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História Dark and Cold: O casal perfeito - Desespero. A sexta face do louco.


Escrita por: Matsu__

Notas do Autor


Oeeee.
Duas vidas depois olha quem veio atualizar :v
Nee, tem muitas coisas que eu preciso dizer, mas vamos começar com EU ESTOU DE FÉRIAS CARALHO!!
E estar de férias significa que eu estou atualizando hoje com boa parte do próximo capítulo pronta ♥ a parte ruim é que isso significa que a fic vai acabar mais rápido, já que depois desse, teremos apenas mais 3 capítulo ~ou seja, serão 34 capítulos ;u; ~ mas vamos deixar pra chorar no final :v
Também estou ~ainda~ tentando responder os comentários dos outros capítulos, nessas férias eu consigo, mas já li todo eles <3
Mais uma coisa: tem alguém aqui fã de BTS? To super curtindo esses meninos (embora eu não goste de kpop) e resolvi começar uma JiHope, não estou postando ainda, quero escrever uns caps primeiro pra ver se rola, mas estou trabalhando duro nisso <3
Certo, chegar de falar, vamos as tretas. Acho que houve uma leve inversão de papéis aqui, então preparem-se, como minha mãe diz sabiamente: Takanori e Yutaka estão no cu da cobra :v
Capítulo betado pela mãe diná, opa, digo... pela HimeShiroyama, que é a mão na minha roda e agora além de betar ainda me ajudar com o nome do cap e me arranja capa ♥

Capítulo 31 - Desespero. A sexta face do louco.


Fanfic / Fanfiction Dark and Cold: O casal perfeito - Desespero. A sexta face do louco.

Acordei assustado depois de um pesadelo, sentindo meu corpo começar a tremer por causa do frio, afinal eu ainda estava molhado, sem camisa e deitado no chão alagado do banheiro.

Eu podia sentir o fedor de vômito e urina e mesmo que fosse horrível, eu não conseguia me mexer e levantar dali. Para ser bem sincero, eu sentia como se pudesse me misturar àquela sujeira e desaparecer.

Depois da última noite o que eu mais queria era realmente poder desaparecer.

Talvez fosse melhor juntar minhas coisas e ir embora, mas dessa vez eu estaria definitivamente na rua porque ninguém além do Sr. Shiroyama me ajudaria.

Eu era mesmo um idiota, eu tinha que admitir.

Me sentei, sentindo meu estômago revirar dentro do corpo e eu vomitei apenas álcool, minhas narinas queimando como fogo. Me apoiei nas paredes molhadas para conseguir me colocar de pé, lavando meu rosto e a boca com um punhado de água, mas o gosto amargo permanecia.

Arrastei meus pés para fora do banheiro. A casa estava escura, mas não silenciosa. Eu podia ouvir um choramingo baixo e suspiros vindos da sala.

Me aproximei do inicio do corredor, forçando a visão contra o escuro para ver o Sr. Shiroyama sentado em um dos sofás, com as pernas encolhidas e o rosto escondido entre os braços que abraçavam os próprios joelhos.

Talvez fosse o momento mais frágil em que eu já havia visto aquele homem e a culpa era minha. Me apoiei na parede, sentindo um misto de culpa e medo atacar minha consciência.

“Você é um assassino filho de uma puta!”

Observei ele se levantar para deixar um porta-retratos sobre a mesa da TV e embora no escuro eu não pudesse ver, provavelmente era uma foto de Akira.

–Você se sente melhor? – o Sr. Shiroyama se virou para mim, parecendo não se surpreender por me ver de pé ali. Passou por mim devagar, indo até a cozinha. Não parecia esperar uma resposta e não a teve, então voltou com uma garrafa pequena de água.  –Pensei em te levar pro quarto, mas você estava todo mole. É melhor você se deitar e descansar um pouco. Não vou te dar folga amanhã...

–Pare! – eu pedi e ele me olhou. De perto era fácil ver como o rosto dele estava inchado, vermelho e ainda molhado. –Por que está agindo assim?

–Hum?

