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História De calor e um copo de café - Sentakushi


Escrita por: bleedingrainbow

Capítulo 11 - Sentakushi


Sentir Midoriya respirando suave enquanto dormia contra seu corpo em seu futon era uma sensação tão incrível que Todoroki sentia como se estivesse fazendo algo errado. Como quando era adolescente e acordava cedo demais pra ir olhar o nascer do sol porque nunca podia gastar seu tempo assistindo quando ele se punha. Quando brincava de faz-de-conta em sua mente quando era criança, porque todos seus brinquedos eram treinamentos mentais ou físicos e nunca meros entretenimentos tolos. Tudo para criar um homem com inúmeros talentos, que falasse várias línguas, que soubesse diversas artes marciais, que pudesse cozinhar, construir, montar e calcular. Que dominasse valsa mas nunca tivesse dançado por conta própria, que conhecesse literatura mas jamais tivesse pegado um livro para ler por prazer, que tocasse instrumentos mas não balançasse o corpo ao som da música.

Todoroki poderia trabalhar em qualquer lugar, mas não queria nada daquilo que se valia das habilidades que lhe deram para construir o filho troféu perfeito. Não queria nenhum emprego de alguém que estava puxando o saco de seu pai.

Corpo de atleta ou lutador, mente enciclopédica e no coração um deserto onde nada crescera por toda sua vida. Agora, chovia suave em terreno árido. Meia-noite e Midoriya babava sobre seu peito, profundamente adormecido, e Todoroki deu um sorriso fraco para si, sem se importar. Estava feliz de tê-lo deixado exausto daquele jeito, afinal, foi por causa dos orgasmos que ele causara. Os dois tinham começado a experimentar um pouco mais, e agora ainda ecoavam em sua memória os sons desesperados que deixavam a garganta de Midoriya sem que ele conseguisse controlar quando os dedos de Todoroki encontravam o lugar certo dentro dele e tocavam do jeito certo.

A forma com que ele tremia e gemia e o chamava por seu nome, os olhos verdes rolando nas órbitas, nada além de prazer tomando seu corpo. Era um paraíso particular e maravilhoso que eles dividiam.

Tinha sido uma semana inesquecível para os dois, em todos os sublimes detalhes de sua simplicidade. Houve alguns momentos naqueles dias cuja importância ia além de Midoriya, mas inevitavelmente parecia que tudo acabava por revolver em torno dele, a exemplo do que acontecera na tarde de segunda-feira. Para sua completa surpresa, aquele rapaz de cabelos vermelhos, Kirishima, apareceu no café para dar a ele a gorjeta que disse que daria. Todoroki sequer se lembrava disso, mas o jovem esclareceu que realmente era necessário, pelo susto e trabalho da situação na tarde de sábado, quando Bakugou teve uma crise no café e o agrediu.

Todoroki gesticulou negativamente, mesmo desconcertado.

“Não, imagine. De jeito algum. Foi apenas uma água.”

“Eu faço questão! Aliás, é só um troco, não paga nada do que rolou!” Kirishima virou-se e, para o estranhamento de Todoroki, mancou de leve até o balcão, deixando ali a nota de dinheiro. “Como ficou sua barriga? Ele deu um golpe forte.”

“Está tudo bem.” A voz grave, baixa de Todoroki então se fez na defensiva. “Mas ele, como está?”

“Está bem, eu acho. Ele é meio complicado, mas estamos bem.”

Meio complicado. Era um eufemismo para agressivo ou violento?

Olhou para a mão do rapaz, que tinha alguns ferimentos. Defensivos? Parecia o tipo que acontecia quando alguém caía no chão. Ou quando era jogado. O rapaz à sua frente era robusto e musculoso, parecia resistente, mas - Todoroki experimentara na pele - Bakugou era excepcionalmente forte. Só que, mais do que isso, violência entre pessoas com vínculo afetivo dificilmente tem a ver com capacidade física.

O que Midoriya faria nesse caso?

Que pergunta tola.

Ele se intrometeria.

“E você, está bem?” Com um meneio de cabeça, Todoroki apontou para seu pé.

“Foi um acidente. Eu caí em uma trilha que estávamos fazendo ontem.” Ele coçou a cabeça, um pouco desconcertado.

“Hm.” Todoroki assentiu, sério, erguendo uma sobrancelha. Explicar demais poderia ser um sinal de mentira. “Ele é sempre assim violento?”

“Ele não- foram acidentes. De verdade. Não foi violência.”

Todoroki colocou a mão sobre o ombro de Kirishima por um momento, olhando-o diretamente nos olhos.

