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História Deadly Sin - Mask Off


Escrita por: Zabalza1 e ClariceReis_

Notas do Autor


Olá <3
Só quero pedir desculpas pela demora, mas tudo tá bem complicado pra gente por conta de faculdade, trabalho e etc. Não tive tempo ainda de responder os comentários do último capítulo, mas prometo que vou. Agradeço muito a Mitsuky pelas mensagens que enviou, você motiva demais a gente. Já tava com saudade de vocês, sério, todos vocês são leitores maravilhosos e ajudam bastante no nosso trabalho. Enfim, vamos ao capítulo. Espero que gostem.

Beijos da Clarice

P.S: tô quase desmaiando de sono aqui, se eu falei alguma coisa errada não reparem.

Capítulo 7 - Mask Off


Yuri não tinha a menor ideia do que estava acontecendo quando entrou naquele clube. Tudo era uma bagunça em sua mente e nada parecia fazer sentido. Vampiros existiam? Não, claro que não, esse tipo de coisa é apenas fantasia. Mas como os  olhos de Chris mudaram  de cor? Tinha que existir uma explicação mais lógica do que seres sobrenaturais e  considerando  que talvez toda  essa loucura fosse  real, por que justo ele estaria envolvido?  Sua mão parou sobre a marca estranha em seu pescoço.  Yurio  tinha dito algo sobre aquilo parecer uma mordida, mas não era possível,  ou era?  Chris disse que  tinha sido  obra de um vampiro, mas Viktor  deixou aquela marca e ele não era...  Ele não era? A cada instante a certeza de que estava enlouquecendo aumentava. Viktor  Nikiforov  não era um demônio que se alimentava de sangue, ele era um cantor famoso e com certeza alguém teria notado se ele  andasse por aí matando  humanos. 

Sentiu  quando o  braço  de Chris  envolveu seus  ombros  de forma protetora  e notou como a postura dele  estava rígida enquanto caminhavam lado a  lado.  Parou para prestar atenção onde estava e percebeu que o  ambiente era iluminado por várias luzes de LED vermelhas que davam uma aparência um tanto assustadora ao local.  Com certeza tinha mais de cem pessoas ali, apesar do salão ser pequeno. Todos pareciam estar se divertindo, alguns espalhados pela pista de dança e outros conversavam em pequenos grupos perto do bar. Parecia uma boate qualquer. Na verdade, até lembrava um pouco o pub que  costumava frequentar,  mas havia  algo diferente.... Aquelas pessoas  tinham uma característica em comum, os olhos vermelhos.  “Não pode ser real”  Yuri  ficava repetindo para si mesmo, queria sair daquele lugar o quanto antes, mas Chris  o prendia a si com muita força e não demonstrava estar disposto a  deixá-lo ir. 

  Quando pararam em frente a um grupo perto do bar, toda a atenção pareceu se voltar para eles. Yuri notou que alguns  dos  pares de olhos que o encaravam tinham cores normais, por alguma razão isso o deixou minimamente mais tranquilo. Se toda aquela história sobre vampiros fosse verdade, pelo menos ele não era o único humano ali.  

— Chris, quanto tempo — disse um rapaz  de cabelos negros e íris de um tom  escarlate. — Nunca mais apareceu por aqui. 

— Estive ocupado, o trabalho mundano consome muito do meu tempo. —  Respondeu. 

—  E quem é esse? — Uma mulher loira questionou apontando na direção de Yuri. — Um lanchinho? 

—  Ele  disse  que é uma posse. — A moça  que os convidara  para entrar falou com um tom desdenhoso. — Uma pena, eu bem que gostaria de experimentar. 

O coração de Yuri estava acelerado. A forma como aquelas pessoas o encaravam era assustadora, parecia que iam devorá-lo e ele estava ficando cada vez mais nervoso.  

— Por que não deixa ela provar só um pouco? — O  homem de cabelos negros voltou a falar, dessa vez com uma expressão divertida. — Somos como uma família, nós dividimos tudo, certo? 

— Sinto muito, mas esse aqui é só meu.

