Eu estava navegando entre as vidas. Naquele vão conhecido como breu, sem um navegador para me conduzir, mas eu estava tranquilo. Eu sentia que minha alma tinha cumprido seus propósitos e minha missão de vida já tinha se completado. Mas, nem durante um profundo sono eu pude descansar, vozes, cheiros, tudo ainda estava a minha volta, e um maldito barulho, um chiado desconhecido que invadia minha cabeça me deixando com dor, como se fosse possível.
- Ele... ELE ESTÁ ABRINDO OS OLHOS RECOVERY – Gritou, terminando de me fazer acordar, ainda desnorteado sendo pego de surpresa pela luz forte, voltando a tentar fechar e abrir minhas pálpebras.
- O que, que ta acontecendo? - Falei mesmo que sem muita facilidade, sentindo minha garganta tão seca quando meu rosto. - Sede...
- A sim, pera! - o menino ruivo aparente se levantou as pressas, indo para o outro lado do quarto ao mesmo tempo que a senhora baixinha se sentava no banco para ficar mais alta e poder olhar para mim, levando uma pequena lanterna para próxima do meu rosto, abrindo meu olho com seu polegar e vendo como estavam meus sintomas.
- Você está se sentindo bem? Alguma dor?
- Apenas de cabeça - Me sentei na cama, tocando minha testa, passando alguns fios de meu cabelo para trás da orelha. - Que dia é hoje?
- Aqui. - Chegava na mesma hora o menino ruivo com o copo de água, levando está para direção do meu peito, e eu, tentei a pegar com minha mão, que mal se movia, olhando irritado para a mesma, continuando a tentar. - Espera, eu te ajudo. - O garoto aproximou o copo de meus lábios e eu fiquei ainda mais furioso, tomando a água pela maior sede que sentia. - Você está bem?
- Estou. - Virei meu rosto. - Que dia é hoje? - Perguntei novamente.
- Fazem dois dias que está aqui – Arregalei meus olhos, voltando a tocar minha testa, sentindo ainda mais dor de cabeça.
- Venha, Kirishima, deixe o senhor Bakugo descansar – A velhinha pegou a mão do ruivo, que olhava para mim como um cachorro perdido, ele não queria sair dali.
- Pode ir, Kiri. Descanse também. - Falei, na tentativa de o fazer me deixar a sós com a velhinha, que conseguiu se livrar dele, fechando a porta da enfermaria e então se sentando ao meu lado novamente. - E então?
- Meu poder é limitado.
- E?
- Preciso que esteja saudável, pelo menos que esteja bem, para que suas células se reconstruam naturalmente.
- Tem forma?
- Bakugo, você perdeu a mobilidade das pernas, da sua cintura para baixo é tudo vão, basicamente. Eu tentei te curar, mas precisava d você acordado.
- Tem forma ou não?
- Tem. Mas vai exigir muito esforço e uma dieta a risca, você vai precisar exercitar suas pernas sem parar, e não vai poder deixar de lado o tratamento mesmo que demore o resultado.
- Não tem outro jeito? - A velhinha discordou. - Tudo bem, eu consigo fazer isso.
- Descanse por agora, querido. Vai ser uma semana cheia – A velhinha deu-me um beijo na testa que foi capaz de me ajudar levemente com a dor de cabeça, e então se retirou da sala de enfermagem.
Sozinho ali eu só fazia ficar mais frustrado, minha cabeça não relaxava em momento algum, eu meditava entre pensar em minha situação e na vontade que tinha de ao menos agradecer. Não conseguia mudar minha direção, exceto quando a questão era pensar em Kirishima Eijiro e na forma como tinha sido muito meigo quando se confessou. Ele me fazia sentir as borboletas no estômago, recordar apenas dos bons momentos e nem sempre isso era bom.
Mas, apesar disso, naquele momento era perfeito pensar em coisas boas. Um sorriso largo invadiu meu rosto, e eu deitei a cabeça naquela almofada como se flutuasse nas nuvens. Eu estava mesmo pensando em morrer por alguém, e o quão louco isso parecia na minha cabeça, não teria explicação. Eu, quem sempre lutei por minha vida própria e minha profissão, estava sendo capaz de deixar todos os meus sonhos materiais, para morrer por um sonho absurdo de amor. Era ainda mais estranho. Mas não tão estranho, e ao mesmo tempo óbvio, quanto Eijiro escondido atrás da janela da enfermaria, sendo entregue por seus fios mais agitados.
