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História Dark Dawn - Capítulo 15: Sétima


Escrita por: Goddess_Nariko

Notas do Autor


Décimo quinto capítulo.
Boa leitura!

Capítulo 15 - Capítulo 15: Sétima


Fanfic / Fanfiction Dark Dawn - Capítulo 15: Sétima

SASUKE QUEIMOU CHAKRA NO OLHO esquerdo no último — e decisivo — instante. Um milésimo de segundo mais tarde para ativar a técnica do Susano’o, e teria sido tarde demais para se salvar. As placas de armadura se solidificaram ao redor dele, emanando uma intensa aura violeta, e protegeram seus órgãos vitais da força sobre-humana do punho de Sakura.

Incompleto, o Susano’o recebeu todo o impacto do golpe, aguentando a sua maior parte. Porém, como o próprio Sasuke antecipara, em algum ponto ele cedeu. As placas de armadura se romperam uma após a outra, rachando e se partindo quando Sakura esticou o braço desde o cotovelo a fim de maximizar a potência do soco.

Ele se preparou para ser arremessado, os pés fincados no galho rendendo-se à pressão exercida até que não pudessem mais resistir. Protegeu-se da melhor forma que pôde, cobrindo o rosto com o braço restante enquanto a pressão esmagadora finalmente o vencia e lançava o seu corpo para trás com um impulso estupendo.

O apoio desapareceu sob os seus pés, mas seu corpo não caiu em queda livre. O impacto do soco de Sakura empurrou-o por metros e mais metros. O vento assoviou nos seus ouvidos, estava a uma velocidade perigosa. Galhos e folhas se romperam à sua volta enquanto o Susano’o — mesmo com uma brecha na armadura do peito — ainda se mantinha.

Ele estendeu os braços do Susano’o, as grandes mãos agarrando-se aos troncos de árvores a fim de desacelerar a trajetória do próprio corpo. Conseguiu se segurar a duas árvores no momento em que os seus pés encontraram apoio num galho, reequilibrando-o a tempo. Mas Sakura seguiu no seu encalço. Ela não refreou a força bruta quando saltou sobre Sasuke e, num giro perfeito, atingiu o topo do Susano’o com um dos pés, rachando o elmo que cobria a cabeça do humanoide.

Recuperando-se rápido, ela desferiu um terceiro golpe: um soco, na base do pescoço. Lascas violetas brilhantes foram arremessadas, chovendo sobre Sasuke. A armadura do Susano’o não resistiria por muito mais tempo. Ele sabia que nada no mundo era capaz de deter a força lendária de Tsunade e de Sakura, ainda mais um Susano’o no seu estágio incompleto. Uchiha Madara tinha aprendido essa amarga lição no passado.

Sasuke usou sua velocidade para evadir então, desfazendo-se do jutsu. Saltou para cima e de galho em galho, e terminou com os pés colados ao tronco de uma árvore. Não queria revidar os ataques de Sakura, não queria nem pensar na possibilidade de contra-atacar. Decidiu que apenas se defenderia — até onde pudesse.

Ele olhou para cima e para ambos os lados antes que Sakura o tivesse alcançado de novo. Ela estava usando chakra em diferentes partes do corpo para aumentar a capacidade física, principalmente a velocidade. Era uma mestra no controle de chakra, imbatível nesse aspecto mesmo perante ele e Naruto.

Sasuke a olhou bem, ativando o Sharingan a fim de evadir uma sucessão de golpes que quebraram ao meio a árvore sobre a qual ele pousara. Era tão mortífera que tinha apenas vislumbres dela antes que o atacasse, relances que ficaram gravados na sua memória como as longas mechas de cabelo de um rosa pálido que esvoaçavam de um jeito selvagem, os olhos verdes que ardiam em brasa, queimavam como fogo líquido, os lábios que recuaram sobre os dentes cerrados e os punhos que estavam envoltos em luvas de couro. Era a Sakura que ele conhecia, e não era ao mesmo tempo. O estilo de luta dela parecera-lhe mais bruto — se isso ainda era possível. Ou talvez ele jamais a tivesse visto lutar com tamanha fúria.