   — Achei que já tivesse uma posse — a loira comentou. — Da última vez que o vi vocês estavam juntos e pareciam  bem apaixonados.  

— Só um tipo de sangue não foi o suficiente. — Yuri percebeu que Chris estava desconfortável com as próprias palavras.  

— Eu te entendo, cara, não ia conseguir ficar bebendo o mesmo sangue para sempre.  — Um homem loiro, que estava calado até o momento, falou puxando uma menina ruiva para perto.  Ela não tinha olhos vermelhos.  — Essa aqui já é a minha quinta ou sexta,  você pode provar depois que eu terminar aqui. 

Ele enfiou seu rosto no pescoço da  garota  e logo um filete de sangue começou a escorrer pela pele alva. A menina  tinha uma expressão de cansaço no rosto e alguns hematomas eram visíveis em seu pescoço e braços, porém, o que mais chamava  a atenção  era  o olhar. Vazio, quase como se ela  estivesse morta.  

—  Não, obrigado, estou bem.  Se me dão licença, vou me divertir um pouco. — Chris segurou a mão de Yuri. — Vejo vocês depois.  

Os dois seguiram até a pista de dança e Yuri não conseguia tirar o rosto daquela  ruiva de sua mente.  Vampiros existiam e aquilo era o que faziam com humanos. Estava  apavorado. Seus pés pararam de se mover e Chris ao notar o estado do amigo, tentou ajudar. 

— Eu sei que  você  está assustado, mas preciso que mantenha a calma. Prometo que vou tirá-lo  daqui, ok? Tudo vai ficar bem.  

— Vamos embora, por favor. —  Sua voz estava trêmula. 

— Só mais um pouco, tenho que agir naturalmente  para que ninguém desconfie. Olha pra mim. — Ele segurou o rosto de Yuri entre  suas mãos. — Eu vou protegê-lo, só preciso que fique calmo e siga as minhas instruções.  

Respirou fundo. Não tinha muitas opções e se aquela era a única forma de  fugir daquele lugar, teria que confiar nas palavras de Chris e manter a calma. 

— Tudo bem. — Tentou demonstrar segurança, mas seu nervosismo era evidente.  

Voltaram a caminhar juntos e pararam quando estavam  no meio da pista de dança. 

  — Me siga. — Ele disse perto do seu ouvido.  

Chris começou a se mover no ritmo da música e Yuri tentou acompanhar os passos, mas não conseguia se concentrar com todas aquelas informações em sua cabeça. Tantas perguntas que gostaria de fazer, mas  tinha muito medo das respostas.  

— Sei que deve estar preocupado com essa marca em seu pescoço, mas ela vai sumir logo. E não precisa se desesperar, só uma mordida não é o suficiente para transformá-lo, teria que ter bebido do sangue do vampiro que fez isso. — Continuou falando baixo. — Aliás, preciso que me descreva como ele é. 

— Por que?  

— Seja quem for, Yuri, provavelmente está atrás de você. Vampiros não mordem e deixam pessoas vivas. — Foi quando Chris pareceu se dar conta de algo. — Ao menos que tenham a intenção de transformá-las em posse.

   — Como aquela garota? — O desespero o atingiu.  Viktor queria mantê-lo como um tipo de servo? Alguém de quem poderia beber o sangue sempre que quisesse? 

— Sim, exatamente como aquela garota — suspirou.  Ele passou um dos braços em volta do pescoço de Yuri e aproximou  seus  rostos. Não tinha nenhuma outra intenção, apenas  queria que ele  o escutasse,  já que a música alta estava atrapalhando  a conversa.  —  A relação de posse deveria ter o consentimento do humano, mas muitos vampiros forçam o contrato.  

— Quem consentiria com algo desse tipo? — Yuri perguntou. O choque estava evidente em suas feições. 

— Não é exatamente assim... 

