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História Dancing With Your Ghost (Reiner x Reader) - Baby, you're just harder to see than most


Escrita por: Lovebug

Notas do Autor


Último capítulo e com ele, a depressão...

Capítulo 3 - Baby, you're just harder to see than most


Fanfic / Fanfiction Dancing With Your Ghost (Reiner x Reader) - Baby, you're just harder to see than most

As desconfianças que ambos compartilhavam a respeito de sua primeira vez como fagulha para um combustível descontrolável se tornou verdade. Depois daquela noite, sempre que tinham a oportunidade, faziam amor. No depósito do quartel-general, no fundo da floresta de treinamento, em casas desocupadas dos distritos, no banheiro mútuo durante a madrugada enquanto todos dormiam…

Reiner lembrava de como Bertholdt o cutucava ao dizer que ele estava distraído ultimamente, sempre vagando os olhos sobre (s/n) ou rindo para o nada, começando a perceber que seus passeios noturnos se tornavam mais longos. Embora não fosse sugerível que o loiro contasse sobre o relacionamento com a inimiga para Bert, era tarde demais para disfarçar. Desde o começo, o moreno já notara as interações entre eles, sempre mais amigáveis ou ambíguas que as demais. Hoover não considera aquilo um ato prudente, porém, ciente que a identidade de Reiner se fragmentara muito tempo atrás, poderia fingir não se importar enquanto aquilo o fizesse bem e mantivesse sua sanidade controlada. Mas temia que ele quebrasse de uma vez quando tivessem que finalizar a missão.

Braun, no entanto, apenas desejou que Bertholdt tivesse a mesma sorte com Annie.

A bendita Annie, que ingressara na Polícia Militar e, desde a formatura, nunca mais a vira. A Tropa de Exploração se preparava para 57ª Expedição para fora das muralhas, em busca de fechar a Muralha Maria; o Comandante Erwin era bastante incisivo e objetivo ao afirmar que seria uma missão com muitas baixas, perigosa, mas que teria um grande peso para a vitória da humanidade em busca da verdade. Aquilo preocupava a dupla de guerreiros.

A Tropa fora dividida em times, para proteger a localidade de Eren durante o percurso. Reiner não sabia que cada um deles tivera acesso a uma posição diferente, pois Erwin já desconfiava que haviam traidores em seu círculo; com a informação que obtiveram, mandaram uma carta para Leonhart na Muralha Sina, informando-a que ela deveria atacar o lado direito da formação. Aquele ato marcou o início das sequências de tragédia e perdas irreparáveis para o esquadrão e, também, para o relacionamento entre Reiner e (s/n). Enquanto marchavam em direção a muralha, eles trocaram olhares preocupados. Haviam ficado em times diferentes, ela com Krista e Ymir, ele com Armin e Jean. Reiner sabia que, numa situação de vida e morte, Ymir, a mais forte entre as três, optaria sem dúvidas em salvar Krista; sua namorada ficaria desprotegida. Felizmente, ela não fora escolhida para o lado direito onde Annie atacaria; muito menos Reiner pôde estragar a missão ao dizer para Leonhart poupar a vida de (s/n). Mesmo se ela soubesse do relacionamento dos dois, ela não se importaria em esmagá-la como um inseto se atravessasse seu caminho.

Afinal de contas, ele era o errado em se envolver com o lado inimigo.

Quando os portões se abriram, Braun estendeu a mão discretamente rumo ao cavalo de sua companheira, acariciando a crina do animal e camuflando o entrelaçar de seus dedos por baixo da capa verde do uniforme. Ela sorriu, esboçando preocupação na face, mas encorajada pelo discurso da equipe.

Vejo você mais tarde.” ele sussurrou sem voz.

Não seja morto ou comido, Reiner Braun.” ela devolveu.

Em meio a corrida frenética em campo aberto de titãs, o loiro descobrira que a posição de Eren era falsa, o que levou Annie a desbravar e destroçar vários times por onde passava. A apreensão encurralou Reiner em meio ao caos, preocupado com o paradeiro de (s/n) e tornando-se desatento em boa parte do percurso. Quando a Titã Fêmea surgiu em seu campo, estranhamente poupando Armin, ela soube que a nova trajetória de Leonhart seria rumo Historia, Ymir e sua amada.

Ei! Reiner! Foco!” Jean gritou, apontando para que ele soltasse um sinalizador e perpetuasse a cadeia de recados aéreos para os demais. “Ela vai ficar bem!”

Armin os olhou com desconfiança, obrigando Braun a falar um de seus comentários ácidos para desviar a atenção.

