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História Death.Time.Love - Decisão


Escrita por: fercarol03

Capítulo 8 - Decisão


Já estava no meio da manhã quando Draco ouviu um único e suave toque contra a porta de seu escritório. O homem deixou os documentos que analisava sobre a mesa e franziu a testa, pedindo que o visitante entrasse. Um sorriso de canto se formou quando ele avistou a vasta cabeleira ruiva pela pequena fresta, um olho muito azul o encarava do lado de fora.

-Vejo que a família Potter tem o péssimo hábito de invadir meu escritório durante o dia. -Malfoy se levantou, avançando em direção a jovem que ria ainda do corredor. -Imagino que o Potterzinho que você está esperando nem irá bater antes de entrar correndo por aqui.

-Você nos deu esse péssimo costume! -Gina falou abrindo os braços para envolver o amigo. -Eu não sei se deveria te abraçar pela saudade ou te bater por ter se casado em segredo.

-Foi necessário, Gina. -Malfoy sorriu puxando uma cadeira para a jovem grávida se sentar.

-Eu sei, eu sei! Mas você não pode evitar que eu fique chateada. -A mulher cruzou os braços sobre o peito. -Precisa me prometer que vamos comemorar a união de vocês.

-Eu não sei se… -Draco coçou a nuca olhando para a mesa.

-Bom, foi um casamento muito estranho, é verdade. Mas vocês formaram um casal feliz no final.

-É…

-Sem desculpas! Natal na residência Potter depois da cerimônia memorial. -Gina jogou os fios ruivos sobre o ombro com um sorriso vitorioso. -Fiquei muito feliz por você, Malfoy. Hermione é uma jovem encantadora.

-Fiquei sabendo que você foi até a minha casa esses dias. Não me venha se fazer de surpresa! -Draco sorriu de canto, os cotovelos apoiados sobre a mesa.

-Você quem abriu o portal, eu apenas aceitei o convite! -Gina ergueu uma sobrancelha com o ar ofendido. -Eu achei que ela ficaria feliz em ver um rosto conhecido.

-Sim, eu agradeço por isso.

-E então? Como está sendo a vida de casado? Harry me falou que você o pediu para investigar a família de Hermione.

-Eu deveria imaginar que ele não conseguiria guardar segredos. -Draco revirou os olhos. -Depois do que aconteceu, eu queria achar uma forma de proteger Hermione. 

-Você fez bem. Acredito que ela não tenha qualquer instrução mágica. Ela poderia ser um a…

-Não, ela não é. Fomos a cidade e compramos uma varinha para ela esses dias. -Draco sorriu com a lembrança dos olhos da jovem esposa brilhando de animação durante todo o dia. -Ela já leu alguns livros sobre feitiços e está treinando sozinha.

-Ela é inteligente.

-Absurdamente. Eu imagino o que ela poderia fazer com a instrução adequada. -Draco lançou um olhar de canto para a amiga que ergueu as sobrancelhas surpresa.

-Você está sugerindo que eu…

-Sim.

-Mas eu não sou mais professora há…

-Sim.

-E eu estou… -Gina passou as mãos pela barriga protuberante.

-Sim! -Malfoy sorriu. -Não faça nada perigoso, por favor. Dobby estará lá para ajudar.

-Quem disse que eu vou aceitar? Ensinar uma moça adulta que nunca teve instrução mágica será absurdamente difícil. -Gina cruzou os braços sobre o peito e bufou. As bochechas claras estavam um pouco mais rosadas e Draco não sabia dizer se era por causa do frio ou de excitação. -Ela é tão inteligente assim?

-Acredito que seja a pessoa mais inteligente que eu conheço e isso inclui eu mesmo, você e seu marido. -Malfoy deixou uma risada escapar ao ver a careta da jovem. -Eu não tenho muito tempo para ajudá-la, Gina, e Dobby se recusou a lançar qualquer feitiço contra sua senhora.

-Por que você quer que as pessoas lancem feitiços contra ela?

-Eu gostaria que ela aprendesse a duelar em uma batalha real. Eu preciso que ela saiba se defender caso seja necessário. Você sabe…

Gina deixou um suspiro pesado escapar. Ela sabia, é claro que ela sabia. Malfoy também sabia que Gina entendia muito bem o que ele estava falando e compreendia seus medos. Saber feitiços de defesa é o que pode fazer a diferença entre a vida e a morte em uma situação extrema.

