários dias. Dizem que sangrou até a morte do segundo filho, então sim, ele sofreu muito. Um sofrimento que ninguém entre nós é capaz de explicar.

Havia pesar nas palavras de Taehyung, pois ainda lembrava-se do jovem ômega de sorriso doce, que um dia ensinou com maestria e prazer, os conhecimentos que todo ômega da nobreza deveriam aprender.

— Ele deu a vida para salvar o seu povo. Uma atitude linda e nobre. Morreu como um verdadeiro herói — Jimin declarou, depois de ver a amargurar estampar a face polida de Namjoon. — As poucas pessoas que lembraram dele, tentaram escrever canções em seu nome, honrando seus feitos nobres, mas Namong as mataram. Mesmo assim, saber que de alguma forma o seu povo o amou, faz o sacrifício valer a pena.

— E o que adiantou esse sacrifício? No final, ele não conseguiu salvar ninguém. Do que serviu morrer como um herói? — questionou desolado, suas lágrimas caiam e banhavam sua face machucada.

Ele já esperava por aquilo, porém, durante os anos que passou em exílio em terras estrangeiros, pensou que o seu pai o manteria em cativeiro, para beneficio próprio ou obter vantagem sobre o Norte. Todavia, jamais esperou que ele fosse morto por mãos que julgaram serem aliadas.

Não conseguia imaginar a profunda dor da traição que Seokjin sentiu naquele momento. Nunca saberia!

— Achei que você soubesse por conta da ligação — Taehyung comentou, referindo-se a marca no pescoço de Namjoon, que ele compartilhava com o falecido esposo.

Namjoon soltou um longo suspiro, ignorando as lágrimas que pairavam em seu rosto, e tocou o pescoço, no lugar em que a marca apareceu depois de marcar Seokjin como o seu ômega. No entanto, o que muitos desconheciam, era que aquela marcação não era comum entre os seus povos. Poucas sensações eram compartilhadas, não funcionava em qualquer ômega e alfa. Além de passarem a compartilhar um aroma em comum, muito característico entre o casal, eles poderiam sentir o presságio para o perigo, e por conta disso, os protegerem à distância, mas o conhecimento da marcação ainda era raso, devido a sua raridade.

— Não! Nunca mais a senti depois que caí do barranco, acredito que foi selada — sua confissão deixou o casal intrigado.

— Achei que a marcação fosse uma ligação entre almas.

Namjoon olhou para Taehyung e depois para Jimin ao seu lado. Devido à presença e o cheiro suave de flores brancas e romã, constatou que ambos, apesar de ser um casal, ainda não eram marcados. Não julgava! Ele e Seokjin não chegaram a ter verdadeiramente uma ligação entre almas, aquela que os sábios e sacerdotes ditavam como a marca de um amor verdadeiro. Desacreditava daquilo, pois ainda era cético sobre essas questões envolvendo sentimentos.

Preferiu não responder à pergunta do alfa. Perdeu-se em seus pensamentos banhados pela dor mortífera do luto. Havia errado incontáveis vezes em seu passado. Sabia que um dia teria que pagar pelos seus pecados. Mesmo passando anos sendo escravizado, sabia que não havia pagado por todos os seus atos, não aqueles direcionados ao esposo.

Falou incontáveis vezes com Seokjin. À princípio, enganou-o, mantendo relações extraconjugais com outro ômega, mesmo sabendo que se fosse verdadeiro e confessasse que amava outro ômega antes de ser obrigado a se casar, Seokjin não iria se opor a sua relação. Sob a ira e o rancor, foi desrespeitoso e nem se incomodou que suas ações iriam machucar o esposo. Agiu como um idiota.

Todavia, sofrendo dos acasos do destino, seu lobo afeiçoou ao ômega nortista de um jeito que o assustava. Buscou de diversas formas reprimir o desejo que sentia por Seokjin, mas quando o ômega perdeu seu primogênito, ficou impossível ignorar as sensações que o entorpeciam.

Mesmo sendo um alfa lúpus, não poderia questionar o rei, não se, ele quisesse fazer mais inocentes sofrerem. Estava com medo do que Namong poderia fazer com Seokjin e com Hoseok se ousasse bater de frente. No fundo do seu coração, ele sabia que um ser humano desprezível e que merecia morrer no lugar do esposo.

Afinal de contas, aquele que negligência ou faz vista grossa perante ao abuso, é mais terrível que o próprio abusador.

