VI
James observava o nascer do Sol pela janela da cozinha, segurando uma xícara grande, cheia de café, em uma das mãos. Ele tinha passado a noite toda em claro, pensando em como resolver a situação familiar que tinha se instaurado desde a briga de Nestha com Emely no jantar, da noite anterior.
James era um homem de negócios, portanto as possibilidades que chegavam até sua mente se concretizavam constantemente no mundo dos negócios. Mas Deus sabia que antes dos negócios, da fama e da riqueza, sua prioridade estava nas suas filhas.
Era por elas que conquistara suas riquezas, que deixara sua marca no mundo da moda e que construíra com tanto afinco uma imagem promissora e imaculada diante da mídia.
E pelas filhas, faria muito mais!
Durante aquela longa noite, muitas lembranças passaram por sua mente, por mais que quisesse afasta-las, James não conseguiu. De alguma forma, a discussão entre Nestha e Emily acionara um gatilho emocional.
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Era uma manhã ensolarada na residência Archeron, e o som de risadas infantis ecoava pelos jardins floridos. James Archeron, um homem de negócios em ascensão, estava em casa, como costumava fazer quando o trabalho permitia. Mesmo com uma agenda cheia, ele fazia questão de dedicar tempo para suas filhas, suas maiores preciosidades.
Sentado em um banco de madeira ao lado de um grande carvalho, James observava enquanto Nestha, a mais velha com seus sete anos, tentava organizar uma pequena "festa de chá" com suas irmãs.
Seu rosto estava sério, já demonstrando traços da personalidade forte que teria mais tarde, enquanto ela instruía Elain, de seis anos, a como arrumar as xícaras e os pratos de brinquedo. Elain, sempre doce e sonhadora, seguia as ordens da irmã com um sorriso pacífico no rosto, seu cabelo castanho-dourado brilhando sob o sol.
- Elain, assim! Se você não fizer direito, tudo vai ficar bagunçado! - reclamou Nestha, tentando controlar a situação.
Em resposta, a pequena Elain apenas riu, ajeitando os pratos da forma que achava mais bonita, e olhou para o pai, que as observava com um brilho de orgulho nos olhos.
- Papai, você quer participar da nossa festa de chá? - perguntou ela, sempre pronta para incluir todos em suas brincadeiras.
James sorriu e fez um gesto grandioso, como se estivesse agradecendo uma honra imensa.
- Como papai poderia recusar um convite tão importante? Só espero que o chá esteja à altura! - Brincou ele, aproximando-se das meninas.
Enquanto isso, Feyre, com apenas três anos, estava mais afastada, sentada na grama, completamente concentrada em tentar desenhar algo com um graveto no chão. Suas mãozinhas pequenas estavam sujas de terra e ela parecia alheia ao caos organizado das irmãs mais velhas.
James observou sua caçula com ternura, orgulhoso da curiosidade e independência dela, que sempre parecia distante, mas envolvida em seu próprio mundo.
Nesse momento, a porta dos fundos da casa se abriu, e Emily Archeron apareceu. Seu vestido luxuoso cintilava sob a luz do sol, e os olhos de James imediatamente se endureceram um pouco. Ele sabia que a presença dela mudava o clima da casa.
Emily não era apegada às filhas da forma que ele era. Para ela, as meninas eram parte de um plano mais calculado: garantir o casamento, as aparências, e o status. Embora nunca fosse abertamente fria, havia uma distância perceptível entre ela e as crianças.
- James - ela disse forçando um sorriso enquanto ajustava o colar envolta de seu pescoço. - O almoço com os Beddor foi confirmado para amanhã. Não esqueça de se preparar.
Ele acenou com a cabeça, mas sua atenção já voltava às filhas.
- Sim, claro - respondeu, sem deixar de lado o tom calmo.
Emily olhou para as filhas com um olhar rápido, sem muito interesse, antes de se afastar novamente. A pequena Feyre apenas observou a mãe de longe, mas não foi atrás dela; já estava acostumada com a distância emocional.
James, percebendo a breve troca, se abaixou ao lado da pequena e pousou uma mão suave em seus ombros.
- O que você está desenhando, minha pequena artista? - perguntou com carinho, tirando sua atenção do chão.
A pequena Archeron apenas sorriu para ele, tímida, mas satisfeita com o elogio.
- Eu desenhei um passarinho, papai - disse ela, mostrando o que, para ela, parecia uma obra-prima.
James sorriu amplamente, vendo o rabisco no chão como a coisa mais perfeita do mundo.
- É lindo. Tenho certeza de que esse passarinho vai voar tão alto, que tocará as nuvens - disse ele, enchendo o coração da pequena Feyre de alegria.
As três irmãs, com seus cabelos castanho-dourados brilhando ao sol, se perderam na inocência da infância, enquanto o pai, sempre presente e amoroso, fazia questão de que elas soubessem que, apesar de tudo, ele sempre estaria ali para elas.
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Presente
James esfregou as têmporas.
“Pense!” - Ele emitiu sem fazer som – “Pense Pense Pense”
O que poderia consertar tudo aquilo? Talvez algo que unificasse novamente a família; Que soasse como um pedido de desculpas...
De alguma forma, enquanto pensava freneticamente em como resolver a situação que tinha se enfiado, sua mente divagou em outra lembrança dolorosa da infância das filhas.