–Pare! PARE! MAS QUE... Que merda... POR QUE ESTÁ FINGINDO QUE EU NÃO DISSE NADA DAQUELAS COISAS A VOCÊ? – eu tentava conter minha voz, mas ela por vezes falhava, por outras se elevava demais. –Por que continua fazendo isso...?

Ele pensou por um tempo, depois sorriu sem emoção.

–Eu sinto muito por ontem... Sobre aquele tapa. Eu perdi o controle. O que vocês dois fizeram não me interessa... Não agora. Não é como se fosse a primeira vez, mas isso não diminuiu o quanto eu o amava e também não diminui minha simpatia por você. Eu querer que você fique bem te incomoda tanto assim? – arregalei meus olhos involuntariamente, as palavras dele estavam me acertando como um soco e eu não me preocupei em secar minhas lágrimas mesmo que elas queimassem meus olhos. Eu vi a expressão dele mudar um pouco e eu não sabia explicar, mas não era mais triste ou sofrida, ele apenas me encarava. –Sabe Takanori... Eu sinto um vazio tão grande. Eu perdi as duas pessoas que eu mais amei. Às vezes eu sinto como se fosse explodir de tanta tristeza. Eu não sei se você entende, mas isso dói.

Então o Sr. Shiroyama se calou ainda me encarando. Engoli a saliva me sentindo tão nervoso que poderia despencar ali mesmo. Pensei em Hikari, mas definitivamente não era sobre isso que ele estava falando.

Era um aviso.

Ele estava deixando claro para mim o quanto sabia.

Observei ele entrar no próprio quarto, sentindo meu coração bater tão forte como se fosse rasgar meu peito e pular para fora.

Se ele sabia ou ao menos desconfiava, por que havia me levado para dentro da casa dele?

Com certeza era mais fácil me vigiar. Talvez ele estivesse me investigando e talvez ele estivesse ajudando a polícia. Eu estava me engasgando com o desespero.

Mantive os olhos sobre a carteira do Sr. Shiroyama deixada sobre a mesa de centro na sala, depois me aproximei, abrindo-a e pegando todo o dinheiro de dentro dela. Não era muito, quase nada na verdade, mas enfiei tudo no bolso da calça úmida.

Corri para meu quarto, trancando a porta por dentro. Juntei todas as minhas coisas com tanta pressa que boa parte caiu ou rasgou. Empurrei tudo para dentro da mochila, depois vesti uma camisa qualquer.

Se eu tentasse sair pela porta da frente o Sr. Shiroyama provavelmente me veria e me impediria, então eu abri a janela do quarto devagar, evitando qualquer som, pulando-a com alguma dificuldade.

Só parei de correr depois que consegui uma boa distância, sentindo os músculos das minhas pernas ardendo como se pegassem fogo.

Eu não fazia ideia de para onde ir. Contei o dinheiro roubado duas ou três vezes, tinha pouco mais que 400 ienes. Talvez eu comprasse mais uma carteira de cigarros, já que a última tinha sido molhada no banho forçado.

Me sentei na calçada, abraçando minha mochila, sem saber o que fazer, sentindo meus olhos pesarem de sono. O sol já ameaçava aparecer e algumas pessoas já saiam para o trabalho. Mais da metade me olhava com certo medo, provavelmente achando que eu era algum ladrãozinho e aparentemente não estavam erradas.

Esfreguei meus braços sentindo frio e minhas pernas começavam a doer por causa da calça molhada.

Talvez eu devesse ligar para Yi Han, ele não me daria outro fora. Ele não podia... Era um filho de uma puta, mas poderia me dar algum dinheiro pelo meu corpo.

Procurei o nome dele na agenda, deixando chamar por algum tempo até que a ligação caísse na caixa de mensagens.

–Merda... Você não vai me atender, não é? – me levantei, sentindo uma vontade gritante de chorar, mas me contive, ajeitando a mochila nas costas e começando a caminhar sem rumo.

 

 

 

 

O sol já estava alto o suficiente e as ruas lotadas de pessoas.

Era um pouco mais complicado caminhar, mas por sorte algumas pessoas se desviavam de mim.

