Eu não queria sair de meu quarto, mas sabe-se lá que horrores poderiam acontecer caso eu não saísse. Qual é minha utilidade nessas reuniões? Sempre mantenho meus pensamentos tão dispersos e vagando por aí que às vezes até me esqueço de que ainda estou viva e que não posso simplesmente encarar a parede a minha frente com cara de peixe morto para sempre. Por isso me levanto e desço as escadas cheia de desanimo.
O hall de entrada como sempre se encontra mal iluminado e os retratos das paredes como sempre me encaram, guardei para mim a vontade de mostrar meu dedo do meio para eles e prossegui. Fui para o cômodo em que havia sido designada a ir e já encontrei a longa mesa quase totalmente ocupada com exceção de três lugares: um ao lado que Draco que eu sabia que pertencia a mim e outros dois que pertenciam a provavelmente Yaxley e Snape que a meu ver eram os únicos não presentes. Vários olhares caíram sobre mim inclusive o de Voldemort que se sentava defronte à lareira, mas este não se deu ao trabalho de nem ao menos acenar com a cabeça, o que já era de se esperar.
Andei de cabeça baixa até meu lugar encarando as minhas sapatilhas pretas. Ao me sentar tentei sorrir para Draco como forma de confraternização, mas de nada adiantou. Seus olhos cinza me observavam de forma tão encabulada que tive vontade de abraça-lo, mas demonstrações de carinho não seriam adequadas para o momento então apenas agarrei sua mão por baixo da mesa o mais forte que pude.
—Yaxley, Snape – falou uma voz aguda e clara de Voldemort. Os dois comensais haviam acabado de chegar – Vocês estão muito... quase atrasados.
Os dois homens tomaram seus lugares definidos. A maioria dos olhares na mesa seguiram Snape, e foi com ele que Voldemort falou primeiro.
—E então?
—Milorde, a Ordem da Fênix pretende tirar Harry Potter de seu atual lugar de segurança sábado, ao anoitecer.
Eu que até o momento estava mais preocupada tentando arrancar uma cutícula da unha de Draco levantei o olhar e comecei a prestar atenção na conversa. Alguns enrijeceram, outros ficaram inquietos, todos olhando para Snape e Voldemort.
—Sábado,... ao anoitecer. – repetiu Voldemort. Seus olhos vermelhos fitando os pretos de Snape com tanta intensidade que alguns dos observadores desviaram o olhar.
— Milorde – Yaxley continuou – Dawlish acredita que um esquadrão inteiro de Aurores vai ser usado para transferir o garoto.
Voldemort levantou uma grande mão branca e Yaxley parou de uma vez, olhando amargamente à medida que Voldemort se virou para Snape.
—Onde eles vão esconder o garoto em seguida?
—Na casa de um dos participantes da Ordem – disse Snape.
Eles por acaso tiram essas informações do rabo? Que pensamento deselegante... Mas eu realmente não consigo entender como que essas informações chegam a suas mãos. O que importa é que Harry está seguro... Assim espero.
— Eu mesmo vou atrás do garoto. Já houve muitos erros no que diz respeito a Harry Potter, alguns deles foram meus próprios. O fato de Potter viver se deve mais à erros meus do que aos seus triunfos.
Todo o grupo olhou para Voldemort de maneira apreensiva, já eu procurava o máximo possível evitar o contato visual.
—Agora, eu posso precisar, por exemplo, emprestar uma varinha de um de vocês antes de ir matar Potter. – Continuou Voldemort. Dessa vez todos desviaram o olhar. – Sem voluntários? Vamos ver... Lúcio, eu não vejo razão para você ainda ter uma varinha.
Draco apertou minha mão com um pouco mais de força. Tenho certeza de que o gesto foi por conta do susto tomado ao ouvir o nome do pai ser mencionado.
—Milorde?
—Sua varinha, Lúcio. Eu estou requisitando a sua varinha.
— Eu...
Lucio olhou para o lado provavelmente em busca de um olhar reconfortante de Narcisa, mas está continuava imóvel. A cena me entristeceu. Ver a família que, apesar de um pouco odiada por alheios, me acolheu e me amou, tremendo de desespero me deixou desesperada também. Eu devia minha vida aos três.
—Do que ela é feita?
— Ulmeiro, milorde – sussurrou Lucio.
—E o núcleo?
—Dragão, cordas de coração de dragão.
—Bom – disse Voldemort. Ele sacou sua própria varinha e comparou os comprimentos. – Eu lhe dei sua liberdade, Lúcio, isso não é o suficiente para você? Mas... eu tenho notado que você e a sua família parecem menos que felizes. O que há na minha presença em sua casa que o incomoda tanto, Lúcio?
—Nada, milorde.
—Tais mentiras Lúcio...
Por uma fração de segundos achei que seria Nagini falando, mas Voldemort prosseguiu com sua fala.
—Porquê os Malfoy parecem tão infelizes com seu bando? Não é o meu retorno, minha ascensão ao poder, o que eles sempre proclamaram desejar por tantos anos?
—Mas é claro Milorde – disse Lúcio. Sua mão tremia enquanto ele secava o suor de seu lábio superior. – Nós desejávamos isso - nós ainda desejamos!
—Milorde, – interveio Belatriz, que se sentava ao lado da irmã. – É uma honra tê-lo aqui, na casa de nossa família. Não há honra maior que essa.
—Não há honra maior... Mesmo comparado com o feliz evento que eu fiquei sabendo que aconteceu com a sua família, essa semana?
Belatriz o fitou.
—Eu não sei do que você está falando, Milorde.
—Eu estou falando da sua sobrinha, Belatriz. E de vocês também, Lúcio e Narcisa. Ela acabou de se casar com o lobisomem, Remus Lupin, vocês devem estar tão orgulhosos.
Houve uma erupção de gargalhadas desrespeitosas ao redor da mesa, muitos se curvaram para frente, para uma troca de olhares contentes. Bando de desgraçados. Minha vontade era de gritar para que calassem a boca ou até mesmo de arrastar Draco pelos cabelos para fora na sala, mas eu não era louca o suficiente para fazer ambas as coisas.
- E o que você diz Draco? – perguntou Voldemort. Apesar de sua voz ser baixa, ela passou claramente por todo o barulho e excitamento dos presentes – Você vai ser babá dos filhotinhos?
Novamente as risadas. Apertei a mão de Draco com mais força. Essa estava sendo a nossa forma de comunicação mais eficiente no momento. Eu queria que ele sentisse meu apoio e pelo visto sentiu, pois retribuiu o gesto.
—Já basta – disse Voldemort, acariciando Nagini, fora ela que pedira para que seu dono cessasse com os risos. – Nós vamos cortar fora a praga que nos infesta até que somente os Sangue-puro restarão...
Voldemort levantou a varinha de Lúcio Malfoy, apontou para o teto. Olhei para cima e vi que lá pairava um corpo. Sério que você não percebeu isso Lucy? A figura voltou à vida com um grunhido e começou a lutar contra barreiras invisíveis. Não demorou muito para que eu identificasse quem era: Charity Burbage. Ela lecionava em Hogwarts aulas sobre a vida dos trouxas, mas nem eu nem Draco fazíamos a aula, pois eu pessoalmente já sabia tudo o que deveria saber sobre eles por ter passado todo aquele tempo no orfanato. E apesar de tudo eu aprendi que pessoas más existem em todos os lugares, seja no mundo dos trouxas ou dos bruxos.
A professora fitava Snape e gritava desesperada. Draco fechou os olhos com força e eu fiz o mesmo em seguida, pois ambos sabíamos o que aguardava a mulher.
— Avada Kedavra!
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