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História Crush; tododeku - Querida insegurança


Escrita por: prushotoo

Notas do Autor


boa sorte

Capítulo 13 - Querida insegurança



Todoroki nunca havia visto Bakugou tão desesperado daquela forma.


O loiro andava de um lado para o outro enquanto mordia sua unha do dedão da mão. Ele não estava preocupado, estava desesperado, ao ponto de ter um surto caótico e se explodir. 


— Kacchan, você tem certeza? — Midoriya perguntou mais uma vez.


Bakugou parou abruptamente e respirou fundo, ele apertou suas têmporas e logo após coçou seu cabelo.


— O Monoma a viu tentando sair da escola usando o IDE, mas ela não conseguiu. Isso foi há três horas atrás, são oito horas agora. Ela havia me dito que estava se sentindo um pouco mal e ia tomar um ar, é claro que eu a deixei ir, mas ela não voltou, a última mensagem que ela me enviou foi "desculpa" —  Katsuki explicou pela quinquagésima vez.  — Ela estava tão triste hoje, quase não falou, ela também não tomou café da manhã, não almoçou, só comeu no piquenique, ela não é assim. Alguma coisa aconteceu, eu sei que aconteceu. Eu preciso-


— Não! —Midoriya praticamente berrou e agarrou o loiro com o chicote negro. — Kacchan, você não vai! Você está agitado e só vai piorar as coisas, fique aqui e se acalme. Eu vou...


— Amor, eu vou procurar pela Uraraka. O Bakugou precisa de alguém para ficar com ele, vocês são melhores amigos, não são? Essa é a hora certa para se apoiarem. Eu vou atrás da Uraraka, peça para a Momo fazer algum chá que o ajude a se acalmar. — Todoroki disse autoritário, ele levantou da cama e caminhou até os dois outros — Vai ficar tudo bem, eu vou trazer a sua namorada de volta. Eu prometo.


Shouto falou aquilo enquanto olhava dentro dos olhos de Bakugou, ele se atreveu a tocar em seu ombro e sorriu convincente. O mesmo virou seus calcanhares, mas antes de sair do quarto ele sentiu algo agarrando o seu braço e o puxando de volta. Era Midoriya. Ele estava com a sua sobrancelha arqueada e o olhava com uma cara confusa, uma cara que dizia "Você não está esquecendo de nada?"


— E o meu beijo? — Midoriya perguntou como se fosse algo óbvio a ser feito. Como se Shouto sempre o beijasse antes de sair.


Todoroki revirou seus olhos e abriu um sorrisinho bobo, ele agarrou a cintura de seu namorado e rispidamente o puxou para perto, assim juntando ambas as bocas em um beijo rápido que tinha um gostinho de quero mais.


— Eu volto logo, eu prometo.


Sem dizer mais nada, ele saiu do quarto e caminhou com pressa em direção a sala de estar, onde uma boa parte dos alunos estavam estudando. Ele passou por todos e saiu do dormitório com pressa.


Estava uma noite fria, não havia nuvens no céu, apenas diversas estrelas que cintilavam de um modo encantador e uma super lua. Era uma pena que Shouto não poderia vê-la com seu Izuku. Ele caminhou em direção ao portão principal e ficou atento ao seu redor, principalmente nos bosques, se Uraraka passasse por ali, ele saberia.


Shouto tinha uma boa intuição, sempre conseguia sentir quando algo de errado estava acontecendo, ou quando um vilão cruzava seu caminho. Ele nunca falou sobre esse seu "super poder" para ninguém, pois sabia que não seria levado a sério. Talvez Izuku o levasse a sério, ou apenas fingisse que havia o levado a sério. Ele sabia que o esverdeado era compreensível, mas também sabia que em certos assuntos ele preferia ser ignorante.


O bicolor soltou um suspiro pesado, ele balançou sua cabeça e tentou afastar seus pensamentos de Izuku. Ele não podia se dar ao luxo de pensar em seu namorado em um momento tão crítico como aquele.


Shouto levantou o olhar e fitou o portão de saída. A garota não estava ali e o último acesso havia sido de 16:50 PM. Ela ainda estava dentro da escola. Todoroki pensou onde Ochako deveria estar, ele pensou em suas crises, para onde ele sempre ia quando precisava fugir de todos? Quando precisava fugir de si mesmo? A resposta era bem óbvia. 


Ele caminhou até os cenários e pulou a grade que delimitava a área de treinamento. Não havia ninguém ali, todas as luzes estavam apagadas e os robôs ainda não havia sido ligados. Shoto soltou um suspiro pesado e passou a ponta de seus dedos por dentro de seu cabelo. Aquele local era imenso, como ele encontraria Uraraka ali? 


