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História Dark Destiny - Friendship


Escrita por: LLillith

Notas do Autor


Voltei rapidão^^ Sem muito o que dizer, só bora para o capítulo.

Capítulo 8 - Friendship


—Ayato! —Gritei cedendo ao chão quando o ar de repente faltou em meu peito.

 

O vampiro se contorcia de dor naquele chão imundo. O tiro havia acertado na parte da frente do seu ombro esquerdo —uns cinco centímetros para baixo e teria sido fatal —, com bastante sangue jorrando, o que manchava a camiseta do seu uniforme que é, em partes, aberta no seu peitoral.

Olhei em volta assustada, os caçadores haviam desaparecido enquanto eu tentava recuperar o ar. Onde eles haviam ido? Olho para aquele chão e vejo-o tingindo de sangue, com aquele fedor que parecia de carne podre, deixando-me confusa sobre o que acabara de ocorrer. Não consigo pensar nisso, pois tenho que salvar esse sanguessuga.

—Seu imbecil! —Acuso furiosa, tirando meu casaco para tentar conter o ferimento.

—Você… deveria ter… visto quando o cara… mirou em você. —Diz com dor e dificuldade.

É lógico que não percebi, porque ainda estou drogada, não estou completamente sóbria. Merda! Isso é culpa minha, se estivesse completamente ciente das minhas funções, não teria cometido o erro estúpido de ter virado as costas ao inimigo. Agora a vida de Ayato está em perigo porque esse idiota também quis bancar o herói para cima de mim.

—Você consegue andar? —Pergunto levantando seu tronco com delicadeza, pois a bala de prata ainda está dentro de sua carne.

—Ore-sama não... —Geme de dor. Posso ver em seu rosto, aquilo o enfraqueceu muito.

—Isso é culpa sua por tentar ser o herói. —Acuso novamente ainda bastante furiosa, antes de virar de costas para ele. —Joga seu braço direito envolta do meu pescoço, eu vou carregá-lo.

O ruivo não hesitou em fazer o que me mandei, visto que nem havia forças ou motivos para tal.

—Tente manter o equilíbrio nos pés, porque eu não sou tão forte para carregá-lo sem ajuda, ok? Vou levantar... —Informo levantando vagarosamente, com o vampiro apoiado quase que totalmente nas minhas costas, mas seus pés ainda me davam estabilidade. —O carro está logo ali. Se formos logo, podemos pegar Reiji antes dele sair.

Tive que andar sem pressa, senão o corpo de Ayato cederia. Apertei a trava do conversível, que estava com a capota fechada, e as luzes do farol se acenderam, indicando que estava destravado. Dei a volta para abrir a porta passageiro e colocar o Sakamaki sentado ali cuidadosamente. Voltei para o lado do motorista rapidamente e já engatei a primeira para dar partida, aproveitando que as ruas já estavam vazias aquela hora da madrugada e se pegasse alguma multa iria tudo para Hiroshi mesmo, porque agora o importante é esse idiota que me salvou.

—Fica comigo, tá Ayato? —Peço lançando um rápido olhar para ele.

Meu cérebro está muito acelerado, não sei se é pela adrenalina, o medo ou a droga que ainda corre em minhas veias. Eu poderia dar meu sangue para ajudá-lo, mas ele deve estar podre com as merdas que ingeri hoje, além de que temos é que tirar essa bala do seu ombro.

—Quem diria que você diria isso, coxas grossas. —Ele está delirando um pouco, talvez pela perda de sangue ou porque a prata causa isso nele.

—Só não dorme, ok? —Passei em mais um sinal vermelho. —Se você dormir, tem perigo de não acordar mais.

Já fui baleada algumas vezes, só de raspão, mas a que mais me recordo — e também a que tenho menos lembranças claras — foi uma das últimas vezes que agi como gângster, o tiro atravessou o meu ventre e eu caí na minha própria poça de sangue. Acordei no hospital, com dois policiais me vigiando e informando que iria para um orfanato, que era onde eu deveria estar pois ainda era menor de idade — foi também com a enfermeira do meu lado que me informou que eu tinha sofrido uma hemorragia interna e tiveram que remover o meu útero.

