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História (cyber)hell - Capítulo Único


Escrita por: LiaALTF e HydeAndSeek

Notas do Autor


Cá estou eu, postando em cima da hora, de novo! É algo diferente do que já fiz, mas espero que gostem.
Boa leitura!

PS: Não há sobrenatural na fanfic.

Capítulo 1 - Capítulo Único


Curiosidade é uma dádiva e também uma maldição. Eu acreditava que por ser curioso, iria longe. E fui. Mas a curiosidade sempre faz algo maior despertar em nós...Talvez arrogância, talvez a vontade de ser superior, não somente bom, mas o melhor. A vontade de descobrir nossos limites — que em muitas das vezes, no ápice da nossa soberba, acreditamos ser ilimitados. Mas não somos. E eu aprendi isso, aprendi da pior forma.

As pessoas me conheciam como alguém sem duvidas, inteligente. Inteligente, bonito, culto e quantos outros adjetivos conseguiam encontrar para mim. Me consideravam fascinante, provavelmente pelo jeito como eu agia, falava e até mesmo andava, sempre com o ar superior. E essa “fama” me deslumbrava, me levava às alturas! Um intelectual, um grande violinista, grande escritor, grande homem e, ainda assim, queria ser mais. Saber mais. Ter mais. Eu cheguei ao fim do universo, e com a mesma força que desci, eu caí.

A queda começou na festa de um velho amigo, Junmyeon, também admirado por qualquer um que o conhecesse. Confesso que as bajulações que tanto inflavam meu ego, também me irritavam. Normalmente eu sairia após uma ou duas horas, mas naquele dia, naquele maldito dia, parecia que o próprio Diabo sussurrava para que eu ficasse.

 E um de seus servos, num momento onde todos se distraíam bebendo, comendo e dançando, me chamou. Bonito, alto, de cabelos negros e vestindo um paletó da melhor qualidade. Aquele homem despertou meu desejo com seu olhar atraente. E por este olhar achei que tinha o mesmo interesse que eu. E bom, estava interessado em mim, mas de uma forma que me parecia incrivelmente mais atrativa.

— Senhor Kim Minseok? — ele perguntou, segurando e brincando com um papel em seus dedos. Com certeza já sabia que era eu, pois nem esperou uma afirmação para continuar. — Eu e meus amigos estamos o observando faz um tempo. Pode me chamar de Zhang Yixing.

Zhang Yixing. Um belo nome. E eu não fazia ideia do quanto iria me atormentar no futuro. A conversa não durou mais que dois minutos, mas foi suficiente para que eu fosse seduzido pela proposta de me “unir” ao pequeno e seleto grupo que Zhang dizia ser composto por outros músicos, escritores, atores e empresários influentes, que debatiam e compartilhavam conhecimentos uns com os outros. É óbvio que para um jovem arrogante a proposta era irrecusável.

Ele me deu aquele papel que mais parecia um vazio cartão de visitas e deu de costas. Pensei em chamá-lo, mas já havia o perdido de vista depois de olhar o endereço de um site e uma palavra com números aleatórios. O guardei em meu bolso, e, depois de mais uma taça de champangne, fui embora afoito para minha cobertura; louco, como um legítimo imbecil, para me juntar ao tal grupo.

Se eu pudesse voltar para aquele momento com a maturidade que tenho hoje, não iria fazer o que fiz, absolutamente não. Confiar em alguém que mal conhecia, me aproximar de pessoas que nem sequer sabia o nome ainda — aos auge dos vinte e um anos, mesmo me julgando tão esperto para tantas coisas, eu era, no fim das contas, ingênuo o bastante para achar tudo isso normal.

O site era totalmente escuro. Apenas uma tela branca, com um minúsculo espaço para digitar. “SplatterX137”, li no papel e supus que seria aquilo que eu deveria colocar. E foi então que tudo ficou escuro. Pensei que o computador havia desligado, mas era apenas um direcionamento para outro lugar.