Todoroki olhou para seus dois lados e ficou em um completo silêncio, ele sentiu a brisa fria soprar em seu rosto e o silêncio gritar em sua mente. Seus pêlos se eriçaram e seu coração começou a acelerar, ele sentiu uma lufada quente de ar em seu pescoço e uma mão tocando em seu ombro. Rapidamente ele virou seu corpo para trás e viu uma silhueta alta emergir das sombras. 


— Cara, para onde você está indo? 


A luz prateada da lua iluminou o local e revelou a identidade daquela figura macabra, era apenas Shinsou que estava ali, parado, o olhando. Shouto não era do tipo que julgava seus ex ficantes, ele achava Hitoshi um gato, fora que ele beijava super bem e tinha um bom gosto para roupas, só que esse mesmo garoto o assustava. Ele cansou de se arrepiar, olhar para trás e ver Shinsou se aproximando. Ele parecia até um tipo de entidade maligna.


— Porra, você me assustou! 


— Você realmente não sabe me cumprimentar com um "oi"?


— Shinsou, fala sério. — ele bufou — O que você está fazendo aqui?


— Escondendo corpos. — Shinsou respondeu e logo após retorquiu a mesma pergunta. — O que você está fazendo aqui?


— Grosso. Eu estou procurando pela Uraraka, se você  a vir...


— No prédio B3. Passei por lá há meia hora atrás e me encontrei com ela. Ela disse que estava indo treinar e me perguntou sobre a minha individualidade, não entendi bem porque ela estava tão curiosa. — ele encolheu seus ombros. — Ela não me parecia muito bem, ela terminou com o Bakugou?


— Como você ficou sabendo? Quero dizer, Shinsou, é o Sero que te conta a fofoca de todas as pessoas da escola? — Todoroki perguntou certamente indignado com aquilo.


Sero nunca havia lhe contado nada sobre ninguém quando eles ficaram. Shinsou nem parecia ser o tipo de pessoa que gostava de ouvir fofocas, o que era irônico, já que aparentemente o seu namorado trabalhava como um Instagram de fofocas no tempo livre.


— Você não precisa ir procurar aquela sua amiga? — Hitoshi desviou da pergunta e deu às costas — A gente se vê por aí, docinho.


Shouto pensou em ir atrás dele, mas se conteve. Ele deu às costas e com um resmungo correu até os prédios. Ele levantou sua cabeça e tentou ler o nome dos prédios, mas estava tão escuro. Ele sabia que estava no Bloco A, ele também sabia que demoraria muito para chegar no B3. O garoto, então, passou a mão em seu bolso e procurou pelo o seu celular, mas ele lembrou que havia deixado o aparelho no chão de seu quarto. 


Como Bakugou deveria estar? Será que Izuku estava o contendo ou havia deixado com que ele surtasse e explodisse todos no dormitório? 


O bicolor suspirou pesadamente, esticou suas pernas e correu em direção ao bloco B. O silêncio mórbido encheu sua cabeça e o vento frio soprou em seu rosto. Ele havia esquecido o quão graciosa era a sensação de correr contra o vento, o quão livre ele se sentia quando fazia aquilo. Era um sentimento nostálgico e único, ele lembra de quando fugiu de madrugada e ficou deitado no terraço de um prédio, vendo uma chuva de meteoros e chorando porque seu coração estava quebrado. Ele lembra de quando escreveu um "poema" triste para Izuku e pensou em entregá-lo, mas não fez. Ele também lembra de como aquele poema era patético. Quem nomeava seu poema como "04:35am"? 


Todoroki tinha boas lembranças dali. Ele voltou a prestar atenção na escuridão e deixou seus sentimentos confusos de lado. Não era a hora certa para pensar nas coisas patéticas que ele já fez em segredo. Era a hora certa de seguir uma silhueta pequena e gordinha que havia se esgueirado pelas sombras e entrado no prédio A9. O heterocromado achou aquilo suspeito, por isso decidiu seguir, pois havia uma grande probabilidade de ser Ochako, mas também poderia ser a Toga. Shouto sentiu um calafrio quando pensou naquela vilã. Toga era apaixonada por Midoriya Izuku, quem garantia que ela não tentaria matá-lo quando ele estivesse nas garras da liga?


Mais uma vez o bicolor balançou sua cabeça e afastou aqueles pensamentos assustadores, ele caminhou em direção ao prédio e emergiu na escuridão. Não havia nada ali, apenas uma escada que subia quase que infinitamente. 