Eu tentava pensar, mas a única coisa que eu conseguia era caminhar de um lado para o outro, totalmente perdido e no fim do dia eu apenas me encostei em uma parede, despencando. Me encolhi para que não tropeçassem em mim, tentando mais uma vez não chorar. Traguei meu cigarro, irritado com as primeiras lágrimas que me fugiam.

–Você está se sentindo mal? – levantei os olhos para as duas garotas paradas na minha frente. Elas usavam uniformes do colégio, o que me fazia pensar em Hikari e Ayume.

–Vai se ferrar.

–Grosso! – ela resmungou. –Eu só pensei que estava...

–Dê o fora daqui. Anda! – as duas deram um passo para trás, uma segurando o braço da outra. Algumas pessoas me olharam, boa parte com o cenho franzido. Então uma delas se aproximou de novo, deixando uma garrafa de água mineral perto do meu pé antes de se afastar com a outra.

Olhei para a garrafa por um longo tempo, passando os dedos pelos lábios secos, depois me levantei irritado, chutando a garrafa para longe. A ideia de ser tratado como um mendigo me deixava um pouco apavorado.

Dei alguns passos para frente, só então me dando conta de que estava na frente do prédio onde funcionava o escritório de Yutaka. Levantei a cabeça, cobrindo com a mão o sol que queimava meus olhos tentando enxergar o último andar. Era bem alto, me perguntava se o prédio inteiro pertencia a Yutaka.

Ouvi um carro buzinando repetidamente por algum tempo e só então eu percebi que estava parado exatamente na frente do portão da garagem.

Encarei por um tempo a frente do carro preto e mais alto que eu, então meus olhos se encontraram com os de Yutaka, logo atrás do volante. Juntei as sobrancelhas procurando Kouyou, mas ele não estava no carro. Yutaka estava sozinho e também me encarava.

A expressão de tédio no rosto dele era um pouco mais conhecida do que aquela doente e triste.

Yutaka levantou a mão, pedindo que eu me aproximasse e eu obedeci como de costume, entrando no carro. Ele não me olhou, não disse nada. Dirigiu o carro para longe do prédio, mas não estava indo para casa.

–Ontem você parecia muito mal... Estou surpreso em ver você dirigindo. – Yutaka não respondeu, continuou atento ao trânsito. –Você está melhor?

–An. – ele resmungou virando mais uma esquina, totalmente desinteressado na conversa.

–Você está magro. Não está se aliment...

–Está na rua? – ele finalmente falou, me calando, mas eu não respondi. –Pensei que estivesse vivendo bem. Yuu colocou você pra fora?

Abracei minha mochila, levando algum tempo para responder.

–Acho que ele sabe... – Yutaka finalmente me olhou.

–Sabe o quê?

–Tudo. – ele jogou o carro para o acostamento, freando de repente, quase me fazendo enforcar com o cinto de segurança, o barulho de buzinas e xingamentos foi infernal.

–O que quer dizer com isso? – me encolhi um pouco antes de falar.

–Ele disse algumas coisas estranhas, jogou algumas indiretas... – eu estava me preparando para receber um soco ou qualquer coisa assim. –Ele desconfiava de você antes, ele me disse isso, mas agora está desconfiado de mim. De qualquer forma eu acho que ele não vai contar isso a ninguém.

–Droga... – Yutaka parecia preocupado. –Isso vai ser um problema.

–Eu... Pensei em me livrar dele... – diminui o tom da minha voz, mesmo que estivéssemos sozinhos no carro. –Eu queria ter me livrado dele, mas...

–Não! Não, não, não... – Yutaka sacudiu a cabeça. Era estranho vê-lo daquele jeito, tão despreparado. –Seriamos ainda mais suspeitos.

Yutaka bateu a testa contra o volante, parecia completamente perdido, o que me deixava realmente desesperado.

–Eu sinto muito... É... É minha culpa... Eu deixei as coisas saírem do controle...

–Não é sua culpa. – ele suspirou fundo, passando a mão pelo rosto, se ajeitando no banco e assumindo de volta a postura fria. –Volte pra casa.

Yutaka me encarou e eu sabia que aquilo não era um pedido.