“Não tenho nenhum tipo de acusação a fazer. Só quero que saiba que se estiver precisando de ajuda, pode pedir. Não precisa se submeter a o que quer que esteja acontecendo. Mesmo em caso de ele também precisar de ajuda.”

Kirishima deu um sorriso que pareceu muito verdadeiro, mas ele não seria a primeira pessoa enganada por sorrisos de defesa. Ele ainda agradeceu veementemente, fazendo um meneio respeitoso, mas deixou bem claro que não era necessário e que não era o caso de ele precisar de ajuda.

Ele foi embora, e Todoroki não ficou satisfeito. Não só porque sabia o que era sofrer abuso doméstico e o quanto era difícil se desvencilhar mentalmente da concepção de que aquilo era normal, de que era parte da submissão e da obediência, de que tinha alguma coisa a ver com merecimento ou mesmo com afeto. Mas também, em especial, porque aquela situação toda parecia estranhamente envolver Midoriya.

Um rapaz explosivo e agressivo, com algum tipo de surto, seja psiquiátrico ou neurológico, com o qual Midoriya tivera um pesadelo e quase perdera os sentidos ao se lembrar, e agora seu aparente parceiro aparecia todo ferido.

Havia prometido a Midoriya, contudo, que não investigaria ou se meteria naquele assunto.

Mas… Midoriya se intrometeria.

Certo?

Chacoalhou a cabeça. Não, não naquele assunto. Em nenhum momento Midoriya se metera em seu passado, por mais problemático que ele fosse, e ele também não faria isso. Isso não queria dizer que não ficaria de olho. Se aquele Bakugou cruzasse seu caminho ou comprovadamente ferisse alguém, ele iria responder por isso. Ele que não ousasse fazer mal para Midoriya dali para frente.

A expressão carregada e pensativa dele se desfizera ao ver o rapaz de cabelos cheios e dono de brilhantes olhos esmeralda chegar no mesmo horário de sempre. Mesma coisa, mesmo café diário antes da aula, sorrisos e um único toque imensamente discreto de mãos.

Passarem a noite de segunda-feira separados pareceu dramático - aquela intensidade de apaixonado que eles sabiam os fazer de idiota, mas a cama parecia fria e imensa sem o outro. Então já na terça-feira Todoroki visitara o apartamento de Midoriya. Era um ambiente não muito maior que sua quitinete, à exceção de ter um quarto separado da sala/cozinha. Era, contudo, localizado em um ponto muito mais acessível, realmente perto do café.

Reparou nos detalhes distintos, e os apontamentos se tornaram adoravelmente obscenos. A mesa de jantar alta, onde fez Midoriya sentar ao que tirava sua camiseta e mordia seu ombro; ao invés de futon, a cama de solteiro onde o beijara sem roupa alguma e se entregavam um ao outro mais uma vez, cada vez mais cientes de seus corpos e do outro, cada vez mais coordenados e com menos restrições.

Mesmo os momentos em que não estavam juntos pareciam mais felizes. Para Midoriya, que também não adorava seu estágio de escritório, tudo parecia mais fácil e agradável, e Todoroki não precisava fingir a leveza em sua cordialidade ao atender as pessoas.

Na quarta-feira, um casal de rapazes visitara o café e ele admirou especialmente o desembaraço dos dois com a demonstração de afeto - eles estavam apenas claramente apaixonados um pelo outro e não tinham olhos para mais nada ao redor.

“Hey, Denki, eu posso postar essa foto nossa?” O mais alto, de cabelos pretos e repicados à altura do queixo, disse para o rapaz loiro ao seu lado, enquanto segurava sua mão. “Ficou muito linda.”

“Postar no principal?”

“É, tem algum problema? Você é meio conhecido, se não quer que vejam...”

“Eu pareço o tipo discreto pra você, Hanta?”

“Nunca. Nem quando devia. Pra você, público e privado parece a mesma coisa.”

“Tá reclamando, Hanta? Você parecia ter gostado bastante quando....” Denki ergueu uma sobrancelha, inclinando-se na direção de Hanta, falando alguma coisa ao seu ouvido, fazendo o moreno rir e cobrir o rosto.

Todoroki abaixou a cabeça, sentindo-se inadequado de estar ouvindo e prestando atenção, mas eles estavam sentados realmente próximos ao balcão - se aquilo fosse alguma justificativa. Afastou-se dali, deixando os dois a sós, mas acabava por ter que voltar ali perto para preparar alguns pedidos depois de atender outra mesa. Ao que se aproximou de volta, viu Denki sendo abraçado pelo outro com força, braços em torno dos dele, prendendo-o naquilo. Era bastante incomum de se assistir algo assim em público, por mais que fosse apenas absolutamente romântico.