— Bakugou, eu vou matar a sua namorada. — Shoto disse enquanto resmungava, ele respirou fundo e novamente observou a escadaria. 


Enquanto subia as escadas, ele se questionou como Uraraka havia conseguido subir aquilo tudo tão rápido se estava com o seu tornozelo torcido. Se ele não estivesse tão preocupado, com certeza iria encher aquela menina de esporros.


Todoroki conseguiu chegar no terraço após longos minutos de subida. Ele abriu a porta de serviço e observou o espaço amplo. Ochako estava sentada na beirada do prédio, ela não parecia preocupada se iria cair ou não, ela não parecia sã. 


— Uraraka? — o bicolor chamou esperançoso e a viu olhar para trás com uma expressão de pavor.


— Todoroki-kun? O que você está fazendo aqui?! 


— Bem, eu fugi, igual à você. 


— Ah, droga... Foi o Katsuki que te mandou vir, não foi? — ela questionou baixinho — Eu não fugi, eu apenas... Não me sinto confortável dentro daquela casa. 


O bicolor respirou fundo e olhou para o terraço. Não havia nada ali, Uraraka estava sentada na beirada e não parecia incomodada se estava em um local perigoso ou não. Ele coçou seu cabelo e desafiou a si mesmo de se aproximar.


Havia um fato curioso sobre Todoroki Shoto que ninguém sabia. Ele odiava lugares altos, tinha medo. É claro que ele precisava criar plataformas de gelo e às vezes se jogar de lugares altos, mas sempre que isso acontecia ele tinha um quase infarto. Haviam certas alturas que eram aceitáveis, mas eles estavam no oitavo andar de um prédio abandonado feito exclusivamente para simular prédios reais. Se aquilo, por algum motivo, cedesse, eles morreriam.


— É por causa do Kirishima, estou certo? — ele questionou delicadamente — Uraraka, não vou tocar em você sem a sua permissão, eu vou apenas sentar ao seu lado e te ouvir desabafar, isso se você quiser. Está tudo bem para você?


— Sim.


Todoroki fez o que disse, ele não tentou puxar Uraraka ou agarrá-la por trás e retirá-la dali a força, ele apenas sentou ao seu lado e apreciou a vista do céu. Todoroki sabia que sua amiga havia sido assediada, ele havia ouvido o que Bakugou tinha dito, bem, ouviu quase tudo. Mas foi o suficiente para que ele ao menos tivesse uma noção do que estava acontecendo. E ele achava que a melhor forma de se aproximar de uma pessoa traumatizada era deixando bem claro as suas intenções.


— Me desculpe por mais cedo, eu não pude te proteger daquilo, pensei que não deveria me meter, mas fui um idiota. — o meio a meio comentou — Sei o quanto ter as suas inseguranças atacadas é ruim. Eu sou bastante inseguro também, eu sempre fico me comparando com outros caras e sempre acabo me odiando.


— Mas você é bonito!


Shouto achou graça. Ele franziu seus lábios e voltou seu olhar para a paisagem em sua frente. Um mar de prédios se erguia aos seus pés e pareciam quase tocar o céu, diversas luzes brilhavam ao longe e o deixava com um sentimento de solidão. 


— Uraraka, você sabe que eu odeio você, não sabe? — Todoroki a fitou de um modo calmo, porém melancólico. 


— Eu não...


— E não é sua culpa. Eu apenas odeio você. Odeio como você faz com que eu me sinta insuficiente. Você me diz que eu sou bonito, mas não sou tão bonito feito você, não sou tão alegre e interessante feito você. Isso é patético, você não acha? É vergonhoso dizer isso em voz alta. — ele riu amargamente.


— Desculpe.


— Eu sempre tive inveja de você, sempre pensei que se eu fosse uma menina, o Izuku me notaria, idiota, não é? Mas agora que estou vendo você cair, eu estou percebendo o quão patético nós dois somos por ficarmos nos comparando à toa.


Uraraka não disse nada, ela parecia tão confusa e envergonhada. Shouto sabia que havia a pegado de surpresa com aquela confissão vergonhosa. Ele queria mostrar que ela não era a única a se comparar demais. Ele sabia que sua arqui-inimiga deveria estar cansada de ouvir conselhos falsos de pessoas não inseguras. 


— Eu também me odeio, sabia? Me odeio por não ser magra, me odeio por deixar com que façam bullying comigo, me odeio por ficar me privando de comer e vomitando... — ela riu soprado e apertou a barra de seu short jeans. — Eu quero ser magra e bonita, igual as mulheres das revistas. Eu não queria ter vergonha do meu corpo, entende? Quando eu falo sobre isso, as pessoas não ligam! Elas dizem "você está linda!", Mas esses são elogios falsos, eu sei que são.