Estacionei em frente à mansão. Abri a capota do conversível antes de correr para o lado do passageiro e puxar Ayato para fora; desta vez passei seu braço direito sobre meus ombros e abracei seu tronco ao lado do meu, andando o mais rápido que podia para dentro daquela casa. Passando pela porta do hall de entrada, não havia sinal de ninguém, o que é surpreendente visto que há sempre um sanguessuga no meu pé.

—Reiji! Lia! —Berrei com todo o ar dos meus pulmões. —Alguém!

—Por que tá grit...? —Quem apareceu foi Subaru. Seus olhos vermelhos-carmesim arregalaram-se ao ver o nosso estado sanguíneo. —Oi! O que houve?

—Caçadores... Ayato tomou um tiro. —Tento explicar rapidamente.

—Que cheiro horrível é esse? —Indaga Kanato enojado, surgindo de um corredor paralelo às escadarias.

—O que aconteceu? —Questionou Ruki, junto com seus demais irmãos no topo das escadas. Em seu olhar azul acinzentado pude perceber um certo temor ao nos ver naquele estado.

—Subaru, me ajude a carregá-lo. —Peço ao albino que já havia se teletransportado diante de mim.

O sexto Sakamaki tomou o meu lugar, tendo muito mais força para carregar Ayato sem grande esforço.

—Vamos levá-lo à sala de estar. —Digo ao mais novo. —Onde está Lia? —A ex-caçadora com certeza teria o remédio certo ao ruivo.

—Ela e Reiji já foram. —Informa o primeiro Mukami.

—Vou levar ele direto. —Diz Subaru antes de desaparecer rapidamente dos meus olhos negros.

—Aqui, Azurah. —Azusa estende o braço para mim e ao agarro na hora, sendo teletransportada para a sala de estar.

—Então Ayato tomou um tiro? —Pergunta Laito encarando de forma enigmática o gêmeo mais velho.

—Isso é problemático... —Resmunga Shu coçando a sua nuca. 

Todos na mansão estavam reunidos na sala de estar, envolta do corpo baleado de Ayato, que havia sido depositado sobre o maior sofá daquela sala por Subaru.

—Sem o Reiji, o que vamos fazer? —Questiona Subaru em um desespero evidente.

—Ruki? —Kou esperou uma resposta de seu irmão mais velho.

—Sakamaki Ayato é um vampiro puro, esse tiro não vai matá-lo, a não ser que tivesse atingido seu coração. —Explica o Mukami analisando a situação. —A bala ainda está nele? —Pergunta para mim. Eu confirmo. —Então temos que tirá-la.

—Ninguém aqui nunca fez isso! —Exclama Yuma nervoso. Eu apenas olho o corpo do ruivo se contorcer. 

—Eu… posso tentar... —Se dispõe Azusa.

—Precisamos que tenha precisão. —Explica Ruki com um semblante tenso. —Se você mexer a bala de lugar pode matá-lo.

—Se arrancar o braço dele, não funciona? —Propõe Kanato.

—Não! —Vociferou o ruivo com dificuldade. —Prefiro morrer.

—Não seja estúpido, imbecil! —Exclama o albino impaciente.

—Yuuki! —Berro pelo mordomo, sentando-me ao lado do corpo debilitado de Ayato.

—Senhorita... —O mordomo surge com seu semblante sempre pouco expressivo.

—Traga uma daquelas poções para dor de Reiji e uma pinça. —Yuuki fez um breve aceno antes de se retirar apressadamente. —Azusa, você poderia trazer curativos para mim?

—O que pensa que vai fazer? —Pergunta Shu curioso, assim que o esverdeado assentiu para mim e foi até seu quarto.

—Alguém tem que tirar essa bala daqui. —Respondo o óbvio. —Vocês são muito estúpidos para isso, por isso eu vou fazer.

—Neko-Chan, não acho que seja...

—Não olhe para mim como se eu não soubesse o que estou fazendo. —Olho irritada para o ídolo, encarando-o duramente.

Azusa e Yuuki retornaram no mesmo instante e eu apontei para Yuma que pegasse a minha adaga de prata que estava guardada na minha mochila do colégio, enquanto eu desatava o “curativo” improvisado que fiz com meu casaco para estancar o sangue, consequentemente teria que jogar ele fora, pois estava completamente ensanguentado.