–As coisas vão ficar ainda piores...

–Eu não me importo.

–Eu me importo! Você sabe muito bem como isso vai terminar se eu voltar.

–E como vai terminar se eu deixar você na rua? – abri a boca, tentando dizer qualquer coisa, mas eu estava em choque, então eu engoli minhas palavras.

Mesmo sem a minha resposta ele deu partida no carro e mais uma vez eu estava apenas chorando.

 

 

 

Passei um longo tempo sentado dentro da banheira, a água aromatizada estava me fazendo cochilar.

Eu gostava de todo aquele luxo e depois de passar algum tempo na rua e até mesmo depois de morar com o Sr. Shiroyama, eu percebi que morar em uma casa como a de Yutaka e ter tudo que eu tinha era o que eu precisava e merecia, mesmo que eu tivesse que “pagar” por isso de alguma forma.

Meu celular tocou logo ao lado da minha cabeça e eu atendi sem olhar.

–Sim?

Onde você está?”

–Sr. Shiroyama?

Sim. O que aconteceu? Você está bem?” – passei a mão pelo rosto, fechando meus olhos por algum tempo, tentando continuar relaxado. Takanori? Aconteceu alguma coisa? Onde você está?”

–Eu estou bem. Eu estou em casa.

Como ‘em casa’? Suas coisas não estão aqui. Vi sua janela aberta, fiquei com medo que tivesse acontecido alguma coisa.”

Suspirei fundo, mas antes de responder eu senti o celular ser puxado da minha mão. Abri os olhos para encarar Yutaka, que estava apoiado na borda da banheira. Ele olhou o nome na tela do celular antes de levá-lo a orelha.

–Olá Yuu. – ele me encarava continuamente e agora sorria. –Sim, ele está comigo. Sim. Sim. Não precisa se preocupar com Takanori. Nós conversamos, nos entendemos e ele voltou para casa, okay? Certo. Até logo. – Yutaka desligou, colocando o celular de volta sobre a borda da banheira, sem desviar os olhos de mim um momento sequer. – Esse cara adotou você? Não deixe que ele fique te atormentando e fazendo a sua cabeça.

Ele ameaçou se afastar, mas eu o segurei pelo pulso, a ansiedade e a curiosidade sendo maiores que meu bom-senso.

–Era apenas encenação? Fez aquilo porque queria que eu voltasse? – ele continuou me olhando como se eu falasse uma língua que não entendia. –Você não estava doente nem louco... Era fingimento. Você só queria que eu voltasse...

–Eu tinha esquecido o quanto seu ego é grande. – ele riu mais uma vez. –Na verdade eu queria sim que você voltasse ou acabaria enfiando a nós dois numa cadeia.

Me ajeitei dentro da banheira quando ele deslizou os dedos sobre a água. Da última vez ele tinha tentando me afogar e aquela lembrança ainda era muito viva. Yutaka empurrou um pouco de água na minha direção, fazendo a superfície ondular, depois tocou meu peito com a ponta dos dedos, deixando a mão submergir na água, para então puxar meu braço para fora sem violência. Observei ele deslizar o polegar sobre as marcas de agulha, mas ficou em silêncio.

–Yutaka...

–Não era pra ter chegado a esse ponto.

–Do que está falando?

–De você estar viciado nisso. Acho que é hora de parar. – ele tocou meu rosto com os dedos molhados, fazendo um carinho simples, mas que fez meu coração disparar.

–Parar?

–Parar... - ele continuou me encarando. –Com tudo. – eu não tinha certeza se eu podia entendê-lo porque nos últimos dias minha mente parecia lenta demais.  –Eu não quero mais que você faça nada daquilo... Eu não quero que mais alguém morra...

–Yutaka... - ele se levantou, era estranho como ele se sentia envergonhado por dizer coisas como aquelas.

–Termine seu banho. – me ajoelhei dentro da banheira, tentando dizer qualquer coisa, mas ele já havia saído e logo a porta do quarto bateu.