— Lute comigo! — ela bradou as suas primeiras palavras a ele, guiada unicamente por uma ira cega e desenfreada, uma ânsia por feri-lo que o assombraria por um tempo.

Sasuke continuou a evadir enquanto a floresta ao redor deles era destruída e dizimada. Árvores eram quebradas e despedaçadas, seus troncos se partiam e tombavam no solo lá embaixo com tremores, causando a debandada assustada de aves. Ele sabia que se buscasse refúgio próximo ao chão daria ainda mais vantagem ao estilo de luta destrutivo dela, mas o campo de batalha apertado já não estava mais servindo às suas tentativas de fuga. Tinha de tomar cuidado redobrado para se esquivar dos ataques desferidos e dos escombros.

Talvez pudesse cansá-la, evadir os golpes até que ela se exaurisse, mas Sasuke descartou a ideia assim que ela lhe surgiu. Sakura tinha chakra em abundância armazenado no selo violeta que havia no centro da sua testa sob o hitaiate vermelho, o suficiente para dizimar aquela floresta inteira. E, a julgar pela determinação dela em atacá-lo, mal havia começado a se aquecer.

— Não quero lutar contra você — ele murmurou entre dentes, voando através da floresta com ela no seu encalço, incansável. — Não sou seu inimigo.

Sasuke pousou num galho e ela também, pela primeira vez não vindo para cima dele com hostilidade, muito embora ainda dardejasse olhares cheios de cólera na direção dele. O rosto dela se contraiu numa expressão raivosa.

— Eu jurei a mim mesma que acabaria com você se te encontrasse de novo. Tenho mantido a minha promessa ao longo de todos esses anos — ela disse, friamente. — Falhei uma vez em te deter. Não vou cometer o mesmo erro duas vezes.

— Sakura, espere! — Shikamaru saltou para um galho próximo deles, e apelou para ela: — Ele não é quem você pensa! Pare e escute o que temos a dizer!

A ideia pareceu desagradá-la.

— Não se metam nisso — ordenou, não tirando os olhos de Sasuke um segundo sequer. — Isso é entre mim e ele!

Shikamaru uniu as mãos num selo e reuniu chakra para a sua técnica:

— Você não me deixa outra opção...

— Nem mesmo tente! — ela bradou de volta. — Não perdoarei qualquer um que interfira nos meus assuntos!

Os três jovens Shinobis, alunos dela, também se moveram e pousaram em outro galho, do outro lado.

— Sakura-sensei! — a garota chamou pela professora num tom aflitivo. — Por favor!

— Não se metam nisso! — replicou, nervosa, e frisou: — Não tolerarei a interferência de nenhum de vocês!

Por fim, ela voltou a atenção para Sasuke, fitando-o tanto com raiva quanto com mágoa. Ele sentiu aquele peso familiar no peito que vinha incomodando-o desde que acordara naquele mundo, mas que até então jamais sufocou o seu coração como o fazia agora. Olhar para o rosto de Sakura, para a expressão cheia de dor dela relembrou-o de todas as vezes em que a fez chorar por ele, de todas as vezes em que machucou o coração dela. No seu mundo, Sasuke se arrependeu a tempo e, cheio de remorso e de amor, pediu-lhe perdão por todas as vezes em que falhou com ela.

Ele teve medo, na época, de jamais receber o perdão dela, de perceber que havia cruzado todos os limites e que isso custaria o amor de Sakura e a presença dela na sua vida. Cometeu tantos erros com ela... Ali, aquele medo voltou a afligi-lo, atingindo-o com força.

Sakura cerrou um punho e rangeu os dentes, seu espírito de batalha inflamou uma vez mais. A fúria incendiou os olhos que costumavam trazer tanta paz a Sasuke; não encontraria misericórdia neles, não naquele mundo.

— Não vou te perdoar... Não posso te perdoar!

