História Dance With Me! - Escuridão

Ainda Naquele Dia... 

Walterfire/Aldeia da Água - Noite

...

Ela já não sentia mais suas pernas. Sua cabeça era tomada por uma dor insuportável e palpitante, como se tivessem batendo um tambor ali. A sensação na barriga era ainda pior: parecia que alguma coisa comia seu fígado e logo, logo, comeria o resto de seus órgãos. Se espalhava por todo seu corpo, aquela angústia, aquele pânico... Um vento frio entrou pela janela pequena e aberta da cela, fazendo seu corpo estremecer dos pés a cabeça. Apertou ainda mais suas pernas contra o corpo.

Erza não sabia quanto tempo aguentaria mais. Aquela situação se tornava cada segundo mais insuportável. 

Uma leve batida no ferro da cela e fez olhar imediatamente para frente. Um par de olhos verdes e brilhantes a encaravam com cautela, e fora isso ela não conseguia enxergar mais nada da pessoa. Ainda assim, aquele garoto... Sim, tinha certeza que era um garoto. Não lhe parecia nem um pouco estranho. Mesmo assim não disse uma palavra se quer. Não podia confiar tão facilmente. 

Depois de alguns minutos a observando, o recém-chegado decidiu falar algo: 

- Desculpe por chegar assim. Sou muito bom em ser discreto.- Erza percebeu o tom de sarcasmo na última frase, mas não quis rir. O rapaz tinha a voz grave e depois de limpar a garganta assumiu um tom sério:- Sei que pode parecer estranho, mas Natsu e Lucy estão vindo para cá. 

A ruiva imediatamente arregalou os olhos, completamente assustada e impressionada com aquela informação. Como ele sabia daquilo?! Como ele sabia quem eram Natsu e Lucy?! 

Erza abriu a boca para começar uma série de perguntas, mas escutou passos vindos da porta. Sua cela ficava em um porão no fundo do castelo, e tinha um cheiro horrível de carniça. O rapaz a sua frente olhou na direção do som, e logo depois voltou a encará-la. Ele não poderia ficar nenhum segundo a mais. 

Rapidamente ele retirou de dentro da blusa uma sacola preta e a jogou dentro da cela. Erza o encarou, ainda sem saber se poderia confiar no misterioso garoto. Todas aquelas pessoas no castelo pareciam extremamente perigosas. 

O rapaz assumiu uma postura mais formal, sem desviar seus olhos da garota. 

- Coma e mantenha-se viva.- Sussurrou e logo depois sumiu pela escuridão do lugar. 

Erza continuou com seus olhos vidrados na escuridão do lado de fora, esperando saber quem era aquele homem. Como ele sabia de todas aquelas coisas? Será que ele sabia muito mais? 

Suspirou e seus olhos se recaíram sobre a sacola preta. Seu estômago roncou mais uma vez e uma dor insuportável a fez cair gemendo no chão. Um suor frio cobria-lhe o rosto, fazendo seus cabelos grudarem na testa. Tinha que comer algo. 

Quase sem forças, puxou a sacola preta para perto de si. Tinha um leve cheiro de presunto. 

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Dia Seguinte...

Walterfire/Aldeia do Fogo

Lucy: 

Engoli em seco mais uma vez, afastando aquele frio da barriga. Tudo bem, Natsu era o culpado disso. Ele não precisava dizer todas aquelas coisas horríveis sobre "o que a Aldeia da Água faz com os vermelhos". Eu já estava mais que ciente sobre a brutalidade daquele povo desde que pegaram Wendy naquele dia... Não precisava de mais coisas com o que me preocupar!

Mas o que mais me intriga, foi a citação de Natsu sobre uma possível "terceira-Aldeia". Ele não sabia se eles existiam realmente, ou se eram apenas lendas. Dizia-se que eles habitavam a extremidade Sul da Aldeia da Água. Tentei forçar Natsu a me dizer mais coisas, mas ele disse que era tudo o que sabia. Várias perguntas rondam minha cabeça desde então: Essas pessoas existem? Que poder elas possuem? Alguém já as viu alguma vez? 

Suspiro, tentando tirar todas aquelas possibilidades e preocupações da cabeça. Argos dorme tranquilo no chão ao lado da minha cama, e passo as mãos em seu pelo na tentativa de pegar um pouco daquela calma. Só espero que Erza esteja viva, porque bem é quase impossível! 