 

 

 

Desci para a sala alguns minutos depois de Yutaka, mas ele não estava ali. Eu podia ouvir barulhos vindos do porão e hesitei algum tempo antes de descer. O barulho de coisas quebrando ficava cada vez mais alto à medida que eu descia então eu parei ao pé da segunda escada, observando Yutaka jogar uma caixa no chão, jogando mais três ou quatro em seguida, espalhando as caixas de fitas por boa parte do porão e se sentando em meio a elas.

-Yutaka?

Ele me olhou, pegando a fita mais próxima, começando a puxar o filme para fora e o arrebentando.

–Vem aqui. – me aproximei com cautela porque ele estava visivelmente transtornado e era estranho perceber como as mudanças de humor e de personalidade dele estava cada vez mais rápidas e assustadoras. Talvez ele estivesse mesmo doente ou ainda mais doente. –Sente-se. Me ajude com isso.

Ele destruiu mais algumas fitas enquanto eu apenas o olhava, sem entender muito bem.

–Por que está fazendo isso? – tomei coragem para perguntar, mas ele não me olhou, nem respondeu. –Yutaka?

–Você tem que arrebentar as fitas.

–Por que está fazendo isso? – segurei suas mãos e ele me olhou. –Por quê?

Yutaka levou algum tempo para responder, mantendo os olhos nos meus.

–Eu quero que desapareça... – engoli a saliva, me assustando quando ele me puxou pra mais perto. –Eu quero que tudo isso desapareça...

–Tudo isso o quê?

–Tudo... TUDO! – tentei me soltar, mas ele me segurou com mais força. –Eu quero que esse lugar desapareça, junto com essas malditas lembranças.

Ele me soltou, se levantando.  Vi ele derrubar um armário, espalhando mais um monte de coisas pelo chão. Por algum motivo cada coisa que ele quebrava era como se me machucasse, eu estava estranhamente ligado com aquele porão.

–Isso não muda nada. Isso não vai fazer você esquecer...

–Mas vai evitar que aconteça de novo. – me levantei, me aproximando dele e o abraçando por trás antes que ele pudesse quebrar o segundo armário.

–Não faça isso... Não muda nada... – ele tentou se soltar, mas para a minha surpresa ele não tinha força para afastar meu braço, então o corpo dele pendeu para frente como um fantoche sem cordas.

Respirei fundo, deitando minha cabeça sobre suas costas e nós ficamos assim por algum tempo, até que o corpo dele tremeu e eu o ouvi chorar.

–Me promete que nunca mais vai me deixar...

–Eu não vou.

–Prometa. – ele se ergueu, se virando e me abraçando subitamente e mesmo assustado eu o abracei de volta.

–Eu... Eu prometo. – Yutaka envolveu minha cabeça com os dois braços, mantendo meu rosto próximo ao seu tórax. –Eu não vou embora, essa é a minha casa.

–Certo... Certo. Prometa também que não vai fazer de novo... Não vai mais fazer nada daquilo...

Pensei durante um tempo sem saber o que dizer. Eu podia viver sem fazer aquilo, isso era óbvio, mas perceber o quanto era fácil tinha feito deste um hábito muito tentador.

–Eu prometo... – o abraço dele se tornou mais forte.

Me assustava ver Yutaka agindo daquele jeito, tão desesperado e tão frágil, completamente diferente do homem frio que eu havia conhecido há poucos meses.

 

 

 

 

 

Yutaka havia pego no sono depois de tomar seus remédios, então eu mandei uma das empregadas descer e arrumar o que tinha sobrado no porão. 

Me deitei no sofá da sala, finalmente tendo algum tempo para pensar em Miwa e sobre o que ela estava fazendo. Provavelmente estava fazendo isso a mando de Takashima.

Peguei meu celular, discando o número de Miwa.

"Alô!"

–Está na loja?

"Sim."

–Yutaka saiu cedo e eu não tive mais notícias dele. Ele está aí?

"Está com o Sr. Takashima agora."

–Entendo. Qual é o seu horário de almoço?

"Às 11h30min. Por quê?"

–Posso buscar você? Preciso de ajuda com algo.

"Ajuda minha?!"

–Claro. É minha amiga, certo?

"Hm... tudo bem. Espero você em frente à loj...