Agora, estando ali, sentindo a dor extravasar do seu corpo, se questionou o motivo de ter sido tão fraco, enquanto tinha todas as forças pairando em suas mãos? Por que foi tão inútil? Por que não se rebelou contra Namong e enfrentasse a força do seu exército? No entanto, ele sabia. No fundo da sua alma, ele sabia que não poderia. Namong sempre esteve certo quanto a ele.

Ele era fraco, porque pessoas indefesas sempre foram o seu ponto fraco.

Haviam muitas vidas em jogo, não apenas Seokjin e Hoseok. Ele não poderia sacrificar o único fio de uma família que ainda lhe restava depois de todos aqueles anos. Foram anos, buscando conhecer a sua origem, quando na verdade ela sempre esteve diante dos seus olhos. Ele não poderia colocar em risco a vida de várias pessoas inocentes, que um dia chamou de família. Não poderia ser egoísta a tal ponto.

O cântico singular de piares suaves cobriu toda a imensidão noturna, fazendo o casal sobressaltar-se, levantando apressados de seus assentos. Jimin correu para a única porta de entrada da cabana de palha e chamou pelo filho.

— Jinyoung, entre!

A pequena criança de seis anos de idade, abandonou o seu boneco de neve que tentava fazer com alguns galhos secos que encontrou pela região próximo à cabana. Correu ao encontro do pai ômega, sorrindo sapeca. Jimin o repreendeu, retirando a neve que estava dispersa ao longo de sua vestimenta, antes de arrumar o seu gorro e apertar as bochechas fofas, levando-o para dentro de casa.

Taehyung correu para fechar as duas janelas da cabana, antes de arrastar um objeto pesado em direção a porta, bloqueando a passagem. Pegou Jinyoung no colo, depositando vários selares em seu rostinho gelado, observando o menor aninhar-se em seu corpo. Gentilmente, puxou Jimin pela cintura, caminhando até um conjunto de palha, sentaram-se.

Aquela atitude, deixou Namjoon em um misto de curiosidade.

— O que está acontecendo? — perguntou sem saber o motivo pelo qual o casal fechou a casa, apagando as velas.

Já tinham passado algumas horas que a noite havia caído. Eles fizeram uma refeição rápida de sopa de beterraba, e muito em breve o casal iria se retirar para dormir.

— As águias — Taehyung murmurou em meio a escuridão.

Namjoon franziu o cenho, sem entender o que aquelas palavras significavam. Naquele momento, parou para prestar atenção no cântico singular entoado apelas aves, som característicos de águias.

— Alguns anos atrás, as águias haviam desaparecidos de todo o território. Ninguém as viu, até que... — sua voz vacilou por alguns segundos. — Até que meses atrás, elas surgiram como o presságio da morte.

— Dizem que o espirito do ceifador de almas perambulam na terra, Jeoseung Saja — Jimin comentou, apertando os braços de Taehyung, sentindo Jinyoung puxar suas vestes com suas mãozinhas.

— Os primeiros piares das águias sempre se iniciam antes da morte de alguém, como o presságio da morte, alertando o povo a procurar refúgio, pois o espirito ceifador está em busca da sua próxima vítima para descer o inferno. Quando a morte já é certa, o cântico das águias retorna como um aviso de que, mais uma vez, o senhor da morte obteve êxito em sua missão.

Namjoon mexeu-se desconfortável na cama de esterco.

Anos atrás, colidiu com águias várias vezes ao longo do seu caminho. Achava aquilo, no mínimo, muito estranho. Aves de rapina não andavam em bandos, eram animais solitários. Todavia, desde a morte de Seokjin, até que fazia sentido aquela situação.

As águias rondavam Kwangju em busca da sua próxima vítima, e no fim, elas conseguiram.

— Dizem que, seus passos são suaves como o ressoar sublime do vento. Usa uma arma em sua mão e um chapéu em sua cabeça, escondendo a sua face. Ninguém que o tenha visto pessoalmente, permaneceu vivo.

Jimin comentou o que ouviu pelas redondezas. Apesar do medo que sentia, havia um tom moderado de admiração palpável em sua voz. O espirito de Jeoseung Saja atacava, em suma maioria, criminosos, levando as almas condenadas ao inferno. De certa forma, aquilo era vantajoso para o povo, e o mais incomum possível, era que o espirito calhou de estar perambulando pelas redondezas de Goseong.