Olho para o lado da cama, lembrando que Natsu saiu bem cedo hoje de manhã. Ele está muito tenso, o que não ajuda muito às coisas. Espero que Erza volte, e que tudo continue na maior normalidade possível... 

Pelo menos isso. 

Pulo de susto quando a porta se abre rapidamente, e Argos se levanta. A intrusa abre um pequeno sorriso, enquanto Argos começa a rosnar e eu reviro os olhos. 

É incrível como eu odeio essa garota. Incrível mesmo. 

- Senhor Makarov solicita sua presença imediatamente.- Kagura mexe no cabelo enquanto masca um chiclete. Seus olhos negros e frios se voltam do cabelo para mim.- Fiquei feliz que vai embora. Ainda mais para aquele lugar. Não vai durar nem o primeiro dia. 

Aperto as cobertas com força, para não socar a cara dela. Argos solta um rugido alto, e com um movimento de mão faço ele se aquietar. Não valeria à pena ter o sangue dessa víbora manchando minhas mãos. 

Engulo em seco antes de respondê-la:

- Obrigada Kagura.- Me levanto em um pulo, e ela se assusta com o meu ânimo repentino. Pego uma blusa simples na armário e uma calça jeans. Me viro para ela e olho no fundo dos seus olhos.- Sabe Kagura... Você deveria se esforçar mais. Sua inveja é muito aparente. Tenta mais um pouco, e quem sabe, você chegue aos meus pés. Não sou uma garota. Sou uma guerreira. 

Passo a passos largos e firmes para o banheiro, e sorrio ao contemplar sua cara de desgosto e sua falta de palavras. 

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A sala é pequena e meio escura, e tem um leve cheiro de livros velhos. Pequenos feixes de luz entram pelas aberturas da casa, e penso se realmente acertei. Será que era outra? Mas que eu me lembre, aquela nojenta disse: "Uma casa de madeira pequena, perto da floresta". Penso em chamar por alguém, mas meus olhos se perdem nas prateleiras. 

Vários frascos, com diferentes cores, formas e líquidos se estendiam por cima da madeira. Também havia várias fotos: Várias crianças sorrindo, entre elas consigo reconhecer Natsu e Erza. Natsu tenta escapar de uma chave de braço de uma menina azulada, enquanto uma bebê de cabelos igualmente azuis repousa nos braços de Erza, enquanto a mesma está gargalhando. Mesmo tão pequena, consigo reconhecer o rosto fofo de Wendy... Esta deve ser a irmã que ela tanto ama e fala. Cerro os punhos, decidida a trazer a irmã de Wendy de volta ou qualquer pessoa que esteja sofrendo nas mãos dos azuis. Eu vou trazer seu sorriso de volta, Wendy... 

- Isso foi antes da guerra. Antes de eles tirarem tudo de nós. 

Olho para o lado e vejo Makarov contemplando as imagens, seus olhos um mar de pura nostalgia. Ele desliza os dedos pelas fotos, e logo seus olhos pousam em mim. Sinto uma responsabilidade repentina nas costas. Imediatamente tomo postura, e um pequeno sorriso desponta nos lábios do Senhor Makarov. Quero fazer perguntas, mas sinto que agora não é a hora.

- Pensei que este momento demoraria a chegar, mas aqui está você. Forte e finalmente pronta.- Ele faz um sinal para que eu me ajoelhe, e prontamente obedeço. Sinto meu coração ferver de emoção e a alegria corre por todo o meu corpo. Espero que seja o que eu estou pensando. Makarov pega uma grande espada feita completamente de ouro, e que faz meu queixo cair. É a coisa mais linda e incrível que eu já vi. Sua luz se torna estonteante banhada pelo sol. Ele a ergue no ar. Fecho os olhos e respiro com força.- Lucy Heartfilia. Eu te nomeio Filha do Fogo, Guerreira da Aldeia. Que tuas mãos lutem por justiça, e que tua cabeça seja coberta de Sabedoria. Que a força esteja com você. 

Me sinto banhada por uma paz e uma energia que não sei explicar. Uma nova esperança brota dentro de mim, e sinto uma nova Lucy renascer. Me sinto pronta para qualquer coisa. Sorrio, ainda com os olhos fechados. 