—Yuma, Subaru... Vocês são os mais fortes, então irão segurar Ayato. —Direciono a função de cada um.

—Hã!? Por que isso? —Indaga o castanho nervoso.

—Isso vai doer e não quero perder minha cabeça. —Explico olhando severamente aos dois.

Os dois vampiros se entreolham antes de Subaru segurar as pernas do terceiro irmão enquanto Yuma mantém a cabeça do ruivo abaixada e contém seu braço direito.

—Laito, segura isso para mim. —Estico a pinça para o quinto Sakamaki segurar.

—Às suas ordens, mi lady. —Pelo menos o pervertido não hesita em me obedecer.

—Azusa, depois vou precisar de ajuda com as bandagens, quando retirar a bala. —Seus olhos opacos me encaram de uma maneira distinta, mesmo assim assente. —Se vocês, sanguessugas fossem mais obedientes, eu não precisaria ficar treinam magia de ataque e poderia focar em magia de cura. —Resmungo com desgosto.

Abri o vidrinho da poção e despejei no ferimento de Ayato, o que o fez berrar de dor e se contorcer, sendo contido por Yuma e Subaru.

—Nem dói tanto assim. —Comento sem me abalar. Já vi ferimentos piores em pessoas mais fracas.

Pelo o que li, a prata pode deixar os vampiros doentes, por isso o ferimento deve ser bem tratado, pois é como se a parada tornassem eles mais “humanos”, não se recuperando tão rápido. Porém Ayato ficará bem, tem eu, uma especialista em ferimentos, e é lua cheia — ele tem sorte.

Puxo a adaga e rasgo onde está o ferimento com bastante precisão para não mover ou afundar a bala, o que o faz gemer de dor e tentar se mover para longe, sendo novamente contido. Entrego a adaga para Laito e pego a pinça no lugar, com meus dedos totalmente tingidos de escarlate, entrando em sua carne para retirar a bala, o que faz o ruivo querer lutar contra aquilo.

—Sossega, Ayato! —Exclama o albino revoltado. —Ou eu vou dar um soco pra te apagar.

Não iria adiantar muito, pois o terceiro Sakamaki estava reagindo por puro instinto, pois aos poucos sua resistência se esvai e sei que ele irá desmaiar pela dor e também pela perda de sangue. Felizmente a bala não se partiu e consegui tirar-la intacta de seu ombro. Azusa envolveu perfeitamente o peito do ruivo, como eu esperava, enfaixando-o enquanto estava desacordado.

—Ufa! —Suspiro cansada. —Quem vai levar Ayato pro quarto dele? —Pergunto aos vampiros que estavam inteiramente focados em mim.

—Eu levo. —Subaru se propõe, fazendo o quinto Sakamaki dar aquela sua risada típica, sem que eu entenda o motivo. —E você vai junto, hentai!

Desta forma, Laito e Subaru carregaram Ayato até o quarto dele sem muitas dificuldades.

—Posso saber agora onde estavam e como isso aconteceu? —A voz autoritária de Ruki é a que ressoa após um curto silêncio no recinto.

—Eu e Ayato estávamos resolvendo nosso problema. —Respondo rapidamente. Com o ruivo desacordado, será muito mais fácil para mim arrumar uma mentira perfeita e depois combinar com ele.

—Problema? —Kanato parece confuso, com os braços levemente tensos envolta de Teddy.

—Acho que todos aqui sabem que não nos suportamos. —Esclareço um pouco impaciente. 

Pretendia secar a gota de suor que escorria pela lateral da minha cabeça, mas ao aproximar meu punho do meu rosto, quase o tingi de escarlate, além de que esse cheiro de sangue vampírico é extremamente enjoativo. 

—Planejamos apenas tentar uma nova forma de abordagem. —Finalizo afastando as minhas mãos sujas do meu rosto.

—Então vocês... —Kou olhou para mim de uma maneira estranha o que me fez rir.

—Não estou interessada no coisinha pequeno dele, saímos apenas para beber. —Digo ainda achando muita graça naquela acusação. Ayato é garoto demais para mim.

—E como os caçadores encontraram os dois? —Ainda quis saber o primeiro Mukami.

—Quando estávamos voltando, eles reconheceram Ayato e nos cercaram. 