 

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A escuridão noturna recaiu sobre o pequeno vilarejo, banhado por águas estrangeiras. De longe, era possível ouvir o murmúrio das vozes alteradas como se fossem um cântico de exaltação. Era algo de se esperar, uma vez que, os alfas celebravam as pequenas conquistas do rei, adorado e temido, Kim Namong.

Muito espalhafatoso e narcisista, Namong pediu para que fossem construídas estatuas em sua homenagem para serem adoradas dia e noite. Estantardes e bandeiras com a insígnia ostentando uma longa e imensa serpente prateada, predando uma águia branca e amarronzada em um fundo cristalino verde, foram colocadas por todo os Quatro Reinos.

Festividades como aquela, eram constantes. Seja em comemoração por Namong ter conquistado mais uma terra, ou por seus homens terem guerreados contra os povos estrangeiros. E naquela noite não poderia ser diferente. Após um confronto com povos além do Mar de Jamon, o exército sulista conquistou Tsushima.

Um território quase imperceptível nos mapas, mas de estimada riqueza. Infiltrando-se por aquele cerco, Namong exibia seu poder e a sua tirania, mediante os povos vizinhos. Não temeu suas forças, já que seu exército era o maior de todos, além de possuir um alto armamento bélico, sinal clássico da sua soberania real.

Naquele início de noite, seus homens rodearam Goseong em busca de terras firmes para dormir e do calor dos corpos de ômegas para se apossarem. Entre eles estavam Kang Baekho, comandante chefe do exército de Kim Namong, que anteriormente servia ao exército de Choi Seunghyun.

Foi responsável por inúmeras mortes à vários povos distintos. Cada batalha ou terra conquistada, invadia cidades e procuravam por ômegas para usufruir de seus corpos, com o vigor de um cão viril. Naquela noite não foi diferente. Quando seus homens invadiram o pequeno vilarejo de Goseong em busca de bebidas, Kang Baekho encheu o seu estômago do mais forte e potente licor, antes de se arrastar em busca de um bordel.

Encontrou um próximo a uma estalagem, invadiu o lugar em um rompante, selecionando alguns ômegas, sem importar com o gênero. Desfrutou dos seus corpos noite a dentro, até cansar e o seu corpo implorar por uma trégua. Aos sorrisos, depositou uma série de tapas na bunda do último ômega que se deitou consigo, inflou o peito e escarrou nas costas do jovem ômega, deixando o local logo em seguida, bebendo avidamente de uma garrafa de cachaça.

Não percebeu que suas ações eram observadas por olhos fervorosos, que o olhava com atenção de cima de um telhado, próximo ao cais. Uma brisa suave do rigoroso inverno, fez os tecidos das vestes negras do homem deslizar em meio ao céu noturno. Um chapéu de bambu coberto por uma renda preta, cobria o rosto do homem agachado sob o telhado.

O ressoar suave de asas ecoou em meio à noite, enquanto uma águia branca com o corpo coberto por pequenas penas amarronzadas planou nas alturas. Era imensa e ao cruzar o céu, uma sombra se projetou abaixo de si. Repousou silenciosamente nas dobras de uma chaminé, próximo ao homem de vestes negras. Esse virou-se na direção da ave, movendo sua cabeça para baixo e para cima, como uma singela reverência.

Espontaneamente, a águia retribuiu o movimento e alçou voo, piando por cima dos telhados, majestosamente bela. Sua pelagem branca mesclava-se com a neve que recobria o solo. Em poucos segundos, o barulho das portas estralando em suas dobradiças e as janelas sendo fechadas ecoaram pelo lugar. As pessoas começaram a correr, escondendo em suas casas de tijolos. Os pequenos bares que ainda estavam abertos, fecharam suas portas.

Em segundos, o silêncio mortal recaiu sobre Goseong, exceto pelos passos ecoando na neve.

Kang Baekho caminhava tranquilamente pelo lugar, gargalhando e zombando do povo que ali habitavam, chamando-os de medrosos. Para si, aquela história não passava de lendas criadas por alguma pessoa de péssima índole para causar medo nos demais. Era apenas um bando de mentiras sem sentido.

— Seus imbecis ridículos — proferiu em meio aos goles de cachaça. — Merecem morrer por serem tão medrosos. Eu mato esses abutres em um segundo.