E, dito isso, fez menção de avançar contra Sasuke. Mas foi impedida de se mover por Shikamaru, que, apoiado sobre um joelho, liberou a sua técnica:

Kagenui no Jutsu!

Sombras vivas e compridas se ergueram sob ele, avançando contra Sakura e prendendo-se a ela enquanto imobilizavam braços e pernas, enrolando-se nela inteira como uma teia negra. Sakura se debateu, grunhiu de raiva e tentou avançar, passo por passo, mesmo presa da forma como estava. Até que Shikamaru a imobilizou por completo e impediu-a de se mover mais um centímetro que fosse. Um braço dela tinha conseguido se esticar na direção do Sasuke, o punho cerrado tremendo devido ao esforço que ela fazia para tentar se libertar da técnica a qualquer custo. Todos os músculos do seu corpo estavam rígidos e proeminentes pelo esforço que realizava.

— Eu disse para não interferirem! — ela bradou entredentes.

Ino, Chouji e Sai se aproximaram, pousando ao lado de Shikamaru, que ainda imobilizava todos os movimentos de Sakura.

— Não vou te soltar até que você nos escute — ele declarou, para a frustração dela.

Ino deu um passo adiante.

— Sakura, por favor, precisa nos escutar — disse à melhor amiga, indicando para Sasuke. — Esse não é o Sasuke que você conhece!

— Que tipo de piada é essa?! — ela retrucou com raiva, forçando as sombras que a envolviam na esperança de rompê-las. — É claro que é!

Shikamaru abriu a boca para se explicar, mas Sasuke ergueu a palma da mão para silenciá-lo, pedindo a ele que não dissesse nem mais uma palavra nem intercedesse mais a seu favor. Queria ter a oportunidade de se defender sozinho, mas não tinha certeza se ela estaria disposta a ouvi-lo. As chances de que acreditasse no que estava prestes a lhe contar eram ainda mais remotas.

Então, ele, que esteve em silêncio até então, moveu-se, atraindo a atenção de Sakura, que o fulminou com os olhos, advertindo-o para que não tentasse nada porque caso contrário ela o faria pagar por isso. Ele se aproximou devagar, com passos comedidos, cautelosos. Tentou mostrar a ela de todas as maneiras possíveis que não a atacaria ou a machucaria.

— É uma longa história — ele começou, num tom brando. — E não tenho certeza se você a escutaria até o final, mas tudo o que precisa saber sobre mim é que eu não sou seu inimigo.

Ela mordeu o lábio com força.

— Você tem muita coragem de me dizer isso depois de tudo o que fez.

Sasuke suspirou.

— Como eu disse, é uma longa história a que eu tenho para lhe contar, mas não agora. Temos assuntos mais urgentes para serem discutidos.

— Que tipo de assuntos urgentes nós podemos ter em comum? — ela ergueu uma sobrancelha, cética.

Ele agiu. Buscou pelo pergaminho que guardara na bolsa que carregava, apalpando sob o manto. Quando o retirou, mostrou a ela que era um objeto inofensivo. Sentia os olhos de Sakura seguirem cada movimento seu; não deixavam escapar absolutamente nada.

— Kakashi me confiou essa missão — ele disse.

Sasuke não esperava pelo desdém dela como resposta à sua afirmação.

— Kakashi agora confia em você também?! Isso só pode ser uma piada.

Sasuke ignorou o comentário e se abaixou para colocar o pergaminho, ainda lacrado, próximo aos pés dela. Sakura o olhou com desconfiança o tempo inteiro, mesmo quando ele se afastou, colocando alguma distância entre ambos para que ela se sentisse menos ameaçada.

— O que é isso? — Os olhos dela iam e vinham do pergaminho.

— Uma mensagem de Kakashi. Para você — ele respondeu.

Shikamaru liberou a sua técnica e, por consequência, o domínio sobre os movimentos de Sakura retornaram a ela, as sombras retrocedendo e voltando para ele todas de uma vez como servas obedientes. Abaixando-se, ela pegou o pergaminho com uma mão e o analisou criteriosamente, decidindo se abriria a mensagem ou não. Por fim, ela rompeu o lacre do pergaminho, dispersando a pequena quantidade de chakra que o mantinha selado.