Quando os abro, estou sozinha na casa de madeira. Tudo parece estar no seu devido lugar, como se nada de realmente importante houvesse acontecido. Me levanto e olho para os lados a procura de Makarov. Ele simplesmente se foi. Aperto minha espada com força, ciente de que agora não sou mais apenas Lucy Heartfilia. Sou Lucy Heartfilia, uma guerreira. 

Sou banhada pela luz do sol logo que saio da casa, e avisto Natsu conversando com alguém ao longe. Logo que ele me vê, ele se despede da pessoa rapidamente e vem correndo até mim. Sorrio ao contemplar seus olhos cheios de curiosidade. 

- Hã... Oi...- Não posso deixar de notar suas bochechas ruborizadas. Mordo o lábio e olho em seus olhos, lembrando da nossa noite. Ele ruboriza ainda mais, e sorri sem graça.- Tá tudo bem com você, né? Houve alguma coisa lá dentro?

Meu sorriso aumenta ainda mais. Nunca me senti tão feliz e fortificada ao mesmo tempo. 

- Nada de mais...- Digo, sorrindo sapeca. Natsu levanta uma sobrancelha.- Só me tornei mais forte que você. 

Ele solta aquela gargalhada gostosa que eu tanto amo, e murmura "nunca!" várias vezes enquanto eu soco seu braço. Ele me abraça pelo pescoço e pela primeira vez no dia esqueço um pouco as obrigações e os problemas, enquanto caminhamos pela grama verdejante da Aldeia.

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As horas parecem ter voado com o vento, assim como a minha "falta de preocupação". Não consigo ignorar a tensão que paira no ar, enquanto coloco minhas coisas em cima de Argos. A lua brilha intensamente acima de nós, e o movimento na Aldeia está bem menor agora. Natsu disse que à noite seria o melhor horário para irmos, pois a Guarnição estaria mais baixa e conseguiríamos com um pouco de sorte nos misturar aos demais. 

Só espero que Erza ainda esteja respirando. 

Balanço a cabeça ignorando qualquer pensamento ruim e focando no agora. O pior ainda está por vir. Vamos ter de arranjar um jeito de entrar no castelo. Espero que os contatos de Natsu sejam de bastante utilidade. 

Ele sobe em Argos e me preparo para subir também, mas um papel cai do meu bolso. Suspiro, aliviada por aquilo ter acontecido. Não posso deixar de entregar isso à Wendy. Makarov disse para irmos sem chamar muita atenção, isso é, sem despedidas. Se não cumprirmos essa regra, acabaremos criando uma preocupação desnecessária na Aldeia. Mas não posso ir sem dizer nada. Não a ela. Caminho para longe de Argos e Natsu me olha com repreensão. 

- Um minuto, por favor...- Murmuro, e ele revira os olhos, confirmando com a cabeça. 

Corro até uma pequena menina que brinca ali perto. 

- Com licença...- Ela me olha com curiosidade e logo seus olhos se desviam para a minha carta. Sorrio da forma mais simpática possível.- Você poderia entregar essa carta a Wendy, por favor?

A menina assenti, e logo corre em direção à casa de Wendy. Engulo em seco, imaginando se voltarei para cumprir minha promessa. Espero que sim. 

Com o coração apertado, subo em Argos e abraço Natsu com força. Ele aperta minha mão, e suas costas estão mais rígidas que o normal. Nós dois sabemos as milhares de possibilidades dessa viajem. 

Olho para trás, até ver a Aldeia sumir da minha vista. 

O vento parece estar mais gelado que o normal. 

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14 Horas Depois... 

- Para, por favor, eu não aguento mais!- Murmuro, e Argos para imediatamente. 

Desço cambaleando, ouvindo os passos desesperados de Natsu atrás de mim. Não perco tempo: Caio de joelhos e coloco toda a comida do dia para fora. Natsu me agarra por trás e afasta meus cabelos e minhas pernas, evitando que eu suje minha roupa. Logo que eu termino, deito minha cabeça em seu ombro, tentando recuperar o ar. Finalmente a sensação horrível de enjoo desapareceu, mas em seu lugar ficou aquele gosto desgraçado na boca. Sinto que preciso de um banho e de uma boa escovada na boca. 

