História DEAR WOLF - Harry Styles - Lobo

Descendo as escadas vejo a figura de Cassandra sentada no chão da sala. Mexia no celular com um ar risonho e digitava freneticamente, tão distraída que mal reparou na minha presença atrás do sofá.

– Fazendo o dever? – pergunto inocentemente, vendo o desespero tomar conta de seu rosto. Assisto ela bloquear o celular e esconde-lo em baixo de um caderno em questão de segundos.

– Que? Eu? Sim, sim. Pesquisa de história…

– Então por que está com o caderno de matemática aberto? – cruzo os braços sabendo que ela escondia algo de mim. Seu olhar ia pra mim e para a floresta, um sorriso brincalhão nascia em seus lábios.

– Vou sair com o Liam mais tarde, não sei que horas volto. Então tente disfarçar para a mamãe. – concordo ainda que contra minha vontade, mas Cassie era mais velha e sabia o que fazia com sua vida. – Pode limpar a piscina? Daqui a pouco vou rastelar as folhas.

Não lhe dou uma resposta, apenas me dirijo para a gigante porta de vidro que dava para o deque, onde ficava a churrasqueira e a piscina. A floresta ficava alguns metros a frente, então o clima fresco e folhas caídas eram inevitáveis, assim como os animais selvagens.

– Violet. – ela me chama em um tom baixinho, viro para ela com a mão já na porta de correr. – Amanhã vou chamar uns amigos para virem aqui em casa, você se importaria?

– Nossos pais sabem disso? – questiono com a sobrancelha arqueada e ela me dá um sorriso, afirmando com a cabeça. Me viro e logo saio rumo a piscina que deveria ser limpa.

Massageio minhas mãos por alguns instantes quando sinto um formigamento se apossar delas. Fazia uns dias que isso estava acontecendo e só não pesquisei na internet o que poderia ser, porque o resultado seria um tumor maligno ou gangrena.

Observo a piscina de perto. Estava mais suja do que deixei na semana passada. Então teria que aspirar, jogar produtos e deixar a água batendo.

Com o cano em mãos, jogo o aspirador na água e o conecto. Iria demorar mais do que o normal, mas eu iria fazer do jeito que dava, mesmo com as mãos formigando e trêmulas.

Normalmente, eu dividia as tarefas com minha irmã, já que meus pais passam o dia todo fora, cuidando do restaurante da família. Porém, no último ano Cassandra começou a namorar com Liam e sempre que sai com ele, some por algumas horas e deixa suas tarefas para mim.

Sinto um arrepio passar por minha coluna e uma forte sensação de que estava sendo observada. Não era a primeira vez que isso acontecia, então procuro ignorar essa sensação estranha.

Deve ser algum esquilo. Ou minha irmã louca.

Desligo o mais rápido que posso a bomba da piscina, tirando o cano da água e quase tropeçando nos próprios pés. Com o cloro em mãos, ouço um farfalhar de folhas. Pássaros levantam vôo e aquela sensação de filme de terror surge. De alguma maneira eu sabia que já tinha sentido aquilo antes.

Penso em correr para dentro de casa, mas a vontade de entrar na mata é maior. Sempre andei pelas árvores e quase todo dia ia para a cachoeira, mas nunca fui para o outro lado da propriedade.

Bom, para tudo há uma primeira vez.

Ainda trêmula, desço as escadas do deque. O sol estava quase se pondo, então eu tinha poucos minutos para entrar e sair da mata.

Me movo lentamente, sinto a tensão no ar. Respiro fundo, apressando um pouco os passos, as árvores cada vez mais próximas de mim. Penso que deveria avisar alguém que iria entrar na mata, mas lembro que minha irmã sabia que eu estava aqui. Não tinha o que dar errado, era só entrar e sair.

Só percebo que estou entre as folhagens quando meu coração dispara com um simples esbarrão em uma planta. Tento me acalmar pois sei que não tenho motivos para entrar em pânico. Um lobo uiva a quilômetros de distância e segundos depois, há uma movimentação próxima a mim. Agarro uma árvore de imediato. Tenho sim motivos para entrar em pânico.

Quando me viro para ir embora, algo rosna próximo a mim. A respiração presa e as mãos trêmulas evidenciam o estado de tensão. Não consigo pensar em nada além da morte. As folhagens se movem mais uma vez e sei que o animal se aproxima de mim.

Não demonstrar medo. Não demonstrar medo. Não demonstrar medo.

Penso inúmeras vezes quando me lembro dos documentários que vi na televisão. Tento acalmar meus batimentos cardíacos e respiro fundo algumas vezes. Sem meu consentimento, meu corpo se vira. A figura de um lobo majestoso aparece de imediato. Um grito preso em minha garganta.

O lobo branco ergueu o focinho, cheirando o ar; as orelhas estão em pé e seus pelos arrepiados. Me agarro a uma árvore ao passo que o lobo se aproxima. Sua cabeça vira para o lado enquanto analisa meu peito subindo sem parar. Parecia que se divertia com o meu desespero. O canídeo se aproxima ainda mais e quando encosta seu focinho gelado em mim eu tenho certeza de que iria ter um infarto.

Olho lentamente por todo o local para confirmar que não há saída. O animal com certeza me pegaria no primeiro passo que eu desse. Solto um resmungo quando sinto sua língua em minha mão.

Minha mão não, por favor.

Contando até dez, pulando números e inventando alguns, eu respiro fundo e encaro o canídeo em minha frente. Sua pata não encostava no chão completamente, dando indícios de que ele estava machucado. Logo supus que ele não iria me ferir, principalmente estando naquele estado.

Com uma coragem de outro mundo eu ergo minha mão, levando-a em direção à pelagem branca. O animal muda sua postura e eu paro imediatamente.

– Ei amigo, não vou te machucar. É carinho! – quando encosto a mão na pelagem macia, ele fixa seus olhos no meu. Olhos verdes como um cristal.

O momento é intenso, minhas mãos formigam como nunca e meu coração parece parar por instantes. Estar perto de um animal selvagem e violento, de uma maneira tão carinhosa, parece ser surreal.

– Violet, cadê você? – ouço minha irmã gritando. Me viro em direção a minha casa e não percebo quando o lobo vai embora. Logo, a sensação de formigamento também.