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História De rascunhos e pétalas - Mitsubachi


Escrita por: bleedingrainbow

Capítulo 11 - Mitsubachi


Os lábios de Bakugou eram doces, ainda que ele exalasse fúria por todos os poros. Não era de se espantar que ele beijasse com precisão e impetuosidade ao mesmo tempo, e, na verdade, levou um tempo até que entrassem em um ritmo único. Isso porque Bakugou apenas guiava, jamais deixava-se guiar; então acalmar o ímpeto dele tinha sido trabalho lento.

Quando o segurava por sua nuca com as duas mãos, Bakugou firmou-o de um jeito que Kirishima apenas havia experimentado em péssimos beijos - aqueles de boca aberta demais ou língua dura e invasiva. Não foi daquele jeito com Bakugou nem naquela etapa. Precisão era sempre a palavra; os movimentos obrigavam Kirishima a segui-lo, mas era uma coreografia que ele queria seguir. Intensa, quente, forte. Ao que ele mordeu seu lábio inferior, Kirishima grunhiu baixo entre uma expiração forçada.

Ao que seus lábios se uniram mais uma vez, Kirishima tomou a dianteira. Botou a mão sobre os ombros de Bakugou e empurrou-o sentado, de um jeito que quase separou o beijo. Então as mãos deslizaram pescoço acima e ele segurou seu rosto com as duas mãos, firme, mas suavemente.

Bakugou entreabriu os olhos, garganta apertada. Estava Kirishima indicando como gostava de ser beijado, porque ele o feito aquilo errado? Aquilo era uma represália? Deixou suas mãos escaparem da nuca dele e descansaram sobre o peitoral forte, sentindo o coração poderoso martelando debaixo de sua palma.

Leu os movimentos de Kirishima e calculou os seus próximos.

Ao que o loiro então correspondeu, então, no que foi quase um contra-ataque, Kirishima chegou a perder o fôlego de tão espetacular que havia sido. Abriu os olhos para ter certeza de que não estava caindo, e agarrou-se aos braços de Bakugou. O que era aquilo entre eles? Arranhavam a superfície de algo que já estava ali. Como uma energia latente, como riscar um fósforo diante de um galão de gasolina. Potencial.

Bem, o que ele sabia era que, sem sombra de dúvidas, era o melhor beijo de sua vida.

Fiel à sua palavra, Bakugou não tentou nada além de beijá-lo. Separaram os rostos lentamente, e ao que seus escarlates se encontravam mais uma vez, tirou as mãos de sobre ele.

Não dava pra saber se o loiro havia gostado ou não. Apenas a luz era diagonal o suficiente para que ele visse com clareza o quão dilatadas estavam aquelas pupilas.

No silêncio que os envolvia, ainda meio atordoado pelo que experienciou, Kirishima tomou fôlego para falar alguma coisa, mas desistiu. Bakugou tornou  a olhar para o horizonte, parecendo também um tanto aturdido, olhos rubros baços.

Silêncio.

Sem saber o que fazer, suspirou com o fôlego que tomara e tentou algo que não imaginou que daria certo: escorar a cabeça no ombro de Bakugou. Não foi repelido. Já abusando de sua sorte, segurou sua mão. Nisso, o loiro trincou o maxilar por um momento, mas não apenas deixou - correspondeu, segurando firme a mão de Kirishima, até apertar.

Por mais difícil de ler que Bakugou fosse, aquilo era eloquente o suficiente. Kirishima sorriu, o coração grande demais para seu peito quase doendo, sufocando no perfume ardente e quase doce que a pele de Bakugou tinha assim de perto. Havia um tipo de paz impecável naquele turbilhão, como estar no topo de uma rocha imperturbável enquanto ondas impiedosas a castigavam poucos metros abaixo de seus pés.

Ficaram ali por um longo tempo, assistindo aos detalhes da paisagem se desenrolando discretos, alheios ao descanso imperturbável das cordilheiras à distância. Um deles era as nuvens, cujas formas Kirishima buscava identificar. Um coelho, umas estrelas, uma silhueta de uma mulher, e então um rosto emburrado, como olhos com sobrancelhas baixas.

“Olha só, é tipo uma cara feia se você olhar aquela parte arroxeada, parece você!” Cutucou-o.

“As nuvens também olham pra baixo e quando te veem falam ‘olha lá, um em formato de idiota!’”

Sem ver essa chegando, Kirishima riu até chorar de novo, enterrando o rosto em seu ombro. Enquanto o tatuador de cabelos vermelhos e bandana imbecil na cabeça limpava as lágrimas com a mão que não segurava a sua, Bakugou começou a tentar catalogar em sua cabeça quando ele conseguia fazê-lo rir dessa forma. Porque, hm. Porque podia ser útil. É.

***

Kirishima tinha certeza de que seria um lugar lindo para se assistir ao crepúsculo, mas Bakugou não parecia disposto a continuar ali até que anoitecesse. Tornou a parecer preocupado com seu tornozelo, mas na verdade Kirishima realmente já não sentia dor quando estava parado. Pisar, contudo, causava-lhe realmente uma pontada, então se deixou ser amparado até a base do monte.

No caminho, todavia, Bakugou pediu que o outro esperasse um pouco, e ajudou que ele se sentasse em um tronco baixo antes de atravessar até um pedaço do caminho além das árvores, fora da trilha. Kirishima perguntou onde ele ia, mas recebeu apenas gestos para que parasse de falar enquanto ele se enfiava em um pedaço de mato. Ainda podia ser visto, contudo, e estava agachado entre a folhagem por um tempo, xingando em resposta quando o outro perguntava se estava tudo bem. Quando voltou, Bakugou tinha umas raízes tuberosas nas mãos. Eram apenas pedaços retorcidos, repletos de terra, que ele limpava com cuidado.