Desenrolando-o, correu os olhos depressa pelas linhas, sintetizando o conteúdo da mensagem. Porém, à medida que o lia a expressão no seu rosto se alterava, dando vazão à surpresa e ao ceticismo.

— N-Nanadaime Hokage? — sussurrou, os olhos vazios, despidos de emoção. — O Chikage no país do Ferro... — continuou a murmurar consigo mesma enquanto lia o restante da mensagem. De súbito, uma nota incredulidade alterou o seu tom de voz: — Confiar na sua decisão e permitir que ele participe da missão?

Suas mãos abaixaram o pergaminho desenrolado, despencando imóveis uma de cada lado dos seus quadris. Uma delas subiu novamente para tocar a testa um instante depois.

— O que o Kakashi está pensando? E num momento como esse? — perguntou-se, murmurando consigo mesma e repreendendo o antigo professor pelo mau momento.

Foi Sasuke a respondê-la, com o único intento de atenuar as dúvidas que a afligiam.

— Ele quer que você represente os interesses de Konoha e do país do Fogo na Cúpula dos Kages.

Sakura o fitou em silêncio. Não foi capaz de articular uma única palavra para replicá-lo. Sasuke suspirou, a respiração irregular se tornando uma bruma fugaz no ar frio e invernal.

— Ele confia em você, e acredita que está pronta para assumir o cargo.

Depois de uma pausa, Sasuke continuou:

— Quanto à minha presença aqui... Se preferir me ignorar eu não vou me opor. Não é por esse motivo que vim até aqui. Mas Kakashi decretou que eu deveria escoltá-los até as Montanhas Três Lobos para evitar que caiam numa armadilha do Chikage, e eu aceitei a missão. Ainda não sabemos o que ele pretende, mas é de suma importância que seja impedido antes que tenha a chance de colocar em prática o que quer que esteja planejando. Sou a melhor chance de vocês de derrotá-lo. Vidas estão em jogo — Sasuke frisou; sua voz baixa soava tão intensa quanto uma súplica. — Você é uma Hokage agora, acredito que seja capaz de concordar que velhos ressentimentos não são mais importantes do que o futuro do mundo Shinobi.

Ele a olhou de uma forma incisiva, apeladora.

Aceite a minha ajuda. E abrace a decisão de Kakashi.

Sakura se virou para os demais presentes. Viu os rostos graves de Shikamaru, Ino, Chouji e Sai. Então olhou para os alunos, e encontrou-os receptivos às novas. Hikari, a garota, tinha os olhos marejados, e Toyoharu lhe sorria de um jeito encorajador.

Sakura abaixou a face e fechou os olhos, ponderando. Quando o ergueu, tinha uma expressão completamente diferente no rosto. Exalava confiança, aceitação e gratidão ao mesmo tempo. Os traços se suavizaram, os olhos se tornaram mais límpidos e brilhantes. Mas então, ela encontrou o olhar de Sasuke e um lampejo de raiva crispou o seu rosto por um breve momento.

— Qual é o seu interesse nessa situação? O Chikage não é seu problema até onde eu sei — murmurou, erguendo queixo num gesto desafiador. — Como Hokage, possuo autoridade sobre todos aqui. Se ordenasse que te capturassem... O que faria? Você se renderia?

— Sim — Sasuke confirmou para a surpresa dela e de todos os outros. — Como disse, não sou seu inimigo. Não quero que me veja como um.

— Por que está aqui então? Quer se redimir pelo que fez? Um pouco tarde — ela cuspiu — para isso.

— Estou aqui unicamente pelo objetivo de derrotar o Chikage.

— E por que diabos isso seria do seu interesse? — ela retorquiu, atônita. — O Chikage é um problema da Aliança e dos outros países que ele prejudicou. Você não tem nada a ver com isso.

— Tenho mais do que você possa imaginar — Sasuke replicou calmamente.