— Você sente como se dissessem isso por dó? 


— Sim! São elogios vazios, é como se alguém elogiasse apenas um detalhe seu, por exemplo, "seu nariz é tão lindo", só porque é a única coisa bonita em você! — Uraraka disse em um suspiro, ela parecia estar tão irritada e ao mesmo tempo tão aliviada. Ela franziu seus lábios e apertou a ponte entre sua testa e o nariz. — Eu não sei se eu posso continuar vivendo assim. Se eu terminar com o Katsuki... Talvez, só talvez, o Kirishima me deixe em paz. Talvez ele pare de me deixar cartinhas maldosas, talvez ele pare de rir de mim...


Shouto a olhou de soslaio e franziu seus lábios. Ele não podia deixar com que aquilo acontecesse, ele não podia deixar com que aquele namoro acabasse.


— Da última vez que eu vi, Bakugou estava próximo de ter um colapso e explodir a casa inteira por conta do seu sumiço. Você realmente quer terminar com aquele garoto e colocar a vida de todos em risco? — o meio a meio a questionou com cuidado.


Ochako riu e deitou-se no chão. Ela não parecia agitada e muito menos incomodada com aquela conversa. É claro que seus olhos castanhos possuíam um misto de tristeza e confusão, seria um pouco desconcertante se não possuíssem.


— Eu não sei, Shouto. Posso chamar você assim? 


— Claro.


— Eu amo o Katsuki, eu amo tanto ele. Sabe quando você ama tanto uma pessoa ao ponto de não se ver com mais ninguém?


Shouto fez que sim. Ele sabia muito bem como era aquela sensação inquietante, ele sabia muito bem como era planejar uma vida inteira ao lado de uma pessoa que provavelmente te largaria na primeira oportunidade.


— Eu me sinto assim com o Katsuki. Ele me faz feliz, ele é tão competitivo que chega a ser engraçado. Sabe, ele me maquiou para à festa de halloween. — ela abriu um sorriso apaixonado — Aquele filho de uma puta é tão irritante que me deixou apaixonada, todas as vezes que ele diz "você é a minha garota" eu fico sorrindo igual uma idiota por horas.


Um sentimento de déjà-vú acertou em cheio o corpo de Todoroki. Ele lembrou de como o seu namorado ficou radiante ao ser chamado de "meu garoto". Isso o fez sorrir também, ele realmente entendia como Uraraka se sentia em relação a suas inseguranças e seu namoro.


— Ele não liga, sabe? — ela continuou. — Ele não liga se eu tenho gordurinhas, ele não liga se eu tenho um "corpo pêra". Ele disse que eu sou igual a um hamster, pequena e gordinha, talvez ele estivesse me zoando, mas eu adoro hamsters!


— Pensando bem, faz todo o sentido. 


— Mas é que... Ele pensa que eu nunca ouvi o que aquele ridículo diz sobre mim, ele pensa que eu nunca ouvi todas as piadinhas que ele tem que escutar por minha culpa. Argh! Eu me odeio por pensar nisso, me odeio. — ela resmungou enquanto dava tapinhas em seu rosto. — E eu me sinto tão idiota. Depois de amanhã é o meu aniversário, eu deveria estar feliz, mas cá estou eu, prestes a chorar porque o Kirishima me chamou de gorda.


— Uraraka, você ama o Katsuki?


— Amo.


— O Katsuki ama você, ele se apaixonou por você, por cada detalhe seu. Ele aceita você com o seu corpo atual. Mas porque você está tão desesperada em mudar? A quem você está querendo agradar, afinal? Seu namorado ou o Kirishima?  — Todoroki foi claro.


Ela o fitou com um pouco de vergonha e abriu seus lábios minimamente, mas não chegou a dizer nada.


— Sei o quão angustiante é não ser aceita, mas um rosto bonito e um corpo magro não vai fazer com que as coisas melhorem. Você não precisa magra para ser atraente. — ele continuou — Você não precisa estar dentro do padrão do Kirishima. Você é linda e atraente, você não enxerga o quão maravilhosa você é porque está preocupada com o que a pessoa menos importante vai achar. 


— Shouto...


— A beleza não é duradoura, Uraraka. Uma pessoa que só se importa com a beleza é superficial, você quer esperar algum tipo de amor de alguém superficial? — Shoto continuou a questionando — Todos nós somos inseguros, e quer saber? Eu acho o Kirishima um completo cuzão. Ele é um filha da puta abusivo de meia tigela com uma forte síndrome de nice guy e pick me up. O Bakugou deu um fora nele e ele te culpou por isso, todo mundo vê ele como um cara bonzinho que se faz de coitadinho. Eu odeio isso. Eu odeio o que ele fez com você, eu nunca deixaria com que ele se aproximasse do meu namorado.


