História Crystalia - Chegada Calorosa

=Narração Azurite=

Eu e as meninas estavamos bastante cansadas, admito, em Homeworld eu não fazia tanto esforço, mas eu gosto de ajudar, então tudo bem! Nenhuma de nós quis parar para recuperar o folego um só instante, isso por que quando a Nuummite contou sobre o sonho dela todas ficamos ainda mais eufóricas para voltar, Emerald temia que fosse mais uma de suas amigas a ser perdida quando soubemos que alguém seria morta, Nuummite se calou e agora anda mais apressada que todas com um olhar angustiado, e eu nem preciso dizer que sim, não é?

Mas o pior era minha distração pelo caminho, apesar de andar acompanhando os passos delas minha cabeça latejava com tantas preocupações, eu estava tão preocupada quanto elas com todas as Gems de Crystalia, com todas as nossas amigas, mas minha maior preocupação no momento era a Nuummite, que está carregando um peso enorme nos ombros. Se ela pudesse rachar de estresse já estaria esmigalhada.

-Talvez seja melhor descansarmos meninas – Eu por fim sugeri.

-Descansar? Mas e se Crystalia estiver em apuros?! – Emerald pareceu odiar a ideia.

-O que poderemos fazer para ajudar se chegarmos sem disposição para lutar? Principalmente a Nuummite! Ela é a única capaz de matar aqueles monstros, e com certeza não seria outra coisa a atacar e tentar destruir a cidade se não eles – Tentei ser razoável, eu entendo que ela está preocupada, mas se chegar tão afobada vai se machucar! Não suportaria ver elas se machucarem...

Isso me faz pensar agora... Como a Nuummite foi capaz de aguentar tanto... Ela nem faz ideia, mas é tão forte.

-Isso é verdade... Cansada do jeito que está seria impossível manter uma fusão estável – Ela concluiu depois de pensar um pouco.

-Já está quase anoitecendo, e estamos no meio do caminho depois de andar dois dias sem descansar um minuto, vamos acampar aqui, no final do dia de amanhã estaremos próximas o suficiente para ver a cidade – Nuummite

Eu concordei, e resolvemos fazer uma fogueira para passar a noite, não que precisássemos nos aquecer, mas acabou virando um costume, é bem mais eficiente usar o fogo para afastar animais nativos do que evocar nossas armas ou tomar formas intimidadoras, além de que ilumina melhor que nossas pedras.

O ruim é que estamos presas numa tensão desconfortável. Quando menos percebi estávemos sentadas ao redor da fogueira, cada uma divagando nos problemas em vez de conversar, e mesmo que conversássemos acho que seria desagradável tentarmos falar desse assunto.

A Nuummite parece bastante perturbada com o que sonhou e viu quando achamos a Cooper e aqueles monstros, e a Emerald parece ansiosa pra chegar em Crystalia, desmascarar a Howlite e quem sabe impedir o futuro previsto...

Pensando bem... Qual será o passado da Emerald? Eu nunca perguntei... Na verdade nós nem nos falávamos... Talvez se conversarmos eu possa ajuda-la...

Eu gostaria de poder ajudar mais a Nuummite, mas... Ela nem se lembra de mim... Acho que deve ser um efeito colateral daquele dia...

-... Então... Emerald.

-Uhn? – Ela pareceu finalmente voltar a realidade.

-Eu sei que talvez seja ruim de lembrar, mas por que não conversamos para passar o tempo e desestressar? Eu posso sentir seus espíritos perturbados...

Nuummite e Emerald se entreolharam, como se discutissem se aquela ideia era boa. Claro, eu não obriga-las a falar nada, mas eu quero ao menos poder ajuda-las.

-Eu bem... Como vocês sabem eu era General em Homeworld... Tinha um batalhão ao meu dispor e lutava com garra em prol daquele planetinha miserável... Até que a mais clichê das histórias aconteceu... Eu conheci a Cooper.

-Vocês se apaixonaram? – Perguntou Nuummite.

-Não de cara... Eu e ela ficamos amigas, ela era uma servente, construtora na verdade, mas estava abaixo das Bismuths naquele lugar, ela era mais uma faz tudo do que uma construtora, como sabem, as descartáveis servem pra qualquer coisa.

-Imagino... As únicas Coopers que conheci serviam como abatedouro, no exército elas ficavam na frente para serem mortas primeiro e cansar inimigos... – Nuummite informou.