Eu vi um bate papo aberto. Havia talvez uns dez, doze homens, conversando sobre o que eu imaginei ser filmes ou livros de terror. A forma como cada um descrevia seus sentimentos, os atos e partilhavam as histórias parecia indescritivelmente fantástica. Eu me sentia no meio de homens geniais, que de tanta influência conseguiam recursos que ninguém mais poderia ter.

Antes que eu sequer digitasse algo, um deles já sabia que eu estava ali.

Gore: Parece que temos um novo amigo hoje. Olá, Minseok. Creio que nosso querido Yixing entrou em contato com você esta noite.

Engoli em seco. Meus dedos estavam sobre as letras do teclado, porém me senti como há anos não me sentia; uma criança rodeada por adultos, se sentindo menor. Pensei que estava lá por um motivo, mas, em meio de tantos homens aparentemente experientes e mais velhos, eu parecia um mero estagiário de vinte e poucos anos.

Minseok: Olá. Sim, ele entrou, senhor...?

Gore: Somente Gore.

Gore: Um velho apelido, já que somos todos amigos aqui.

Conversas paralelas e outros cumprimentos também aconteciam, mas Gore tinha uma coisa estranha que fazia com que você prestasse atenção única e exclusivamente nele, ao menos na primeira vista. Não é exagerado dizer que todos ali tinham algo de errado, mas Gore...Ele era como um líder daquilo. Eu não podia ver seus olhos, mas certamente eles eram como pequenas passagens direto para o tártaro. 

Sem aviso, Gore sumiu durante a madrugada. O resto, incluindo eu, conversava aleatoriamente sobre coisas que me deslumbravam. Eles falavam de suas posses, de poder, coisas inimagináveis e sedutoras para qualquer pessoa que acabara de experimentar um pouco do prestígio.

Devia ser umas duas, talvez três, da manhã quando fui para meu quarto. Passei o dia resolvendo meus próprios assuntos e pela noite entrei naquele mesmo bate papo. O que vi me assustou imediatamente, mas logo pensei ser algum ato cinematográfico qualquer. Tinha costume em ver filmes de terror, e aquilo de tão macabro me pareceu com um.

Gore havia mandado pedaços de um vídeo. Sua miniatura já revelava algo sanguinário, mas, como um bom apreciador do terror, eu cliquei. De início vi pedaços humanos jogados, cobertos por uma quantidade absurda daquele líquido rubro e viscoso. O ambiente era escuro e o máximo de som eram alguns poucos ruídos.

Eu, sempre tão orgulhoso das minhas próprias palavras, deixei-as escapar. “Isso é um filme? Tem que ser. Mas parece tão real...” eu cá pensava, relutando. Me levantei por um minuto e peguei um copo d’água, dizendo para mim mesmo que era só uma bobagem. Quando voltei, Gore tinha me mandado uma mensagem direta.

Gore: Está tudo bem, meu caro amigo? Vejo que não participou da conversa sobre o vídeo.

Minseok: Estou bem. Só me pareceu real demais. Uma bobeira qualquer. Minha mente está cheia demais pelo dia longo que tive.

Gore: (risadas) estamos aqui para ajudá-lo, não se preocupe.

Minseok: Certo.

As risadas me aliviaram. Ele não me respondeu mais diretamente, mas continuava a fazer comentários sobre aquilo que mandara. Ele e os outros, que pareciam gostar de debates como aquele. Mesmo com a pergunta de Gore, me mantive em silêncio no bate papo. Eu não tinha estômago praquilo, mesmo que internamente tentasse me conformar de que era só uma ficção.

Meu celular tocou. Deixei a aba do bate papo aberta e vi um número desconhecido. O atendi, mas ninguém respondeu. Tudo o que ouvi depois de alguns segundos foi o som de um grito feminino. Alto, agudo e de dor. Quem me ligara, desligou. Engoli em seco, abaixando lentamente o celular. “É um trote, é um trote...” e com esse pensamento, fui dormir.

Uma das coisas mais engraçadas e repugnantes do ser humano é a sua capacidade de fechar os olhos para aquilo que não lhe convém; fingir que o obscuro não existe, que o mau nunca pode lhe atingir, que vilões existem apenas em velhos contos infantis...fingir não saber que a realidade, no fim das contas, é mais macabra do que aquilo que nós nos permitimos ver.