“Você é grudento, sabia?” Denki puxava o corpo para longe dele, mas, como se garantisse que era só um joguinho, suas mãos seguravam os pulsos dele. O abraço afrouxou de leve e Hanta mostrou a tela do celular mais uma vez ao outro.

“Mas vem cá, a foto. Eu estava perguntando se tudo bem você ser visto como…” Ele coçou a cabeça e corou. “Você sabe.”

“Se virem que a gente tá… hm, junto?”

“É. Como meu… namorado.” O moreno colocou uma mecha loira detrás da orelha do outro.

Era como se Denki se iluminasse completamente, impossível de não se perceber. Ele então abraçou Hanta, enfaticamente, um sorriso elétrico no rosto, uma confirmação que não precisava de palavras. Honestamente, havia sido adorável. Ele realmente queria saber há quanto tempo os dois estavam saindo juntos para aquele momento acontecer, mas seria algo que se resumiria à suas cogitações internas, obviamente. Tornou o máximo de sua atenção para o que estava fazendo, para parar de ficar acompanhando a intimidade de outros casais, e ficar pensando naquilo o ajudou a desligar do exterior.

Namorado.

Será que ele deveria pedir a Midoriya? Havia algum token de afeto que devesse ser comprado ou produzido para a ocasião? Ele não podia comprar muito, mas com certeza havia alguma forma…

Estava pensando nisso novamente ali naquele final de semana, com Midoriya dormindo sobre seu corpo. Tinha sua cabeça cheia de planos doces, que, por mais que o preocupassem, eram sussurros gentis que embalariam seu sono, em mais uma noite junto a ele, das quais ele queria muitas.

***

“Será que dá pra falar mais baixo?”

A frase de Todoroki foi a primeira que Midoriya ouviu claramente, mas tinham sido os brados de um desconhecido que o acordaram de fato. Vinha do lado de fora da quitinete, e ele sentou, coçando os olhos. Era de manhã.

“Eu não estou nem aí pros machos que você traz aí, eu quero saber do meu dinheiro! Pra ele você tá pagando?”

Um som súbito, como um golpe, e ele se levantou rápido, pegando seu shorts no chão ao lado da cama e vestindo com pressa para averiguar do que se tratava.

“Você não abra sua boca suja pra falar dele.” Todoroki pressionava o homem contra a parede com os braços esticados, empurrando seu peito sem precisar fazer esforço.

“Você tá fodido, Shouto. Eu vou te botar pra fora daqui semana que vem.”

“Eu vou te pagar, eu já falei! Você aguenta o começo da semana com todo mundo, por que está me perturbando no domingo?”

“Sabe por que eu te aceitei aqui? Porque o Hawks pediu.”

Todoroki hesitou, deixando seu braço tremer, soltando o homem.

“Eu não tenho absolutamente nada com o Hawks.”

“Mas ele é putinha do seu pai, né? Todo mundo sabe disso.”

Todoroki trincou os dentes. Aquilo havia duas implicações, uma delas certa e outra errada. Ele já supunha que seu pai tinha um caso com o rapaz loiro mais de vinte anos mais novo, mas se tinha algo que esse mesmo rapaz não estava fazendo era se submetendo ao que ele falava. Hawks tinha seus próprios negócios, e provavelmente só se meteria com alguma coisa se fosse exatamente para atrapalhar seu pai ou para mantê-lo em controle.

Isso se o jovem sequer se importasse com ele pra começo de conversa, e eles não estivessem só transando.

Nunca ligou o mínimo para aquilo, para com quem seu pai dormia ou deixava de dormir, sendo que só havia sido uma forma a mais em que ele descontou suas frustrações na sua família.

Nisso, a porta da frente se abriu, e Midoriya parou sob o batente.

“Shouto, está tudo bem?”

“Izuku, podia esperar lá dentro, por favor?” Ele virou-se para a porta, uma expressão sôfrega no rosto. O senhorio se manifestou.

“Teu namoradinho tá pra ser expulso daqui, se eu fosse você arrumava um rapaz menos fodido que possa pagar seu programa-”

“Eu juro, se você falar dele mais uma vez-” Shouto apontou para o homem, mas, imperturbável, Izuku se aproximou e colocou a mão sobre o braço que apontava.

“Quanto ele está devendo?” Perguntou, simplesmente.

“Não, você nem pense nisso!” Shouto deu as costas para o senhorio e encarou Midoriya com uma postura intimidadora, que não surtiu absolutamente qualquer efeito no outro.

“Aqui.” O homem esticou o braço com papéis, oferecendo a Midoriya. Este impediu Shouto de entrar no caminho ou de tomar os papéis de sua mão.

Suspirando dolorosamente, Todoroki derrubou os braços.

“Vamos entrar, por favor.”