— Fico feliz em ouvir isso de alguém que não seja o Bakugou, sério. Quando eu contei para algumas pessoas, elas me disseram para ignorar, disseram que "o Kirishima é muito bonzinho, nunca faria isso" — ela respirou fundo e fechou seus olhos —, eu me senti desprotegida. Eu sentia que era a minha culpa. Que tudo era minha culpa. 


— Mas não é. Uraraka, não há nada que justifique um assédio, não há nada que justifique uma intimidação — Shouto teve que medir suas palavras, ele não queria passar as próximas horas colocando seus melhores palavrões em frases de ódio diretamente direcionadas ao seu colega de classe. 


— É só que... Por que tem que ser justo comigo? — ela sentou no chão e se virou bruscamente para o bicolor, que se sentiu na obrigação de repetir o mesmo processo — O Kirishima fodeu com a minha cabeça de todos os jeitos possíveis. De todos os jeitos possíveis. — ela sibilou a última parte bem lentamente, sua voz, agora, estava trêmula e cuidadosa.


— Uraraka...


Ela levantou, e como uma barata tonta começou a andar de um lado para o outro. Ou melhor, mancar.


— Por que justo eu? Por que eu tive que me apaixonar justo pelo o Bakugou?! Por que eu tenho que ser tão gorda?! Por que eu simplesmente não consigo me sentir feliz? — Uraraka questionou amargamente — É só que, eu sou uma heroína, Shouto! Eu vou ser uma heroína! Como eu posso proteger as pessoas que amo se eu não consigo nem me proteger de palavras afiadas?! O que diabos está acontecendo comigo?! 


Todoroki não conseguiu ouvir aquilo em silêncio. Ele levantou do chão, caminhou com pressa em direção à Uraraka e a envolveu em um abraço apertado. Tão apertado que quase quebrou seus ossos.


— Heróis não precisam ser fortes o tempo inteiro. Heróis também precisam cair, heróis tem o direito de chorar, porquê além de heróis, nós somos humanos. Nós sentimos dor. Nós nos sentimos inseguros. — Shouto falou com calma — Eu sei o quanto isso está doendo, eu sei o quanto você está sofrendo, mas temos que passar por isso para no futuro nós sermos um exemplo. 


— Como assim...?


— Você já viu um herói gordo? Você já viu um herói gay? Você já viu um herói negro ou trans? Não temos pessoas assim na mídia, e se não temos pessoas assim, nós temos a obrigação de nos tornamos esses heróis. Nós temos o dever de mostrar que pessoas assim existem, nós temos o dever de ser a inspiração de alguém, nós temos o dever de mostrar que está tudo bem. — ele continuou. Suas palavras não faziam mais sentido em seu cérebro, elas agora dançavam em um furacão de frases desconexas e argumentos soltos. — Eu sei o quanto dói, porra, deus sabe como eu sei. Mas não é o fim do mundo, pode parecer, mas desejar ser magra não vai te tornar magra, desejar ser hétero não vai me tornar a porra de um hétero, você entende?!


Tudo o que Uraraka conseguiu fazer foi reproduzir um som abafado, quase como um grunhido, e então, ela começou a chorar. A chorar descontroladamente. Tão descontroladamente que Shouto teve que sentar-se com ela no chão e a abraçar com força porque estava com medo de que ela simplesmente saísse correndo e se jogasse do prédio. Ele sabia que Uraraka estava quebrada, sabia que uma névoa de melancolia a cegava, e ele também sabia que na hora da crise a tendência a se lesionar aumentava.


Shouto não disse nada durante longos minutos, ele apenas fez com a garota o que gostaria que tivessem feito com ele, o envolvido em um abraço forte e caloroso. 


Ele sentiu seu coração partir em vários pedaços naquele minuto. Uraraka tremia em seus braços e dizia o quanto não aguentava mais, ela praticamente estava implorando para ser salva, estava implorando para que sua dor parasse.


Shouto tentou se manter forte, ele tentou manter seus sentimentos trancados dentro de seu peito, tentou não ter um gatilho emocional. Uraraka não precisava ver a sua bóia salva-vidas afundando. O bicolor se manteve frio, até que a menina se acalmou e aos poucos foi voltando ao normal. 


— Me leva embora daqui. Eu não aguento mais. — Ochako pediu baixinho.


