O sinal bateu e a aula de hoje havia finalmente terminado. Eu caminhava junto a meu amigo Jimin, o restante dos alunos e os professores pelos corredores do colégio buscando a saída do local.
Não havia sido um dia tão cansativo, na verdade, as aulas de quinta eram as mais legais. E ser liberado em uma quinta-feira à tarde era até que relaxante. Então eu conversava tranquilamente com o Park enquanto nos dirigíamos até o portão de entrada, ou no nosso caso, saída.
— Taehyung, você sabia que as lontras dormem de mãos dadas para não se perderem na corrente de água? — o menor murmurou calmamente enquanto ajeitava a alça da mochila azul que carregava em seus ombros.
— Não. — respondi brevemente e o encarei confuso pela pergunta repentina ao que atravessávamos o pátio do colégio.
— Elas dormem. — o loiro respondeu convicto e ergueu a tela de seu celular. Ele apertou o botão e o visor acendeu, permitindo assim que ele me mostrasse seu mais novo papel de parede.
O lockscreen da tela de bloqueio do Jimin é a foto de duas lontras de mãos dadas.
— Muito fofo, não? — questionou animado com as sobrancelhas erguidas em expectativa.
— Sim, mas e daí? — indaguei com indiferença e recebi um revirar de olhos.
— E daí que a minha mãe disse que eu tenho uma consulta médica marcada para hoje. — bufou irritado e guardou o aparelho no bolso da calça de seu uniforme.
Às vezes o Jimin não fala nada com nada. Garoto confuso.
— Okay, mas o que isso tem a ver com lontras?
— A consulta é na verdade um exame de sangue.
— E...? — balancei minha cabeça em um incentivo mudo de fazê-lo continuar.
— E você sabe mais do que ninguém que eu morro de medo de agulhas. — o Park parou de andar e olhou para seu braço, passando sua mão neste cautelosamente. Puxou a manga de seu casaco e o cobriu, como se tentasse escondê-lo. — Não preciso que você pegue a minha mão, mas quero que vá comigo para me dar apoio moral. — ri soprado com sua manha e Jimin esboçou um biquinho, me empurrando com seu ombro logo em seguida. — Estou falando sério. Seja um bom melhor amigo.
— Tudo bem, eu vou. — me dei por vencido e ele sorriu contente. — De que horas é a consulta?
— Daqui a... — parou para ver o horário em seu relógio e logo se voltou a mim. — 20 minutos.
— Meu deus, Jimin! Sua consulta é daqui a 20 minutos e tu anda nessa lerdeza?
— Se eu me atrasar talvez ela seja cancelada. — neguei com a cabeça e passei a empurrá-lo em direção a saída. — Ainda tenho esperanças.
— Só vamos logo. — continuei o empurrado e apesar do loiro ficar tentando resistir, já estávamos quase deixando o local. Estávamos quase passando pelo portão quando ouvimos um chamado.
— Taehyung! Jimin! — virei meu corpo para que pudesse fitar a pessoa que havia nos chamado e descobri que era a nossa professora de química. Ela parecia meio desesperada. — Vocês podem me fazer um favor? — perguntou apressada e eu e o Park nos entreolhamos e assentimos. — Preciso que alguém leve esse documento até a diretoria! São papéis muito importantes que a diretora irá precisar com urgência e eu não vou poder levar até ela agora. Estou muitíssimo atrasada!
— Tudo bem, prô. Eu levo. — o menor proferiu logo sorrindo vitorioso. A mulher somente o entregou a papelada e agradeceu, correndo até a rua logo depois.
— Leva nada. Eu vou levar e você vai fazer seu exame. — puxei as folhas de suas mãos e Jimin me fitou indignado.
— Sozinho eu não vou! — ele cruzou os braços e bateu o pé no chão. Bufei em desgosto e olhei ao redor, pensado em uma solução. Avistei uma cabeleira laranja a alguns metros de nós e essa seria a minha solução.
— Hoseok! — gritei em meio ao furdunço de alunos que se encontravam ali mas o ruivo pareceu ter escutado já que passou a caminhar em nossa direção.
— Não, Taehyung! O Hobi não! — Jimin desferiu um tapa em meu braço e voltou-se a mim com um semblante irritado.
— O Hobi sim. — ele e Hoseok faziam aula de dança juntos e o Park o admirava muito. O mais velho sempre dava dicas e o ajudava em passos que ele tinha dificuldade, então Jimin realmente gostava dele. E por isso ficaria aborrecido em admitir seu medo ao maior. Bom, não posso fazer nada. Foi essa a ideia que eu tive e Hoseok já estava aqui de qualquer maneira.
— Olá, Tae e Jimin! — exclamou simpático e ganhou um sorriso do Park.
— Oi, Hobi! — proferi antes que o loiro respondesse qualquer coisa, estávamos com pressa afinal. — Assim, eu tenho que levar essa papelada aqui até a direção. — apontei para o documento em minhas mãos e prossegui quando o Jung assentiu. — E o Jimin tem que fazer um exame de sangue em uns 17 minutos, mas ele não quer ir sozinho. Você pode acompanhá-lo? — perguntei rapidamente e o ruivo logo concordou.
— Posso. — afirmou com um aceno positivo.
— Ótimo, muito obrigado! — olhei de relance para o Park e este me fuzilava com o olhar. Sorri com seu aborrecimento e pisquei para ele, logo dirigindo minha atenção a Hoseok mais uma vez. — Ah, e você precisa segurar a mãozinha dele porque ele tem medo.