-Que triste...

-Pois é... A Cooper foi mandada primordialmente para ajudar a reparar os danos em uma das minhas naves, mas eu vi que ela era útil, e tive pena de deixar que ela virasse abate na frente dos exércitos, então... Eu pedi que ela fosse a minha Gem de abate, mas na verdade eu nunca coloquei ela em linha de frente, ela sempre esteve ao meu lado.

-Que bonito da sua parte – Eu comentei, era realmente bonito ver o quanto ela se preocupava comigo.

-Acha é? Eu sempre achei ela bonita... Mesmo com seu jeito duro de se ver, e a aparência cansada de alguém explorado e sem oportunidades, como a maioria é naquele planeta miserável, ela sorria pra mim e dizia que faria o seu melhor para me agradecer, e isso era o suficiente pra mim – Ela sorriu com nostalgia.

-Quando vocês se uniram a rebelião? – A Nuummite perguntou.

-Foi graças a Painite.

-A Pai te trouxe para a rebelião? – Perguntou ela novamente.

-Sim... Na verdade foi tudo um grande mal entendido – Ela sorriu novamente, olhando o fogo na lareira como se fosse o reflexo do seu passado – A rebelião tinha acabado de começar, e a Pai estava causando um estardalhaço, tão pouco diferente de Rose Quartz, ela era forte, imponente e inteligente... Mas num dia, ela foi cercada, e por um mal entendido, Cooper estava lá.

Emerald parou por um segundo, provavelmente essa parte era difícil de se lembrar.

-Mesmo minhas ordens sendo dela não agir, eu fui desobedecida, minhas superiores mandaram que ela se metesse e parasse Painite antes que fugisse, que a matasse... Mas ela não conseguiu, Cooper não era uma assassina, e eu tinha dado esperanças a ela de que nunca precisaria se tornar uma, então Pai escapou, e a Cooper foi culpada, e taxada como traidora, ela foi presa e ia ser quebrada em frente a todos para mostrar o que acontecia com quem se rebelava contra a autoridade.

-Que horror – Eu me lembro dessa história, da Cooper que salvou Painite num momento de aperto... Mas não fazia ideia de que era aquela Cooper.

Que fim trágico...

-Eu me revoltei e fui atrás da própria Painite, para vingar a minha amiga que seria morta sem que eu pudesse fazer nada! Mas em vez de se defender ou tentar revidar, a Pai apenas disse...

{...}

-A culpa não é minha por ter sido salva, é sua por se acovardar e não lutar por quem lhe é importante. Você pode ficar aqui e chorar a perda de um ente querido, ou pode se juntar a mim para salvá-la e viver com ela, vendo seu sorriso perante a liberdade. O que me diz?

{...}

-... Ela me chamou para a rebelião... No começo eu só queria salvar a Cooper, mas quando conseguimos salvá-la em rede pública, na frente de todos... Eu percebi que não era aquilo que eu queria, não era viver nas sombras de uma sociedade como aquela, eu queria ser livre pra amar a Cooper e viver ao lado dela! Então eu me juntei à rebelião até chegar aqui.

-... Nossa, isso é incrível... Eu sinto realmente muito pela sua perda Emerald... – Falei secando algumas lágrimas dos olhos.

-É... Sentimos muito – Nuummite reforçou.

-Obrigada meninas – Ela suspirou – Mas então... E você Nuummite?

Nuummite pareceu pensar sobre isso, talvez não seja confortável para ela pensar sobre isso? Ou talvez suas memórias estejam confusas... Será que eu deveria contar a ela sobre...

-Eu era uma Nuummite normal... Quer dizer, eu cuidava das minhas coisas, tinha a minha Obsidian que vocês conhecem pra me ajudar, quer dizer... Eu tive muitas... Antes de conhecer Pai eu era uma Gem que não me orgulho, por medo de ser quebrada eu mandei para á morte várias Gems, por que não eram boas o suficiente para serem minhas, porém num dia.

-Você as matava? – Emerald pareceu surpresa.

-Não... Mas eu delatava, qualquer coisinha, fosse uma pergunta suspeita, um desejo, um questionamento, um ato de desobediência, tudo para parecer uma Gem perfeita e exigente como as outras.

-Nossa... – Emerald agora parecia com asco, e Nuummite triste de lembrar.

