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História De rascunhos e pétalas - Ketsueki


Escrita por: bleedingrainbow

Notas do Autor


(Mais uma vez, mais detalhes no mesmo capítulo da outra fic. Beijos!)

Capítulo 23 - Ketsueki


Aizawa estava encarando o teto de seu apartamento desde que chegou da delegacia. Queria dormir, como queria, mas estivera com seu celular na mão aquele tempo todo, a rádio ligada no programa do Present Mic.

Aquele era um caso estranho demais, mas deveria ser bastante banal. Usar os sentimentos românticos dos heróis contra eles. Sabia daquilo, e era por isso que nunca ousou se relacionar de tal forma. Não precisava de uma fraqueza a mais, dar uma vantagem a mais.

Não significava, por certo, que ele jamais tivera qualquer tipo de sentimento semelhante em sua vida, o que provavelmente seria usado contra ele caso ele tivesse sido alvo de Masayume e Akai Ito.

Era tolo demais de se considerar. Estava com sono, exausto, mas não conseguia dormir de jeito nenhum.

Quando recebeu uma mensagem, então, se sobressaltou. Não esperava nada vindo, mas muito menos a mensagem codificada de Midoriya, percebendo que tudo o que eles acreditavam estar sob controle tinha saído completamente dos trilhos.

Em especial com relação ao que Deku havia mencionado após relatar os acontecidos.

Não contate a polícia. Não é seguro. Confie em nós, sensei.

“Confie em nós, ele pede,” resmungou para si, irrompendo prédio afora, enquanto recalculava de novo e de novo suas decisões. “quando bastava que eu virasse as costas e eles estavam se metendo em alguma encrenca.”

As notícias chegaram a ele em torrentes, cada uma insistindo que ele deveria usar a lógica para aquilo. Só que uma dessas evidências parecia mais clara - ninguém havia chamado os heróis para recuperar os fugitivos. Nem mesmo Bakugou havia sido dado como fugitivo.

Se Midoriya estava certo, ele não sabia - mas cada vez mais estava certo de que algo específico naqueles planos vindos do delegado de polícia estava muito errado.

***

Quando recebeu a chamada de Aizawa, Shinsou botou-se de pé de imediato. Estava na sacada de Kaminari, depois daquele par de horas conversando ao lado dele, ouvindo suas histórias, e pensou que teria uma tarde agradável com ele depois de tudo aquilo. Aparentemente o serviço nunca terminava.

“Aconteceu alguma coisa?” O loiro ficou de pé, mais lentamente, franzindo as sobrancelhas.

“Não sei exatamente, mas o sensei precisa de mim. Acho que não acabou ainda essa história.”

“Você precisa de ajuda?” Kaminari perguntou, então franziu as sobrancelhas. “Eu vou com você!”

“Você não pode, lembra? Fique aqui, mantenha-se seguro.” Shinsou deu as costas, subindo na grade da sacada e segurando sua capturing weapon para que ela lhe auxiliasse na descida.

O loiro segurou seu braço.

“Eu sei que estou com minha licença suspensa, mas meu caso também, não é justo que você-”

“Eu realmente preciso ir.”

“Não vá sozinho, Hitoshi, por favor-”

“Por favor, fique em segurança, ok?”

Kaminari ficou em silêncio, encarando os olhos arroxeados, os seus amarelos arregalados.

“Está com medo que eu te controle?” Shinsou sussurrou, mas viu o outro estreitar os olhos. Suspirou.

“Você não faria isso.”

Mas lá Kaminari ficou, estático. Os olhos brancos, incrédulo.

“Não faria normalmente. Mas eu juro que vou te soltar assim que sair de vista, então, por favor, não saia de seu apartamento.” Ele se esticou, apoiando uma mão no ombro do inerte Kaminari e pressionando um beijo fraco em seu rosto. “Vá para dentro de seu quarto.”