Não conseguiu se concentrar nas palavras  do amigo, pois seu olhar parou no mezanino acima da pista. Viktor o encarava com uma expressão séria  e isso fez com que o coração de Yuri parasse por um instante. Nos últimos dias seu maior desejo era vê-lo, mas agora estava com medo,  medo  pois sabia quem ele realmente era e quais eram as suas intenções.  Seu corpo inteiro travou, sabia que deveria falar algo a Chris, pedir ajuda, mas não conseguia encontrar a própria voz.  

— Yuri?  

—  Temos que sair daqui.  —  Conseguiu falar por fim, mas sua voz era quase um sussurro. Chris  conseguiu entender  e ficou surpreso. 

— Por que? O que aconteceu? — Seu olhar seguiu para o ponto que Yuri encarava e ele tomou um susto.  

— Não me diga que... 

— Foi ele.  

Chris proferiu toda a lista de palavrões conhecidos pelo homem, enquanto arrastava Yuri para a saída. Não sabia o que fazer. Viktor  Nikiforov  era simplesmente o líder de um dos maiores  clãs  do país  e  o vampiro mais poderoso  que ele conhecia, não teria nenhuma chance se tivesse que enfrentá-lo. Tudo o que podia fazer no momento era tirar Yuri dali e garantir que não houvesse muitas pessoas por perto quando  o confronto acontecesse, não tinha chance contra ele sozinho, mas teria menos ainda se permanecessem ali e o resto do clã se envolvesse na situação.  

Quando passaram pela porta e se depararam com o pequeno beco, Chris não ficou surpreso ao ver que Viktor já estava lá  fora  esperando por eles.  Se colocou na frente de Yuri de uma forma protetora, tinha que se manter calmo e tentar resolver aquilo da melhor maneira possível. 

— Saia de perto dele. — Viktor falou com um tom ameaçador.  

— Não vou  deixá-lo com você.  

— Yuri  não é sua propriedade. Você disse a todos que ele era seu, mas isso não é verdade.  — Chris se perguntou como ele já podia estar sabendo disso, só tinha comentado com algumas  poucas  pessoas. — Yuri, venha comigo, eu vou te levar para casa e tudo vai ficar bem.  

— Não.  — Não tinha ideia de como encontrara coragem para falar aquilo, mas sentia a raiva crescendo dentro de  si. Aquele demônio ainda teria a audácia de fingir  que  se importava  com ele?  — Tudo que eu quero de você nesse momento é distância. 

  Aquelas palavras pareceram atingir Viktor como um tiro no peito. Ficou sem reação por um instante, mas logo voltou a si e encarou Chris com um olhar mortal. 

— O que disse a ele?  — A fúria estava evidente em sua voz.  

— Somente a verdade.  — Yuri respondeu. — Já sei de tudo. Sobre você ser  um vampiro, sobre essa marca no meu pescoço e sobre os seus planos. 

— Planos?  Eu sei  que está confuso, mas precisa me  escutar, você não entende... — Viktor tentou se aproximar, mas foi impedido por Chris.  

— Fique longe dele. 

— Acha mesmo que pode me dar ordens? — desafiou. Estava frustrado com toda aquela situação, queria se explicar, mas  Yuri não parecia  nem um pouco disposto a  ouvir. No momento em que o viu  naquele clube, se arrependeu amargamente de mordê-lo, não era dessa forma que ele deveria descobrir, não sem saber sua versão da história.  Agora tudo que restava era  remorso, a ideia de que  as coisas  teriam  se desenrolado de uma maneira muito mais simples se  tivesse ignorado seus instintos e continuasse fingindo ser humano, pelo menos até que conseguisse pensar em alguma  solução  que evitasse tantos problemas. — Você que o trouxe até aqui para começo de conversa. Tem noção do perigo que ele estava correndo lá dentro?  E se descobrissem que você mentiu sobre o contrato de posse?

— Como se você se importasse. — Yuri interviu. — Já pode parar de fingir, eu vi lá dentro o  que você planejava fazer comigo. Não venha fazer de conta que está preocupado com a minha vida sendo que você ia arruiná-la.  

— Essa nunca foi a minha intenção. — Viktor suspirou.  

— Não acredito em você.  