-Tudo bem, eu vou ajudar. -Gina jogou os braços para cima teatralmente. 

-Obrigado!

(...)

Hermione nem pode acreditar quando a jovem ruiva entrou pela porta da frente, sorridente como sempre, anunciando que iria a ajudar com seus estudos de feitiços. Hermione perguntou o que Gina faria uma vez que ela estava grávida e a jovem apenas sacudiu uma mão.

-Nós vamos ter ajudar, não se preocupe. -Ela falou. -Mas antes eu preciso saber o que você sabe.

Hermione passou os próximos minutos mostrando os feitiços que havia aprendido nos livros que haviam comprado da última vez que estiveram na cidade. Gina arregalava os olhos cada vez que a outra falava um encantamento diferente e, sem dúvidas, o avanço que ela havia feito sozinha era impressionante.

-Você aprendeu praticamente todos os feitiços básicos sozinha. -Gina arregalou os olhos. -Hermione, isso é impressionante.

-É só o que eu aprendi em alguns livros. Está longe de ser bom. Ainda não posso fazer muitas coisas.

-Está maluca? Meus irmãos levaram meses para aprender como fazer flutuar objetos. 

Hermione sorriu envergonhada. É claro que estava contente com os avanços que havia feito, mas não estava nem perto do que almejava. Ainda tinha muitas coisas para estudar se queria realmente se tornar útil em magia. Gina coçou o queixo pensando no que estava prestes a fazer.

-Acho que você deveria tentar feitiços de batalha.

-Batalha? Mas eu não pretendo entrar em batalhas!

-O negócio sobre batalhas, Hermione, é que nunca se pretende entrar em uma até que você seja obrigado. Nesse caso, é bom que você saiba o que fazer para se defender.

-Entendi. O que eu posso fazer?

-Nós vamos começar pelos feitiços de proteção. Começando pelo Protego.

-Protego? Acho que já ouvi falar desse.

-Ele tem algumas variações, mas serve basicamente para defesa. O mais básico, serve para se proteger de feitiços simples ou pequenos objetos. Vamos começar.

Gina passou a lançar pequenos objetos que não causariam nenhum machucado caso atingissem Hermione. A jovem morena passou a imitar os movimentos que a outra havia lhe ensinado, tentando se defender e escapar dos objetos que eram lançados em sua direção. 

Gina precisava admitir que estava impressionada. Imaginou que Hermione levaria alguns dias até pegar o jeito do feitiço, mas, ao final de uma hora, ela já era capaz de se defender completamente dos pequenos ataques que lançava a ela. Ao fim do dia, haviam conseguido avançar para o Protego Horribilis, para protegê-la de azarações, e Protego Maximas, para ela se proteger de objetos mais pesados. 

Hermione parecia contente com seus novos conhecimentos, embora parecesse longe de estar satisfeita. Ela claramente tinha um grande apetite por conhecimento e era obviamente uma bruxa nata. Gina se lembrou das palavras de Malfoy em seu escritório mais cedo: “Eu imagino o que ela poderia fazer com a instrução adequada”. Para ser sincera, Gina se fazia a mesma pergunta naquele momento.

Gina lançava em Hermione um feitiço e ela se defendia com tranquilidade quando ambas ouviram o som de um assovio. As meninas pararam por um segundo, encontrando os maridos parados na porta olhando para elas de olhos arregalados.

-Definitivamente ela tem competências mágicas. -Harry comentou enquanto assentia. Draco lhe lançou um sorriso de canto.

Malfoy anunciou que o casal Potter se juntaria a eles para o jantar e Hermione correu primeiro para avisar Dobby que já deveria ter começado a preparar a comida, depois ela correu para seu quarto para um banho antes de se juntar aos outros.

Draco, Gina e Harry se sentavam tranquilamente na sala de estar, cada um com um copo de uma bebida quente enquanto esperavam. Gina contava entusiasmada tudo o que Hermione havia aprendido e Draco sorria vitorioso, como se tivesse provado um ponto para a colega. Gina por fim assentiu.

