-Você sente falta do Pietro? – Jem me pergunta assim que me alcança. Sua expressão era de preocupação; ele sabia de toda a história.
Suspiro e olho as árvores da floresta que cercavam a casa de Andrew.
-Só um pouco. – admito baixinho. – Ainda é difícil ouvir sobre ele, mas por um lado até acho que foi bom, sabe? Se Pietro permanecesse vivo, teria que ficar se escondendo. Duvido que ele teria o tempo necessário para treinar seus poderes e descobrir todas suas habilidades, e eu não teria como o proteger. Afinal, demônios maiores do que eu o queriam.
Logo sinto que a pequena mão de Jem segura a minha, e eu abaixo o olhar para encará-lo.
-Sinto muito, Ann.
-Está tudo bem, Jem. Agora nós temos que vigiar o Ashton. Não posso permitir que a mesma coisa aconteça com ele.
-Você gosta do garoto estranho?
Rio de sua pergunta e de sua inocência.
-Não, Jem. Só sei que devo treiná-lo, para que quando for necessário ele saiba se defender.
O vento fica mais intenso de repente, e eu olho ao redor.
-Vamos voltar, não é seguro falar desse assunto agora. – aviso o pequeno e começo a empurrá-lo em direção da cabana. – Há ouvidos por toda a parte.
Ele assente e começa a caminhar normalmente, mas eu sinto uma dor forte na cabeça. Tão forte que me forço a parar de andar e acabo caindo de joelhos.
-Ann?
Não consigo falar nada para Jem. Aos poucos sinto que vou perdendo a consciência, e em instantes tudo fica preto.
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Abro os olhos, mas eu não estava mais na floresta, e sim em um lugar totalmente escuro. Não conseguia enxergar nada, era como se eu estivesse cega. De repente, algo à minha frente me chama a atenção: era uma pequena luz, levemente vermelha. Não pensei duas vezes: fui em sua direção.
Ao chegar mais perto, percebo que era uma chama flutuante. Eu estava a uma curta distância, então decido tocá-la. De repente, uma corrente fria me envolveu, forçando-me a encolher um pouco. Não demorei muito para me dar conta do que aquilo se tratava: alguém queria falar comigo, mas não qualquer um. Um demônio de alta hierarquia.
-Annabelle. – uma voz ecoou naquele vazio, e de nada adiantava eu olhar para os lados, pois a escuridão total havia voltado.
Aquela voz... Eu conhecia aquela voz, mas achei que nunca mais iria escutá-la. Inspirei fundo e tentei manter a compostura.
-O que você quer? – pergunto para a escuridão, sabendo que poderia ser ouvida. – Como pode estar se comunicando?
-Achei que fosse estar com saudades. – sussurrou.
Tenciono o maxilar e fecho o punho. A raiva se acumulava dentro de mim, mas consegui mantê-la controlada.
-Já sei da existência do Nephilim. – a voz continua. – Bem em tempo, na verdade. Pois eu estou voltando.
Arregalo os olhos ao ouvir aquilo, e recuo um passo.
-Não pode estar falando sério.
Em instantes, a chama vermelha volta a aparecer e, atrás de si, um homem alto e de postura desafiadora se revela.
-Estou falando muito sério, Annabelle. – ele se aproxima de mim. – É bom você e sua pequena trupe estarem prontos para quando eu estiver forte o suficiente para atuar fora de convocações mentais.
Recuo mais um passo, sem desviar os olhos do homem.
-Eu quero aquele Nephilim. – ele continua. – O Purgatório logo será aberto, e ninguém poderá impedir a minha libertação, ou a dos outros.
Eu não podia acreditar em nenhuma palavra que ele estava dizendo, mas no fundo eu sabia que não era um blefe nem nada do tipo.
-Não sou apenas eu que sei do jovem Nephilim. Mas eu garanto a você que ele será meu. – o homem sussurrou próximo ao meu ouvido. – E vários demônios querem você, Annabelle. Vários querem te torturar e fazer o que for possível com você. E eu irei adorar observar.
Muitos da minha espécie me odiavam, diziam que eu era uma abominação. Eu já havia matado e mandado de volta para o Inferno diversos demônios, tanto por terem apenas me irritado quanto por terem tentado algo contra mim ou contr quem estava comigo, e isso me deixou na lista negra deles.
-Mais uma coisa. – meu pai continua. – Cedo ou tarde, seu verdadeiro eu voltará à tona.
A dor na cabeça volta. Fecho os olhos com força e, quando os abro novamente, me deparo com um Ashton Irwin cheio de preocupação.
-Ela acordou. – ele informa e se afasta um pouco. Enxergo atrás dele Andrew e Calum, ambos aflitos.
Eu estava de volta, mas não na floresta, e sim em um dos sofás da cabana. Me ergo com cautela e logo estou de pé, respirando rapidamente.
-O que aconteceu? – Calum pergunta após alguns instantes.
-Ann, você está bem?
Viro em direção da voz de Jem, que estava ao lado de Michael.
-Estou, pequeno. Foi apenas uma tontura, seguida de um desmaio.
Olho para Andrew de maneira significativa, e ele parece entender. Nós dois saímos da sala e vamos para a cozinha, para ter um pouco mais de privacidade.
-Quem te convocou? – ele pergunta assim que fecha a porta.
-Ele está voltando. – digo antes mesmo de ele terminar a pergunta. – E já sabe do Ashton.
-Quem, Annabelle?
-Meu pai, Andrew.
O homem grisalho na minha frente arregalou os olhos, totalmente surpreso.
-E tem mais: ele me disse que o Purgatório será aberto.
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