Com o coração apertado, Shinsou deu as costas e pulou do prédio, enquanto Kaminari obedecia sem ser capaz de resistir, a mente cheia de protestos e vitupérios.

Pulou para a calçada, as botas no concreto, correndo para a frente do prédio quando se deparou com uma face conhecida bem em seu caminho e se refreou de súbito.

“Shinsou-kun?”

Era Sero Hanta.

“Cellophane?”

“Uh, eu, eu estou te atrapalhando alguma coisa? É uma chamada? Precisa de alguma ajuda? Reforço?”

Cogitou se não seria uma boa ideia levar alguém consigo, mas Aizawa demandara exclusividade.

“Não- eu… Você veio visitar o Denki?”

“É. Essa história toda me deixou preocupado…” Sero coçou a nuca. “Mas você está atendendo uma chamada, né? Pode ir.”

Shinsou chegou a tomar impulso mais uma vez, mas se refreou, parando perto do outro herói. Encostou em seu ombro.

“Faz um favor pra mim, Sero-kun?”

“Claro!”

“Não deixa ele sair de casa pra algum trabalho, ok? Ele está suspenso e não pode agir como herói, mas, mais do que isso, está extremamente confuso ainda. Não deixe que ele faça nenhuma bobagem.”

Sero fez uma careta confusa, mas assentiu.

“Tudo bem.”

Assentindo de volta com a cabeça, Shinsou tornou a correr. Quando saiu o suficiente de vista e supôs que Sero havia subido, soltou Kaminari, torcendo para que tudo desse certo. Tinha que manter a mente fixa no que importava agora, que era atender à chamada de Aizawa.

***

Sob a luz acinzentada da tarde, mãos nos bolsos do casaco, Kirishima seguia Bakugou de perto.

Bakugou, Kirishima, Midoriya e Todoroki haviam se dividido por aqueles momentos para cobrir a área, evitando usar suas individualidades ao máximo - não apenas para não chamarem atenção, mas por não serem autorizados a fazê-lo, de modo que tudo seria muito mais complexo para eles.

Kirishima não estava acostumado a olhar por cima de seu ombro o tempo todo, a ser aquele fazendo algo errado. Ainda não acreditava no que tinha acontecido: Bakugou fugira da cadeia da delegacia usando uma pena de Hawks como lima, e dissera que aquela mesma pena tinha desenhado um mapa no chão da cadeia para ele antes de cair inerte como uma pluma qualquer.

Aquele mapa que ele replicara, porque aparecia claramente em sua cabeça, e que agora estava na mão de Bakugou. Juntaram-se os quatro, agindo basicamente como motoristas da fuga do explosivo, mas havia uma razão além de amizade e confiança: a polícia não poderia ser confiada. Alguém lá dentro, ou toda a instituição, estava sujo.

Hawks tinha a capacidade de usar cada pena individualmente, então poderia está-los indicando um lugar para ir. Pensaram se não poderia ser uma armadilha do próprio Hawks, de quem já começavam a suspeitar, mas então Endeavor caiu inconsciente, levando a entender que… Akai Ito tinha os dois presos um ao outro. E, portanto, que Masayume capturara Hawks em seu sono implacável.

Estavam por fim ali, ao redor do local indicado, sem saber o que esperar. O loiro olhava para o mapa desenhado e rosnava baixo; não havia precisão, e não por falta de talento de Kirishima. Apenas era naquela área da cidade, tudo o que aquela pena pôde desenhar antes de cair inerte como a porra de uma pena deveria fazer.

“Que merda.” Bakugou enfiou com força o papel no bolso novamente, olhando para cima. O bairro residencial de prédios baixos era pacato demais, silencioso demais.

“Bakugou, você não acha que é uma armadilha?” Kirishima sussurrou perto dele.

“Não me importo. Eles vão todos morrer.”

“Eu me importo, Bakugou.” Ele puxou o loiro pelo braço, fazendo-o parar de andar. “Nós não temos um plano, nós não temos nada! Estamos só seguindo o que a droga de uma pena nos indicou. Você quer acabar preso por eles de novo? Ou pela polícia?”