-Acho que você pode ter razão, Draco. -Ela falou cruzando os braços, um sorriso malicioso em seus lábios. -Hermione é a pessoa mais inteligente embaixo deste teto.

Quando a jovem retornou para a companhia dos demais, eles já falavam amenidades e o assunto havia ficado no passado. Hermione observou, enquanto se sentava em uma poltrona, a forma como Harry Potter abraçava a jovem esposa grávida, apoiando o queixo na curva de seu pescoço.

-Estou te falando, Malfoy! Essa criaturinha vai ser o maior jogador de quadribol que esse mundo já viu! Será um grande apanhador. -Potter comentava enquanto alisava carinhosamente a barriga da esposa.

-E se for uma menina? -Gina ergueu uma sobrancelha para o marido que meneou a cabeça e pensou por um instante.

-Aí ela será a primeira apanhadora do mundo! Já pensou que honra?!

-Segure sua empolgação, rapaz! O que você vai fazer se essa criança decidir ser um pesquisador de animais exóticos? -Draco perguntou divertido com os sonhos do colega.

-Aí teremos que investir em um dos outros irmãos. O importante é que tenhamos ingressos grátis nos jogos da copa! -Harry e Draco explodiram em uma gargalhada. Gina ergueu uma sobrancelha para o marido.

-De que irmãos você está falando?

-Oras, dos outros 4 ou 5 filhos que teremos! -Harry deu de ombros.

-Este ainda nem nasceu e você está pensando nos próximos?

-Querida, eu poderia ter um time completo com você e eu não me importaria. -Harry deu um beijo no ombro da esposa, sua mão nunca deixando o abdômen dela, como se fizesse um carinho em seu próprio filho.

Hermione observava com um misto de curiosidade e angústia a interação do casal. Confessava que era estranho presenciar esse tipo de intimidade, esse tipo de conversa entre um casal. Em sua existência nunca havia visto uma troca de carícias entre seus pais, nem mesmo uma troca de palavras carinhosas. 

Seus pais também nunca haviam verbalizado sonhos que tinham para si. Nunca haviam feito planos de como Hermione seria no futuro, quais feitos incríveis ela seria capaz. Desde que se lembrava a vida era apenas o que era e o que deveria ser. Desde muito nova seu pai deixava claro o desejo de casar a menina, de preferência com um homem rico que poderia pagar pelo dote. E isso era tudo.

De alguma forma, Hermione foi capaz de reconhecer o sentimento que a cutucava por dentro. Era uma pontada de inveja, certamente. Aquela criança que ainda nem havia nascido já tinha mais afeto do que ela tivera durante seus vinte anos de vida. Que vida alegre e feliz aquele pequeno ser teria, seria amado e adorado durante todos os dias de sua vida. 

Hermione não conseguiu conter que um sorriso amargo deixasse seus lábios. Olhando a família Potter, seus toques, suas palavras, seus olhares, a jovem teve a certeza de que era daquela forma que uma família deveria ser. Deveria ter carinho, companheirismo, segurança e amor, e não medo, violência e abandono. 

Olhou pela janela por um instante, lembrando-se das cenas que haviam acontecido naquela mesma casa apenas alguns dias antes. O que aconteceu ali, com ela durante a visita de seus pais, era o completo oposto do que estava presenciando naquele momento. E, embora soubesse que era impossível cortar completamente os laços que existiam, permitir que eles pudessem lhe atingir era o mesmo que aceitar suas ações. Se ela permitisse que tudo continuasse da forma como estava, Hermione sentia que era como se entregasse uma varinha ao inimigo apontada para o próprio peito.

Seria doloroso, ela sabia, porém sentia que precisava dar o primeiro passo. Seria o primeiro passo em direção a sua liberdade, em direção a sua cura, em direção a sua felicidade. 

(...)

Havia sido uma noite longa de muito choro e pensamentos tumultuados. Hermione ainda pensava sobre o certo e errado, embora houvesse apenas uma decisão que trouxesse alguma paz e conforto para o seu coração. Como era difícil conviver com a dor de quebrar vínculos! Como era difícil conviver com a culpa e a sensação de estar dando as costas para aqueles que haviam lhe dado a vida! Como era difícil aceitar que, embora fossem seus próprios pais, deveria se afastar daqueles que não lhe fazem bem algum! Se convenceu que todo mundo tem um arrependimento ou um sentimento de culpa para carregar, cada um deve escolher o seu.