Por dois dias consegui ficar cego e surdo para o que não me agravada. Por dois dias meu sono foi sereno. Mas dois dias são apenas dos dias, e nem com todo o orgulho eu poderia me negar a acreditar em algo que me pusesse em perigo.

A natureza humana é covarde, e só depois de muito tempo descobri isso. Nós tememos a morte, mas também tememos viver. Tememos o sangue, o escuro, o conhecido e o desconhecido. Tememos a falta de poder, e quando fazemos guerras, os mais covardes se escondem atrás de pessoas que estão com medo de sofrer por dizer não.

Durante a manhã, meu corpo emanava aquele cheiro de medo porque no fundo, em algum lugar, eu mesmo não acreditava nas minhas mentiras. Liguei o computador, mas tudo o que acessei foi o Skype, buscando por Jongin e Baekhyun, que cuidavam das minhas noites de luxúria quando precisava.

Sexo. Eu precisava disso. Tinha tido dias, tardes e noites cansativas, estava com uma mente pesada que precisava espairecer. Era sempre assim, e sempre eu a espairecia com eles e eles comigo. Uma velha brincadeira entre bons amigos que entre quatro paredes, à sós, eram mais que isso.

Minseok: Byun! Achei que não estivesse online nessas horas.

Baekhyun: Não me chame assim, parece até que não temos intimidade. Normalmente não, mas senti sua falta. 

Sabia bem seu tipo de saudade. Eu quase podia enxergar seu sorriso dali. O mesmo sorriso que ele dava ao ver eu e Jongin nus, exaustos, em sua cama.

Minseok: Não entendo o porquê de não gostar do telefone, mas estou aqui. E estava pensando o mesmo...Byun.

Baekhyun: No final da tarde, que tal? Encontrarei Jongin no trabalho hoje, podemos ir direto para sua casa. Ele é mesmo o filho do chefe...

Minseok: Gosto de gravatas e roupas sociais (risadas). Está feito. Vou reorganizar alguns compromissos, mas não se esqueça da promessa.

Baekhyun: Promessa?

Minseok: Nós três no escritório do Jongin.

Eu saí rindo do que imaginava ser a reação de Baekhyun. Jongin e ele, desde jovens, eram o espelho da verdadeira luxúria. Mais que eu, até. E não posso mentir: ter dois homens à sua total disposição é absurdamente bom.

Mas digamos que como em quase tudo, sempre fui metódico sexualmente. Gostava de sexo ao entardecer, quando a luz natural está perfeita para desligarmos as do quarto. Se Asmodeus já criou algo para me enlouquecer, foi a luz tardia, iluminando fracamente cada curva dos corpos nus dos meus amantes.

Pensava nisso enquanto Jongin tirava suas roupas. Ele era do tipo que gostava de ter a atenção única e por isso fazia isso depois, quando eu e Baekhyun já estávamos ficando loucos por masturbar um ao outro enquanto também víamos sua "cena". Somente quando estava tão necessitado quanto nós, ia para o colchão beijando nossos pescoços como se o mundo fosse acabar amanhã.

Jongin era tão metódico quanto eu. Ao fim de terceiras ou quartas rodadas, ele nos dava dos melhores vinhos, comidas e cigarros. Ainda nus, vagando pela casa, aproveitávamos de tudo. Mas mesmo depois de longas horas de um bom sexo à três aquela noite fora diferente. E quando por um acaso peguei meu celular enquanto ia para a cozinha, vi que um número que não conhecia havia me mandado algumas fotos.

Eu as abri e minha taça caiu no chão. Jongin veio rapidamente, mas eu preferi dizer que fora só um desatento. Ele não acreditou, e, pela palidez do meu rosto, insistiu. Jongin me conhecia bem, então tudo o que fiz foi pedir para que ele e Baek fossem embora, dizendo que eu precisava ficar sozinho. Como um bom amigo, aceitou.