Até que para um titã, ela tem uma bunda bem gostosinha.” destinou o elogio errôneo para Annie, que felizmente estava distante demais para ouvir.

Foi o suficiente para Arlert não o importunar. Se ele espalhasse sua frase para a tropa mais tarde, sua namorada certamente o mataria. Do outro lado da formação, Krista e Ymir corriam em conjunto, desviando da anomia que se formara; muitos perdiam seus cavalos tentando se afastar dos titãs que seguiam a titã com corpo feminino. (S/n) engoliu duramente, apertando contra o coração a pulseira que Reiner lhe dera, temendo não retornar viva para ele. Quando a grande figura desconhecida de Annie surgiu em proximidade, agarrando um dos soldados e rodopiando-o no ar, ela arregalou os olhos; outros foram pisoteados sem empatia alguma, enquanto o sangue de seus corpos manchavam a grama verde.

Com náusea, ela mordeu os lábios para não vomitar enquanto erguia o braço com o sinalizador vermelho. A cada morte de um companheiro, uma parte de si partia em conjunto. Ela gritava, batendo os pés contra o cavalo para que fosse mais rápido, desculpando-se com o animal em seguida pela indelicadeza.

Me perdoe, mas se você não quiser ser esmagado, sugiro que se apresse!” ela tentou justificar, atraindo olhares conturbados do casal ao lado.

Você está realmente falando com um cavalo, (s/n)?” gracejou a mulher de sardas.

Eles não têm culpa!” ela argumentou.

Como alguém como você veio parar na Tropa de Exploração, porra?” brincou Ymir.

Não seja maldosa!” Krista interviu, censurando-a.

Vocês duas são iguaizinhas.”

Felizmente, Annie passara por elas sem interesse em matá-las. O trio soube que ela ia em direção a Eren, e especialmente (s/n) estranhou o comportamento inteligente do novo titã. Ele parecia se guiar com os sinalizadores, observando os rostos de cada um antes de esmagar, como se soubesse exatamente como Eren se assemelhava. Em meio ao medo, o olhar frio e distante do monstro de quatorze metros que fazia tremer o chão a cada pisada era estranhamente semelhante ao de Annie, sua antiga colega de treinamento. (S/n) balançou a cabeça ciente que sua cabeça começara a enlouquecer com a iminência de uma morte.

Esse detalhe, Reiner jamais saberia.

Eles somente se reencontraram horas depois, quando as três aportaram num campo rodeado por titãs, encontrando Jean, Armin e Reiner com apenas dois cavalos. Ela notara seu braço machucado, enfaixado às pressas por alguma vestimenta suja. O loiro suspirou de alívio quando a viu, andejando em tropeços em sua direção; ela, desesperada, saltou do cavalo, despreocupando-se seu ato levantaria suspeitas. Contornou o rosto de Braun, apenas feliz em vê-lo vivo.

Você está bem? Se machucou?” interrogou.

Desculpe! Ele me salvou da Titã Fêmea, quase foi morto…” Armin gaguejou, passando as mãos pelo rosto abatido.

Estou bem. E você?” Reiner indagou.

Eu… eu…” trêmula, ela não pôde dizer. Não sabia.

Jean as fitavam como se uma salvação dos céus aportasse. Com o cavalo a mais, eles seguiram caminho até a floresta das árvores altas. Reiner percebeu seu silêncio no caminho, como seu semblante endurecera potencialmente; ele sequer precisava ponderar para chegar a conclusão que Annie fizera um estrago enorme por onde passara. Que ela vira muito de seus amigos morrerem em sua frente sem poder impedir. Quando enfim subiram nos altos galhos como o Comandante Erwin ordenara, nenhum deles soube o motivo da guarda estabelecida na parte externa do campo; Annie seguira para lá, rastreando os traços de Eren Yeager. Qual serventia teriam ali fora? Embora todos estivessem aturdidos e confusos, seguiram à risca as ordens de Erwin. E mesmo que (s/n) desejasse manter a postura atenta, sua mente pairava sobre o grito e o sangue de seus companheiros mortos. Ela se perguntava se teria um fim tão trágico como eles, servindo a uma guerra que parecia não ter fim.

Reiner quis confortá-la, mas não foi capaz de dividir-se em três: soldado, guerreiro e namorado. Tinha de manter a guarda, tinha de precaver que Annie completasse a missão e, simultaneamente, precisava manter sua garota de pé. Ele se culparia até hoje pelo fato de ter conseguido, com sucesso, fazer as duas primeiras missões.