“Eu não vou ser preso, qual é o seu problema?”

“Você já não foi por duas vezes? Mesmo com Deku ao seu lado? O que faz você pensar que agora seria diferente-”

“Eu vou quebrar sua cara, Kirishima!”

Uma dor de cabeça atingiu Bakugou e ele quase a confundiu pelo som que ouviu, uma explosão curta, ribombando no ar. Mas Kirishima também havia ouvido, e virou-se de súbito.

“Isso foi um tiro?”

Havia sido. Reverberando por toda a quadra, o som de um estouro precisamente de um apartamento em específico, quase uma quadra de distância deles. Bakugou agarrou Kirishima pela cintura e puxou-o contra si, ordenando que se segurasse; e com uma explosão que ele sabia não ser autorizado a usar, foi propelido para cima.

Irromperam os dois pela janela de um apartamento, Kirishima enrijecendo para amortecer o impacto dos dois. Os braços impenetráveis arrebentaram a janela e eles pularam para dentro.

O grande cômodo estava inteiro bagunçado, como se revirado, repleto de fotos. Em um sofá, amarrado, estava o detetive Tsukauchi - e, sobre a cama, Hawks, igualmente amarrado, as asas vermelhas presas em um tecido.

Os olhos de Bakugou escrutinaram rápido o cômodo caótico, mãos à frente de seu corpo prontas para uma explosão; enquanto isso, a primeira reação de Kirishima havia sido olhar para os reféns. Tsukauchi parecia bem, mas Hawks…

Aquilo vermelho ao seu redor era líquido, não suas asas. Ele perdia sangue aos borbotões.

“Bakugou, o Hawks tá ferido, é muito sério, precisamos levá-lo-...”

Enquanto isso, só eles se mostravam no apartamento. Ninguém mais, e não havia onde se esconder, certamente não nos menos de cinco segundos que eles levaram pra chegar ali. Era um maldito flat com algumas divisórias. Bakugou atravessou-o de um lado a outro, chutando a porta do banheiro. Eles teriam fugido?

“Eu vou matar os responsáveis!” O loiro rosnou ao invés. “Cadê, fugiram? Como fugiram? Chama o porra do Deku e o namoradinho dele pra eles fecharem as imediações, eles não foram longe!”

“Bakugou, a prioridade é-...” Kirishima pressionou o lençol no abdome de Hawks, identificando a ferida do tiro. Bakugou foi até os dois na cama, mas viu um vulto atrás de si. Virou-se para onde o vira, e mal teve tempo de reagir. Mais um som de tiro se fez no ar, e eles não foram capazes de entender aquilo. De um lado qualquer da sala, onde não parecia haver ninguém.

Contudo, o tiro foi diretamente na direção de Bakugou.

As mãos já cobertas do sangue do herói com asas, Kirishima virou-se e viu o loiro desviar em tempo, girando em seu eixo o tronco até ficar de lado, mas um zumbido seguiu o tiro, rasgando a frente da roupa do loiro e respingando sangue. O som do estrondo da arma de fogo seguiu o do zunido da bala cruzando o pequeno apartamento e se alojando na geladeira do outro lado.

“Bakugou!” Kirishima bradou, e levantou-se para pular em sua direção. Perdendo o equilíbrio, Bakugou oscilou para cair no chão, mas não sem desferir uma curta explosão na direção de onde supostamente viera o tiro.

Foi então arremessado para o outro lado pela força de sua própria explosão, seu corpo derrubado contra o assoalho displicentemente. Kirishima caiu sobre ele, cobrindo o loiro com o seu corpo em modo inquebrável, como um escudo completo. Os dois tiros seguintes, sem mira precisa, ricochetearam nas costas infuráveis, deixando ambos ilesos.

