Assim que o primeiro par de salto alto preto lustroso pisou para fora, da grande e pesada porta giratória, a bela mulher de cabelo roxo escuro e curto piscou seus olhos de maneira conspiratória.
E ainda não acreditando no que seus olhos estavam vendo, levantou sua mão e arrancou os óculos escuros do rosto, olhando atentamente em todas as direções.
Todos os funcionários estavam fazendo seus trabalhos, atendendo telefonemas, e mexendo no computadores. Sem contar na recepção, que era sempre um caos, agora estava praticamente deserta, com pouco fluxo de pessoas passando pelo saguão.
Abrindo a boca algumas vezes, começou a andar até ser barrada pelo gerente.
— Senhora Ur, que surpresa agradável, será que eu posso ajudar em algo? — Esbouçando um sorriso amistoso o loiro perguntou prestativo.
Atordoada ela dirigiu seus olhos a ele.
— Ah claro — murmurou com a voz baixa e distante. — Poderia, por favor, me acompanhar até a sala do Gray?
— Claro! — Concordou solene. — Não se preocupe, vou avisar que a Senhora está aqui.
E foi assim que ele veio parar aqui, flagrando uma cena um tanto comprometedora entre seu chefe e a nova secretária dele que, neste momento, estava com as bochechas vermelhas, iluminando o tamanho do seu constrangimento.
Já os olhos de Gray pareciam dois cubos de gelo, a mandíbula tensa e o leve vinco em sua testa o fez engolir em seco.
— Sting? O que faz aqui? — O tom seco fez seu corpo encolher, e envergonhado fechou a porta atrás de si, raspando a garganta algumas vezes enquanto se aproximava da mesa com certo receio.
— Me desculpe a intromissão inoportuna senhor Fullbuster. — E assim que seus olhos caíram, sugestivamente em Erza, ela saltou da mesa e arrumando seu vestido em suas curvas e clareou a garganta, adquirindo um ar mais formal.— Mas eu vim avisar que a senhora Ur está aqui e deseja...
— É O QUE?! — Mal ele terminou de falar e Gray praticamente pulou de sua cadeira, quase arrancando seus fios escuros pela raiz e sem saber o que fazer primeiro. — Distraia ela até eu me arrumar. — Ordenou.
Sting anuiu positivamente, porém seus olhos permaneceram estáticos em Erza, e isso irritou Gray.
— AGORA! — Como se tivesse recebido a descarga de um raio, ele deu um pulo e girando sob os calcanhares acatou a ordem de Gray.
— Como quiser senhor Fullbuster! — Disse depois de fechar a porta.
Assim que a porta se fechou, Erza sentiu um jato de vento fio balançar seu cabelo e confusa viu que era Gray, que agora se equilibrava em uma perna enquanto que na outra cambaleava tentando colocar sua meia.
Ela se controlou ao máximo para não rir.
— É ...Gray?
— Uhum. — Resmungou fazendo a mesma coisa com o outro par.
— Quem é Ur? — Perguntou se aproximando, as mãos cruzadas atrás da cintura e a mesma postura ereta, como se tivesse carregando uma pilha de livros na cabeça.
— Ela é minha…Boadrasta! — Respondeu e isso a deixou ainda mais confusa. — Erza me ajude a colocar essa corda aqui! — Apontou para a gravata ao mesmo tempo em que com os dedos trêmulos tentavam abotoar os botões de sua camisa.
— Certo. — E assim que ela pegou e voltou a enroscar o pescoço dele com a gravata, o calor voltou a subir, e assim que ela fez mais pressão no nó ele cerrou seus punhos e cortou o olhar.
O perfume dela era como um tapa na cara, o pequeno sorriso nos lábios rosados estavam o atiçando e...
— Assim está bom? — Piscando algumas vezes ele apenas assentiu tenso, e assim que ela se afastou ele soltou o ar.
— Gostaria que depois você me ensinasse o que significado de Boadrasta. — Ela disse pegando o blazer preto e o ajudando a vestir.
Se ela soubesse das outras inúmeras coisas muito mais interessantes que ele queria a ensinar, com certeza, ela não daria a mínima para esse termo estúpido.
— Depois eu te explico. — em seguida ele abotoou os botões, e assim que Erza chegou perto dele teve que prender sua respiração.
O homem primitivo foi substituído por um legitimo executivo.
Somente a aparência, ela corrigiu mentalmente, já conhecendo muito bem o Tarzan que habitava em Gray, a aparência selvagem que ele adquiria quando arrancava a roupa fazia a mente dela trabalhar em fantasias nada puras em que ele...