— Explique-se — Sakura cruzou os braços sobre o peito. — E não se preocupe com o tempo, nós temos de sobra.

Sasuke a encarou sem nada dizer. Tinha tentado ser sucinto, mas isso não a havia aplacado. Não queria uma plateia quando tivesse de se explicar para Sakura. Havia algo a ser explicado?, perguntou-se. Nada do que ele dissesse apagaria o que o Sasuke daquela realidade fez. Não traria Naruto nem os Kages de volta. Não faria o tempo voltar para que ele pudesse se arrepender e salvar a si mesmo. Não salvaria ninguém e nem aquele mundo que foi criado pelo seu ódio e construído sobre a maldição de Indra.

Shikamaru resmungou, atraindo a atenção de todos.

— Temos mesmo que ter essa conversa aqui? E agora? Estamos congelando nessa floresta, e eu acredito que seja melhor que vocês conversem e se resolvam a sós — observou.

Sakura enrolou o pergaminho e o guardou na bolsa que trazia nas costas. Virou-se para Shikamaru.

— Está certo. Não há razão para que permaneçamos nesse mau tempo. Mas tampouco acredito que seja seguro voltarmos ao ponto de encontro combinado. Eu nocauteei dois espiões de Chigakure no caminho.

— Isso é péssimo — Shikamaru suspirou. — Porém, já era algo que prevíamos. O Chikage sabe que você já está no país do Ferro para a Cúpula dos Kages, por isso está de olho nos seus movimentos — ele continuou, olhando para Sakura. — O que ele ainda não sabe é que nós também estamos aqui, e que o Kakashi te nomeou Nanadaime Hokage. Isso deve nos dar alguma vantagem.

— Para onde iremos, então? A Cúpula só acontece daqui a alguns dias ainda — Ino perguntou.

Sakura mordeu o lábio, ponderando. Agora era líder e, portanto, responsável pelas vidas de todas aquelas pessoas. Tamanha responsabilidade já começava a dar sinais de pesar-lhe os ombros.

— Há um lugarejo, não muito longe daqui. Isolado. — Ergueu o rosto e fitou além da floresta, indicando o caminho. — Está situado entre duas montanhas. Nessa época do ano, a neve chega fácil a um metro e meio de profundidade, por isso, os únicos acessos à aldeia se tornam bastante limitados.

“Minha sugestão é que esperemos lá por alguns dias. Até que a data da Cúpula dos Kages esteja mais próxima e seja mais seguro viajarmos para o local da reunião, permaneceremos escondidos.

Sakura se virou para Sai, decidida.

— Sai, preciso que espalhe pistas falsas depois com seus clones de tinta. Confunda qualquer espião do Chikage que esteja no nosso encalço. Faça-o acreditar que partimos daqui direto para as Montanhas Três Lobos.

— Sim! — ele acatou solícito.

— Muito bem. Lidere o caminho — Shikamaru aprovou. — Nós estamos às suas ordens, Hokage-sama.

Ouvi-lo lhe chamar pelo título fez Sakura sentir frio pela primeira vez. Ela suspirou no ar gélido, abraçando os braços desnudos pelo vestido vermelho sem mangas que usava. E esfregou os dedos na pele arrepiada na vã esperança de aquecê-la.

Sasuke a observava de perto, perscrutava cada movimento dela. Tentava associá-la à Sakura do seu mundo, a mulher que ele amava, a parceira a quem confiou o seu corpo e coração machucados, a esposa com quem ele decidiu compartilhar a sua vida, e a mãe da sua filha.

Havia algo de indomável naquela Sakura diante dele, uma dureza adquirida durante os anos, uma força insuperável. E uma solidão dolorosa demais de se olhar. Ele a viu nos olhos dela antes, e a via agora. O Sasuke daquela realidade havia a sentenciado a isso, ele sabia, e se sentiu igualmente culpado. Não importava o quanto quisesse oferecer conforto a ela, contudo, pois não passaria de um gesto vazio. Tampouco ela estaria disposta a recebê-lo mesmo que ouvisse a verdade da boca de Sasuke.