A figura negra que estava no telhado, desceu silenciosamente no chão, tão leve e graciosa feito uma pluma. Não parecia ser um humano comum, pois seus passos eram tão suaves que sua presença não era nem sentida. O vulto começou a caminhar suavemente pela neve, seus passos tão delicados e suaves quase não produziam pegadas.

O véu de renda do chapéu oscilou um pouco, devido ao movimento do indivíduo, porém sua face não foi revelada. O manto negro contrastava-se com a imensidão negra, e pelos seus ombros caiam longas mechas negras como a noite, repousando alguns dedos abaixo da curva dos seus ombros.

Os fios eram negros e brilhantes, tão suaves que pareciam plumas e tão escuro quanto a imensidão do céu noturno. A longa capa preta esvoaçava pelo vento, exibindo o cinto de couro que estava em na cintura delgada do indivíduo. O brilho de três facas e uma adaga riscou a escuridão, mas o brilho mais intenso emanava da espada que o jovem empunhava em sua mão direita.

Branca como cristal, reluzente como diamante, produzia uma luz clara em um aspecto congelante, como se fosse retirada do fundo de uma geleira abaixo de cinquenta graus. O cabo da espada era forjado em prata e diamantes, e em sua base portava três caracteres que formavam a palavra Jusawi, que na linguagem comum poderia ser interpretada como ‘morte’.

O individuo a usava como se fosse uma bengala, perseguindo o homem embriagado pela neve. Quando Kang Baekjo entrou em um beco sem saída, foi que ele percebeu que estava caminhando em rumo pelas ruas. Chutou um pouco de neve, irritado e frustrado com a situação. Ao virar-se para se afastar, viu a imagem negra se martirizar a sua frente há alguns passados de distância.

Na primeira instância, assustou-se pela aparição repentina, soltando um sorriso debochado e cruel, bebendo mais alguns goles do vinho em sua garrafa.

— Espirito de Jeoseung Saja? Eu deveria ter medo? — perguntou em zombaria.

A figura não fez nenhum movimento, continuou parada como se estivesse congelada. Aquela ação irritou Baekho, que prontamente empunhou sua espada e buscou desferir um golpe no invasor. Um sorriso ladino pairou em seus lábios, imaginando o título que receberia ao voltar para Kwangju com a cabeça do ceifador que estava aterrorizando o povo.

Antes que obtivesse êxito em sua ação, com um único movimento de espada, essa que emitia uma fraca luz cristalina que riscou o céu ao toque, a espada de Baekho dividiu-se em duas quando a lâmina afiada a cortou. Uma exclamação surpresa e exasperada abandonou os lábios do alfa, enquanto ele cambaleava-se para trás.

Um sorriso franzino brilhou nos lábios da figura negra, escondendo-se por trás da renda. Caminhou a passos suaves em direção ao alfa, que a muito dizia-se um alfa corajoso. Um homem que aterrorizava os ômegas em sua cama, estuprando e os mantando logo em seguida. Servia anteriormente Choi Seunghyun, sendo o responsável por assassinar Kim Seokjin, uma vez que, sua flecha levou o ômega a cair do penhasco.

Agora, ele finalmente, havia cruzado o caminho da morte.

— Para um alfa com o seu título, você parece que está com medo. Quem diria que, o invencível e corajoso Kang Baekho, na verdade se parece muito como um cordeiro assustado.

As palavras suaves, até mesmo com um leve tom gentil, abandonaram os lábios do individuo de vestes negras, que caminhava suavemente pela neve, ao encontro do alfa que outrora esbanjava coragem.

— Cordeiro assustado? — perguntou, sua voz de alfa reverberando por todo o local, afim de esbanjar sua dominância.

Esperava que diante da sua presença forte de alfa, a criatura se mostraria em uma linha defensiva, porque mesmo não sentindo nenhum aroma ou odor irradiando do desconhecido, betas portavam um pouco mais de senso, não atacando alfas, a menos que, desejavam a morte.

Todavia, sua voz lupina não causou nenhum efeito sobre o desconhecido, que continuou a avançar com um gentil sorriso em seus lábios.

— Cadê o alfa corajoso que segundos atrás, zombava do senhor da morte? — perguntou, mantendo seu tom suave. — Não era você que dizia que, poderia matar os meus filhos em poucos minutos? Por que está tão assustado? Encontrou a morte diante dos seus lábios?