Abri as fotos de novo, com uma das mãos sobre o peito. A primeira era de olhos jovens, já sem vida. A segunda era seu rosto. A boca rasgada, mergulhada em sangue. A terceira era do corpo inteiro. Sem roupas, mutilado, com alguns pedaços em carne viva. A quarta tinha outro corpo, com a cabeça decepada e marcas de amarras pelos braços nus. Se não fosse pelas genitálias femininas, seria difícil dizer se eram homens ou mulheres ali, afogados ao próprio sangue.

Eu chorava. Não entendia o porquê; se era dor, susto ou medo, mas chorava. Depois de uns minutos recebi mais uma mensagem.

XXX: Divirta-se, Minseok. Tenha uma boa madrugada enquanto se deleita das fotos. Antes, passe em nosso grupo. Gore.

"Doentio, doentio, doentio" repetia isso pra mim mesmo. O Kakao mostrou Gore como desativado depois da última mensagem. Liguei, mas o número não existia. O computador estava na sala e dali ouvi o som dele ligando. Eu o abri e alguém tinha o acesso remoto, que nunca liberei, no meu computador.

Alguém estava mexendo ali, abrindo Splatter. Um vídeo passava enquanto todos os presentes comentavam, parecendo um "debate". Começou com um ambiente escuro e silencioso, como um velho porão. Uma luz acendeu e somente o que víamos era um sorriso sádico, logo coberto por uma máscara. Ela se assemelhava à dos médicos da peste negra, e cobria totalmente o rosto. Outros dois, com a mesma máscara, traziam um garoto e uma garota ao encontro do que era um "chefe" ali.

Pensei em rituais, pactos, tudo o que ouvimos, mas achamos ser nada mais que teorias da conspiração. Mas não. Era somente...diversão. Eu ouvia risadas e aquilo era repugnantes. A boca dos dois jovens, que não passavam do dezenove, estava coberta.

E ali começou a tortura.

A boca deles era costurada. Amarrados nas cadeiras, não conseguiam se mexer. Mais homens chegaram, segurando suas cabeças com brutalidade. O vermelho do sangue manchava a linha preta e mesmo sem poder falar seus olhos juvenis mostravam tudo. Toda a dor, sofrimento, mudamente perguntavam o porquê.

Eu fiquei estático. Não queria ver aquilo, mas o choque me congelava da cabeça aos pés. Às vezes eu gritava "não, não!", caindo aos meus próprios prantos. E com tudo aquilo, só depois de muitos minutos, percebi que a webcam ligara.

Gore: Não desligue, não a cubra e não saia. Faça isso por você mesmo, Minseok.

Respirei fundo. Depois daquilo, o obedeci. Eu fechava meus olhos, mas um adulto fora trago. Com feições parecidas, mas envelhecidas. Provavelmente era o pai. Ouvi seu grito de desespero, mas, tal como os jovens, o homem era amarrado. Ninguém tocou nele, mas estava bem de frente para os corpos mortos.

Os mascarados foram embora colocando fogo no lugar. E no mesmo momento eu soube que aquele homem sofreria até sua morte. A webcam desligou. Queria correr, me isolar por dias e depois fingir que nunca vi aquilo. Mas Gore havia mandado uma última mensagem:

Gore: Ou faça parte, ou morra.

Para ele, minha falta de resposta significou a segunda opção. Gore não disse mais nada. Deixei meu computador guardado em uma gaveta, me trancando no quarto do segundo andar. Como uma criança, me sentia seguro entre os lençóis. Abrindo ou fechando os olhos, um flashback se repetia na minha mente e, como se eu fosse aquele pai, meu coração doía. Não sei como meu egoísmo se escondeu tão bem, porque pela primeira vez eu não havia pensado na minha vida, no meu poder, no que eles poderiam arruinar.

E como nunca, eu deveria ter sido egoísta. Pensado em mim ao invés de cadáveres que já deviam estar em paz com suas almas.  

Na manhã seguinte, meu celular vibrava loucamente por mensagens no Kakao e Line. Família, amigos, até desconhecidos, me xingavam. Me chamavam de maluco, falavam sobre chamar a polícia e até que eu deveria morrer, por ser tão doente à ponto de assistir e compartilhar aquelas coisas.