- Saía daí. - Falei com um sorriso no rosto, mas a voz grosseira e grotesca de sempre.
- Com licença... - ele dizia baixinho e vinha se aproximando super rápido, pegando o banquinho e se sentando ao meu lado como uma criança preocupada. - Como... Como se sente?
- Estou bem, ver seu rosto me deixou bem. - Falei apenas para lhe ver corar, e levantar o rosto num sobressalto, me encarando com aqueles olhos fumegantes.
- Bakubro... - ele hesitava, mas pegava minha mão deitada na minha perna, segurando firme e levando até seu próprio rosto, onde a acariciou na sua bochecha. - Foi muito, muito másculo... Não, foi muito corajoso o que você fez por mim. Eu fiquei com medo de não poder lhe agradecer. Ou te ver de novo.
- Não seja um idiota, eu vou viver muito ainda, eu prometi que ficaríamos juntos por um bom tempo, esta tentando se livrar de mim? - Falei zombando, vendo este se alegrar um pouco, me dando um leve cutucão no braço e rindo anasalado.
- Claro que não. - O silêncio reinou por ali, mas eu estava começando a achar que estávamos nos confessando mais um pouco. Aquela falta de gritaria e barulho apenas deixava claro que podíamos nos ler e entender, e tudo bem ficar quieto as vezes.
- Quer saber o mais estranho? - Falei para cortar o silêncio.
- O que?
- Eu lembro de sentir sua falta enquanto estava inconsciente. Lembro de me sentir sozinho o tempo todo, como se já tivesse feito tudo ao meu alcance. Mas acho que agora entendi, sinto sua falta, Eijiro. Quero ficar com você o tempo todo. Você é o garoto mais adorável que já conheci, o mais engraçado, e tudo que você faz me surpreende. E gostaria de poder dizer que esses são os motivos pelos quais gosto de você, porque isso me faria parecer um ser humano muito evoluído… Mas acho que tem mais a ver com seu cabelo ruivo e suas mãos macias… E com o fato de você ter cheirinho de bolo de aniversário. - Falei recordando das sensações que o menino causava em todos os meus sentidos.
- eu não sei o que dizer, bro – Kirishima começou a chorar emocionado, com um grande riso no rosto, soltando minha mão para pular na cama e abraçar meus ombros, me agarrando com força. - Isso foi muito lindo.
- Cabelo de merda... - apertou o ombro dele, - me solta, ta me enforcando – apertou ele mais forte, até que me soltasse e então pudesse respirar. - Cacete, se contenha!
- Desculpe!!! - ele desceu um pouco mais, me abraçando pelo peito, ficando deitado na maca comigo, grudando seus pés ao meu. - Bakugo, eu amo você, eu amo, amo, amo, amo demais você, você é tudo para mim e eu não sei dizer palavras bonitas, mas tu és para mim um chuchu que eu colhi, você é meu elfo encantado!
- esta usando frases passadas de desenhos para me elogiar? - O outro acenou em sim. - Que diabo é elfo encantado?
- é uma música oras.
- QUE PORRA DE MUSICA???
- “era uma vez um elfo encantado que morava num pé de caqui. Encima morava um doende safado que vivia fazendo pipi. Um dia o Elfo se aborreceu e na porta do doende bateu, e foi nessa ocasião que eles então, se casaram” essa, viu?
- Essa é a música mais idiota que eu já ouvi.
- Eu gosto dela.
- Você tem um péssimo gosto!
- Eu gosto de você. - Ele brincou e imediatamente eu lhe olhei irritado, como se fumaças saíssem de mim e eu estivesse pegando fogo, e ele já entendia o recado. - Mas claro que você é a exceção!!!!!
- Bom mesmo!
O ruivo permaneceu ali do meu lado, ficou ali quando Recovery reapareceu para me dar uma lista do que fazer, e continuou do meu lado mesmo quando eu recebi algumas broncas e elogios de All Might. Se grudou tanto a mim, que não me deixava levantar sozinho, estava ali até para ir ao banheiro comigo, e por mais constrangedor e sufocante que fosse, entendia suas razões e aproveitava para dar uma risada por fora.
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