—Mas a Igreja não está atrás dela? —Questiona Shu confuso, encarando-me de cima a baixo, antes de retornar para Ruki.

—É um pouco complicado, porque o cheiro dela some e volta o tempo todo. —Explica o impuro também me olhando de cima a baixo, sentada no chão. —Talvez seja a sua magia se alterando.

—Calma aí! —Exclama Yuma confuso. —Mas e daí? Como se livraram dos caçadores?

Meus olhos negros se arregalam e minha mente começa a vagar em branco, pois lembro-me de Ayato me empurrar e tomar um tiro após eu matar dois caçadores, mas somente isso me veem em mente, além do chão com poças de sangue.

—Azurah… não se, lembra? —Pergunta Azusa percebendo o meu olhar estático.

Balanço a cabeça em negação.

—Ótimo! Mattaku! —Ruki passa a mão por seus fios escuros, bastante tenso.

—A Igreja será um problema maior agora, não? —Questiona Kou ao irmão mais velho. —Tipo, eles não hesitaram em atirar em Ayato-kun, mesmo sabendo quem ele era.

—Informarei Karlheinz-sama. —Ruki assume a responsabilidade. —Sakamaki Shu, você consegue entrar em contato com a caçadora e seu irmão quando possível? —O loiro mais velho apenas balança a cabeça, parecendo já muito cansado. —Quem ficará encarregado de supervisionar o estado de Sakamaki Ayato?

—Eu. —Me disponho ficando de pé. Minha cabeça está girando um pouco, acho que o efeito está passando, também depois de tanta adrenalina. —E Yuuki irá me ajudar.

Ruki concorda. É melhor que eu fique com o ruivo, pois não posso correr o risco dele abrir a boca sobre a minha escapada de hoje.

—Eu vou tomar banho porque ficar suja com o sangue de vocês é nojento. —Comento antes de tentar sair dali o mais rápido que minha mente pouco sóbria podia.

Isso é acontece por ter transado com outro cara? Um humano? Isso é karma, Azurah. Minha vida já é fodida mesmo, não tem como piorar.

 

—//—

 

Um gemido, ele deve estar acordando. Com o cigarro pressionado contra meus lábios semiabertos, a fumaça tóxica se espalhava por aquele quarto de tons avermelhados, comigo esticada no sofá e dedicada a leitura de meus livros de magia e história celestial. Viro meu rosto em sua direção, deitado na sua donzela de ferro, a qual está com a tampa aberta; seus olhos verdes piscam repetidas vezes, tentando assimilar onde estava e ainda parecia um pouco atordoado sentindo uma leve pressão onde estava o ferimento.

—Parece que o herói acordou. —Digo com um sorriso zombeteiro.

Ayato passa a me encarar, de uma forma confusa e enigmática, parecendo não entender bem o que estava acontecendo.

—Você...

—Sim, eu tirei a bala de dentro de você. —Respondo sem nem mesmo ouvir sua pergunta. —Você tomou o tiro por mim, então o mínimo que eu poderia fazer era tirá-la de lá.

—Os caras sabem? 

—Eles sabem que você tomou um tiro de caçador, não sabem o porquê. —Explico fechando o meu livro, permanecendo com as pernas esticadas em seu sofá e apagando o cigarro. —Esse será o nosso segredinho, Ayato-kun. —Lanço uma piscadela para ele.

—Eles acreditaram? —Pareceu descentre, antes de abrir um sorriso maroto. —Claro, eles acreditam em tudo o que você fala.

—Mais o menos isso. —Digo fazendo falsa modéstia. —O ponto é, nós saímos mais cedo do colégio para bebermos e resolver o nosso problema.

—Problema? —Reviro os olhos com tamanha estupidez.

—Dã!? A gente se odeia! —Exclamo como se fosse óbvio, o que faz o ruivo balançar a cabeça em concordância. —Acho que não será mais assim.

—Por que eu te salvei? —Indaga com uma das sobrancelhas arqueada, além de uma expressão vaidosa.

—Eu também te salvei, então estamos quites. —Esclareço com convicção. —Não sei porque não nos damos bem. —Confesso analisando-o.

—Porque você é uma puta arrogante? —Deduz com um ar de superioridade.