Aquelas coisas...

Vídeos parecidos com o que eu vira na noite passada. Fotos de corpos mutilados, provavelmente também estuprados antes da morte. Até mesmo colegas de negócios haviam visto aquilo, sem resposta, mas é claro que com desprezo da imagem que tinham de Kim Minseok. Muitos já haviam me bloqueado, pessoas importantes, mas que eu pouco tinha contato, me dando chances nulas de resolver aquilo.

Liguei para minha família, sócios, Jongin e Baekhyun. Falei que era um trote de um hacker qualquer. Não sabia o que poderia acontecer se eu contasse, fosse comigo, fosse com eles. Por último, liguei para Junmyeon, que de qualquer maneira nunca teve paciência para redes sociais.

— Jun! Pensei que não poderia atender com seus negócios na China.

— Quando se está no poder, você consegue certas folgas. E você sabe, meu caro amigo, ultimamente eu tenho sido o Rei deste Inferno que é a China.

— Ninguém disse que ser um grande empresário era fácil, Junmyeon...E a China não é tão ruim.

— Espere até trabalhar com os empresários chineses. Os menores são facilmente manipuláveis, mas eles... 

— Por falar nisso, o que você sabe sobre aquele Zhang Yixing, que estava na sua festa?

— Zhang Yixing? Não convidei ninguém com esse nome. E não permito acompanhantes não-convidados em minhas festas. Não está confundido com a de Jongdae? Você anda bebendo muito, não está? Isso já está te deixando meio louco. 

— Você deve estar certo — menti, dando uma risada falsa.

Zhang Yixing parecia ser meu único modo de encontrar uma saída. Eu estava paranoico com tudo e todos; pensava que a polícia poderia ter alguém “infiltrado”, que pessoas na rua eram contratadas para me vigiar. Fora Jongin e Baekhyun nem em colegas confiava mais. Então tudo o que fiz foi procurar sobre ele.

Eles saberiam, poderiam saber o que quisessem, eu tinha a certeza disso mas, ainda assim, busquei por Yixing, pesquisando em cada canto que eu conhecia da Internet. E nada. Eu me lembro de me sentir estúpido por pensar que algum homem daquele lugar daria seu nome. Respirei fundo, porque o medo estava me cegando.

Novamente alguém estava usando o acesso remoto do computador. O Skype foi aberto e Jongin me convidou para uma chamada de vídeo. Não aceitei. Jongin nunca faria isso em seu horário de trabalho. Sequer teria tempo para Skype. Mas eu brincava com fogo fazendo aquilo, pois assim como não responder Gore, aquilo era uma afronta para eles.

Jongin: É melhor que atenda, desgraçado.

Atendi. Uma pessoa estava em frente à câmera, com aquela mesma máscara. O lugar era claro, diferente do porão da outra vez; porém, a máscara estava manchada de sangue já seco. Lentamente, a webcam foi sendo levada ao chão. Jongin estava lá. Amordaçado, amarrado e, como já havia percebido que eles gostavam, talvez por submissão, nu.

Jongin: Não se mexa ou ele morrerá!

Eu jamais conseguiria detalhar como foi o estupro e a tortura do meu melhor amigo. Jamais poderia descrever o desespero, angústia, dor... E mesmo que Jongin não ouvisse pela minha voz sussurrada, eu pedia perdão. Aquela foi a primeira vez em que senti culpa, ódio e nojo de mim. Se eu não estivesse louco por poder, se eu não tivesse caído tão fácil em Zhang Yixing, aquilo seria diferente.

Mas Jongin ainda estava vivo. Via isso pelo movimento de seu peito. O mascarado foi embora, mas antes me deixou uma mensagem.

Jongin: Todos nós temos um lado podre, Minseok. Sabemos de seus desejos internos, mas para liberá-los deverá endurecer completamente seu coração. O que usamos é uma segunda máscara somente, pois a verdadeira você vê todos os dias. Ao seu redor e em frente ao espelho.