-Eu me arrependo amargamente disso... Eu fui criada como substituta, logo no começo da guerra a Nuummite que ocupava meu posto foi morta e elas tiveram que me criar as pressas, porem com tão poucos recursos eu era mais fraca e eles pesavam em cima de mim, pois se eu mostrasse que era imperfeita ou incapaz de algo seria morta.

-Você apenas fez o que a pressão te obrigou, não se sinta mal, todos cometem erros – Eu tentei acalmá-la, e pareceu ajudar.

-Bom, eu vivi assim até que num dia eu saí e me vi em meio a uma batalha entre os rebeldes e o exército de Homeworld... E bem no meio daquele caos eu encontrei outra Nuummite, diferente, existiam menos de dez Nuummites em Homeworld, por sua raridade, mas ela era uma a mais, vestida como uma aristocrata, eu fiquei confusa, até que tudo se desfez, e eu descobri que ela tinha sido morta e passado todas as informações sobre Homeworld para mim.

-Ela passou tudo pra você? – Emerald disse confusa – Como?

-Assim como eu posso absorver memórias, aquela Nuummite parecia ter a capacidade de transmitir informações através da mente para outras Gems, e ela transferiu incluindo seus poderes para mim antes de ser morta por um soldado inimigo, que no caso era a rebelião na época – Ela suspirou – Depois disso eu subi de patente, me tornei uma aristocrata de alta classe, ganhei um prédio inteiro para trabalhar apenas guardando informações que deveriam ser mantidas a sete chaves de todos, e ninguém nem mesmo poderia saber quem eu sou, e eu jamais poderia sair de lá.

-Nossa, eles te mantinham presa lá?

Dessa parte eu não sabia... Eu conheci Nuummite depois que ela foi dada como morta e se uniu a rebelião, salva por Painite, mas não sabia que ela tinha sido salva disso, ou que estivesse sendo mantida presa dessa forma.

-Eu vivi com minhas Gems de defesa lá até que Painite pareceu num dia... Ela conseguiu invadir sem dificuldades, chegar até mim, e me fazer uma proposta que eu nunca pensei antes que aceitaria.

-Qual? – Emerald perguntou.

{...}

-Você quer ser livre?

-Livre? Eu sou livre!

A Gem alta e bonita sorriu, jogando seus cabelos avermelhados para trás enquanto olhava a Gem menor mais de perto.

-Você considera viver presa numa torre liberdade...? Lute ao nosso lado para ser livre, para sair, para viver, para correr e ser quem quiser... Para amar, quem você realmente deseja amar.

{...}

-Nesse dia Painite conquistou não só a minha confiança, como a das minhas Jaspers, e juntas fugimos todas, e ela explodiu a torre, fazendo parecer que eu tinha sido morta, então comecei a trabalhar com a rebelião para libertar Homeworld.

-Entendo... – Emerald pareceu aceitar numa boa.

-E... É só isso?

-Como assim só isso? – Ela olhou para mim curiosa.

-Tipo, sei lá, detalhes, você não fez mais nada? Nenhum acontecimento marcante que pode ter te tornado o que é hoje... – Tente jogar verde pra colher maduro.

Ela virou o rosto como se essa frase tivesse a incomodado bastante. Será que ela se lembra?

-Eu não quero falar sobre isso.

-Você não precisa ter vergonha ou esconder nada de nós Nuummite – Emerald tentou fazê-la falar.

-É, pode nos contar! – Tentei passar confiança, insistindo um pouco.

-Elas morreram ta bem?! – Ela se virou de costas.

Elas?! Quer dizer que ela...

-Quem? – Emerald perguntou, eu ainda estava processando.

-As Jaspers que se revoltaram junto comigo... Durante uma das nossas últimas batalhas nós acabamos encurraladas, apenas eu a Jasper que conhecem conseguimos escapar...

Nuummite abaixou a cabeça abalada. Emerald foi se aproximar pra pedir desculpas, arrependida de ter a feito falar, e eu acabei me esquecendo de dizer qualquer coisa.

Ela não se lembra daquele dia... Aquela estava longe de ser uma de nossas últimas batalhas. Apenas vencemos aquele dia por causa dela, mas mesmo assim sacrifícios realmente tiveram de ser feitos...

Será que... Não pode ser...

-AZURITE!

Eu voltei a realidade, não sabia que estava sonhando, quando olhei para trás vi uma daquelas feras pronta pra me atacar. Eu levei um susto tão grande que mal pude me mexer, mas graças a Nuummite eu fui salva. Ela pulou por cima de mim, e rolamos para o lado. Comigo salva ela deu uma flechada naquela criatura e ela se desfez.