—Porque você é um falso rebelde? —Acompanho em suas acusações. —Além de que é arrogante e se acha o dono da razão.

—Você também não se acha a dona da razão? —Acabo rindo com o seu ponto.

—Bem, eu também me acho um pouco demais... Não, na verdade, eu me tenho certeza. —O Sakamaki também ri da minha ironia. —Acho que você me odeia porque eu também sempre lhe derroto.

—Tá brincando, não? —Indaga incrédulo. —Você só deu sorte! —Reviro os olhos com sua acusação.

—Claro! Por que não tentamos um novo jogo de bilhar e eu te mostro a “sorte”. —Digo com sarcasmo o que o faz rir novamente.

—Da próxima vez, ore-sama irá lhe surpreender. —Responde com convicção.

De repente, um silêncio paira enquanto o ruivo resmungava exclamações de dor para levantar-se, já parecendo bem mais recuperado.

—Por que fez aquilo, Ayato-kun? —Pergunto curiosa, fazendo-o me encarrar confuso. —Por que pulou na frente da bala?

—Sei lá, meu corpo agiu sem pensar. —Ele dá de ombros, não parecendo ser importante. —Mas se eu soubesse que doía tanto, não teria feito. —Reclama jogando-se no outro sofá do seu quarto.

—Você é realmente um cabeça-de-vento. —Digo rindo da sua resposta. —Mas obrigada. 

—Você poderia me agradecer de outro jeito, né coxas grossas? —Propõe com um tom insinuativo.

Reviro os olhos.

—Laito disse que você poderia acordar com fome. —Digo sem muita vontade.

Seus olhos, de um verde brilhante, arregalam-se, verdadeiramente incrédulos.

—Você vai me deixar chupar o seu sangue?

—Eu tenho escolha? —Indago fingindo uma feição de dor. —Isso vai ajudar no ferimento que, de certa forma, eu causei.

Retiro os meus pés do sofá, dando espaço para que Ayato senta-se do meu lado, encarando-me de uma maneira diferente. Preto no verde, nos encarávamos mutualmente, sem nenhuma das partes entender ao certo o que estava acontecendo ou como as coisas chegaram em um ponto tão extremo entre nós. Tentando evitar o desconforto, estico meu braço para ele; o ruivo não hesitou em apanha-lo e direcionar até seus lábios, onde pregou suas presas afiadas em meu pulso com uma fome imensa, o que me faz gemer de dor. Não era a primeira vez que Ayato me mordia, já o tinha feito implorar por mim juntamente com Laito e Kou, contudo eram outras circunstâncias completamente diferentes — naquela época, eu queria apenas me divertir, desta vez era algo sério, eu queria ajudá-lo.

No entanto, quando o Sakamaki pensou em me morder novamente, fui mais rápida e o parei.

—Pros outros caras você não hesita em dar quanto eles querem. —Provoca-me.

—Acabamos de começar algo, Ayato-kun. Então não força a barra. —Ao dizer aquilo, seus olhos de um insinuativo verde passam a me olhar de maneira confusa.

—O que você quer dizer com isso? —Antes que eu pudesse responde-lo, alguém bateu na porta.

—Pode entrar, Yuuki. —Desta forma, o mordomo abriu a porta do quarto do terceiro Sakamaki, adentrando com uma bandeja cheia de comida e algumas bandagens.

—Tá brincando!? —Grita quase como uma criança em um parque de diversões. —Takoyaki! —Comemora assim que o mordomo deposita uma bandeja cheia deles.

—Kanato e Shu me disseram que são seus favoritos. —Comento assim que o ruivo já partiu para atacar esses bolinhos.

Com a boca cheia, ele me olha incrédulo, parecendo surpreso com o que eu tinha falado. Será que ele desconfia do fato dos irmãos dele terem se preocupado com ele? Meio que todo mundo pirou ao vê-lo baleado, até mesmo eu, porque foi algo totalmente inesperado.

—Quer um? —Oferece a mim sem graça, após o mordomo se retirar.

Não pude deixar de ser surpreendida desta vez.

—Não posso comer frutos do mar.  —Respondo vendo a bolinha mole e frita em um palitinho de madeira.