— Quem é você? — perguntou em um rugido, o medo desabrochando pelos seus poros.

— Eu?

O desconhecido parou na frente do alfa, esse que por sua vez, caiu no chão e começou a rastejar para trás, até sua cabeça tocar a rigidez da parede, impedindo-o de continuar se afastando.

— Você sabe quem eu sou — pontuou em um sussurro. — Afinal, nosso caminho já se cruzou muitas vezes no passado — abaixou-se diante do alfa.

— Ah! — exclamou, tentando buscar algo em sua memória, mas nada veio a sua mente.

— É claro que você não deve se lembrar. Uma vez que, a memória de um nome, só permanecerá em nossas mentes, se a pessoa realizou alguma ação que devemos carregar por toda uma vida — pontuou, seus dedos tocando singelamente a lâmina da espada. — Você não se lembra de mim, mas eu me lembro perfeitamente de você, Kang Baekho. Costumava usar um batedor de rabo de cavalo para açoitar os seus reféns. Após tomar um ômega como seu refém, você abusava dele, deixando sua semente como um lembrete.

— Você não se parece como uma das minhas vítimas — comentou em um sorriso.

— Não, até porque todas as suas vítimas, você tratou de mata-las depois de ter tripudiado em cima delas até cansar — a repulsa e a raiva emanavam de suas palavras. — Eu sou alguém destinado a levar sua alma para o inferno.

— Oh! Se eu irei morrer, mereço ao menos, saber pelas de quem, você não concorda? — um sorriso ladino emanou de seus lábios, afim de esconder o medo que o envolvia.

— Claro, você tem razão — falou suavemente, afastando-se e ficando em pé.

Retirou o chapéu de bambu que cobria a sua face esbelta e jovem, exibindo sua pele clara como a neve, que anteriormente a renda escondia. Seus olhos eram negros como dois preciosos diamantes negros. Seus fios longos e escuro como a noite dançou ao redor da sua face, devido a brisa noturna, repousando abaixo dos seus ombros como a sedosa e mais macia pluma. Os lábios vermelho-cereja exibiam o traço fino de um sorriso.

— V-você.... — Baekho gaguejou em um sussurro.

Antes que o alfa pudesse completar sua constatação obvia, a lâmina perfurante da espada gélida desceu sobre o seu membro esquerdo, dilacerando a carne. Um grito terrivelmente doloroso evaporou dos lábios de Baekho, enquanto as lágrimas caiam dos seus olhos.

— Surpreso?

A pergunta do jovem rapaz de fios negros saiu suavemente, enquanto esse levantava sua espada na direção do outro membro do alfa.

— Com-mo?

Sua fala saindo em um fio tênue de voz, mas o jovem rapaz não demonstrou nenhum minúsculo movimento de hesitação, apenas deixou a lâmina cortante pairar, mais uma vez, acima da perna do alfa, descendo segundos depois na direção do órgão genital do homem, arrancando-o fora, em uma massa compacta de tecido, carne e sangue.

O grito aterrorizante foi mais alto e mais sufocante que o anterior, mas não havia pressa nas ações do homem de vestes negras, apenas a calmaria que estampava seus olhos. Sua face não esboçou nenhuma reação, nem mesmo quando retirou a perna direita da vítima, fazendo-a rolar pela neve.

Kang Baekho clamou por piedade e perdão em meio aos gritos aterrorizados de dor. A vibração horrenda de sua voz, vibrando pelas paredes das casas que haviam naquela região. O alfa arrastou-se pela neve, tentando esconder-se debaixo de umas tábuas de madeiras que tinham próximo deles. O seu sangue pincelando a imensidão branca da neve.

— Diga! — a voz suave exigiu em meio aos gritos e choro do homem. — Diga quem sou eu, e eu lhe direi o porquê de sua alma ser ceifada.

A lâmina cristalina riscou o abdome do alfa, fazendo um corte rústico por onde seus intestinos saíram, rompendo-se para fora da cavidade.

— Prínci... — resmungou, mas sua fala não deixou o jovem satisfeito.

O rapaz de fios negros segurou a cabeça de Kang Baekho, erguendo-o em sua direção, enquanto retirava uma adaga de seu cinto de couro, posicionando-a rente ao abdome do alfa. Antes que esse tivesse a oportunidade de completar sua fala, a lâmina cortante perfurou seu abdome três vezes seguida com brusquidão, tão rápido que quando Baekho sentiu dor, o rapaz já tinha encerrado sua ação.

