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História De rascunhos e pétalas - Wasurenai


Escrita por: bleedingrainbow

Notas do Autor


Oi, pessoal ♥️ Chegando com um projetinho que eu me comprometi no Twitter: desafio de colocar vários clichês fofos de fanfic em uma história só. Eu recebi várias ideias e resolvi dividir em mais ships, mas ainda mantém um enredo só.

Então, essa história fará parte de uma série, juntamente com uma Tododeku (De calor e um copo de café). Assim, elas se unirão ao final em uma única história.

Não é necessário ler a outra, mas é preciso estar ciente disso e de que o enredo dá uma mudada violenta. Não é necessariamente inesperado, mas com certeza muda muito tudo. Cheguei até a botar plot twist como uma tag.

Estou aberta a sugestões de mais clichês fofinhos, aliás.

Eu estou depois de muito tempo voltando às fics, depois de altos bloqueios literários, então realmente é uma missão ambiciosa que espero render. A quem quiser acompanhar e se arriscar comigo, eu já agradeço de coração desde já! ♥️

Alguns avisos:

- A quem quiser acompanhar a tododeku, pode ler tanto um capítulo cada, para acompanhar o desenvolvimento paralelo, quanto ler uma de cada vez, mas daí elas são "spoiler" uma da outra, digamos assim. Os capítulos com o mesmo nome são os mais conectados, via de regra. Existe uma side story do Kaminari rolando tanto em uma quanto na outra, interessante pra história.

- Eu não pretendo desrespeitar a cultura e costumes japoneses nem nada, mas algumas coisas ou eu realmente não conheço ou propositalmente deixei passar, inevitavelmente dando uma ocidentalizada meio braba na coisa. Espero que não se importem ou incomodem.

Capítulo 1 - Wasurenai


Um sépia trêmulo constelando o chão da floricultura era a identidade do fim de tarde. Os raios de sol em tons de laranja denso cruzavam pela janela mais baixa com grades, à esquerda da mesa de arranjos, através de um entremeado de arbustos escandentes e três-marias. Chiava cortando o silêncio peculiar um murmúrio ininteligível provindo dos fones de ouvido de Bakugou, por onde ele ouvia rock no último volume. Estava em pé em frente à mesa de arranjos repleta, maxilar rígido, em linha, olhos de íris escarlate entre pálpebras estreitas escrutinando as plantas que tinha à sua frente. Suas mãos enluvadas estavam ocupadas com um alicate e hastes de flores, desfolhando avidamente um ramo com gestos de uma rudeza que só produzia resultados tão belos graças à precisão e controle imensos com que compensava.

Aquele trabalho o mantinha em uma concentração profunda que fazia às vezes de meditação a alguém cujos ímpetos jamais permitiam um efetivo relaxamento. Tinha sua agenda fechada e ocupava-se o mínimo possível com o atendimento de clientes - que já estavam habituados a (e satisfeitos por) vê-lo o mínimo possível. A floricultura Deadly Nightshade, para os que passavam à frente, era sempre o silêncio, as cores e às vezes o aroma de um cemitério. Do lado de fora, era cinza e quadrada, janelas de grade cobertas de hera por dentro. Dentro, era quente como uma estufa, com um cheiro intenso e confuso de várias plantas aromáticas distintas. Não era um ambiente a maioria das pessoas considerava agradável, e tampouco o consideravam o próprio dono. Fato era que aquele ainda era possivelmente o melhor lugar do país pra se encontrar o arranjo perfeito para seus gostos peculiares. Ninguém mais usaria plantas carnívoras, cactos e plantas venenosas junto a jasmins, orquídeas e begônias, e se o fizesse definitivamente não faria um trabalho tão estarrecedor. Aquilo fazia Bakugou, com seus vinte e poucos anos, quem era - o melhor naquilo que fazia.

Quase na hora de fechar o estabelecimento, a porta da frente abre de súbito, não obstante a placa de “KEEP OUT” na porta. Um clarão alaranjado repentino, e como um vitupério a sineta de entrada tilinta. Instintos afiados apenas fizeram-no perceber, já que seria incapaz de ouvir além do ensurdecedor volume de sua música. Ele bufou e puxou com força os fones para tirá-los, saindo de detrás de sua mesa e se aproximando alguns passos do estranho.