O trio de jovens Shinobis saltou para o galho onde ele e Sakura estavam, cercando-a com cumprimentos e congratulações pela nomeação à sétima Hokage. Sasuke os contemplou ainda em silêncio, o modo como a garota a abraçou forte, toda sorrisos e lágrimas, enquanto um dos garotos também a abraçava de forma mais contida, e o terceiro tinha uma expressão de adoração e orgulho no rosto.

Viu Sakura sorrir pela primeira vez quando se percebeu cercada por eles. Ela os agradeceu efusivamente e envolveu-os nos seus braços. Por um momento, a solidão desapareceu dos olhos dela, e foi substituída por um afeto profundo.

— Obrigada, obrigada! Não chore por isso, Hikari-chan!  — ela repetia enquanto Hikari soluçava com o rosto colado ao seu peito.

Olhar aquilo fazia com que Sasuke se sentisse estranho, vazio. Naquele mundo, ele roubou coisas preciosas demais dela; tirou-lhe Naruto, a mestra que tanto adorava e talvez tenha matado o amor que ela sentia por ele. Não parecia haver espaço para ele na vida dela, não naquela realidade e não depois dos pecados imperdoáveis que ele cometeu. O coração de Sakura estava fechado para ele. Constatar isso lhe trouxe aflição e dor, e ressuscitou velhas inseguranças que ele havia enterrado havia tantos anos.

Ino e Sai também se juntaram ao trio, parabenizando Sakura, que aceitou as congratulações com mais sorrisos. Mesmo Chouji se aproximou para oferecer um tímido “parabéns”. Sasuke decidiu que já não podia mais olhar aquela cena, sentia-se um intruso ali. Por isso, afastou-se e saltou para outro galho, dando as costas ao grupo.

A neve ainda caía e o céu estava um breu. A floresta estava silenciosa à sua volta, desprovida de cores e sons naturais. Sasuke ouviu risadas e se virou um pouco a fim de descobrir o que estava havendo. Aparentemente Sakura havia se queixado do frio e um dos garotos tirou um manto extra de dentro da mochila, abrindo-o e enrolando-o ao redor dos ombros trêmulos dela. Disse algo como a sua sensei ter se tornado desleixada com a idade, o que causou mais risos e arrancou uma careta de Sakura.

— Trouxemos suprimentos conosco. Se já temos tudo pronto, podemos partir — Shikamaru disse para todos, mas esperou pela confirmação de Sakura.

Ela aquiesceu e o grupo imediatamente começou a se preparar para a viagem. Eles se agacharam quando Shikamaru desenrolou um mapa sobre o galho. Sakura indicou o caminho, traçando-o com um dedo e salientando os possíveis pontos que poderiam servir de emboscada aos homens do Chikage.

Sasuke sentiu que deveria se aproximar para que discutissem os detalhes da viagem, mas seus pés se recusaram a se mover, mantendo-o pregado e enraizado àquela árvore; era frustrante. Tinha afirmado antes que não se importava de ter a sua presença ignorada, mas isso não era totalmente verdade.

Sem que percebesse, os seus pensamentos enveredaram para a sua casa, para o seu mundo outra vez. A cada hora que passava naquele lugar, mais angustiado e desesperado para retornar ele se tornava. Pensou que tivesse esquecido o sentimento da solidão e do exílio, mas ali eles renasciam e fincavam garras gélidas no seu coração, enchendo-o de dúvidas e de medo.

Mesmo nos anos em que passou fora da vila cumprindo missões e procurando por pistas dos Ōtsutsuki, ele era confortado pelo fato de que sua esposa e sua filha estavam a salvo na vila, separados por uma distância física que não tinha efeito sobre os seus corações conectados pelo amor. Ali, entretanto, estava isolado, sentia-se abandonado pela sorte. Tinha de voltar. E depressa. De preferência, antes que fosse vencido pelo desespero que começava a sentir crescer dentro dele.