Talvez os pais jamais perdoassem Hermione por tê-los afastado, talvez Hermione jamais perdoasse os pais pela forma como fora tratada. A realidade era como era e cabia a cada um decidir o que quer em sua vida. Hermione queria acreditar que havia algo melhor a esperando em algum lugar. Hermione acreditava que, embora alguns vejam como um tanto egoísta, tinha que escolher o que era melhor para si. Tentou aquietar o coração de alguma forma e, quando o sol nasceu, tratou de se colocar em pé. 

 Como estava se tornando habitual, Hermione acordou mais cedo para tomar café com o marido e também o informar sobre a decisão que tomou na noite anterior durante a visita dos Potter.

Draco estava completamente arrumado para o trabalho, o cabelo muito bem penteado para o lado e o casaco bem passado e escovado sobre o corpo magro. Os dias haviam se tornado mais gelados nos últimos tempos e, tão cedo da manhã, ainda havia uma neblina fina cobrindo qualquer coisa além do chafariz e do caminho que dava para fora da propriedade. Hermione se encolheu em seu vestido de manga longa que nem de longe era suficiente para mantê-la aquecida. Draco sorriu do outro lado da mesa, por cima da xícara de café, enquanto segurava um jornal na outra mão.

-É muito cedo. Deveria ter ficado na cama mais um pouco.

-Eu queria falar com você sobre aquele assunto. -A menina confessou sem olhar em seu rosto. Um misto de constrangimento por trazer a assunto a tona novamente e angústia de estar fazendo algo errado era refletido em seus olhos.

-Aquele assunto? -Draco voltou a dobrar o jornal e o colocou de lado.

-Sobre meus pais… -Hermione encarou seu chá sentindo-se estranhamente vazia e solitária.

-Sim! -O homem assentiu pousando sua própria xícara no pires. -E então?

-Eu decidi que não quero mais ter que passar pelo que passei naquela noite. -Hermione fez uma pausa sentindo que estava prestes a começar a chorar. Fechou as mãos em punho tentando se controlar. -Eu não quero mais ter medo. Eu não quero mais ser tratada daquela forma…

Sua voz ficou presa na garganta. O choro havia chego em forma de soluços que agora saíam de sua garganta sem qualquer aviso. Novamente se sentiu pequena, constrangida, tão patética que algo como sua família pudesse fazer uma mulher adulta chorar como uma criança. Aquela altura não deveria mais sofrer com isso, certo? A decisão era certa: Não podia mais permitir que alguém lhe tratasse da forma como seus pais a tratavam. Então por que ainda doía? Por que sentia que era a única a sofrer e a perder algo que deveria ser tão precioso? Por que sentia como se estivesse prestes a cometer um crime?

-Eu sou uma pessoa horrível por isso? -Perguntou fitando as mãos fechadas em punho sobre seu colo. 

Hermione cobriu o rosto com as mãos tentando inútilmente evitar que o marido a visse naquele estado. Enquanto uma nova onda de soluços chegava, sentiu algo quente a macio ser colocado sobre seus ombros. A jovem abriu os olhos vendo que Draco havia coberto seu corpo com a manta que havia usado para aquecer as pernas no sofá na noite anterior. O marido permanecia em pé atrás de sua cadeira, ambas as mãos segurando seus ombros como se ele tentasse a manter ereta.

-Não, Hermione, você não é uma pessoa horrível. Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço! Nem toda relação entre parentes de sangue é saudável. Às vezes as pessoas que deveriam nos proteger são aquelas que mais nos machucam. -Ele pressionou levemente seus ombros, olhando o rosto manchado pelas lágrimas. -Você não está mais sozinha.

A menina olhava Malfoy com a boca um tanto aberta, uma lágrima solitária escorrendo por sua bochecha. Draco limpou a gota que escorria por seu rosto com um dedo e depois se abaixou, depositando um beijo rápido no topo da cabeça da esposa.

-Eu vou dar entrada no pedido ainda hoje. -Draco olhou no fundo dos olhos castanhos e então deu um sorriso. O sorriso era fraco, mas Hermione soube que era genuíno, doce e encorajador. -Eu tenho muito orgulho de você.

 


Notas Finais


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