Ligou-lhe à meia noite, para avisar à voz embargada de sono que não demoraria, com o rímel borrado e um sentimento exagerado crescendo no peito. A boca pintada de um vermelho excessivo e os pés incomodados de andar sobre o sapato festivo.
— Que diabos aconteceu com você? — perguntou a mulher já desperta, pouco curiosa, ao vê-la adentrar o cômodo naquele estado. Não era um evento muito raro, afinal, considerando que a última vez que a viu assim fora por causa de uma química de cabelo malfeita.
— Nada. — disse, simplesmente, com os lábios carnudos torcidos denunciando seu blefe.
A outra deu de ombros, sem insistir no que quer que fosse que a morena preferisse não lhe contar. Esta que não parecia estar satisfeita com tal atitude.
— Unnie. — chamou, por fim, quase que em um murmúrio. — Você acha que eu ‘tô gorda?
Yeeun se segurou para não rir enquanto dedilhava seu teclado com uma mão e acariciava Muffin, o gato, com outra. Lembrava-se bem de quando a mais nova lhe dissera certa vez, quando ainda estavam no colegial, que morreria como uma velha solteirona com a casa lotada de gatos se não se esforçasse em mudar.
Estava considerando a hipótese de ter mudado, visto que adotara apenas um e não tinha ânimo em viver à base de antialérgicos para lotar o lugar de Muffins.
— Sim, Sunmi, você está enorme. — Era quase que impossível notar o tom de sarcasmo na voz da mais velha quando esta dizia com uma calmaria invejável. — Coma mais um pouco e não passará da porta.
A morena aparentava ter acreditado.
— Deve ser por isso que ele me largou, então. — lamentou, desanimadamente.
— Se foi por isso você não perdeu grande coisa, não é mesmo? — Dessa vez, Yeeun não evitara o riso fraco.
E sabia que Sunmi nunca perdia, de fato.
Estava suficientemente acostumada com a mania da mulher de sempre lhe procurar quando rejeitada para saber que nunca era por muito, como na vez que a viu chorar em seu ombro por ter sido deixada pelo seu quase-noivo por, segundo suas palavras, ser vulgar demais. Yeeun ainda se perguntava como a amiga se envolvia com pessoas assim, mesmo que estas infelizmente não fossem muito raras.
— Ele não me dava mais atenção, unnie. — disse em choramingo dramático. — Você também não tem dado.
Yeeun soltou um suspiro. Os cabelos tingidos de rosa caíam um pouco sobre os olhos, a cor quase que a mesma das paredes do cômodo bem arrumado a deixava tão majestosa como sempre foi.
— Não fica assim, neném. — pediu. Os braços antes ocupados logo estavam abertos, como um convite pra que se aconchegasse ali. — Vem cá.
E Sunmi foi. Sempre ia.
Quase derreteu-se quando se afundou na curvatura do pescoço alvo, inalando o aroma de amaciante infantil e Gabriela Sabatini . As mechas afagadas por mãos habilidosas e a respiração em sua nuca lhe tranquilizavam a ponto de adormecer ali mesmo, com as pernas rodeadas à cintura fina e o corpo se aquecendo com o calor de outrem.
Não quisera se afastar quando tivera sua calmaria interrompida inesperadamente com um dedo lhe acariciando a bochecha, e assustou-se quando, sem aviso algum, sentira os lábios alheios selarem os seus rapidamente. Doces e acolhedores; assim como a quem pertenciam.
— Aproveitadora. — sussurrou contra seu ouvido, desferindo um tapa fraco em sua coxa. Yeeun riu, no entanto, não se importando em receber quantos tapas fossem caso fosse o necessário para repetir a dose algum dia.
E Sunmi também não se importava com a ideia de ser decepcionada mais vezes, apenas para que pudesse receber um pouco de colo e um beijo roubado.
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