Os três permaneceram em um silêncio  desconfortável e Yuri se perguntava como  conseguira  falar  tudo aquilo, considerando o seu estado emocional  completamente abalado.  Tinha  medo  do  que poderia  vir a  acontecer  com a sua vida, medo daquele homem e de sua natureza assassina, mas também estava furioso  e talvez por se sentir mais seguro ao lado de Chris, conseguiu  pôr todos os seus sentimentos para fora  e  enfrentar  Viktor.  Estava orgulhoso de si mesmo  por ter dito tudo que pensava, mas  logo caiu a ficha de  que  irritar um vampiro  era algo que podia lhe trazer  sérios  problemas. Talvez sua atitude impulsiva acabasse causando sua morte e até mesmo a de seu amigo. 

— Por favor, só peço que me deixe levá-lo.  —  Chris  decidiu tentar uma abordagem mais pacífica. — Ele  é importante pra mim e  depois de tudo que viu  hoje  com certeza  está muito  perturbado. Prometo  que podemos  chegar a um acordo  depois, lhe darei  o que quiser, só  me deixe tirá-lo daqui.   

Viktor pensou por um  instante  e chegou a conclusão de que não conseguiria  esclarecer a situação  naquele momento, não com  Yuri  naquele estado.  

— Tudo bem, acho que é o melhor a se  fazer  agora — falou  em tom resignado.  — Mas,  nós  dois  ainda precisamos conversar. 

— Não temos nada para conversar.   

— Yuri... 

— Tudo que eu quero agora é esquecer  o que aconteceu hoje, esquecer que eu te conheci e tudo sobre os últimos dias.  Isso é impossível, não é? Mesmo que eu tente, sempre  vai existir o medo de você aparecer pra me matar ou me transformar  em um escravo, nunca vou conseguir me livrar disso.  — Sua voz  saiu  frágil, mas o olhar que lançou para Viktor  era intenso.  — Eu só espero nunca mais ter que te ver.  

  (...) 

Depois do clique, a luz revelou o garoto que havia acabado de entrar no banheiro. Ele ainda vestia o avental verde que tinha que usar no trabalho, mas em suas mãos já estava uma outra camisa, de cor preta com uma iguana no meio, uma de suas favoritas.

Prontamente desfez o nó que segurava o uniforme ao seu corpo e tratou de trocar sua camisa pela nova que estava em mãos. Infelizmente, era só isso que ele poderia fazer, já que ir para casa tentar tomar um banho estava fora de cogitação.

Em um último esforço jogou um pouco de água em seu rosto, na tentativa de acordar, uma vez que ele havia passado a noite anterior assistindo vídeos de teoria da conspiração. Não que ele gostasse do assunto, mas algumas coisas são tão intrigantes que não conseguiu ignorar os vídeos sugeridos do youtube, que sempre acabavam aparecendo quando Yurio assistia vídeos sobre vampiros.

Jogou tudo na bolsa e colocou uma das alças na costas, saindo do banheiro em direção ao lado de fora.

Pela graça divina, ele havia sido liberado mais cedo por conta do temporal, porém é claro que não iria para casa. Ao sair da livraria, seu destino já o aguardava encostado na parede, tentando parecer discreto com óculos escuros importados.

Aquele encontro estava o deixando animado, Otabek parecia ser uma pessoa interessante, era só o que precisava para poder começar a ter uma quedinha por ele. Contudo, não deixaria transparecer isso tão facilmente, estava longe de ser do tipo fácil.

— Então, vai ser um café mesmo? — disse tentando parecer indiferente, já encostando-se na parede perto do outro.

— Foi só uma sugestão, não que eu goste de cafés ou algo do tipo. Só foi a primeira coisa que surgiu em minha mente.

— Por um momento eu pensei que você fosse uma daquelas pessoas tediosas que gosta dessas "programações". — Parou por um instante, logo dizendo pausadamente. — Cha-tas.

— Então eu sou um chato? — Riu, já em pé de frente para ele, o cercando contra a parede com um leve sorriso em seu rosto.

— Suas ideias sim. — O olhou desafiador.