— Taehyung! — Jimin berrou irritado e eu somente lhe dei um abraço rápido antes de gritar "tchau", me afastar deles e voltar a caminhar para dentro do colégio.
Os estudantes estavam todos aglomerados perto do portão então os corredores já estavam vazios e com algumas luzes apagadas.
Eu não tinha nada de muito interessante para fazer então fiquei somente pensando; analisando o piso azulado ao que cantarolava uma música aleatória que havia ficado em minha cabeça e me dirigia até a diretoria.
Foram nesses meus minutos de reflexão que percebi que eu poderia ter simplesmente pedido para o Hobi trazer os papéis aqui e ter acompanhado o Jimin na consulta...
Sou muito burro. Mas agora já é tarde e o Jimin deve estar feliz com seu tão amado hyung, então tudo bem.
Me dirigi a escada e subi os andares necessários. Continuei andando até finamente chegar ao meu destino e entregar a papelada a diretora.
Estava voltando pelo mesmo caminho que havia feito quando ouvi um barulho e percebi uma movimentação suspeita em umas das salas de aula.
Como o bom curioso que eu sou, fui dar uma espiada e aí sim me deparei com algo interessante. Algo realmente interessante.
— Jungkook? — confesso que fiquei bem surpreso com isso que presenciei e deixei toda a minha surpresa ser denunciada pelo meu tom de voz.
O garoto tomou um susto quando ouviu meu chamado e derrubou todas as folhas, canetas e pastas em que estava mexendo. Só vi os objetos indo de encontro ao chão. Ele se virou para mim e um semblante completamente pasmo se apossou do rosto delicado do Jeon.
O menor arregalou os olhos escuros ao extremo, comprimiu os lábios rosados em espanto e seu corpo tensionou, deixando-o estático.
— Taehyung? — ele quase falhou a pronunciar meu nome, e foi uma reação bem engraçada. Por outro lado, adorável.
Acho que eu deveria começar a explicar o que está acontecendo aqui é não há um jeito melhor que o apresentando.
Jeon Jungkook. Meu vizinho e... Amigo?
Não sei ao certo já que existe uma evidente rivalidade entre nós.
O que eu sei é que nos conhecemos há muito, muito tempo. E isso é em partes por conta das nossas genitoras.
Minha mãe e a mãe do Jeon são melhores amigas, quase irmãs. E essa amizade delas desencadeou em uma constante convivência nossa.
Se ele não fosse ridiculamente competitivo e essa rixa não se instalasse entre nós dois, seríamos provavelmente melhores amigos.
Mas isso não vem ao caso, na realidade só trocamos farpas mesmo. Não é como se eu não gostasse dele. Muito pelo contrário, até porque quando se convive há tanto tempo com alguém isso é meio que impossível.
E é por gostar tanto do Jungkook, que não vou perder de forma alguma a valiosa oportunidade de ganhar a vantagem e sair vitorioso perante toda essa situação.
Parece que a vulnerabilidade o atingiu em cheio. Encontrei seu ponto fraco, porque se tem uma coisa que o Jungkook é, essa coisa é dedicado. Ele é o aluno mais esforçado que já encontrei em toda a minha vida. Seus boletins eram repletos de notas 10 e ele dedicava grande parte de seu tempo ao estudo. Era o orgulho de sua família, era extremamente esforçado. E uma coisa que eu valorizo muito é todo esse esforço vindo do moreno. Então eu não poderia ficar mais surpreso ao encontrá-lo colando.
E, bom, foi exatamente isso que aconteceu.
Ao entrar nessa sala, encontrei o Jungkook fotografando a prova. Prova esta que se encontra no chão agora. Eu realmente não faço ideia de como ele conseguiu abrir o armário dos professores para ter acesso ao teste, e... Também não faço ideia de como ele pode ter ligado o foda-se do dia para a noite a ponto de ter resolvido colar.
Mas eu havia adorado isso.
Eu adorava a minha apimentada relação com o mais novo e havia adorado ainda mais o sorriso arteiro que eu sentia rasgar em meu rosto a cada passo que eu dava e me aproximava do Jeon, que continuava me encarando apavorado.
— Você não pode contar para ninguém! — acabou por exclamar desesperado e passou a mão pelos cabelos escuros beirando nervosismo.
— Não? — questionei ardilosamente em uma sonoridade sorrateira e o menor passou a negar freneticamente com a cabeça.
— Não! — era admirável como ele tentava manter a postura, contudo, era inevitável. Jungkook já sabia que eu iria querer algo em troca.
— E quem te garante que eu não vou contar, Gukkie? — praticamente cantarolei as palavras e o vi engolindo em seco.
— Eu garanto. — parei a sua frente bem próximo a seu corpo e Jungkook desviou seu olhar para baixo antes de voltar a falar. — Eu... Eu faço tudo o que você quiser.
Okay, agora fiquei com pena dele. Jungkook é a pessoa mais determinada que eu conheço, porém também é a mais orgulhosa e ter dito isso deve ter sido verdadeiramente difícil para ele.
Mas não vou fazer nada ruim, então não há motivos para que eu sinta pena.
— Tudo o que eu quiser? — o moreno assentiu brevemente, mesmo que com uma feição aflita.
— Tudo o que você quiser. — seus olhos encontraram os meus enquanto ele pronunciava as palavras pausadamente e senti o sorriso em meu rosto aumentando de uma forma considerável.
— Que bom que você pensa assim, porque não vai sair barato, Baby.
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