— Gray Fullbuster mais que diabos está acontecendo aqui nessa empresa? Todo mundo pirou?
O trovejo violento da porta a arrastou de volta a realidade.
— Me desculpe senhor Fullbuster. —Sting apareceu logo atrás, constrangido. —Ela não quis esperar.
Ur olhou para ele e depois revirou seus olhos balançado sua cabeça em sinal de desaprovação, mas depois sua atenção ficou presa na bela mulher de cabelos vermelhos, que a olhava de volta de modo curioso.
— Está tudo bem. — Ele disse estendendo sua mão a Sting, que apenas meneou sua cabeça e se retirou. — Ur — ele sorriu de uma maneira tão espontâneo e iluminada, que por alguns minutos Erza perguntou se ele era o mesmo Gray. — Por que você não me avisou que ia vir? — Perguntou assim que abraçou forte a mulher.
— Queria chegar de supetão mesmo, para vir nessa sala te xingar pelo pandemônio dessa empresa, até você criar vergonha nessa cara azeda e mexer o traseiro na cadeira e tomar uma atitude de homem! Mas vi que quem levou um chute de realidade foi eu. — Terminou se afastando um pouco enquanto verificava a gravata dele e alisava o terno.
Erza piscou algumas vezes totalmente embasbacada com a maneira tão natural, da qual, essa mulher proferia essas palavras.
Gray apenas riu, uma risada viva e cativante que a fez ficar mais aturdida.
— E quem é essa moça? — Seus olhos escuros agora estavam dirigidos a Erza.
Assim que os olhos de Gray focaram na ruiva um brilho esquivo vibrou nas íris azuis escuras.
— Ur essa é a Erza, minha nova secretária. — Ele apresentou.
— Prazer em conhece-la senhora. — Erza se aproximou estendendo sua mão, Ur olhou a mão e depois seus olhos subiram até o rosto dela e continuou em silêncio. Erza ficou sem graça e assim que foi guardar sua mão Ur disse:
— Não precisa dessas formalidades comigo! — em seguida deu um pulo e deu abraço de urso na ruiva, que fez os ossos dela estralarem e isso a deixou totalmente sem reação, mas assim que viu o quase imperceptível sorriso de Gray ela correspondeu o abraço sentindo o calor materno de Ur aquece-la. — Mas vem cá — ela afastou a ruiva pelos ombros inesperadamente. —Esse traste aí está te tratando com educação? Por que se ele não estiver pode me falar que eu dou um corretivo nele e em dois palmos ele se endireita.
Gray revirou os olhos.
— Bem... — começou desconcertada. — Eu agradeço a preocupação, mas eu já aprendi a lidar com ele. — Em seguida ela ergueu o olhar desenhando um sorriso torto nos lábios.
Ur ficou em silêncio e assim que curvou um pouco o pescoço para olhar Gray, viu o que não via a muito tempo, uma expressão serena misturada com um brilho diferente nos olhos, talvez admiração, mas no fundo ela sentia que tinha muita alguma coisa a mais ali.
— Interessante. — Ela disse se afastando um pouco enquanto cruzava seus braços.
— A quanto tempo você está aqui?
...
Terminou de digitar o último documento, e assim que enviou para a impressora quase não acreditou, repousou sua latejante coluna no encosto da cadeira e inspirando e depois expirando, lentamente, decidiu se levantar e ir até a grande impressora industrial, chegando lá apoiou seu peso nos quadril enquanto batia se salto freneticamente contra o piso, aguardando os papéis serem imprimidos, e assim que o último papel saiu da máquina prontamente ela pegou verificando a ordem e, se de fato, as impressões saíram corretas, mas assim que girou sobre seus calcanhares quase deixou tudo cair no chão, enquanto imperceptivelmente deu um passo para trás
— Zeref? O que voc.....
— Mavis. — Ele cortou, dando um largo passo, o grande ramalhete de flores vermelhas tampavam parcialmente o rosto nervoso enquanto que na outra mão estava caixa de bombons, que estava completamente amassada, mas também quem dera equilibrar tudo em sua moto, atraído a atenção de toda cidade ainda por cima. — Me desculpe por ter sido um babaca. — Caiu de joelhos estendendo o ramalhete e a caixa ao mesmo tempo em que fechava suas pálpebras temendo a resposta que ela daria.
A boca de Mavis secou e os olhos verdes quase saíram para fora.
Ele apertou seus olhos fechados e começou a ficar aflito com o silêncio dela.
— Desculpar pelo quê Zeref? — Cruzou seus braços ainda confusa.
Ele piscou algumas vezes e os braços oscilaram um pouco.