— Então, por que não sugere onde deveríamos ir em nosso primeiro encontro? Dai quando formos no nosso segundo eu escolho um lugar melhor.

Aquelas palavras fizeram suas bochechas corarem levemente. Eles mal tinham ido para o primeiro e ele já pensava sobre o segundo? Porém, é claro que ele não iria ser deixar levar por algumas palavras bonitinhas, tentou recuperar sua pose e estendeu a mão para ele.

— Quanto dinheiro você tem na carteira?

— Em espécie não muito provavelmente, eu prefiro transi-

— Regra número um de um rolê, você não conta com cartão. Eu tenho... — Socou a mão em seu próprio bolso e retirou duas notas de dez um pouco amassadas e algumas moedas que não se deu o trabalho de contar. — Vinte reais e alguns quebrados, e você?

— Bem... — Otabek pegou sua carteira e retirou três notas de cinco reais e duas notas de dez, as colocando dentro da mão do garoto. — Certo, me diz o que você vai fazer com esses trocados?

— Regra número dois de um rolê, todo dinheiro é válido. — Sorriu satisfeito com a quantia que eles tinham juntado. — Vamos para o mercado.

— Pelo menos isso deixe eu fazer. — Retirou as chaves do seu carro do bolso, logo destravando um porsche que estava estacionado no fim da rua. — É só me dar as ordens.

É claro que Yurio não demorou em aceitar o convite e os dois seguiram para o carro. Tudo ainda estava sendo processado por Otabek, que realmente não acreditava que toda aquela história poderia dar certo, mas tudo estava tão esquisito esses dias que ele não se deu o trabalho de contestar a situação e além do mais, ele realmente queria sair com o garoto. Destrancou o carro e os dois se acomodaram no banco da frente sem demora.

— Você quer escolher alguma coisa para tocar? — Disse abrindo o porta luvas, logo depois de dar a partida no carro.

— Espera, isso são CD's? — O outro não aguentou-se e deixou uma risada escapar. É serio que em pleno século vinte e um você ainda usa discos?

— As rádios nunca tocam nada que me agrada, o que posso fazer?

— Usar um pendrive, ou conectar o seu celular no rádio? Quantos anos você tem? — Ele parecia se divertir com a situação, mas mesmo assim começou a passar um olho na coleção de CD's que estava no porta luvas. — Você parecia ser um mestre da tecnologia, acho que até chutaria que você era um DJ em seu tempo livre.

— O que mais eu aparento ser? — falou interessado no assunto. Parou o carro em um sinal vermelho e o observou.

— Bem, eu diria que você aparenta ser aquele amigo que nunca fala nada, sabe? Que quando fala todo mundo fica surpreso que tem voz. Agora sua vez, chuta alguma coisa sobre mim!

— Eu diria que você aparenta gostar de animais.

— Isso foi interessante, por que?

— Toda vez que eu te vejo sempre tem um na estampa de sua camisa. — Riu e continuou o caminho assim que o sinal abriu.

— Deixa eu pensar, acho que você gosta muito de Rock, a julgar pelos títulos dos álbuns.

— E eu diria que você gosta de caras que gostam de Rock.

" Só os que dirigirem Porsches e aparecerem no meu trabalho".

Otabek completou sua fala com uma pequena risada, os pensamentos continuavam sendo a melhor coisa sobre o garoto.

— Entra aqui à esquerda. — Yurio disse com pressa, fazendo o carro da uma curva brusca, ele queria ir para um mercado em específico, mas pelo visto havia esquecido de avisar o roteiro para o motorista.

— Pensei que quisesse ir para o central...

— Claro que não, aquele mercado é muito caro. Eu vou te ensinar a se divertir muito com pouco. Agora entre à  esquerda de novo e depois à direita.

Sem mais questionamentos, Otabek decidiu continuar seguindo as instruções de Yurio. Eles acabaram por entrar em um bairro que o motorista não conhecia direito, se aquilo poderia ser perigoso? Claro. Mesmo que ele confiasse no outro, não sabia se aquele território pertencia a alguma gangue e a última coisa que ele precisava agora era invadir o terreno de alguém.