Natsu me pega nos braços, e sinto minhas forças indo embora. Não consigo ficar com os olhos abertos, e a fraqueza só me faz se sentir mais inútil. Não... Preciso aguentar mais um pouco... Natsu tinha dito que já estávamos chegando... 

Ouço Natsu murmurar alguma coisa, e um segundo depois não o sinto mais. Apenas a respiração de Argos abaixo da minha cabeça. Não sinto seu calor. 

Natsu não está aqui. Aonde ele foi?

Penso em gritar. Em ir atrás dele. Mas não posso... 

Sou tragada pela escuridão do sono. 

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Ainda Naquela Noite...

Japão/Tóquio - Clínica Psiquiátrica Tadebayo

...

Depois de tudo o que houve, sempre aceitara de que não era nem um pouco normal. Mas antes de tudo aquilo acontecer, ele também não era normal. O mais quieto, o mais responsável, o mais trouxa... Sempre levando a pior. Mas nunca imaginou que iria parar aqui. 

Não depois de tanto tempo. Claro que ainda se perguntava se ela sentia sua falta, como ele sentia a dela. Na verdade se perguntava todos os dias. Será que ela está bem? Continua tão durona quanto antes? Tão dura a ponto de ter superado antes dele?

Se perguntou com uma pontada no peito, se ela finalmente tinha deixado seus cabelos crescerem. Sempre sonhara em ver aquelas madeixas escarlates passarem do meio das costas. Será que... 

Será que gostou de Lucy?

Leves batidas na porta o tiraram de seus pensamentos. Não queria ver ninguém. Mas sabia que qualquer que fosse a pessoa abriria a porta e entraria sem nem pedir licença. 

Ouviu sua mãe sussurrar alguma coisa, e logo depois sua cabeça aparecer na porta. Seus olhos se encheram d'água, e um sorriso enorme brotou em seus lábios. Entrou tímida no pequeno cômodo que agora era o quarto de seu filho. Fechou a porta atrás de si, antes de sentar na ponta da cama. O garoto permanecia com os olhos fixos na cama, o brilho já havia desaparecido à muito tempo. 

- Jellal...- A mãe chamou, mas o azulado continuou com os olhos fixos no colchão. Ela lutava para segurar as lágrimas, e colocou seus cabelos igualmente azuis atrás da orelha. Escolhia bem as palavras.- Filho... Eu... Por favor, me perdoe. Sim, eu vou pedir perdão toda vez que vim te ver, mas...- Ela suspirou, antes de continuar:- Você sabe. Esqueça, Jellal, essa loucura de Walterfire, Aldeias e Erza, e... 

- Para.- Murmurou o garoto, ainda com os olhos no colchão. Jellal nunca iria esquecê-la. Ele a amava. Seus olhos finalmente encontraram os da mãe. Lágrimas já desciam pelo rosto da mesma.- Eu sei o que vivi. Eu sei o que eu vi. Eu sei onde Lucy está!

- Jellal, nunca mais diga isso!- Berrou a mãe, se levantando. Logo piscou, parecendo voltar para si. Engoliu em seco, antes de continuar.- Nunca, nunca diga isso perto de ninguém. Nossa família não pode se envolver na polêmica que está sendo o desaparecimento de Lucy. Não quero você dizendo nenhuma palavra sobre qualquer envolvimento com essa garota, entendeu?!

O garoto apenas abaixou a cabeça, voltando seus olhos para o colchão. Ele sabia. De tudo. 

Ele viveu em Walterfire, o mundo do Fogo e da Água. 

A mãe suspirou, desgostosa pelo rumo que a conversa sempre tomava. Suas esperanças pareciam se esgotar cada vez mais, sobre a sanidade do filho. Não queria nem lembrar do desaparecimento do mesmo... 

Pegou sua bolsa, seu coração sangrando. Se inclinou, depositando um leve beijo na testa do mesmo. Era seu filho. Iria lutar por ele até o último minuto. 

Antes de sair, a mesma depositou um embrulho em cima da cama. 

- É do seu pai.- Murmurou, sem saber se o mesmo ao menos a escutava.- Ele não pode vir por causa de assuntos na empresa. Mas nós te amamos Jellal. 

Esperou, mas o filho continuava na mesma posição. Desabando em lágrimas, correu para fora do quarto. 

- Desculpe... Eu também te amo...- Murmurou, apertando o colar que Erza lhe deu.