Bakugou identificou o rapaz de cabelos longos e loiros, quase brancos, como claramente um turista aleatório, e observou enquanto este caminhava pelos corredores de iluminação difusa, olhando ao redor.

“Não bota a mão em nada.” Bakugou pareceu ler a mente do rapaz, porque este puxou a mão para si com um espasmo.

“Ah, oi!” A mão retraída contra seu peito acenou brevemente e Bakugou achou a cena patética.

” Oi . Qual flor você quer?”

O olhar do potencial cliente foi de espanto com a grosseria, algo que irritava Bakugou mais ainda. Turista  sentimentaloide de merda. 

“Uh, posso olhar o que você tem?” Ele hesitou, e Bakugou tomou fôlego, polindo as beiradas da próxima frase o melhor que pôde.

“Está procurando alguma coisa específica?”

O cliente coçou o braço.

“Hm... Um presentinho pra uma moça que eu conheci no hotel, mas, mas nada muito rebuscado, hm, uma coisa singela.”

Lá vem mais um pão duro gastar meu tempo, Bakugou rolou os olhos, deu as costas e foi pegar uma caixa de madeira com flores embaladas em pequenos pacotes, todos simples - ainda assim, nenhuma delas sequer estava disposta de forma displicente. Botou a enorme caixa sem dificuldade sobre um ombro e levou-a até lá, pousando-a na bancada perto do rapaz. Esperou enquanto ele olhava, desgostoso com o que via, os braços cruzados e uma perna agitando impacientemente.

“Essa é bonita, quanto custa?” Ele levantou um galho delicadamente envolto em papel e barbante, com algumas de pequenas orquídeas em roxo profundo.

“Cinco mil yens.” A resposta foi súbita e precedeu um cair de queixo do cliente, que soltou o pequeno galho displicentemente de volta na caixa.

“Você quer me cobrar cinco mil por um galho?”

“De filho da puta eu cobro dez.”

“ Quê ?”

O lábio superior de Bakugou se ergueu em um espasmo de desprezo.

“Tá achando que tá comprando yatai na rua? Eu não trouxe essas mudas de Phalaenopsis lá das Filipinas pra vir bebê chorão mendigar desconto. Tem um monte de floricultura por aí pra você comprar uma rosa chocha pra você comer a coitada da sua vítima com esse seu dinheiro de mão de vaca. Aqui eu tenho flores como Gibraltar Campion, de milhares de dólares . Cai fora.”

O cliente esboçou responder, após o choque inicial, mas alguma coisa nas feições agressivas de Bakugou fê-lo concluir que o mais sábio era dar as costas e deixar a loja, bufando e murmurando impropérios. Com um movimento súbito, Bakugou bateu a porta de metal para fechá-la quando o homem saiu por ela. Em um estrondo, ela acertou o batente, um dos três vidros retangulares que a decorava rachou.

Veio à sua mente o fato de que seria a terceira vidraça naquele mês. Trincou os dentes, girou a chave e já no tremor da imagem de suas próprias mãos viu-se atordoado por uma cefaleia quase insuportável, que lhe acometia em intervalos inconstantes, mas frequentes.

Era como se sua mente estivesse lutando contra si mesma, à beira de uma literal explosão, e, nesses momentos, tudo o que ele conseguia era se agachar e se arrastar às cegas para algum lugar entre as plantas, olhos cerrados. Nesses momentos, ele não enxergaria nem se tentasse. Tudo era uma grande névoa e ele se ouvia gritar “morra!”, sem saber se o fazia. Era como se visse vultos, mas não identificava nada nem ninguém. Apenas agonizava. Era suor frio e uma luta interminável - ele realmente não sabia por quanto tempo poderia permanecer naquela situação. Era uma característica sua; morreria antes de desistir, sem sequer se perguntar 'desistir de quê'. Seu pulmão não emprestaria o fôlego necessário para um grito que fosse de ajuda.