Ao retornar para as muralhas, (s/n) permanecia aérea, ainda mais após ter que ajudar Levi a descarregar alguns cadáveres no caminho para que as carroças pudessem percorrer mais agilmente o percurso. Nem mesmo Reiner conseguiu retirá-la do estado catatônico. Algumas noites depois à volta ao quartel-general, ele a visualizou vagando sozinha no depósito, onde costumavam se encontrar nas madrugadas para ter um momento íntimo com privacidade. Daquela vez, ela apenas jazia sentada sobre a velha mesa rígida de carvalho, encarando o nada; suas olheiras trepidavam e ressaltavam como a vida lhe cobrava mais e mais nos últimos dias. Ele se aproximou, tocando seu rosto gélido com culpa e amargura por ser um dos responsáveis, mais uma vez, de sua tristeza.

Amor?” ele sussurrou, tentando trazê-la de volta.

Os dois se entreolharam, compartilhando, a seu modo, todo o peso que significava carregar as asas da liberdade.

Estou farta de vê-los morrer e não poder fazer nada. Estou cansada de… sentir apenas dor.” ela sussurrou rouca por conta da voz de longos períodos sem uso.

Você não poderia lutar sozinha para salvá-los.”

Mikasa e Capitão Levi salvaram Eren. Sozinhos.”

Não era minimamente lógico comparar qualquer pessoa àqueles dois. Mas ele entendia a razão dela o fazê-lo.

Posso fazer alguma coisa por você, querida?” Reiner indagou, retirando as mechas rebeldes de cabelo de sua face, arrumando-as atrás das orelhas.

Como diante de várias perguntas feitas nos últimos dias, ela não soube o que responder. Estava aprisionada em um ciclo fatídico e desesperador de inutilidade e angústia, impotência, domada por terrores noturnos e claustrofóbica por seus próprios pensamentos e memórias. Ela olhou para seu amado, feliz em tê-lo consigo, porém questionando-se quando tudo aquilo poderia mudar. Quando algum deles se tornaria uma daquelas manchas de sangue no chão, deixados para trás para salvar os demais. Ela não queria se tornar um fardo para Reiner ou o motivo pelo qual ele seria morto. Ao mesmo tempo, a mera ideia de se separar dele a doía. Braun fora sua única companhia, única dádiva desde que a muralha fora destruída anos atrás. Ele era sua fortaleza, sua base, seu melhor amigo, o único que não a permitia padecer com as lembranças de Marco.

Mesmo que não fizesse sentido, ela o beijou. O beijou porque senti-lo era melhor do que permanecer refém de todo o agouro e lamúria que a sufocavam naquele momento; Reiner sempre fora sua fonte de sentimentos não aversivos, sua única luz em meio a tanta escuridão. E ele, embora desejasse se distanciar, temente em encontrar prazer em seu corpo após proporcioná-la tantas perdas, não foi capaz. Não quando ela reservava seu carinho a ele, seus beijos gentis, seus toques, ou quando entrelaçava as mãos nas dele, mantendo-o perto. Quando suas testas se uniam quando faziam amor, quando ela tentava sentir algo com ele, e talvez aquela era a única forma que ela havia encontrado de suportar tanta dor. A que ele havia, também. Daquela vez, ele deitou sobre a mesa com ela sobre seu corpo, suas coxas alocadas ao redor de sua pélvis enquanto retirava a camisola e afastava a calcinha para o lado, sentando-se sobre seu membro sem hesitação. Diferentemente das outras vezes, o fazer amor se transformara num ato carnal, descompassado, ausente de regras, abstente de limites. Ela se encaixava nele, seus quadris balançando e forçando-o inteiramente dentro dela, chegando a roçar um ponto tão profundo que a fazia morder as mãos para não gritar; a outra em seu peito, servindo-lhe de apoio enquanto rebolava, cavalgava, com o cabelo longo cobrindo seu rosto suado, sua boca entreaberta, os olhos apertados, os seios balançando. Reiner inclinava sua cabeça para trás, destinando o queixo ao léu, porém incapaz de desviar o olhar dela. Ela era a mulher mais linda. Ela era seu sonho, seu bálsamo, seu alívio em meio ao caos.

Ela era o sentido que ele tentava manter.

 

[…]

 

 

Reiner se lembrava que, após aquela noite, daquela maldita missão, eles ficaram ainda mais unidos. Eram tudo o que tinham. Se recordava de que eles compraram alianças de madeira e colocaram um no dedo do outro, para identificarem-se como família, como amantes, como almas gêmeas, mesmo em meio ao sangue da guerra. E tudo correu bem, até a próxima missão após o ataque à vila Ragako e à suspeita da transformação da família de Connie em titãs. Quando o Titã Bestial surgiu, guiando titãs irracionais para a torre do Castelo Utgard onde se protegiam.