Todoroki não soube exatamente o que deveria fazer, ele ajudou Uraraka a levantar-se e sair do prédio. Não havia nenhum outro herói por ali, e isso foi ótimo. Eles andaram em silêncio e permaneceram assim por longos minutos.


— Shouto, você ainda me odeia? Eu nunca quis roubar o Deku de você...


— Eu não te odeio, não mais. — respondeu — A culpa é minha por ser um ciumento. Eu admito.


— Nós... Podemos ser amigos, então? — ela perguntou baixinho.


— Amigos...? Er... Como assim? Amigos que saem pro shopping? Que compartilham s-segredos? — Todoroki gaguejou e corou com aquela ideia ingênua.


— Você nunca teve uma amiga, Shouto? — Uraraka olhou para ele com o cenho franzido.


— Não... As meninas... Hm... Me assustam... Um pouco... 


Ochako deixou uma risada escapar de seus lábios secos.


— Você quer ser meu amigo? 


— Quero. — ele respondeu rapidamente — E agora? O que fazemos?


— Agora nós somos amigos — Uravity bocejou e apoiou sua cabeça no braço dele — O que você costuma a fazer no seu aniversário?


— Bem, eu choro. Não costumo a ter festas de aniversário, então eu passo esses dias sozinho — disse. — Se tornou algo normal para mim, para ser sincero.


— Poxa, pretendo passar meu aniversário assim. Não tem muito o que fazer, na verdade. Amanhã é quinta, não é? Meu aniversário é em uma sexta... — ela fez as contas nos dedos e fez uma careta.


— Amanhã eu pretendo sair para comprar uma coisa no shopping, quer ir comigo? Quero dizer, se estiver tudo bem... 


— Vai fazer uma surpresa para o Deku? — perguntou.


Shouto sorriu dócil.


— Quase isso. 


Eles avistaram o dormitório, e Uraraka respirou fundo várias vezes antes de entrar. Suas mãos tremiam e ela não parecia pronta para voltar. Shouto se atreveu a passar seu braço pelo pescoço dela e a puxar para perto de si, com um sorriso ele disse "vai ficar tudo bem, estou aqui." E Uraraka pareceu acreditar. Ela deu o primeiro passo e enfim entrou na residência, que estava normal. Os alunos andavam para lá e para cá, conversavam ou riam. 


— Vocês voltaram! — Deku foi o primeiro a dizer. Bakugou não estava por ali. — Uraraka, você está bem? 


— Um pouco, eu só...


Ela olhou por cima dos ombros de Deku e engoliu em seco. Uraraka apertou o braço de Todoroki, que seguiu o olhar da menina e viu Kirishima, que a observava friamente. 


— Eu vou acabar com isso — Todoroki anunciou, farto daquela situação. 


— O quê?! Não, por favor! — Uraraka praticamente berrou e tentou puxar o bicolor para trás, mas não adiantou. Quando Shouto percebeu, já estava agarrando a gola da camisa de Kirishima e gritando com ele.


Não foi sua raiva repentina que o assustou, foi o fato de Kirishima não ter reagido àquilo. Foi fato de que aqueles olhos vermelhos brilhavam em perversão, em raiva, foi o fato de que os olhos de Eijirou Kirishima eram frios e insensíveis.


— Você é um filho de uma puta — Shouto continuou disparando — Sinceramente? Você nem deveria estar aqui, você nem deveria ser considerado um herói. A sua família deve ter enchido o rabo do diretor com dinheiro para você não ser expulso dessa droga.


— Todoroki-kun! — Midoriya o puxou para trás, mas não conseguiu acabar com a briga.


— Eu não fiz nada — Kirishima disse com a voz leve e um sorriso dócil.


Todoroki sentiu suas individualidades entrarem em conflito. Ele sentiu suas mãos ficarem molhadas e seu peito se encher de chamas. 


— "Você não fez nada"? — ele repetiu, dessa vez com uma forte ironia em sua voz —  Você não fez nada?! Porra, olha pra Ochako! Você fodeu com o psicológico daquela garota, você acabou com ela. E tudo só porque você tomou um fora do Bakugou! 


Todoroki ouviu Uraraka suplicar para que aquilo parasse, mas ele não fez. Ele não aceitaria viver em um lar tóxico, não mais.


— Ela só teve o que mereceu. — Kirishima retrucou com calma e frieza. 


— Você é um maníaco filho de uma puta desgraçado do caralho. Um arrombado abusivo, tóxico e machista — dessa vez, quem se pronunciou foi Bakugou. 


— O que caralhos está acontecendo? — Iida entrou no meio de Todoroki e Kirishima, seu cenho estava franzido e ele parecia pronto para imobilizar alguém, se fosse preciso.