—Bem, sobra mais. —Conclui tomando a bandeja para si, como se temesse que alguém tomasse seus preciosos takoyakis.

Acabo rindo da sua reação.

—Não se preocupe, não pretendo rouba-los. —Esclareço, mesmo que já tenha dito que não posso comê-los. —Agora eu vou trocar as bandagens, porque você é bem capaz de não conseguir fazer isso.

Ele resmunga algo incompreensível por mim, provavelmente me xingando, enquanto começo a desfazer a bandagem anteriormente feita por Azusa, no entanto tenho uma surpresa ao verificar que o ferimento da bala estava completamente curado, com apenas uma singela cicatriz como lembrança. Mesmo que Ayato fosse um vampiro puro, as balas de prata dos caçadores são feitas para causar um estrago grande, não parece serem curados em menos de um dia, o que quer dizer que...

—Parece que o seu sangue é mágico mesmo. —Comenta também encarando a cicatriz de seu ombro.

—Realmente. —É a única coisa que consigo dizer enquanto afastou-me do ruivo, um pouco assustada.

São tantos poderes e a cada dia que passa descubro mais, o que me deixa hesitante. Minha mãe, a rainha Selene, me deu a bênção de toda uma geração de celestiais para que um dia, Ierí — o reino dos seres de luz — pudesse ser reconstruída, para que novos celestiais pudessem existir e abençoar as almas.

—Coxas grossas, tudo bem? —Pergunta Ayato percebendo meu olhar perdido.

—Sim, sim. Só tenho outras coisas para fazer e vejo que você ficará bem, então não precisa de mim. —Respondo afastando-me dos pensamentos problemáticos.

—A não ser que você tiver mais sangue para mim...

—Pode tirar o cavalinho da chuva, garoto pequeno. —Corto-o. —Hoje foi uma exceção, por isso se quiser bancar o herói novamente, lembre-se que não terá mais meu sangue milagroso para cura-lo.

Ele ri, parecendo não acreditar muito naquilo. Esses sanguessugas estão muito confiantes, se um deles me irritar, não hesitarei em dar uma bela lição com meus poderes celestes.

—Promete guardar segredo sobre como e com quem passamos a madrugada? —O vampiro concorda. —Então... —Cuspo na minha mão antes de estendê-la.

—Que porra é essa? —Indaga enojado.

—Estamos fazendo um pacto. —Digo o óbvio. —Agora faça você também.

Hesitante, Ayato cospe na sua palma a aperta a minha com força, sinalizando o nosso acordo.

—Parece que uma amizade começa aqui. —Seus olhos verdes arregalam-se para me encarar.

—Amizade? —Aquilo não parece ser algo que ele entenda. —Não faço amizade com as iscas.

Reviro os olhos, encerrando nosso contato.

—Você sabe que sou muito mais que uma isca. —Dou uma piscadela divertida. —Além do mais, sou muito melhor como amiga do que como amante.

Ao dizer aquilo, deixo o seu quarto, com Ayato encarando estranhamente a sua mão e também a mim. Caminho em direção à cozinha, pois pretendo almoçar com Yuuki, além de que tenho que ir atrás de Ruki ou Shu para saber sobre Lia e Reiji, ou talvez eu ligue para a ruiva — sim, esta é a melhor opção. Fiquei pensando na minha conversa civilizada com Ayato, porque quem diria que talvez pudéssemos, um dia, começar uma possível amizade, até acho que o ruivo pode ser divertido, quando ele quer.

Chegando à cozinha, encontro o mordomo concluindo o almoço, deixando-me com água na boca ao sentir o cheiro da refeição, além do meu estômago se contorcer de fome, pois estou sem comer nada desde o jantar de ontem — estar chapada me deixou satisfeita a maior parte de tempo. Yuuki me perguntou sobre o terceiro Sakamaki e expôs que espera que as coisas não sejam mais tão conflituosas entre nós.

—Yuuki, como sempre você é bom demais. —Comento assim que ele entrega um pratão para mim.

—A senhorita sabe que também é boa. —Diz com um sorriso delicado.

—Talvez... Ou talvez eu seja mole demais. —Digo provando uma garfada grande. —Esse rosbife está perfeito! —Exclamo maravilhada. —E o purê também.