O galho tremeu sob os pés de Sasuke. Ele se virou e deparou-se com Sakura. A hostilidade remodelava a feição do seu rosto belo outra vez.

— Só porque estou permitindo que venha conosco não quer dizer que eu confie em você. Porque não confio. Nem um pouco — disse, gelo fluindo através do seu timbre. — Mas quero manter um olho em você, te observar de perto e descobrir o que realmente pretende.

— Eu já deixei as minhas intenções bastante claras — ele respondeu.

— E eu não acredito nelas — Sakura rebateu. — Não se engane. Não tome o meu consentimento por confiança. E não se iluda acreditando que escapará impune de tudo o que fez. Algum dia, farei você pagar por todos os crimes que cometeu durante a Quarta Guerra.

Sasuke não tinha o que dizer a ela, não via um meio de convencê-la de que não cometera aqueles crimes, muito embora tenha chegado perto de fazê-lo no seu mundo não fosse pela intervenção obstinada de Naruto.

— Vou te observar o tempo inteiro, lembre-se disso. E se sentir... Se eu apenas pressentir que você tem a intenção de nos trair e de se tornar uma ameaça para Konoha de novo, acabo com você — ameaçou-o, um punho se cerrando involuntariamente e uma aura perigosa emanando do seu corpo. — Guarde as minhas palavras.

E, dito isso, ela saltou do galho direto para o solo. Sasuke suspirou. Como poderia consertar as coisas naquele mundo se não havia esperança de consertar nem ao menos o seu laço com Sakura? Estava começando a se sentir desemparado e desesperançado.

Ainda assim, ele a acompanharia naquela missão e durante a Cúpula dos Kages. Estava decidido a protegê-la talvez como uma forma de compensação pelo que o Sasuke daquele mundo fizera a ela.

Não havia mais nada que pudesse fazer pela Sakura daquela realidade que trancou o seu coração tão dolorosamente ferido para ele, e alimentou apenas a mágoa e a raiva durante todos esses anos. Não era mais capaz de alcançá-la mesmo que quisesse.

Começava a compreender o plano do Chikage ao trazê-lo para aquele mundo. Queria que ele sofresse, que visse o mundo odioso que criou com a sua revolução. Um mundo construído com nada mais do que ódio estava fadado a fracassar desde o princípio. Que cruel, refletiu. Antes de tentar destruir o seu corpo, então, o Chikage destruiria a sua mente, infiltrar-se-ia no seu coração como uma escuridão perversa que o lembraria de todas as suas falhas, de todos os seus erros.

Ergueu o rosto e fitou o breu do céu através de uma nesga nas copas escuras das árvores.

— Desculpe, Naruto — sussurrou para o vazio, para ninguém, para um fantasma que não tinha certeza se iria querer ouvi-lo. — Parece que não vou conseguir consertar os danos causados nesse mundo. Nada do que eu faça será o suficiente.

Por fim, Sasuke também saltou do galho a fim de unir ao restante do grupo. Não seria uma viagem agradável, sabia disso, por isso se manteria na retaguarda, mais distante dos outros. Seria melhor assim para todos.

A solidão, uma velha conhecida, voltou para lhe fazer companhia depois de tantos anos.

 

 


Notas Finais


E como o esperado a primeira reação da Sakura com o Sasuke foi agir com muita hostilidade e muita desconfiança. Será que o Sasuke vai conseguir reverter isso com o tempo e depois de conseguir se explicar pra nossa Nanadaime Hokage?

O próximo capítulo agora só sai daqui a duas semanas. Eu nem deveria ter voltado com o capítulo 15 hoje porque terminei de digitar o capítulo 24 só ontem. Resumindo: estou quebrando o cronograma de postagens que eu mesma estipulei publicando esse capítulo. XD Mas o dezesseis só sai daqui a duas semanas mesmo. Assim, posso revisar tudo com bastante calma. Eu não quero apressar nada nessa Fanfic, absolutamente nada, nem as postagens. Peço compreensão de todos, por favor! >.>

Muito obrigada pela leitura e até o próximo capítulo!


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