“Entra enquanto ainda chama isso de casa, eu quero meu dinheiro, ouviu?” O senhorio disse antes de dar as costas, olhando para trás sempre. “Do contrário vou dar seu endereço pro Todoroki e o nome do seu namoradinho.”

Dentro da quitinete, Todoroki fechou a porta atrás de si, mais uma vez suspirando.

“Desculpe por isso.”

Midoriya estava olhando para os papéis apenas.

“A gente pode conseguir levantar esse dinheiro. Eu sei um lugar em que-”, ele começou a murmurar uma sequência com dezenas de formas de conseguir dinheiro de formas legais. Ficou ali conjecturando.

“Então é com isso que você está preocupado. Não com quem é meu pai ou como eu me meti com esse problema.”

Enfim o moreno baixou os papéis.

“Eu nunca vi ninguém querendo ficar mais distante das atividades de sua família paterna, então sei que nada do que possa ser te define. Mas…” Ele deu uma risadinha um pouco nervosa, coçando o braço “...se eu estiver com minha vida realmente em risco, talvez seja bom eu ficar sabendo.”

“Eu nunca achei que meu pai realmente faria qualquer coisa para mim, sendo que eu posso muito bem expor várias coisas sobre ele. Além disso, não é meu pai quem puxa gatilho ou mesmo quem manda puxar. Só que ele protege bastante gente que o faz. Meu pai é juiz.”

Midoriya inclinou a cabeça.

“Eu não conheço nenhum Todoroki, e eu trabalho com isso…”

“Ele é da capital. Eu me mudei pra cá tentando me livrar dessa influência maldita dele, mas ainda estou muito perto. Nós estamos em uma guerra fria há alguns anos. Ele fica tentando me controlar, eu sei que ele sempre teve planos para que eu tivesse as influências criminosas que ele não conseguiu ter, trabalhando sempre nos bastidores. Eu vou escapando, ele entra em contato de vez em quando pra me ameaçar, eu ameaço ele de volta, ele vai embora. Só que eu tenho que admitir que as coisas parecem mais estranhas do que eu me lembrava. Eu achei que o segredo de ele ter um relacionamento com um homem nunca poderia vazar, e ainda assim parece que já estão sabendo. Eu não sei o que pensar sobre isso.”

“Ele não vai ficar especialmente bravo se souber que você também…?”

Todoroki atravessou o cômodo, recostando-se no balcão.

“Ele é cínico o suficiente para me culpar por isso, sim. Sabe, eu já deixei claro pra ele, se ele me fizer algo realmente ruim, se ferir as pessoas com quem eu me importo, eu me volto para os inimigos dele sem pensar duas vezes. Inimigos que inclusive estão na nossa própria família. Ele me treinou para ter um sem-número de habilidades, e eu usaria todas elas contra ele. Ele tem medo, eu sei disso.”

Midoriya se sentiu arrepiar quando o olhar de Todoroki alcançou o seu; gélido, implacável.

“E você? Está com medo, agora?” Ele acrescentou a pergunta, voz baixa.

“Estou.”

“É sensato da sua parte, pela primeira vez. Mas não se preocupe, eu vou falar para ele que você é uma dessas pessoas que eu estou protegendo. Você não precisa sequer continuar perto de mim.”

Punhos cerrados, Midoriya se aproximou, olhos estreitos, e levantou a voz.

“Idiota. Eu estou com medo que você realmente seja capaz de se transformar em tudo o que você mais odeia e despreza só para se vingar dele caso algo aconteça!”

O olhar de Todoroki derreteu mais uma vez, mas, desta vez, era o calor solar, irrefreável, puro de Midoriya.”

“Você-… qual o seu problema, de verdade?”

Midoriya se aproximou dele e segurou suas mãos. Chegou a sorrir, inacreditavelmente, e, quando o fazia, parecia que não existia nenhum problema no mundo.

“Shouto… se mude pra minha casa por enquanto. A gente tira tudo daqui e aos poucos você vai conseguir pagar o que deve, porque não vai mais pagar aluguel.”

“Isso está fora de questão. Eu não posso aceitar.”

“Eu sei que parece acelerado demais, mas não é uma fuga romântica, é uma necessidade urgente. Não existe nenhuma razão que você possa apontar sem ser um orgulho bobo. Você sabe que é a melhor solução.”

“Não é. Eu tenho uma razão, que é deixar você longe da dessa bagunça. Eu já devia...”

Midoriya calou Todoroki com um beijo. Contra seus lábios, testa contra testa, na ponta dos pés, suspirou.

“Shouto, só existem duas alternativas: ou eu faço parte da sua vida, ou eu não faço. Qual é a sua escolha?”



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