–Não! - eu disse de repente. –Não... Não quero que nenhum deles me veja aí.  Vou esperar você no estacionamento...

"Tudo bem. Qual é o seu carro?"

–Um masserati branco, não é difícil encontrar. Às 11h30min te ligo de novo para dizer em qual piso do estacionamento eu vou estar.

"Okay."

–Hm, não diga a ninguém sobre isso, não quero que ninguém saiba.

"Tudo bem. Até mais então."

–Até.

Talvez se eu perguntasse pessoalmente ela me dissesse o que estava fazendo e a mando de quem.

 

 

 

 

Esperei por uns dez minutos no estacionamento, encostado no capô do meu carro, os braços cruzados frente ao peito demonstrando impaciência quando Miwa finalmente se aproximou. Ela fez uma reverência rápida, já pedindo desculpas.

–Eu realmente sinto muito, precisei arrumar algumas coisas antes de sair.

–Entendo. Entre no carro. – ela obedeceu em silêncio e permaneceu assim até sairmos do estacionamento do shopping. -Posso escolher o restaurante?

–Tudo bem, desde que não seja muito ca...

–Eu pago. – ela se calou e eu entendi como um "sim".

Dirigi por algum tempo sem pensar realmente em algum restaurante. Miwa ficou em silêncio mesmo quando eu decidi dirigir para casa, afinal ela não sabia onde eu morava.

–Onde estamos? – ela finalmente perguntou quando eu parei o carro, usando o controle para abrir o portão.

–Minha casa. – percebi os olhos dela se arregalarem mesmo que eu não a olhasse e ela ficou tensa.

–Pensei que íamos almoçar.

–E vamos. Não gosto de comer fora, me sinto mais confortável aqui.

Descemos do carro e Miwa parecia ainda mais receosa. Abri a porta e deixei que ela entrasse primeiro, depois joguei a chave do carro sobre a mesa de centro e tirei o casaco para deixá-lo sobre o sofá.

–Eu não posso demorar...

–Eu sei. Vem, vamos conversar lá nos fundos. – ela me seguiu esfregando as mãos e se sentou quando ofereci uma das cadeiras em volta da mesinha branca do jardim.

–Então... Sobre o que quer falar comigo? – limpei a garganta, sorrindo enquanto a encarava.

–Sobre Yutaka. – vi ela engolir a saliva. –O que você acha que eu devo fazer?

–Ah... Não sei se eu devo me meter nisso.

–Apenas me dê sua opinião. – ela desviou os olhos para longe por algum tempo.

–Hm... –Miwa esfregou as mãos uma na outra, parecendo cada vez mais nervosa. –Por que... Por que não conversa com ele?

–E o que eu deveria conversar com ele? – perguntei em tom de ironia.

–Pergunte o que está acontecendo, ou por que ele visita o Sr. Takashima tantas vezes... Eu não sei...

Suspirei cansado. Ela não era divertida.

–Certo... Vamos falar sério agora. Quem mandou você fazer isso?

–O quê? – vi os olhos dela se arregalarem.

–Quem mandou você fazer isso? Estão pagando você? 

–Ham? Eu não sei do q...

Bati minha mão contra a mesa e ela se calou, pulando de susto.

–VOCÊ SABE DO QUE EU ESTOU FALANDO! – eu encarei Miwa, deixando a raiva tomar conta de mim, então olhei para trás, conferindo a porta da cozinha e a janela do meu quarto, minha consciência me lembrando que Yutaka estava em casa e eu precisava ser discreto. Me levantei, sorrindo mais uma vez enquanto me apoiava na mesa, inclinando meu corpo sobre a mesa, tentando controlar o tom da minha voz. –Você cooperar comigo agora e me dizer quem te mandou fazer isso ou eu posso fazer você me contar, mas pode ser um pouco difícil e doloroso pra você.

Vi ela respirar fundo, os olhos brilhando com lágrimas que segurava.

–Eu não sei...

Miwa se calou quando eu agarrei a franja de seu cabelo, fazendo-a se levantar.