Deixando o lado covarde de lado, fui para a casa de Jongin. Achei que devia isso à ele para quando acordasse. E céus, foi ali que realmente percebi o quão pequeno era perto deles. Eles faziam isso sem serem pegos, sem punição, sem qualquer um descobrir (e se por acaso descobrissem, também matavam). Pessoas com uma influência ainda maior do que diziam. Provavelmente políticos, juízes, empresários. E eu? Um músico, escritor, dono de uma editora que mal entrara para a lista das maiores do país.  

A porta de Jongin estava aberta e eu o encontrei chorando no chão. Deus... Aquele homem orgulhoso, sempre com uma postura inabalável e sensual, estava em meu colo chorando e sem forças para falar ou reagir. Ele não pediu pela polícia, e quando pensou que eu a chamaria, me segurou.

Aqueles que frequentavam o SplatterX137 gostavam de tortura. Psicológica, física, mas, no meu caso em específico, eles queriam uma coisa nova: perseguição. A sensação de atormentar, perseguir, me deixar sofrendo por não minutos ou horas mas sim pelo resto da vida. Sempre com medo, paranoico, fadado ao fracasso. Não sairia, não continuaria meus negócios, deixando tudo nas mãos de sócios que, na primeira oportunidade, tomariam todo o dinheiro para si. Eu tinha poucas pessoas ao meu lado e fazer aquilo com Jongin era uma mensagem de que eu aguentaria tudo sozinho. E se aguentasse, quem sabe, quando ficasse insano o suficiente para isso, poderia ser um deles.

Dormi na casa dele naquela noite. Tranquei tudo, mesmo que não pudesse impedir aqueles loucos de entrar se quisessem. Entrei no computador de Jongin depois de dar uns remédios para que ele pudesse dormir e acessei o maldito site. No bate papo, eles mostravam o vídeo do que eu havia presenciado mais cedo. Consideravam uma tortura “leve” e falavam sobre mim. Gore, claro, sabia que eu estava lá.

Gore: A estrela da noite está presente, meus caros.

Minseok: Gore. Vejo que mandou um companheiro seu para a casa do meu amigo.

Gore: Tive clemência. Poderia ter feito você assistir o assassinato dele pessoalmente... Mas lhe dei somente um aviso. Você é um de nós, Minseok. Apenas pare de negar isso, libere o demônio que há aí dentro.

Minseok: Vocês são demônios, não eu.

Gore: Eles são meros demônios. Eu sou o próprio Diabo, e sei quando uma alma pertence à mim.

Não é exagero dizer que aquilo arrepiou cada pelo do meu corpo e me fez suar frio. Depois de ver tanto, aquilo me fez perceber que eu era alguém que havia vendido a própria alma ao Diabo, para depois tentar tê-la de volta. Eu estava fugindo do fardo de ser arrastado para os portões do Inferno.

Dizem que o Diabo sabe de tudo. No meu caso, ele sabia que eu seria um jogo mais divertido. E fui. Cegado pela soberba, luxúria, orgulho, avareza, fome pelo poder, inveja daqueles que pareciam ter seus próprios grandes impérios, e até mesmo pela preguiça de lutar. Seis pecados já haviam me levado.

E só me restava um.

 Minseok: Olá. 

Logo cedo, fui ao privado de Gore. Não tinha a certeza de que ele estaria acordado ou livre para me responder. Me arrumava para voltar ao trabalho. Soube que estava lá quando a webcam fora ligada, e com isso, sorri.

Gore: Resolveu se entregar ao seu demônio interior, Minseok?

— Absolutamente sim, Gore. Hoje, você verá. — Não me preocupei em digitar. Falava olhando para a câmera como se ela fosse os olhos de Gore. Olhos que eu imaginava o quão arrogantemente vitoriosos estavam.

Gore: Saiba que se for alguma mentira sua vida acabará em um estalo de dedos meus.

— Você está por perto, Gore? Eu gostaria de vê-lo. Se não há perigos para você, não haverá problemas, eu imagino.