“Do que são?” Kirishima então perguntou.

“Ranúnculos.”

“Não conheço. É um nome esquisito.”

Bakugou agachou-se ao lado dele, abrindo sua própria mochila para guardar suas aquisições selvagens em um recipiente específico, com papel.

“São flores. Muitos dizem que parecem rosas, pelas camadas de pétalas, mas eu acho que não tem nada a ver. São de um formato bem distinto, textura fina, mais apertadas. Elas florescem só de agosto a setembro. Pra plantar, então, se tira o rizoma da terra.”

“E você identificou uma planta dessas lá no meio do mato enquanto atravessava na trilha comigo pendurado no seu ombro como?”

“Eu tenho varias formas de identificar, já te falei delas. Mas essa não é uma delas, óbvio. Eu me lembrava dessa planta e fui conferir se estava ali.” Botou a mochila nas costas.

“Faz mais sentido.”

“Besta.” Bakugou esticou o braço para Kirishima e o ergueu com um puxão. Para impedir que aquele impulso projetasse o outro para frente, o loiro segurou-o contra si, seus corpos colidindo.

Os meros dois centímetros que o tatuador era mais baixo que Bakugou foram ajustados pelo desnível do terreno, deixando os lábios alinhados à perfeição. As mãos de Kirishima agarraram a camiseta preta do outro, braços fortes envolvendo seu torso tirando seu fôlego sem que o tivessem apertado demais. Apertavam o suficiente para que ele soubesse que não queria sair daquele abraço nunca.

Bakugou beijou-o, muito mais devagar dessa vez, ainda que os movimentos escorregassem sempre em impetuosidade. Kirishima permitiu-se ir junto, devolver a firmeza que recebia como um ricochete, e sabia que jamais se sentira dessa forma antes. Enterrou as mãos enfaixadas em cabelo loiro, assustadoramente macio, soltando-se contra o corpo que o amparava. 

Ali, Bakugou conseguia entender. Era assim que desejo funcionava. Não foi tomado por ele, mas sentiu seu calor, como um sussurro provocador, como um comichão que ele não podia deixar se espalhar. Não sabia se era capaz de conter, mas tinha que fazê-lo. Separou o beijo de súbito, puxando o braço de Kirishima para o entorno de seus ombros, seguindo com a descida.

***

Era fim de tarde, músicas aleatórias no rádio, e terminava o passeio deles. Quando pararam de carro à frente da casa de Kirishima, Bakugou pediu que ele esperasse. Então se virou, mas ao invés de beijá-lo, esticou-se para o banco de trás e pegou na lateral de sua mochila a raiz que havia colhido no caminho.

“No início do outono, o rizoma pode ser plantado novamente, em solo fértil, bem drenado e exposto a boa luminosidade, mesmo em vasos.”

“B-Bakugou-...?” Ele hesitou, segurando aquela raiz, ainda achando difícil de acreditar.

“Flores cortadas morrem. São feitas pra isso.” Bakugou rosnou baixo e deu pra ele o rizoma. “Esse aí deixa secar e armazena em local seco e fresco,  ao na geladeira. Se tiver dúvida em algo eu ajudo a plantar.”

Flores cortadas morrem. Raízes se prendem. Duram.

Com um nó na garganta, Kirishima queria dar nele um beijo, mas, diferentemente de todos os demais momentos, não havia nenhuma abertura para isso. O motor do carro estava ligado, as duas mãos de Bakugou no volante, ombros erguidos. Talvez fosse demais para ele, se abrir daquela forma.

Então segurou sua mão, ainda contra o volante.

“Bakugou, muito obrigado! Muito obrigado mesmo! Isso é realmente lindo.”

“Ah, grande coisa, só sai do carro logo.” 

“Tudo bem se eu for? Vai ficar bem?”

“Com certeza vou.”

“Você me avisa se não ficar?”

“Não preciso que-...” Bakugou começou, como um vitupério, e trincou os dentes, suspirando. “Aviso.”

“Então tudo bem.” Sorriu, contente o suficiente, mas com resignação. “Dirige devagar, tá? Vai que-”

“Aham, aham, eu sei.”

“Manda uma nude quando chegar.” Disse em um tom brincalhão. Bakugou chiou. Literalmente só Kirishima no universo iria pedir uma nude como desculpa para saber como ele está ou como chegou em casa, o que era obviamente seu intento. Ele era um cavalheiro até o último fio de cabelo tingido de vermelho e ele dava nos seus nervos o tempo inteiro.

“Vai se foder.”

Kirishima abriu a porta, rindo, e quase saiu do carro, quando Bakugou o chamou com um ‘psiu’. O tatuador se virou, e ele continuou, olhando sempre adiante.

“Se quiser almoço amanhã, já sabe.”

O sorriso aumentou o suficiente para que Bakugou visse mesmo de soslaio. Seu coração chegou a doer de tanto acelerar, e ele acharia que eram as partes afiadas que algo deixa depois de quebrar.

“Pode deixar!”

Kirishima deixou o carro, desejando-lhe boa noite. Ao que o veículo acelerou de volta, de súbito, chegou a cantar pneus.

Olhou para o conteúdo em suas mãos.

Antes de esperar que floresça, era preciso plantar as sementes. Ou, naquele caso, plantar aquela raiz estranha de nome feio, que não parecia em nada ser capaz de produzir algo realmente lindo.

Ele já via os botões, mesmo sem saber as cores. Era capaz de esperar. Talvez, irreparavelmente apaixonado como já sabia que estava, Kirishima não tivesse alternativa. Se a tivesse, contudo, provavelmente escolheria o mesmo caminho mais uma vez.



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