Kirishima mesmo sentiu uma dor se espalhar por seu próprio abdome, e não entendeu onde ou como tinha sido atingido, se estivera enrijecido e à prova de balas; até concluir que estava compartilhando a dor de Bakugou.

Revelaram-se, então, aqueles que se escondiam de alguma forma nas sombras: Akai Ito, Masayume e, como Bakugou já desconfiara, o delegado de polícia. Ele devia ter alguma individualidade de invisibilidade ou imperceptibilidade, em um campo ou algo semelhante, e se escondeu tanto ali quanto para desativar tudo na delegacia. Provavelmente usara o Hawks como seu agente até que ele não fora mais útil para ele, e foi eliminá-lo.

Sobre Bakugou deitado no chão, Kirishima suplicou, os olhos escarlate arregalados em completo pânico.

Era um pânico que Bakugou sentiu.

O medo da perda era quase insuportável nele, fazendo-o ouvir distante, sufocar na fumaça da explosão e no próprio ar que já estava em seus pulmões. Compartilhavam a dor, ainda que ela fosse muito mais intensa naquele que realmente estava ferido.

“Bakugou, fale comigo!”

“Foi de raspão, porra! Pega eles, Kirishima!” Bakugou grunhiu, botando um braço em sua própria barriga. Não estava certo de que era mesmo de raspão, mas estava certo de que sua garganta não estava cheia de sangue e que podia reagir.

Kirishima se virou para trás e viu os três. Três figuras lutando contra suas próprias queimaduras e atravessando a fumaça breve. Akai Ito, Masayume e o delegado de polícia, agora apontando uma arma para eles. Preparou-se para lutar, mas, nisso, o apartamento inteiro congelou.

Gelo subiu por tudo e ninguém mais conseguia se mexer. Nenhum dos vilões pôde escapar, e Kirishima não podia sair de sobre Bakugou.

Todoroki estava a caminho, e com ele Midoriya. Nos segundos seguintes.

Segundos cruciais. 

O sangue parou de pingar dos corpos, congelado no meio do caminho em gotas estáticas.

Os dois trocaram olhares escarlate, e se entendiam. Imóveis, enregelados, sentindo a dor tanto do gelo quanto do ferimento.

O rosto impassível de Bakugou tremeu de dor, e ele piscou devagar, apertando os olhos. A voz de Kirishima falhou.

“Bakugou, você vai ficar bem? Vai, né?"

“Eu bem. Já falei. Consegui desviar. Foi um arranhão só.”

A dor se irradiava por todo o torso de Bakugou, e eles compartilhavam também aquilo.

“Certeza? Tá… tá doendo tanto.”

“Tô te falando. Eu não vou morrer, você também não vai.”

“Que alívio. Que alívio, eu…”

“Uh, não vai começar a chorar em cima de mim.” Bakugou rosnou, olhando para o lado sem conseguir mover a cabeça. Pela mesma janela por onde os dois entraram, passaram Midoriya e Todoroki.

“Kacchan? Você está ferido?” Midoriya atravessou até eles, e as chamas tomaram o braço esquerdo de Todoroki para que ele derretesse o gelo na parte dos heróis.

“Nós estamos bem, nos solta nessa merda! Você pegou os filhos da puta mas tem um resgate urgente para fazer!”

“O Hawks! Levem ele, o estado dele é crítico!” Kirishima insistiu. "Estanque o sangramento dele e aqueça o corpo antes que ele tenha hipotermia!"

“Leva o pássaro daqui, garoto do gelo.” Foi Akai Ito quem disse, para a surpresa dos heróis dali. “Se ele se for, seu pai vai junto. Eu não consigo desfazer minha individualidade só com minha vontade.”

Também imóvel pelo gelo ao redor de seu corpo, Masayume acrescentou.

“Eu estou tentando manter a consciência do Hawks, mas ele está muito, muito perto de morrer. Não posso garantir nada. Vocês estão por sua conta, é bom correr.”

 



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