Gore: Estarei por suas redondezas hoje à noite, Minseok. Mas o que faria vendo meu rosto? Esses cantos obscuros da Internet não são o bastante?

— Quero olhar para o Diabo quando eu entregar minha alma. — sussurrei com os lábios perto da câmera. E então a cobri, fechando o notebook. Ele não se preocupou em me impedir ou me ameaçar depois disso para que eu voltasse ao chat.

Tive um dia em paz, mesmo com os problemas no trabalho. Em encontros e desencontros no prédio, alguns me olhavam com uma cara enojada, mas aquilo pouco me importava. Às vezes ligava para Jongin, que ficaria em casa alguns dias, alegando estar doente. Baekhyun também acreditava nessa versão.

Por volta das dez da noite, eu saí. Fui direto para minha casa e, no canto do jardim, pude ver uma sombra encostada enquanto fumava.

— Olá, “Gore” — Disse quando já perto, vendo ele sair aos poucos do escuro.

— Por favor, Minseok. Aqui não precisamos de codinomes.

Ri e peguei o cigarro de seus dedos, o jogando ao chão.

— Pensei que tinha parado de fumar, Jun.

Junmyeon suspirou, balançando a cabeça e dando um sinal para que entrássemos.

— Nas coisas mais banais, liberamos essa besta que existe em nós, Minseok. Uma dessas coisas são as mentiras. Já deveria saber. — Como um velho amigo que já conhecia bem minha casa, pegou duas taças e uma garrafa de vinho para nós dois. — Quando soube?

— Apenas juntei as peças, Jun. E “ser o próprio Diabo” foi a última que faltava para eu terminar o quebra-cabeça.

Ele se sentou ao meu lado e brindamos. Brindamos à nós mesmos. Junmyeon me contou sobre aquele bate papo com um brilho insano nos olhos. Sem pudor algum, conversava sobre suas torturas, assassinatos, o começo. Talvez a bebida ou minhas provocações houvessem o ajudado um pouco. Quando a garrafa acabara, estávamos no sofá aos beijos. Eu já estava sem roupa alguma, enquanto só lhe restava a camisa social aberta.

— Às vezes mesmo os melhores anjos podem governar o Inferno... — Deitado, embriagado e excitado. A mistura certa para não prestar atenção no que eu dizia. Mas em algum lugar, ele se lembraria dessa frase.

Eu subi em seu corpo, rebolando enquanto passava a mão pelo meu. E mesmo naquele estado, Junmyeon não se cansava de suprir o próprio prazer. Somente quando seu próprio corpo cedera ao sono, ele dormiu. Peguei o celular de seu bolso e entrei no SplatterX137. Liguei a câmera, apoiando sobre a mesa. Já havia me vestido e somente o que eles viam  era Gore nu.

Eles eram companheiros de longa data, então sabiam à quem aquele rosto pertencia. Aquele corpo que era amarrado, mutilado. Que se contorcia, se perguntando como, depois de se julgar tão astuto, fora enganado. Eu não era um mestre da tortura como os outros, mas castrar Junmyeon não era uma opção ruim. Rasguei sua garganta lentamente, apagando nossos cigarros em seu corpo. Eu o matei. Sem dó, sem culpa.

Gore era mais uma alma vazia no mar do Inferno, enquanto eu, Kim Minseok, o próprio pecado. Desliguei a câmera e lhes enviei a mesma frase que sussurrei para o cadáver de Junmyeon.

 “Eu sou o verdadeiro Diabo”.

 

 

 


Notas Finais


Quero agradecer à Gabrielle Zampieri por ter betado /nos últimos segundos do segundo tempo/ pra mim, e à Nathalie Hucchi, por esta capa maravilhosa!

Também quero agradecer ao meu bf sadperson (vejam o perfil dele no spirit e e leiam a fanfic dele para o concurso, é uma comédia deliciosa pra pararem de sofrer por esse horror/suspense aqui HAUSHAUSHA). Se não fosse este ser humano, eu não teria terminado, ou sequer tentado terminar, (cyber)hell.

Enfimmm! Espero mesmo que tenham gostado. <3
Até a próxima~!


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