— Estão me acusando injustamente. Nunca fiz nada para a Uraraka, ela inventa mentiras para sair como coitadinha e a culpa cai sobre mim. — Kirishima disse em defesa.


Diversas vozes preencheram a sala e todos começaram a argumentar sobre aquela briga. Eram achismos errados, eram opiniões irrelevantes. Todos estavam errados, Shouto sabia daquilo. 


— Calem a boca! — Uraraka gritou, e todos a olharam com espanto. — Só calem a porra da boca. Eu não aguento mais, eu não aguento mais isso. Kirishima você sabe o que você fez, você sabe. 


— E o que eu fiz? — ele retrucou rapidamente.


Ochako ficou vermelha, ela abriu seus lábios minimamente, mas não conseguiu dizer nada, seus olhos estavam cheios de lágrimas. 


— Você não consegue sustentar sua própria mentira, que patético. — Eijiro cruzou seus braços.


— É isso. É isso o que você faz comigo. Você me faz duvidar da verdade, você me faz chorar a noite inteira por algo que não foi a minha culpa. — a menina disse com a voz trêmula, ela limpou suas lágrimas e fungou — Como você tem coragem? Como você consegue dormir a noite sabendo que você está me matando aos poucos?! Droga! Eu não aguento mais. Não aguento mais me sentir assim. Eu estou enlouquecendo.


— Uraraka-kun, você não precisa...


— Eu não posso mais conviver com isso, Deku. Ou eu mato esse sentimento ou ele vai me matar. — ela falou — Você é o pior ser humano que existe, Kirishima. Por que você me odeia tanto? Por que logo eu? Por que você ama me ver chorar?! 


— Eu não...


— Cale a porra da sua maldita boca. Você não fez nada?! VOCÊ NÃO FEZ NADA?! — Uraraka praticamente rosnou aquelas palavras — Você me ameaçou, você me assediou, você me destruiu. Você me destruiu por completo. Suas palavras continuam reverberando dentro de mim e isso me machuca. Você têm me torturado há semanas, talvez meses, mas parece que isso acontece há anos. Eu não consigo me olhar no espelho, não consigo me sentir bem, não consigo me sentir amada e é tudo sua culpa. Sua obsessão pelo Katsuki me colocou em perigo. Você sabe o quão abalada eu estou?! Você acha que eu tenho grana pra pagar a porra de um terapeuta?! Você está me matando. Eu não consigo mais viver no mesmo ambiente que você, droga!


— Você tem provas de que eu realmente fiz isso? É a sua palavra contra a minha, querida. E eu tenho certeza que a minha palavra vale muito mais que a sua.  — Eijiro rebateu. Ele parecia estar se divertindo com a confusão.


Ochako limpou seus olhos, fungou e respirou fundo. Ela olhou diretamente para Shouto e sussurrou um "desculpa".


Em uma fração de segundos, ela acertou o rosto de Kirishima com um soco e o derrubou no chão. Um arquejo tomou os alunos que rapidamente empurraram a garota para trás.


— Isso, pode me socar o quanto quiser, depois você vai distorcer essa merda e falar que eu te bati. — Eijirou gritou irritado e apertou sua bochecha. 


— Vai se foder — Uraraka respondeu.


— Gatinha, já chega — Bakugou interferiu, ele puxou Uraraka para perto de si mas a menina resistiu — Amor?


— Espero que você queime no inferno, seu merdinha do caralho. Espero que você pague por toda essa merda, espero que você pague por ter fodido a cabeça do meu namorado e a minha. — ela gritou raivosa. Todoroki sentiu alguns fios de seu cabelo levitarem, ele piscou seus olhos e relanceou o salão, os talheres da pia tremiam e o ar estava começando a ficar rarefeito. — Eu espero que você pague por ter fodido com o meu psicológico, espero que você pague por ter escrito todas aquelas cartas, por ter me feito pensar que eu deveria está morta!


Todoroki deu um passo para trás e sentiu sua camisa subir. Ele fitou Uraraka, ela estava flutuando, seu punho estava cerrado e seus olhos cripitavam em chamas rosas.


— Izuku — ele chamou pelo esverdeado, que o olhou confuso — O que está acontecendo?


— Você criou essa merda toda dentro da sua cabeça e está procurando por pessoas para culpar! — Kirishima rebateu.


— Cala a porra da sua boca, seu arrombado! — ela continuou gritando — Eu não aguento mais você, não aguento mais ouvir sua voz, não aguento mais, não aguento mais! 