Tentou esquecer aquilo e ligou o rádio para quebrar o gelo, colocando o CD de uma de suas bandas favoritas “White Stripes”. Assim que a primeira faixa começou a tocar, o garoto sentado do seu lado o olhou com uma cara surpresa, parecia que ele não era o único fã da banda. Yurio logo se entusiasmou e começou a conversar sobre as bandas que eles gostavam, e se surpreendeu como os gostos deles eram parecidos.

Por fim, chegaram em um mercado de grande porte, ele aparentava ser bairrista e Otabek nunca tinha ouvido falar nessa companhia. Não que ele costumasse ficar muito tempo na Rússia de qualquer jeito, estava por fora de todos os novos estabelecimentos, bares, desde que a união soviética caiu, o que já faz um pouco de tempo.

Saíram do carro e adiantaram-se para uma pequena fila de “carrinhos” perto da entrada do lugar, aquilo era uma tecnologia bem avançada para vampiros, assim que viu de longe Otabek torceu para Yurio fazer o que tinha de ser feito com aquilo ali porque ele não fazia ideia de qual era a sua utilidade.

Para sua sorte o garoto se apressou em direção ao carrinho e montou no mesmo, bem ele poderia não saber a função daquilo, mas com certeza não era para montarem nele.

— O que você está fazendo? — Questionou

— Descansando minhas pernas, claro! Agora anda, me empurra. — disse com um sorriso, sentando-se de maneira folgada dentro do carrinho.

— Como você quiser. — Não conseguiu segurar um pequeno riso ao escutar aquelas palavras, humanos eram criaturas que mereciam ser estudadas.

Atravessaram as portas automáticas do mercado e logo estavam nas seções, fazia tempos que Otabek não ia em supermercados, aliás, vampiros não precisam de comida humana, um pouco de sangue os satisfaz. E além da falta de costume, não sabia o que procuravam. Desde quando ele era tão submisso ao que um humano queria?

— Entra nesse aqui. — Yurio apontou para o corredor número seis, um que só tinha besteiras, o corredor dos sonhos das crianças. Quando já estavam dentro da seção, ele levantou-se e saiu do carrinho na maior normalidade, algumas práticas da cultura humana eram bem estranhas.

— Então, que salgadinhos você gosta?

— O que?

— Salgadinhos, Cheetos, Doritos..

— Qualquer um. — Respondeu, tentando parecer indiferente, mas a verdade é que ele não sabia do que se tratava.

— Então eu vou pegar os que eu gosto. — Começou a andar até alguns pacotes, puxando o carrinho e o outro junto consigo.

Ele foi direto em um pacote laranja e um verde. O verde aparentava ser de uma marca diferente, o tipo também, na sua embalagem Otabek conseguia ler “Ruffles” e aquilo chamou sua atenção, que nome interessante.

— Eu acho que vou pegar outro doritos. — resmungou para si e pegou outra embalagem laranja. Ao colocar os três no carrinho, Yurio seguiu para uma subdivisão que aparentava ser de doces. — Esses aqui são muito bons! Você já experimentou? — disse segurando um pacote intitulado “Fini”, dentro dele alguns gravetos vermelhos que não pareciam nada com os doces que Otabek já tinha visto.

— Acho que não. — respondeu em um tom baixo e passou os seus olhos pela infinidade de produtos que tinha ali. Um em especifico chamou sua atenção, ele tinha o formato de uma dentadura. “É sério que os humanos gostam dessas coisas?” Pensou enquanto olhava com desdém para a embalagem.

— Você gosta desses aí?

— Não, eles chamaram minha atenção. Na verdade, eu nunca provei.

— Tem uma primeira vez para tudo, não é? — disse com um sorriso e colocou a embalagem dentro do carrinho.

— Eu acho. — Ainda tentava processar essa ideia de uma dentadura comestível.

Seguiram por mais um último corredor, pegando duas garrafas de energético até seguirem para o caixa. O total foi trinta e dois e cinquenta, o que eles fariam com essas coisas? Era a pergunta que permanecia na cabeça de Otabek.