Entre perésquias e hortênsias, pegou o primeiro item de madeira de seus arredores e botou-o entre seus dentes, para mordê-lo, e ali ficaria, agarrando-se aos seus cabelos, banhado em suor frio. A noite se espalhara pelos detalhes do mosaico de luz no chão até tingi-lo por completo de escuridão de vez. O cheiro orgânico convenceu seus sentidos a fazê-lo voltar àquela realidade, e encontrou-se deitado no chão suavemente úmido, enrodilhado em uma bola, as vestes sujas de terra das plantas que havia chutado. Em exaustão soltou seus membros ao longo do corpo e abriu os olhos doloridos, soltando seu corpo para deitar de barriga para cima; através do vidro rachado da porta perto de si, o céu estrelado.

Por alguma razão, Bakugou foi invadido por uma desesperança que apenas raiva podia amainar; pareceu lembrar-se de que uma sensação de uma humilhante derrota tomava conta de si após cada uma de suas crises. Ele apenas não conseguia ver o motivo.  Estava sozinho ali; perdera para quem?

Alguma coisa estava faltando.

Quando saiu para comprar seu jantar e viu na rua, encarando o horizonte, a noite já era alta e silenciosa. Apenas as luzes dos postes e das vitrines iluminava a noite, e ele tinha sua habitual postura recurvada de uma fera prestes a atacar, as roupas sujas de terra que ele não se preocupou em trocar. Duas lojas à frente, uma voz feminina ergueu-se o suficiente em meio à morosidade para atrair sua atenção.

“Kiri, eu não canso de falar, tá  incrível ! Lindo demais, Jirou!”

Os passos de Bakugou ficaram mais lentos e ele ergueu o olhar para a fachada. Estúdio de Tatuagem Red Riot. 

Uma risada alta, masculina e satisfeita, e algo como um agradecimento. Bakugou olhou através do vidro da janela de entrada. Estampas de tigre e  uns pontos de luz vermelha contra a parede. O que diabo era aquilo?

“Desculpa te fazer ficar aqui até essa hora.” Outra voz feminina adicionou, e caminharam três pessoas para a odiosa sala de espera com decoração de praia e animal. Duas garotas de cabelos lisos e pretos - uma mais alta de madeixas longas e outra com fones de ouvido e filme plástico em torno do braço - saíram rindo do estúdio, junto a um rapaz de cabelo vermelho

“Nem pensar. Eu nem vi o tempo passar, pra falar a verdade!” O rapaz de cabelo vermelho disse, e mais algumas coisas, um sorriso audível.

Ele as acompanhou até a porta, parando sob o batente. As duas se despediram dele enquanto a de fones de ouvido agradecia de novo, um abraço breve, e pousava a mão na curva das costas da mais alta enquanto as duas começavam a conversar e andar para seu carro.

É sério, o tatuador estava mesmo sem camisa? Com uma bandana na testa? Bakugou tentava processar aquela quantidade escrota de informação escrota que recebera e não percebeu por quanto tempo ficou encarando aquela cena particularmente esquisita; mas quando se deu conta, um olhar igualmente escarlate encontrou o seu.

“Oi!” O tatuador acenou pra ele de forma vivaz, ainda que não efusiva, um sorriso de dentes afiados. “Cara das flores, né? E aí, tudo bem?”

Bakugou fez uma expressão de asco, virou o rosto e seguiu seu caminho. Kirishima deu uma risada breve pra si, incapaz de deixar seu humor ser afetado. Bem, ele já havia sido alertado da fama de seu novo vizinho. Por alguns momentos, assistiu-o ir embora, observando a sujeira em suas roupas - o cara tinha rolado em terra ou algo do tipo?

Nas duas semanas desde que se mudou para as redondezas, não teve muito tempo de pensar em nada; mal terminara de desempacotar tudo e de esvaziar as caixas. Contudo, ali revisitou um interesse em terminar de visitar os estabelecimentos nas redondezas.

Havia achado o nome “Deadly Nightshade” surpreendentemente másculo para uma floricultura, mas, ao demonstrar para demais vizinhos seu interesse a respeito daquela soturna gruta em formato de loja (ou vice-versa) tinha sido alertado veementemente para que não entrasse lá; era melhor que visse o catálogo pela internet, se o proprietário tivesse se dado ao trabalho de o atualizar.

Kirishima fechava o estúdio pensando naquilo, e decidiu por somente ignorar as advertências e indicações de que não seria nem um pouco bem-vindo no ambiente. No dia seguinte, iria passar para uma visita.



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