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Era uma manhã fria de inverno na grande casa dos Archeron, e o silêncio era quase palpável. As três irmãs estavam reunidas na sala de estar, com a lareira crepitando ao fundo. Feyre, ainda pequena, brincava sozinha no tapete com blocos de madeira, criando formas abstratas e figuras incompletas, enquanto Nestha e Elain estavam sentadas no sofá, mais caladas do que o normal. Havia uma tensão no ar, algo que, mesmo na inocência infantil, era difícil de ignorar.
James Archeron estava de pé perto da janela, observando o jardim coberto de neve com uma expressão indecifrável. Ele havia acabado de se despedir de sua esposa, Emily, que, sem muita cerimônia, havia decidido embarcar em uma viagem pelo exterior. O plano, que ela revelara na noite anterior, não era apenas uma breve escapada, mas o início de uma série de viagens longas. “Preciso aproveitar o que temos, James. Fazer contatos, explorar novas oportunidades”, ela dissera com uma leveza que contrastava com o peso que suas palavras traziam para a família.
Emily sempre tivera um fascínio pelo glamour e pelo luxo, e, com a fortuna acumulada pelos negócios bem-sucedidos de James, ela finalmente sentia que podia se entregar completamente a esse mundo. Ela explicou aos filhos, numa breve e fria despedida naquela manhã, que passaria mais tempo no exterior, fazendo contatos sociais, e que voltaria a cada quatro meses, talvez mais, para "descansar". Para ela, isso parecia uma decisão lógica, até necessária. Mas para James e as filhas, era algo devastador.
- Ela vai voltar logo, não vai? - Elain perguntou com a voz baixa, olhando para o pai. Seus olhos castanho-dourados brilhavam com uma mistura de esperança e tristeza.
James deu um suspiro profundo, seu coração se apertando ao ver a preocupação no rosto de Elain. Ele forçou um sorriso gentil, tentando manter o otimismo, embora por dentro estivesse furioso com a decisão de Emily.
- Sim, querida. Ela voltará. Ela só precisa de um tempo para viajar e cuidar de alguns negócios - disse ele, suavemente. Ele sabia que era um eufemismo, mas não queria aumentar o peso que as meninas já carregavam.
Nestha, com seus oito anos, porém, não era tão facilmente consolada. Sua expressão estava mais fechada do que de costume, os olhos duros e o queixo erguido de forma teimosa. Ela não dizia nada, mas James podia ver a raiva crescendo nela, uma raiva que ele temia que nunca fosse embora completamente.
- Ela só quer gastar o dinheiro, pai - disse Nestha, por fim, sem rodeios. - Ela nem gosta de ficar aqui.
Aquelas palavras cortaram James profundamente. Ele se ajoelhou na frente de Nestha, colocando uma mão firme, porém suave, sobre o joelho da filha.
- Sua mãe ama vocês à maneira dela, Nestha. Às vezes, as pessoas têm formas diferentes de mostrar isso - disse, embora ele mesmo duvidasse daquilo. - Mas eu sempre estarei aqui. E prometo que, enquanto eu estiver por perto, vocês nunca estarão sozinhas.
Nestha desviou o olhar, tentando esconder a confusão e a tristeza que sentia. Elain, ao lado dela, segurou sua mão discretamente, tentando oferecer algum conforto silencioso.
Feyre, por outro lado, era muito jovem para entender a gravidade da situação, mas sabia que algo estava errado. Ela levantou os olhos de seus blocos e, com um olhar questionador, chamou o pai.
- A mamãe foi embora? - perguntou, sua voz ainda suave e inocente.
James sorriu tristemente e se aproximou de Feyre, puxando-a para seu colo.
- Ela foi viajar, minha pequena. Mas nós estaremos bem aqui, todos juntos - disse ele, beijando sua testa. Ele se agarrava à promessa que fazia para suas filhas, mesmo sabendo que a ausência de Emily se tornaria cada vez mais uma realidade dolorosa em suas vidas.
O que James temia mais do que tudo era o impacto que isso teria nas meninas. A ausência constante de Emily deixaria uma lacuna emocional que ele sabia que nunca poderia preencher completamente, não importava o quanto tentasse. Embora ele se esforçasse para ser um pai presente, amoroso e dedicado, havia certas coisas — certas dores — que só a presença de uma mãe poderia curar.
James recordava muito bem do que viria nos próximos anos...
Meses passariam, e essa rotina se tornaria comum. Emily voltaria de suas viagens com malas cheias de roupas caras, joias e histórias sobre jantares glamorosos e bailes luxuosos. Ela faria aparições rápidas em casa, cumprindo seu "dever" como mãe, mas logo partiria novamente, deixando as filhas cada vez mais acostumadas a um lar sem a presença constante dela.
E assim, James se tornaria o pilar da família, equilibrando seus negócios e as necessidades emocionais de suas filhas, enquanto Emily se perdia em seu mundo de riquezas e frivolidades, sempre distante, sempre uma sombra de mãe.
Naquele dia, enquanto observava suas filhas na sala de estar, James tomou uma decisão silenciosa: ele faria de tudo para que, apesar da ausência de Emily, elas crescessem sabendo que eram amadas. Ele nunca deixaria que o vazio deixado pela esposa as definisse.
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A face de James se iluminou de repente. Isso! Ele já sabia o que fazer.
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