Ao chegarem no carro, guardaram as compras e Yurio colocou um local no GPS sem dar mais detalhes para o motorista, por que era uma “surpresa”. O dia estava realmente recheado delas.

Em um primeiro momento o caminho estava comum, porém aos poucos começaram a se afastar da cidade e as casas foram desaparecendo, dando lugar a algumas plantações baixas. Em tempos em tempos Otabek tentava arrancar do outro alguma informação sobre o lugar que eles estavam indo, mas nunca funcionava, sempre acabava em um “Espere para ver”. Como uma pessoa dirige para um lugar que nem ao menos sabe onde é?

Aquele humano estava revirando ele, não conseguia entender. Sentia-se completamente desarmado perto dele, nunca tinha se sentido dessa forma antes em todos os séculos de existência. O jeito indiferente e rebelde daquele garoto havia despertado alguma coisa dentro dele? Ou seria algo além disso?

Levou seu olhar até os olhos azuis, que fitavam a paisagem ansiosos. Nunca havia parado para o olhar tão de perto, ele possuía olhos marcados, provavelmente de noites viradas em claro, sua pele branca deixava evidente todas as suas veias e acentuavam ainda mais a tonalidade vermelha de suas bochechas.

A voz do comando automático do GPS o fez acordar, e logo fez uma curva a esquerda.

Depois de mais alguns minutos de navegação, chegaram no topo de um morro. Otabek estava confuso sobre a localização, mas Yurio parecia certo daquilo, apenas agarrou as sacolas das compras e se apressou para o lado de fora. Não possuindo mais opções, acabou por seguir o garoto.

Andaram por alguns segundos em um gramado, que manchava as solas dos sapatos de lama, até um morro alto, ainda sim ele se questionava o porquê de estarem ali. A visão era sensacional, não poderia negar, dava para ver a cidade inteira, será que era esse o lugar ideal de Yurio?

— Então era aqui que queria me trazer? — Otabek falou, o olhando com as mãos no bolso.

— É lindo, não é? — O outro respondeu, olhando para a vista que se estendia a sua frente. — Eu costumava vir aqui bastante antes de arrumar um trabalho.

— A responsabilidade bateu em sua porta?

— Não, só arranjei outro lugar para ficar. — riu com deboche e olhou para cima. Não demorou muito para ele segurar o queixo do outro e fazer ele olhar para a mesma direção.

A vista era de tirar o fôlego. Por conta da falta de prédios era possível ver todas as estrelas com clareza. Era algo único, eles não tinham ido em nenhum restaurante caro, mas mesmo assim Otabek estava tendo uma noite que com certeza ficaria guardada em sua memória.

Todas aquelas luzes no céu o faziam se lembrar de seus primeiros dias como vampiro. Amadureceu em uma pequena fazenda junto de Viktor, então o céu limpo era algo comum de se ver. As vezes eles escapavam a noite para tentar estudar um pouco de astronomia.

Se alguém conhecia o céu muito bem era ele.

Não entendia, aquilo era algo tão comum, então por que de repente tudo parecia ser tão especial? Mesmo que não quisesse admitir, sabia que a resposta estava bem ao seu lado.

Em um movimento lento, levou sua mão até a do outro, entrelaçando os dedos devagar. Ele pôde perceber a tonalidade do rosto de Yurio ao sentir seu toque, mas nenhum dos dois se atreveu a se afastar.

— Então, você é sempre bom escolhendo locais para encontros? Ou só quando está saindo com uma estrela do rock que te busca de Porsche? —  brincou lembrando do pensamento que havia escutado mais cedo.

— Você além de ser bonito lê mentes? — Riu e andou até um espaço perto de algumas pedras.

— Vai ficar aí parado?

— Já que me chamou. — Sorriu de leve, o que até pareceu estranho, e sentou perto dele.

— Anda que eu estou com fome. — Resmungou e tratou logo de retirar as comidas da sacola. Já mirando em um dos pacotes de doritos. Por sua vez, Otabek estava de olho nas famosas dentaduras. Assim que percebeu o pacote na mão do outro cobriu a boca que estava cheia de salgadinho. — Você começa com o doce?