Você precisa parar de arriscar por nós! Você poderia ter morrido!” gritou (s/n) em lágrimas quando ele atirara um titã pela janela de uma das torres para salvar Connie.

Aquele grito recheado de raiva e pavor não era novo nos ouvidos de Reiner, mas sempre arrepiavam cada centímetro de seu corpo. Houve um tempo que sua única função era se arriscar e se colocar em risco pelos outros, por uma cidade que o considerava indigno dos mínimos direitos humanos. Com eles, seus atos sempre eram acompanhados por questionamentos de sua sanidade e agradecimentos constrangidos.

A ideia de Marley, até então, se tornara quase longínqua. A cada dia que passava, ele mais repensava a ideia de ficar, mesmo se Bertholdt e Annie conseguissem a posse dos titãs de Eren. Naquela noite amaldiçoada, quando ele quase fora devorado em um ato indulgente e tivera que se controlar para não se transformar no Titã Blindado diante do sangramento, suas memórias e sua real identidade começavam a conflitar uma com a outra, mais uma vez. Com a visível perturbação em Bert, que enfatizara que ele era um guerreiro, e a súbita transformação de Ymir no Titã Mandíbula de Marcel, Reiner soube que não mais poderia escapar do destino. Tinha que ajudar Zeke e seus compatriotas a resgatar o Titã Fundador.

Ele era o escudo de Marley. Ele tinha uma missão. Ele estava rodeado de demônios.

Ele havia se apaixonado por um deles.

E ele a amava mais que tudo em sua vida. Mais que a missão, mais que Marley, mais que qualquer punição que poderia receber por doar seu coração ao inimigo. Mas, mesmo assim, não era somente sua vida em conta. Reiner tinha esperança que ela o entenderia, caso tivesse que revelar sua real índole.

A partir daí, Reiner mal tinha a capacidade de se relembrar por completo de seus atos. Houve um apagão, ele brigara consigo mesmo para não estragar tudo com ela, para se manter escondido até que Zeke conseguisse completar a missão que lhes fora designada. Entretanto, o predomínio de sua identidade de soldado já tinha dias contados. E, merda, ele ainda se lembrava da exata reação que sua amada fez diante do estrondo de sua transformação, do clarão, de tudo aquilo que ela temia; ele teve de vê-la na muralha, com os olhos arregalados e aterrorizados, chorando, com a mão sobre o peito e a feição de... Dor. Seu coração havia se quebrado e ele era o culpado, mais uma vez. Ele viu a aliança de madeira brilhar em seu dedo, e tentou erguer a mão em direção a ela para que soubesse que ainda a amava, mas ela apenas... Gritou. Raiva. Mágoa. Ruína. Ela o amava tanto, tanto, que doía. Doía interligar as coisas e perceber que ele fora o culpado do inferno em sua vida, o culpado pelas muralhas, pelas mortes, por tudo.

O homem que ela mais amava era o algoz de sua existência.

Ela mal podia respirar.

Quando Reiner lutou contra Eren e quase foi derrotado, sua cabeça estava nela, seu corpo pensava nela, seu coração partido por traí-la não o deixava se focar na batalha. Quando ele fugiu com Eren sequestrado, deixando-a para trás, sua mente se fragmentou outra vez. Soldado, guerreiro, namorado? Quem ele era? O que estava fazendo? Por que fazia aquilo? Por que traíra o amor de sua vida por uma missão, para uma nação que o odiava tanto?

Sua dissociação imergira como uma tortura pessoal, sádica, embora o fizesse para poupar a si mesmo das missões diferentes. Para separar sua casa odiada de seu lar amado. Reiner não mais se achava merecedor de dividir quem era para evitar o sofrimento; nunca tivera controle disso, contudo, estava ciente que precisava repelir o conteúdo traumático para fazê-lo. E ele não mais o temia. Era o preço a pagar. Por ela. Por eles. Todos aqueles que ele traíra.

Dias depois, quando a tropa enfim os alcançara, ele a viu voando ao lado da então Historia, que buscava sua amada Ymir. Reiner se recordava do rosto abatido por olheiras, estoico, estático e quebrado de seu amor, mas ainda indiscutivelmente linda. Ainda era a mulher que ele lutava e morreria por. Quando ela pousou em seu ombro junto da pequena loira, seu coração retumbou, acreditando que ela viria com ele; para então rebater e chutar sua própria ilusão. Ela nunca seria bem-vinda em Marley. Mesmo se ela o perdoasse e escolhesse partir e deixar tudo para trás, seu futuro havia acabado. Na verdade, nunca existira.