Muitas vezes as mulheres ao menos sabem que sofreram assedio, e é isso que dificulta o trabalho da policia. Pequenas atitdes, ou mesmo piadinhas e brincadeiras abusivas com teor que as constrange já é um assedio mascarado.
Assim que a voz de Rogue soou em sua mente, como um gravador, ele expirou fundo e se levantou, tentando mantar uma distância segura dela, uma tarefa bem complicada, já que aqueles olhos verdes pareciam o magnetiza-lo
— Mavis, no elevador eu ...meio que te... — olhou para o lado se sentindo um grande idiota. — assediei.
Os olhos verdes se esbugalharam ainda mais.
— Me assediou? — a voz saiu levemente estrangulada.
— Sim. Eu invadi o seu espaço pessoal e você se sentiu contrangida, não foi.
Agora que ela parou para refletir viu que ele estava certo, depois disso ela se sentiu incomodada e toda vez que esse episodio era reprisado em sua mente ela sentia uma sensação estranha, constrangimento não era bem a palavra certa, mas era o que se aproximava do que ela sentiu verdadeiramente.
Ela ficou em silêncio, então ele resolveu prosseguir.
— Então eu queria te pedir desculpas e te dar isso. — estendeu as flores.
Ela continuou calada e despois de um tempo suspirou e olhou dentro dos olhos escuros dele.
— Foi muito nobre da sua parte fazer isso. — ela disse esbouçando um sorriso enquanto deixava os papeis de lado e aceitava o presente dele. — poucas pessoas tem coragem de se desculpar ou quanto mais reconhecer um erro.
Ele soltou todo o ar de seu pulmão e sentiu seus músculos relaxarem.
— É eu sei. — em seguida estendeu a caixa de chocolates e em silêncio ficou igual a um idiota admirando as reações dela diante das flores. — Mas eu...queria mais uma vez me desculpar, sabe eu nunca tive alguém que ensinasse o que era certo ou errado, para me dar puxões de orelha ou me orientar... — respondeu abaixando os ombros.
Mavis colocou as flores com cuidado sobre a mesa e aceitando a caixa de chocolates se aproximou dele, aparentemente interessada em saber dessa historia.
— Você e o Natsu não foram criados juntos?
Ele assentiu e se afstando um puco afundou suas mãos nos bolsos de tras de sua calça.
— Sim, mas o Natsu sempre foi digamos…mais fácil de lidar, já eu — abriu um sorriso pretencioso. — Era o príncipe malandro.
O brilho descarado que rimbombou nos olhos dele fez o corpo de Mavis travar, e notando o desconforto dela ele queria se dar um tiro.
— Mas....eu era um moleque ainda, sabe...não que eu tenha perdido essa malandragem...não …quer dizer.... — Mavis já estava ficando constrangida, e ele afobado para remendar seu furo. — Olha Mavis eu ...mudei, cresci...e ainda estou evoluindo.
Ela coçou sua nuca ainda desconcertada, mas depois de um suspiro abriu um sorriso.
— Eu sei bem o quanto as mudanças são difíceis, e eu te entendo perfeitamente Zeref.
Ele arqueou suas sobrancelhas escuras.
— Entende?
— Sim. Estamos em constante mudança e transformação, é como uma metarmofose; uma mudança intensa que acontece na forma, estrutura e hábitos que ocorre durante o ciclo da nossa vida. — Ela deu uma pausa e sem que percebesse seu queixo caiu, as sobrancelhas abaixaram e um leve vinco surgiu no meio de sua testa, em seus olhos varias lembranças, não tão agradáveis do seu passado eram refletidas. — Estamos na verdade em constante mudança e amadurecimento... — murmurou ainda com os olhos presos nas lembranças.
— Você está bem Mavis? — Zeref perguntou, contendo o impulso de tocá-la, por que ele sabia perfitamente que se fizesse isso o seu auto-controle seria ameaçado.
Ela ergueu a cabeça sem entender.
— Estou. — sorriu sem graça. — Obrigada Zeref. — em seguida ela se aproximou dele e ficando na ponta dos saltos depositou um beijo na bochecha dele.
E em resposta os músculos dele travaram, e uma sensação estranha subiu em seu fluxo sanguíneo, piscando algumas vezes ele abriu sua boca, mas assim que foi responde-la ela o cortou.
— Pois não? Em que posso ajudar? — Ela perguntou assim que uma bela mulher de cabelos longos e escuros atravessou o elevador.
— Olá! — E assim que Zeref reconheceu essa voz, seu corpo estremeceu, e assim que curvou seu pescoço para encarar a mulher seu sangue gelou. — É nesse andar que fica a sala do Gray?
Continua….
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