— Não sabia que essas coisas tinham ordem... — riu com certo deboche e abriu a embalagem.

— Encaixa na gengiva. — Yurio falou engolindo os salgadinhos em sua boca. — Assim vou sentir que estou saindo com um vampiro.

Otabek não resistiu a brincadeira, por mais estupido que isso pudesse soar. Ele tentou discretamente encaixar a guloseima em sua gengiva, sem deixar evidente, claro, suas próprias presas. Aquilo deveria estar ridículo, um vampiro de mais de cem anos agindo como uma criança humana, uma desonra para o seu clã.

— Vamos, tira uma foto para eu ver como estou.

— Não se mexe, isso tá hilário. — O outro riu, pegando seu aparelho celular no bolso e tirando rapidamente a foto daquela situação. Depois, aconchegou-se perto dele e mostrou a foto.

— Apaga isso, agora. — Riu, ainda com a bala entre os dentes.

— Ah! Só por que eu ia colocar como meu plano de fundo.

— Se é assim. — Retirou outra bala do pacote e entregou para Yurio. — Estou precisando de um novo plano de fundo também.

As bochechas do garoto assumiram uma tonalidade vermelha com o comentário, não sabia por que mais aquilo tinha feito seu coração bater um pouco forte. Acabou por aceitar e posicionou a dentadura do mesmo jeito de Otabek, já se aninhando perto dele para a foto.

— Se alguém pegar seu celular e ver isso, o que eles vão pensar? — Falou baixo, já mastigando a bala. — Eu esperaria uma modelo gostosa no plano do fundo.

— Espero que não pensem sobre você, porque se não infelizmente vou ter que dizer que quem achou a carteira dele fui eu.

— Nem fala isso, eu quase morro do coração sem ela!

— Que tipo de pessoa esquece a carteira em uma festa? — Guardou o celular no bolso, mas não se afastou do outro.

— Eu não estava bem naquela noite, certo? Você conheceu uma parte obscura minha.

— Coloque obscura nisso, quase não te reconheço.

— Qual é, vai ficar rindo de mim agora? — Se virou para ele de braços cruzados.

— De jeito nenhum, fico muito feliz por você ter esquecido a sua carteira. Se isso não tivesse acontecido, provavelmente eu não estaria aqui agora, mas sim em algum restaurante cinco estrelas fazendo alguma coisa chata.

— Você está me devendo uma.

— E você também, devolvi seus documentos e cartões intactos.

— E você está me devendo outra por te salvar das suas fãs malucas. — Yurio respondeu, se inclinando para perto dele.

Muito perto. Otabek conseguia sentir o cheiro do sangue e escutar as batidas frenéticas do coração do garoto. Por alguma razão, não era a vontade de saciar sua sede que o dominava, não era como das outras vezes em que apenas queria beber sangue, tinha outro desejo naquele momento.

"Me beija logo"

Pelo visto ele não era o único.

— E você está me devendo isso. — Otabek segurou o rosto do mais novo e o trouxe para um beijo, tocando os lábios devagar.

O rosto do outro assumiu a tonalidade vermelha mais uma vez. É claro que havia passado o dia todo com vontade de fazer isso, mas não tinha reunido coragem o suficiente. Não iria desperdiçar a chance e logo abriu a boca de leve, dando passagem a língua do homem que parecia desejar aquilo tanto quanto ele. 

Eles não tiveram pressa, o ritmo do beijo foi lento, calmo. Não era recheado de desejo, mas sim de paixão, como se quisessem se conhecer lentamente, sem pressa. Yurio acabou por quebrar o beijo, desviando seu olhar para baixo.

— Você pode cobrar de novo quando quiser.

— Que tal o próximo pagamento ser revertido em um encontro? Eu escolho o lugar agora. — Otabek colocou outra bala na boca.

— Quero ver você me impressionar dessa vez. — riu, abrindo a garrafa de energético.



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