"Nossa história de amor nunca teria futuro em um conto de terror.” Reiner murmurou para si, encorajando-o a continuar correndo.

Por que, Rei? Tudo foi mentira? Você me usou?!” ela grunhiu, batendo as lâminas em vão contra a mão fechada dele, o qual protegia Bert e Eren.

Eu te amo! Por favor, nunca, nunca duvide disso!” ele gritou, mas esqueceu-se que seu titã não se comunicava. O escudo de Marley chorou, incapaz de revidar quaisquer investidas da Tropa de Exploração que o seguia. Ele corria com as pernas trêmulas, em solavancos, sem saber o que fazer. Sua mente se quebrara, seu coração também.

Após Eren ser recuperado pelo esquadrão, e enfim conseguiram fugir dos titãs que ele mandara com a coordenada, Reiner desabou. Caído sobre a muralha, ele se encolheu, apertando a mão onde jazia a aliança contra o coração, a mesma que ela agredira exigindo respostas, a mesma que ele costumava segurar seu rosto para beijá-la… e chorou até que seu eu verdadeiro, o guerreiro ímpio e cruel retornasse.

Não houve claridade nos dias seguintes, até, então, a batalha de Trost. Mesmo assim, suas últimas memórias dela eram nubladas, traumáticas demais para serem guardadas em sua mente, e somente permaneciam como motivo de penitência. Havia fogo, Bertholdt explodira seu poder por todo o distrito, incendiando com fagulha e vapor quente qualquer objeto e ser que adentrassem seu raio. Transformado no Titã Blindado, Reiner lutou contra o esquadrão enquanto tentava alcançar Eren. As novas lanças do trovão vieram em sua direção, tentando derrubá-lo; ao lado externo, os recrutas, o time de Levi e o Comandante Erwin enfrentavam Zeke, que lançava pedras como balas de canhão, extinguindo todos que lhe trespassassem caminho. Reiner lembrava em lapsos de memória alguns de seus ataques contra os antigos companheiros, mas cônscio que quem controlava seu corpo era o guerreiro.

Em meio ao massacre, ele pairou os olhos sobre a figura de sua amada sobrevoando junto a Sasha, Jean, Mikasa e Connie. Todos o fitavam com imensa raiva, distanciando-os ainda mais da configuração de amizade e irmandade que cultivavam ante todos os anos de convivência. Reiner se desesperara com a presença de (s/n) em meio a toda destruição; quis sair de seu titã, pegá-la, protegê-la, tirá-la daquele campo assassino mesmo que custasse sua vida. Ela não podia morrer. Não podia. Ele conseguia lidar com todas as tragédias de sua vida, mas perdê-la era demais. Enquanto Mikasa, Jean, Connie, Sasha e Hanji o contra atacavam, ele só conseguia mirar a localização dela, seguindo-a, temente que uma das pedras a acertaria. Sasha parecia a mais obstinada de todas, por algum motivo, a raiva era palpável em sua face. Sua amada tentava alcançá-lo, mas estava mais lenta que o normal, sempre cobrindo o estômago como se estivesse ferida de alguma batalha anterior. Ele podia dizer que ela hesitava, estendendo a mão e gesticulando em sua direção como se quisesse conversar; mas quando os respingos de sangue de seus companheiros formaram uma nuvem vermelha ao horizonte, ela destinou sua atenção a eles.

Não!” Reiner gritou, mas o desespero se traduzira num urro monstruoso de seu titã. Ele sabia para onde ela decidiria ir. “Não! Não vá!” ele tentou impedi-la, mas as lanças do trovão o imobilizaram no chão; sua mandíbula aberta, quase explodida, restringindo seus movimentos da cintura para baixo.

Reiner só pôde assisti-la ganhar impulso, saltando de telhado em telhado em direção à muralha. E o pedregulho de Zeke veio outra vez, disseminando a última linha de soldados, passando pelo Comandante Erwin, derrubando os últimos em meio a uma fumaça verde. Ela se desesperou, impotente, porém conseguindo retirar Jean da linha de frente do último ataque. Mas não a tempo de ser atingida por um enorme pedaço de concreto.