—Agradeço. —Faz uma breve reverência. —A senhorita foi uma heroína, salvando Ayato-sama.

—Era o mínimo que podia fazer. —Dou de ombros, não querendo demonstrar uma pontada de culpa, afinal ele tomou o tiro por mim.

—A senhorita deveria confiar mais em si mesma. —Com a boca cheia, encaro Yuuki confusa. —Não conheço alguém mais digno. 

Minhas bochechas queimam com seu elogio, o qual parece tão sincero.

—Por que acha isso? —Pergunto curiosa, um pouco tímida.

—Mesmo com tudo o que aconteceu, a senhorita mostrou-se alguém de coração e mente aberta. —A delicadeza de suas palavras me toca de uma maneira indescritível. —Perdoou Kanato e Laito-sama, demonstrou preocupação com todos eles e até mesmo cuidou de Ayato-sama. Para mim, isto é a atitude de alguém nobre.

—Você só vê as coisas boas... —Digo sem encara-lo, pois estou constrangida demais. Sou tão fraca assim? Tão boba... Por isso que as pessoas sempre passam a perna em mim.

—Talvez seja a senhorita que só veja as coisas ruins. —Me contradiz, fazendo meus olhos ébanos arregalarem-se. —É como a história do copo meio-cheio ou meio-vazio... Só precisa saber a maneira como se enxerga a situação.

Talvez Yuuki tenha razão, talvez eu seja pessimista demais, porém, como aprendi na minha trajetória, se eu acreditar muito, vou acabar me ferrando e, como sempre,  ficando sozinha, largada e abandonada. Yuuki não sabe as coisas que tive que passar, os esporos que tive que aguentar nessa vida, tudo isso sozinha, então não posso me culpar por esperar o pior das pessoas, mesmo que, vez ou outra, acabo me iludindo.

—Yuuki, eu e Teddy estamos com fome. —Anuncia Kanato surgindo aleatoriamente, despertando-me dos meus devaneios.

—Kanato-sama, há algo que desejam? —Pergunta Yuuki com sua classe e elegância. Acho que é a primeira vê que vejo um deles se referindo a ele pelo nome.

—Algo doce. —Responde olhando para a pelúcia. 

Yuuki assente e começa a preparar as coisas para um bolo de chocolate. 

—Pudim não seria melhor? —Soei de uma maneira que surpreendeu os dois presentes. —É o prato favorito de Kanato-kun, não é?

Seus olhos de um roxo profundo encaram-me de uma maneira enigmática, mas posso dizer que ele está realmente surpreso que eu saiba aquilo.

—Posso fazer um pudim de chocolate... Poderia ser Kanato-sama? —Indaga Yuuki e o roxeado concorda com a ideia, parecendo encantado.

—Como você sabe? —Perguntou o menor com a cabeça pendendo para a esquerda, encarando-me de uma maneira curiosa.

—Você disse alguma vez quando conversamos. —Respondo sem dar muita importância. —Não precisam repetir as coisas para mim para que me lembre.

—Só Yui-san se lembrava disso. —Comenta emocionado abraçado à Teddy.

—Seus irmãos devem saber isso também. —Levanto-me da mesa da cozinha e caminho para lavar meu prato.

Não foi nada demais, foi? Saber o prato favorito de alguém é algo simples, eu sei de todos eles basicamente, com apenas algumas informações que eles me jogam, não é tão difícil, principalmente quando vivemos tanto tempo juntos. 

Enquanto ensaboava meu prato e os talhares, senti meu corpo ser abraçado por trás, o que causou uma total reação de espanto minha, pois congelei na hora. Lançando um olhar para trás, pude ver Teddy sentado na bancada ao passo que seu dono envolvia carinhosamente a minha cintura; por ser dois centímetros mais baixo do que eu apenas, Kanato apoia seu queixo no meu ombro, com uma expressão serena em seu rosto.

—Kanato-kun... —Chamo-o, ele parece perdido em alguma memória distante com seus olhos roxos focados em nada. Além disso, não gosto de ser abraçada, ainda mais por trás, geralmente gosto quando eu começo esse tipo de contato, permitindo assim que a outra pessoa toque em mim.

—Você gosta de mim, né Azurah-san? —Sua pergunta, tão aleatória, faz meu coração bater acelerado.