–Se gritar eu mato você. – ela estava chorando consideravelmente alto quando eu a puxei para trás das árvores do jardim frio, jogando-a sentada sobre a terra afofada. Com o canto dos olhos eu pude ver a pá encostada em uma das árvores e a peguei com pressa, segurando-a com firmeza entre as mãos. Não era uma arma, mas poderia impedi-la de correr. –Qual é o seu problema? Só precisa me dizer quem mandou você mentir pra mim...

–Eu não menti. O Sr. Uke...

-O Sr. Uke está dormindo agora... E ele também estava dormindo quando eu falei com você mais cedo, e adivinha só! Eu sabia exatamente onde ele estava nas últimas vezes que eu falei com você. Foi Takashima quem te mandou fazer isso? O que ele prometeu a você? Está te pagando a mais pra fazer isso?

–Eu sinto muito... – ela chorou ainda mais alto. –Eu sinto muito...

–Quem mandou você fazer isso?

–Ele pediu para não cont... –levantei a pá acima da minha cabeça e ela se arrastou para trás. –O SR. UKE... O SR. UKE PEDIU...

–Pare de gritar! – ela engoliu a saliva, se afastando um pouco mais. –Yutaka pediu?

–Pediu...

–Por quê?

–Ele disse que era uma brincadeira... Que seria divertido...

–Ah! – comecei a rir um pouco descontrolado. –Sim, claro, é muito divertido! Olha só como eu estou me divertindo. Ele está pagando você pra fazer isso?

–Não...

–O que ele fez pra você então? Ele te levou pra cama? – ela balançou a cabeça, tentando se levantar, mas as pernas dela tremiam.

–Ele prometeu que me ajudaria com o Sr. Takashima... – levantei as sobrancelhas, segurando a vontade de rir.

–O que disse?

Ela se levantou, se apoiando em uma árvore.

–Ele disse que se eu o ajudasse com isso, ele me ajudaria com o Sr. Takashima... Ele pediu pra mentir, pediu pra eu dizer a você que ele estava lá sempre que você perguntasse. Ele disse que era só uma brincadeira, disse que era só pra te deixar irritado...

–E você fez isso por Kouyou? Você não tem amor próprio? Isso é um pouco vergonhoso, você só precisava abrir as pernas pra ele... – ela se encolheu um pouco, parecendo assustada demais. –Por que está com tanto medo?

Vi Miwa se agachar mais uma vez, cobrindo o rosto com as mãos.

–Não me mate...

–O que disse?

–Por favor...

–O que você disse? – perguntei mais uma vez.

–Não me mate... Por favor...

Balancei a cabeça, olhando assombrado embora ela não me olhasse.

–Por que eu mataria... O que você sabe?

Ela chorou mais.

–Eu sei tudo...

–Tudo o quê?

–Sobre... Sobre as garotas... Mortas... – minhas pernas tremeram, mas eu tentei me controlar.

–Quem contou a você?

–Ninguém... E-eu ouvi por acaso... Eu ouvi uma conversa entre o Sr. Uke e o Sr. Takashima... Mas por favor não me mate, eu nunca falei sobre isso pra ninguém. Nunca vou falar... Eu juro. Eu juro que não cont...

Não esperei que Miwa terminasse seu discurso e acertei a pá com força em sua cabeça. Ela caiu de lado, seu corpo estava tomado por espasmos e a lateral de sua cabeça sangrava através de um corte muito fundo, o mesmo sangue que sujava a quina afiada da pá.

Vi ela revirar os olhos na minha direção enquanto a boca se enchia de sangue. Uma cena um tanto assustadora, como em um filme de terror. Bati a pá mais uma vez contra o rosto dela, me sentindo apavorado, batendo mais algumas vezes até que ela parasse de se mover, com o rosto completamente desfigurado.

Deixei a pá cair, dando alguns passos para trás antes de cair de joelhos, me sentindo exausto de repente. Mais um trabalho agora, o de enterrar o corpo, de preferência antes que Yutaka acordasse e descobrisse que eu já tinha quebrado a promessa que tinha feito.


Notas Finais


Espero que entendam as referências :v
Obrigado por lerem e até o próximo ♥


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