Ela pôde ouvir um grito desesperado do titã de Reiner e soube que, no final, ele ainda se importava com ela e tentava protegê-la. De mãos sobre a barriga que tanto tentara poupar do esforço, ela fechou os olhos, sem vida, caindo em direção ao chão. Braun se arrastou, trêmulo, estendendo a mão aberta com todas as suas forças para poupá-la de uma queda mortal. Mas era tarde demais. Seu corpo jazia dilacerado em sua palma, como um dos muitos ao seu redor. Ele gritou outra vez, agonizando, fechando os dedos em concha por alguns segundos para guardar o cadáver de sua amada, abraçando-a, protegendo-a, como fizera ao salvá-la na primeira vez, nas árvores. Como prometera sempre salvar.

Ainda assim, ele podia visualizar a aliança de madeira pendurada num colar em seu pescoço; seus olhos arregalados olhavam o vazio, assustada, denunciando que sua última visão fora a pedra em sua direção. Reiner chorou, percorrendo caminho para fora da nuca de seu titã, revelando-se desarmado contra os inimigos. Ele correu por seu titã encouraçado até envolvê-la em seus braços, sacudindo-a, chamando seu nome, tentando trazê-la de volta.

Por favor, meu amor, não me deixe! Não morra! Não vá! Por favor!” ele a balançava, vozeando ao relento, onde nenhum ser piedoso podia ouvir seu clamor. “Eu te amo! Me desculpe por tudo isso, me desculpe! Por favor… volte para mim… você é tudo o que eu tenho…”

Mas sua amada nunca pudera responder. Quando Hanji e os demais surgiram, Reiner puxou o colar com a aliança e guardou-o consigo enquanto os seus antigos companheiros o chutaram para longe, cortando suas pernas e braços num lépido movimento.

Não a toque, seu traíra! Você é o culpado dela ter morrido!” Sasha esganiçou, guardando o corpo de sua amiga.

Você não merece vê-la depois de tudo o que fez! Nem implorar pelo seu perdão!” Connie esbravejou.

Você… você não merecia aquilo que ela tentou tanto proteger…” Jean murmurou, encarando-o com lágrimas de raiva acumuladas em seus olhos escuros.

Eu juro que a amo, eu sempre a amei! Nada disso foi mentira!” Reiner tentou argumentar, se explicar, mas as palavras se mantinham cortadas e embargadas pela garganta esmagada.

Cale a boca! Você acabou de matá-la! Olhe para ela!” Kirstein apontou para seu cadáver, trêmulo, forçando Reiner a observá-la em meio a tanto sangue e a fumaça da mão do titã que começava a se decompor. “Você deixou seu filho morrer!”

Reiner enfim compreendeu. A razão de seu voo devagar, sua hesitação, seus gestos, sua insistência em cobrir o abdômen… ela estava grávida e tentava avisá-lo sobre isso enquanto buscava alcançá-lo. Mas a guerra os impedira de entender a mensagem.

Não… não…” ele gaguejou, caído, incapaz de se mover para além do campo de visão de sua amada destroçada. Ele sequer tentou resistir aos companheiros que o arrastavam para prendê-lo; não esperava mais ser salvo, não queria ser. Era justo morrer no mesmo local onde seu coração partia. Onde sua família morria. Ele não ouvia o que lhe interrogavam, apenas chorava, sufocante, dolorosamente, a culpa o corroendo. Ele queria morrer. Ele só queria morrer para reencontrá-la.

E Pieck o salvou da condenação.

Ele não queria voltar para sua cidade natal. Ele gritou, implorou para que ela o soltasse, mas ela prosseguiu. Afinal, como poderia saber que Reiner já morrera ali, junto de sua amada, e apenas um corpo vazio seguia com ela para Marley?

Ele nunca pôde contar sobre ela para ninguém. Ele nunca pôde chorar por sua falta, dizer seu nome em voz alta, manter sua memória viva. Reiner apenas parara de comer, guardara a aliança dela junto a sua, sempre no colar, protegido das vistas de qualquer pessoa que pudessem roubá-lo. Ele celebrava sua vida, seu aniversário todos os anos. Olhava a chuva cair da janela, os trovões que tanto ela temia, refletindo seu ímpeto de jogar-se do alto andar do prédio, mas sabia que não morreria. Ele via bebês e suas mães andejando por Libério; crianças aprendendo a andar e falar, e se perguntava se o seu filho estaria daquele tamanho se vivo. Ele via casais e se perguntava se apenas ele fora privado de uma história de amor.

Ele olhava para a palma da mão que falhara em salvá-la e visualizava sua linha da vida contínua, enorme, enquanto a linha do coração, tão curta, mas ainda paralela à primeira, escrevera seu destino danoso.