Eu gosto? Kanato é muito solitário, tem medo de ser abandonado por todos (algo que eu entendo) e não parece receber a atenção que ele deseja, que é basicamente amor e carinho que faltou na sua criação por Cordélia; por isso não sei como responder, porque não quero iludir Kanato e decepciona-los — coisa que certamente irei.

—Por que somos amigos, né? —Ele pergunta novamente, percebendo o meu silêncio constrangedor. —Então você vai ficar, né? —A última soou mais fraca, com mais dúvida e medo.

Fechei a torneira e, com as mãos ainda molhadas, toquei a sua sob a minha barriga, fazendo um carinho gentil, o que com certeza o fez sorrir sobre meus ombros. Gostaria de dizer para ele não se importar comigo e que irei decepciona-lo, mas naquele momento não consegui.

Yuuki, que não estava tão longe de nós e por isso provavelmente nos ouviu, ligou o liquidificar e todo o clima criado pela cena se desfez. Kanato separou-se um pouco de mim, com um sorriso quebrado, e voltou a abraçar Teddy, ao passo que eu permaneço perdida em minhas questões. Terminei de lavar a louça suja e me despedi de Kanato e Yuuki, pensando em ir tomar um ar lá fora no jardim, pegando o sol da tarde.

—Azurah-san... —O roxeado me detém, antes que eu vá, segurando o meu pulso esquerdo. —Deveria esconder essa marca de mordida no seu braço.

Penso que ele se refere a mordida de Ayato, porém quando acompanho seu olhar violeta até meu antebraço, percebo um pequeno roxo ali — Hiroshi.

—Foi um humano que fez isso? —Pergunta com um olhar estático e imutável, enquanto puxo a manga da minha camisa para baixo.

—Uma brincadeirinha estúpida. —Minto descaradamente.

E se ele surtar? E se contar para um deles? Acabou a minha liberdade.

—Por que ainda está com os humanos? 

—Por que a pergunta? —Questiono confusa. 

—Se você não escolher um dos meus irmãos, então quer dizer que você vai embora. —Já não entendo mais a reação de Kanato. Ele está com tanto medo assim que eu vá embora?

—Kanato-kun, eu não planejo fazer escolha nenhuma. —Explico ao menor. —Meu caso com seus irmãos é complicado.

—Shu é seu primo, mas qual o problema com Subaru? —Ele está demonstrando mais curiosidade do que o normal.

—Achei que não gostasse de seus irmãos. —Comento tentando desviar da questão.

—Eu não gosto. —Afirma com muita convicção. —Mas você gosta e não só dos dois.

—É complicado, Kanato-kun. —Tento dizer a fim de me afastar dessas questões. Por que ele quer saber como me sinto, de quem eu gosto...

—Teddy acha que você está confusa, assim como Yui-san esteve um dia. —Suas palavras me surpreendem, pois ele nunca citou tanto o nome da falecida noiva quanto hoje.

Yui... Mesmo depois dos longos sermões que ela me deu, do que ela já me fez passar, a loira nunca me disse como foi sua convivência na mansão  — acho que pior do que a minha experiência, por mais que a ache mais agradável que eu —, nem quem era seu “Adam”, se ela amou um ou mais deles. Kanato teve sentimentos por ela e Yuma também, ambos ainda tem Yui em seus corações, até mesmo Subaru e Laito já demonstraram que tinham interesse nela, mas é só isso? Não há nada mais?

—Eu quero o seu bem, Kanato-kun. E isso não irá mudar se eu escolher um sanguessuga ou um humano. —Esclareço a fim de tranquiliza-lo, pois não pretendo fazer escolha nenhuma.

Kanato sorri docemente para mim antes de retornar ao mordomo que já despejava  o pudim em uma forma. 

 

Eu tenho que fazer uma escolha? Se for, eu tenho uma já preparada: eu escolho a mim mesma — sempre escolha a si mesma, é a melhor forma de não se decepcionar.


Notas Finais


Sei que estou “devendo” no quesito romance, mas trarei daqui dois capítulos. Azurah ainda está muito confusa pelo que sente com cada um e isso será algo complicado em breve.

Acho que é só. Bjus vampirinhos amigos e até o próximo ^^


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