— Diga!

Suas palavras saíram entredentes, enquanto segurava o alfa pelos seus cabelos, aproximando-o de seu rosto. Seus movimentos fizeram os fios negros deslizar por seus ombros e colidir com a face do homem.

— Príncipe de Hanseong.

— Não — pontuou firmemente. — Um príncipe precisa de um povo para orientar e um reino para governar, e você, ajudou a destruir o meu!

— P-por fa-favor, me mate — implorou em meio as lágrimas.

— Eu disse que, um dia vocês estariam implorando por mim em meio as lágrimas, mas sinto em lhe dizer, é tarde demais. Vocês arrancaram todo o brilho que havia em mim, retiraram a minha humanidade. Eu não sinto mais nada, nenhuma compaixão por vocês.

Voltou a usar a adaga, mais uma vez, enfiando-a no abdome do alfa. Seus órgãos saltaram para fora sob uma massa escorregadia e gotejante de sangue, enquanto o grito doloroso do alfa se solidificava em meio a neve.

— Mesmo que você me mate agora, seu reinado já acabou a muito tempo atrás — Baekho rangeu raivoso em meio aos vômitos de sangue, sentindo sua cabeça sendo puxada com força, tão bruto quanto aço.

— Não! Meu reinado ainda vai começar!

O desconhecido empunhou a espada novamente, o seu brilho cristalino cortou a noite e o sangue salpicou a neve em todos os lados, quando a cabeça de Kang Baekho foi arrancada fora. Um suspiro suave emanou do rapaz, enquanto ele jogava a cabeça no chão, observando o corpo cair sem vida na neve.

O som sublime das asas cruzou o céu e o rapaz olhou para cima, capturando a imagem tênue de uma águia pousando sobre um telhado. O jovem de fios negros moveu a cabeça para cima e para baixo, fazendo o mesmo movimento de anteriormente e a águia repetiu suas ações, alçando voo, enquanto os piares ecoavam pelo vilarejo.

O cântico da águia chamou suas companheiras, que voaram no céu em direção ao rapaz, fazendo uma suntuosa dança de penas e piares ao seu redor. Com um único movimento de cabeça, as aves mergulharam em direção a carne do alfa, desfrutando de um excelente banquete, do que um dia foi o comandante chefe do exército de Kim Namong, rei dos Quatro Reinos.

Novamente, colocou o chapéu de bambu sobre os seus fios negros como a noite, escondendo seu rosto jovial. O rapaz deixou suas adoradas águias deliciar-se de sua nova refeição, enquanto caminhava à passos suaves pela neve, deixando suaves pegadas pela neve que seriam cobertas facilmente. Gotículas de sangue caiam da lâmina cristalina de sua espada, mas em pouco tempo, o sangue desapareceu, deixando-a limpa como uma geleira.

A espada não absorvia as impurezas ao seu redor.

A águia magistral acompanhou o rapaz noite a dentro, sobrevoando acima de sua cabeça. A brisa congelante do inverno rigoroso tocou no véu do chapéu de bambu, acompanhada pelo tilintar suave das asas de um animal que passou em um rompante ao seu lado. Um sorriso genuíno pairou nos lábios do rapaz, balançando a cabeça em negação ao observar um corvo desaparecer no céu.

O relinchar de um animal ecoou pelo lugar, mas as mãos delicadas e gentis do rapaz tocaram o focinho do animal, deixando uma suntuosa carícia, antes de subir em seu dorso. Cavalgaram por algumas milhas até ganharem impulso e o animal planar suas rigorosas asas em meio ao céu noturno, deixando o vilarejo para trás.

[....]

 

“Quando a luz deixar de brilhar sobre os homens e a imensidão branca tomar a paisagem, corpos desfalecidos pairarão sobre a terra.

O corpo imaculado e virgem, brilhará sobre os tons de vermelho negro, enquanto a guerra por poderes dominará o mundo.

Ao último cântico das águias, o herdeiro renascerá para tomar o que é seu por direito.”

 

Em partes, as palavras proferidas pelos sacerdotes cumpriram-se há dez anos.


Notas Finais


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É isso meus amores, esperam que tenham gostado da história. Nos vemos no próximo capítulo, terceiro e último ato.
Beijos de chocolate com mente😘 My little angels 💖


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