E tudo o que Reiner desejava, no final de tudo, era morrer.

Ele tentou, várias vezes, mas não conseguia. Ele não sabia se a veria novamente, mas queria que toda aquela dor acabasse. Aquelas guerras sem sentido, aquela identidade de guerreiro, aquela culpa pesada demais para carregar. Aquelas pessoas que o repudiavam por ser eldiano. Aqueles olhares. Nenhum gentil como ela. Nenhum que o entendesse e o enxergasse como nada além do quebrado, saudoso e apático Reiner Braun. Ou a casca do que ele fora um dia.

Sentado numa cadeira, o loiro provou o gosto metálico do cano da espingarda apontado ao seu céu da boca. Seu dedo trêmulo encostava-se no gatilho, ainda tomando coragem e impulso para finalizar com sua dúbia, incoerente e pecadora vida; sua outra mão segurava o cordão em torno de seu pescoço, sobre o par de alianças que provavam que sua história de amor fora real. Com força, ele os apertava, prometendo que a encontraria.

Ao fechar os olhos, decidiu finalizar com todo aquele martírio. Sua consciência foi inundada por um feixe de luz e nenhuma dor foi sentida; ao reabri-los, as íris douradas fitaram um grande campo esverdeado na fronteira com sua familiar e amada floresta de eucaliptos. À distância, a atenção de Reiner foi atraída para uma silhueta que tão bem ele conhecia, dedicando-o um sorriso largo, como aqueles que ela distribuía no início dos treinamentos. Sua pele, bronzeada, repassava uma imagem saudável, tão diferente da palidez de seus últimos dias. Por trás de sua saia, uma criança de cabelos louros surgiu, correndo em sua direção com os braços estendidos, rindo, fazendo ressonar a típica gargalhada inocente e infantil de um bebê de poucos anos.

Papai! Papai!” o chamou e então ele percebeu que era um lindo garotinho, tão parecido consigo que o assustara. Em reflexo, Reiner o segurara no colo, sem saber o porquê. Apenas o fez, como se lhe fosse habituado a isso. O menino estreitou os olhos, de mesma cor que os de (s/n) para ele, atento, e então friccionou seus dedinhos sobre as bochechas do maior. “Por que você está chorando?”

Reiner tocou seu próprio rosto. Ele não tinha ciência de onde estava, por que chorava ou por que seu peito tanto doía ao fitar a criança.

Eu não sei…” Braun o respondeu.

Antecipando uma maior confusão, (s/n) os alcançara, sentando-se ao seu lado. Reiner engoliu em seco, imediatamente colocando seu filho sobre o colo e transportando suas mãos para sua amada, acariciando sua face; ele fechou os olhos, sorrindo ao perceber que era real. Ela afagou seu cabelo, induzindo-o sucumbir tamanha ânsia de seu toque. Reiner circundou suas mãos, beijando-as com carinho.

Você está bem, Rei?” ela questionou.

Ele apenas sacudiu a cabeça, a garganta apertada não sabia o que falar.

Parece que eu estava num pesadelo que não tinha fim.”

Ela se inclinou, selando os lábios em sua testa antes dele desviar seu caminho ao segurar seu queixo e tomar seus lábios.

Eca!” o menino balbuciou, causando-lhes uma risada.

Acho que está na hora de descansar um pouco, Marco.” sua mãe sugeriu, repreendendo seu comportamento.

O garotinho apenas balançou a cabeça em concordância, bocejando. Reiner o observou, encantado, ocultando o tremor que sua presença lhe dava. Ele o segurou no colo, circundando o corpinho contra seu peito com segurança e seguiu (s/n) para uma pequena casa de madeira em meio ao campo. Ao deitar seu filho numa cama modesta, Reiner atentou as suas expressões; tão parecido com ele quando criança, até mesmo no ossinho do nariz, dando-lhe sua característica marcante. Tão inocente. São e salvo.

Ele fechou os olhos para se livrar das lágrimas acumuladas e ela sobrepôs as mãos sobre seus joelhos; quando Reiner os reabriu, estava de volta na maldita cadeira em seu quarto no campo de concentração de Libério. E sua amada continuava ali, ao seu lado, encarando-o com gentileza e precaução.

Querido, ainda não é sua hora.” ela diz e remove lentamente a espingarda de sua jurisdição. Estático, ele apenas a assiste. (S/n) envolve sua mão, ajudando-o a se erguer e embora Reiner houvesse perdido muito peso, ainda era pesado o bastante para desestabilizá-la. Ela se vira, coloca a mão em seu peito e a outra na bochecha, olhando-o, como sempre fazia.