Ficamos quietas esperando a poeira baixar, principalmente por que não sabíamos se tinham mais daquelas feras ao nosso redor.

-... Acho que não tem mais... – Emerald informou.

Concordamos e Nuummite me soltou, sentando e esperando fazer o mesmo.

-Obrigada... Desculpa por ter te feito lembrar de coisas tristes Nuummite... – Disse arrependida.

-Não tem problema... Você me deve uma, salvei sua vida – Ela disse rindo.

Eu sorri concordando, ela estava certa.

Nós resolvemos montar guarda novamente, e com isso ficamos descansando a noite, até a manhã chegar.

Quando o sol raiou, nós nos preparamos e voltamos a descer a montanha, no caminho acabamos encontrando várias criaturas, mas por sorte foram separadamente, então Nuummite conseguiu lidar com elas sozinha.

Quando eu olho para ela fico feliz de estar aqui, mas ao mesmo tempo sinto tristeza por não ter sido capaz de ajuda-la antes... Talvez se eu fizer um esforcinho, mesmo só eu, não... Elas não estão mais aqui, não vai ter como.

Vou dar um jeito de recompensar tanto esforço dela! Com certeza!

Pouco depois da meia noite, talvez umas duas horas da manhã, estávamos perto de Crystalia, e já podíamos vê-la.

O problema era que a visão não era boa... Fogo... Muito fogo...

-POR QUE A BARREIRA ESTÁ DESATIVADA?! – Emerald exclamou assustada.

-Essa não... VAMOS! – Nuummite correu e fomos atrás dela.

O problema foi que a Nuummite correu rápido demais, provavelmente procurando suas amigas, eu mandei que Emerald fosse com ela, que eu iria à procura das outras, talvez ajudar os cidadãos.

A cidade estava um caos, prédios destruídos ou em chamas, Gems mortas no chão, árvores caídas e monstros para todos os lados. De onde eles surgiram?! Por que tantos?!

Eu andei mais a frente, ajudando os cidadãos. Eu já tinha entendido como atrasar esses monstros. Eu apenas precisava atordoa-los para dar tempo dos cidadãos sobreviventes fugirem, e foi isso que eu fiz, não poderia deixar que eles fossem mortos!

E a Nuummite? E as meninas? Eu preciso encontra-las, juntas podemos impedir que os outros cidadãos sejam mortos!

Porem repentinamente eu senti um ataque, foi muito forte, me jogou longe e doeu, doeu muito. Uma daquelas criaturas tinha me acertado por trás, e... Rachado a minha pedra.

Eu olhei em volta, procurando por ajuda, manter minha forma física nesse estado estava ficando cada vez mais difícil, o que eu faria agora...?

Olhei para frente, os olhos já cheios de lágrimas, e vi a Nuummite vindo na minha direção com os olhos desesperados...

Ah... Agora eu entendi... A Gem a ser morta... Serei eu...?

-AZURITE!!!

Pude ouvi-la me chamar, ela vai conseguir chegar pra me salvar? Sim, ela vai... Mas...

Logo atrás da Nuummite, vindo em sua direção, uma sombra encapuzada, a Gem causadora de todos os nossos problemas, e na luz causada pelas chamas, eu finalmente posso ver quem é...

Não... Não posso acreditar.

Ela vai matar a Nuummite, eu não posso deixar.

Usei minhas últimas forças pra pular no caminho, recebendo a lâmina daquela espada. Meu corpo vibrou, eu podia sentir minha pedra cada vez mais se estilhaçar, então é assim que termina pra mim?

Eu ainda não retribuiu tudo que ela fez por nós... Pai... Eu ainda... Ainda preciso de uma coisa...

Respirei fundo, tocando minha pedra. A Gem inimiga fugiu quando a Nuummite se virou para me amparar. Eu já não tenho mais força nas pernas, ela está me segurando em seus braços, que tremem muito... E ela está chorando, suas lágrimas quentinhas molhando o meu rosto, mas eu quase não posso sentir mais...

-Azurite! Não! Não por favor!

-... Nuummi... Seja forte... – Eu sorri com minhas últimas forças pra ela... – E-Estamos quites... Eu salvei você...

Foi meu último sorriso...

Antes da pedra se estilhaçar nas mãos de Nuummite.

.

.

.

-AZURITEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!