Uraraka abriu seu punho e o fechou com força, Eijirou arregalou seus olhos e começou a tossir, ele passou a mão em sua garganta e continuou tossindo.


— Você é louca! — o ruivo tossiu desesperado.


— Bakugou, faça ela parar! — Izuku gritou, mas o loiro parecia tão assustado quanto qualquer um naquela sala.


Todoroki queria ter conseguido entender o que havia acontecido, mas seus olhos não conseguiram acompanhar a agitação e o seu cérebro ficou lento. Ele havia visto Sero usando sua fita para prender e derrubar Uraraka no chão, ele também havia presenciado Momo dopando sua amiga fazendo-a desmaiar. Os próximos quarenta minutos se resumiram em Sato levando Uraraka para seu quarto e Aizawa quase infartando quando soube da desavença.


É claro que todos ali levaram uma bronca, mas no final foram mandandos para seus quartos. Kirishima foi "afastado" do dormitório.


Aizawa queria tê-lo deixado ficar na casa, mas Kaminari interferiu naquela decisão e mostrou que ninguém estava feliz e confortável com Kirishima morando ali. O professor não teve outra escolha senão levar o aluno para o dormitório dos professores. 


Todoroki tentou conversar com Bakugou, mas o loiro falou que precisava ficar sozinho por um tempo e tentar colocar alguns sentimentos e pensamentos em seus devidos lugares. 


— Amor? — Izuku o chamou baixinho.


Agora, eles estavam no quarto de Midoriya, deitados no chão e fitando o teto branco. As luzes do quarto estavam apagadas e a porta estava trancada. 


— Oi.


— Você está bem?


— Estou — ele respondeu —, por quê? 


— Você parecia estar sofrendo quando a Uraraka começou a chorar. Eu sei que, hm, eu sei que você também se sente inseguro sobre a sua aparência, mas eu te acho o homem mais lindo desse planeta. — Midoriya falou — Não tenha dúvidas de que eu te amo.


Esse amor não vai durar muito. Shouto lembrou a si mesmo do seu lugar. Ele suspirou fundo e sorriu triste.


— Quer ir ver as estrelas comigo? — o bicolor questionou.


— Claro.


Eles pegaram alguns cobertores e foram até a sacada. Todoroki cobriu o chão e deitou-se, Izuku deitou ao seu lado e repousou a cabeça em seu peito. Os dois ficaram observando o longínquo céu azul escuro que estava lotado de estrelas. A lua não estava tão cheia igual mais cedo, mas continuava brilhante e maravilhosa.


Shouto sempre gostou de observar as estrelas, principalmente em seu aniversário. Ele gostava de acordar cedo e se agraciar com a chegada da alvorada, o céu sempre tomava cores claras, ele amava a cor rosada das nuvens logo pela manhã, amava ouvir o som dos pássaros. O mundo parecia sorrir para ele.


— Quando eu era criança, eu costumava a pensar que quando as pessoas faleciam, elas se tornavam estrelas. Então, quando chovia, eu achava que essas pessoas estavam chorando. — Midoriya falou distraído — Você acha que nos tornamos estrelas quando morremos?


— Não sei dizer, amor. Mas eu não quero que você seja a minha Lua. — Todoroki retrucou e viu o outro franzir seu cenho.


— Por que não?


— Porque se eu pedir a sua mão em casamento você não vai aceitar. — ele respondeu e ouviu a gargalhada doce de seu namorado.


— De onde surgiu essa idéia de que o Sol e a Lua namoram? — Izu questionou — Não faz sentido algum, e o pior, por que ela nunca aceita ficar com o Sol?


Todoroki franziu seus lábios e suspirou, ele puxou o esverdeado para mais perto de si e fitou a lua.


— Bem, é tudo culpa do Pequeno Cidadão. — ele respondeu e Midoriya continuou rindo —  A Lua nunca aceita o pedido do Sol porque sabe que ele vai ficar tão feliz que pode acabar explodindo e matando a todos. Ela também nunca nega porque o Sol pode apagar, então ela o deixa esperar. 


— Então é um amor impossível.


— É um amor impossível. 


Eles ficaram em silêncio por longos minutos. Shouto sentia empatia pelo o Sol, ele sabia perfeitamente como era exaustivo amar uma pessoa que não te amava de volta. Ele sabia como era doloroso amar alguém que nunca seria seu.


Quando Midoriya descobrisse...


Todoroki balançou sua cabeça levemente e deslizou seus dedos para dentro do cabelo verde de seu namorado, assim lhe fazendo  cafuné. 


Um amor impossível. Ele pensou.


Seu amor com Izuku era impossível. 





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