Me perdoe…” ele sussurrou, abaixando o rosto e escondendo-o na curva de seu ombro e pescoço.

Ela apoiou sua cabeça, acarinhando a nuca e percebendo que seu cabelo originalmente curto crescera bastante. Com um sorriso pequeno sustentado nos lábios, a mulher enlaçou sua cintura com o braço livre, mantendo-o consigo, como antes ele costumava fazê-lo. Seu coração se partia ao vê-lo tão magro, fragilizado e descuidado.

Olhe para mim, grandão.” ela pediu, e custou-o para obedecê-la.

Não há mais nada aqui para que você olhe de volta.” ele relutou, desviando suas íris para sua clavícula.

Ela segurou seu rosto com ambas as mãos, forçando-o a encará-la.

Seus olhos dourados ainda são a única luz da minha vida.” ela disse, sincera, padecendo ao visualizar suas grandes olheiras e as bochechas fundas em desnutrição.

Me perdoe por tudo.” ele repetiu sem quebrar o entreolhar. Suas lágrimas voltavam a cair, junto às mãos trêmulas que se agarravam ao tecido do vestido vermelho de sua amada.

Não há lados certos numa guerra, Reiner. Apenas perdas e vítimas, como você e eu.” a companheira tentou apaziguar seus demônios. “Eu não o culpo. Eu entendo. Você e eu… somos portadores do ódio do mundo destinado a nós. Se nos encontramos, foi uma dádiva para não suportarmos esse fardo sozinhos.”

Eu sinto tanta a sua falta.” ele soluçou baixo, firmando, finalmente, as mãos em sua cintura. “Não há um dia… que eu não sofra sem você.”

Eu estou bem aqui.” ela sibilou e encostou sua testa na dele, inspirando seu perfume que, agora, ela finalmente sabia que era limão entre as notas de hortelã e madeira. “Eu sempre estou com você.”

Ela o moveu para um lado, guiando seu corpo destoante num ritmar lento. E então, para o outro. Reiner reconheceu os passos de sua dança em Paradis, reconectando-se novamente com as memórias que lutava em manter, mesmo com a mente tão fragmentada. Eram a única coisa que ele ainda podia guardar consigo.

Poderíamos ter nossa história de amor se não vivêssemos em um conto de terror.” ele balbuciou, ouvindo-a entoar a canção num murmúrio.

Ela tracejou seus lábios com as pontas dos dedos, olhando-o intensamente.

Nossa história é eterna. Voltaremos a nos encontrar, independente de onde ou quando. Somos apenas almas gêmeas certas em tempos errados.”

Eu amo tanto você.”

Eu também te amo, tanto, meu amor.” ela retribuiu, sorrindo embargada. “Never got the chance, to say a last goodbye…”

Ela continuou a cantarolar sua canção, guiando-o no pequeno quarto numa dança fúnebre, entre um homem e sua memória. Entrelaçados, eles se abraçaram com toda a força que lhe restavam; ela nunca pudera ir para um outro mundo, não enquanto o terrestre guardava consigo o amor de sua vida. E ela o esperaria, jamais cansaria de esperá-lo.

Por favor, fique comigo.” ele implorou. “Você e nosso filho… por favor.”

Nós estamos, Reiner. Para sempre estaremos.”

 

[…]

 

O pavor lhe trouxe de volta, quando Reiner sentira que seus movimentos retornaram e a dor da mordida que Jean tentava realizar para retirá-lo de seu titã e ingeri-lo lhe fez gritar.

Por que vocês não me deixam morrer em paz?”


Notas Finais


Okay, talvez eu tenha chorando feito uma cabrita escrevendo essa história. Sim, eu faço parte do time que deseja muito (inocente e iludida) que Reiner tenha um final feliz ou que seu sofrimento tenha um fim. Mas, ao mesmo tempo, sou apaixonada por angst e sei que, como dito pelos personagens: não há final feliz em uma história de terror.

Mas, a meu ver, deixo várias referências para várias possibilidades de finais nessa fanfic. Temos ligações com o time loop, com as várias dimensões... e como costumo dizer: embarque no seu trem favorito e o abrace! Eu ainda não considero o maldito capítulo 138 como verdadeiro, é um surto coletivo hahahaha

Muitíssimo obrigada para quem acompanhou até aqui! Estaremos juntes semana que vem para chorar em conjunto e se abraçar virtualmente. Se gostarem, por favor, peço que deixem um feedback, se desejarem ^^

Ou se quiserem só xingar o Isayama...


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