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História Decadentes - AceitaçãoUma nova chama


Escrita por: makkachin

Capítulo 10 - AceitaçãoUma nova chama


Yurio não estava nervoso, contudo, ele não poderia dizer que não estava ansioso. Por mais que parecesse algo que fosse comportamento de adolescente, o que ele mais queria é que os dois pudessem sair do Yakovienne, pois ele não aguentava mais ficar ali. Dançar era legal, beber também, mas havia uma coisa mais importante do que isso naquela noite, e Yurio tinha que provar que tinha prometido algo que valia à pena para Otabek.

Houve uma certa preparação para essa, noite porque fazia tempo que Yurio não se envolvia com ninguém. Claro que ele nunca tinha deixado de tocar no próprio corpo, afinal de contas ninguém é de ferro. Só que ele não tinha visto Otabek sem roupa, e vai que ele tinha um monstro em suas calças? Não deu pra sentir nada fora do normal no outro dia, mas nunca se sabe.

E a verdade é que assim que a ideia de fazer sexo com alguém apareceu em sua mente, Yurio lembrou de muitas coisas do passado dele, e tudo que havia feito. Ele tinha experiência de sobra com isso, e sabia como deixar um homem louco na cama, mas ao mesmo tempo ele não queria cair naquela mesmice de só permitir a seu corpo fazer o que queria, porque ele já sabia todos os movimentos de seus clientes na cama.

O cara que queria levar ele pra sua casa, que era o namorado de Yurio, não era um qualquer. Otabek tinha uma importância que Yurio ainda não sabia dizer qual era, mas a cada dia esse sentimento dentro dele crescia, e mesmo com tantas dúvidas ao redor, parecia uma coisa boa demais para não aproveitar.

Da pista de dança ele podia ver Otabek comandando o som. Ele não quis ficar junto de Otabek nessa noite porque queria fazer-se de difícil, queria fazer Otabek precisar de Yurio até ele ficar louco, e pelas olhadas que seu namorado dava parecia que estava funcionando. Seu corpo seguia o ritmo da música, e ele sempre ficava atento a Otabek.

Os problemas que ele teve com Marius no outro dia foram esquecidos, pois também, o homem não apareceu por ali para incomodar. E parecia que finalmente as coisas iriam voltar ao normal, sem mais clientes do passado vindo para bater à porta de Yurio.

Por isso mesmo ele ficou surpreso ao ser abordado no bar quando foi pegar uma nova cerveja.

“Eu quero mais uma,” pediu ele a Victor. O homem fez um sinal para Yurio esperar, e ele ficou ali na bancada olhando para a pista quando alguém cutucou em seu braço.

Havia um motivo para ele não querer voltar pra esse lugar, e aquele motivo se chamava Yakov. Yurio quase levou um susto quando se virou para ver o homem ao seu lado. A cerveja chegou na frente de Yurio, que deixou ela no balcão.

O que ele poderia dizer ao homem? E o que aquele homem tinha a dizer para ele? Os dois tiveram uma transação há anos, e foi completamente financeira, afinal de contas ninguém em Limanova sabia dos outros serviços de Yurio, e ele não queria estragar sua fama por aqui. Depois de pedir dinheiro a máfia e de pagar o que devia, não havia nada no mundo que faria Yurio entrar em contato com eles.

Bom, pelo menos foi isso que Yurio pensava antes de conhecer Otabek, antes de ver que ele estava envolvido com alguém da máfia, alguém que trabalhava no antro deles. Yurio tentou se desvencilhar dos conceitos antigos que tinha sobre os mafiosos, mas não havia maneira. Ele tinha conseguido fazer sua cabeça esperar para conhecer Otabek melhor, mas o que ele não esperava era ver Yakov por ali.

“Que surpresa,” mencionou o homem. “A sua bebida vai ser por minha conta hoje, garoto.”

A voz dele não parecia ruim ou maldosa, mas era assim que Yurio se lembrava dele mesmo. O chefão o tinha ajudado sem nem perguntar muito, e ele ofereceu o dinheiro sem nada de volta, mas Yurio jamais iria aceitar algo assim, afinal de contas ficar endividado com a máfia era uma péssima ideia.

Mas recusar tudo que eles ofereciam também era, por isso ele aceitou a cerveja.

“Obrigado.”

“De nada. Mas eu não lembro do seu nome?”

Por um momento ele ficou em silêncio, mas logo não fazia sentido continuar assim. “Yurio.”

Yakov assentiu, e se ele murmurou algo foi impossível de ouvir com a música assim alta.

Os dois ficaram sem falar nada, afinal de contas Yurio não sabia o que tinha na mente do homem, e não havia assunto algum pra ele falar. Dentro do seu peito o coração batia forte, porque aquilo parecia algo proibido para ele, falar com alguém da máfia, e não um qualquer. Será que havia um motivo especial para o homem estar ali, ou era uma coisa de rotina? Yurio não era uma cara recorrente no clube, por isso ele não poderia saber.

Ele se virou para Otabek, que parecia estar procurando por Yurio com os olhos, mas não iria sair dali sem ter alguma espécie de autorização do chefe, afinal de contas dentro do ambiente dele, você tinha que dançar conforme a música.

“Sabe, eu gostaria de conversar com você em um local menos barulhento, o que você acha?” Assim que Yakov pediu aquilo, ele deve ter visto a cara de surpresa e pânico de Yurio, que tentou se controlar logo. “Não é algo importante demais, não. Mas eu gostaria de poder falar sem gritar. E logo depois eu deixo você voltar pro querido Otabek.”

Havia um pequeno sorriso no rosto de Yakov, e Yurio não fazia ideia do que era aquilo. O homem era um velho carrancudo, com cara de mal e voz de vilão, mas naquele momento ele parecia genuinamente interessado.

Yurio olhou para Otabek mais uma vez, e depois assentiu. Não que ele tivesse muita escolha.

Yakov o guiou até uma porta adjacente, que acabou dando naquela mesma sala onde eles haviam se encontrado anos atrás. Assim que a porta se fechou, a música ficou do outro lado, e era possível se escutar até o andar dos pés deles.

Não tinha como não se sentir despreparado para isso, afinal de contas Yurio tinha bebido, já estava suado e cansado após dançar, e se a sua mente tinha pensado em uma noite de diversão com Otabek, agora aquilo parecia longe de estar no seu pensamento.

“Você vai querer alguma coisa?” Yakov pediu, mas Yurio só mostrou para ele a latinha de cerveja ainda na sua mão.

O homem não disse nada. Ele apontou uma cadeira para Yurio se sentar, e assim que ele sentou, os dois ficaram frente a frente. O que será que o chefe da máfia de Limanova queria com ele? Yurio nunca soube exatamente qual foi o envolvimento de sua família, mais precisamente de seu avô com a máfia. E pelo que havia dado para perceber, Yakov conhecia Nikolai, mas não tinha comentado sobre aquilo quando Yurio foi pedir ajuda.

“Eu sei que isso deve parecer estranho, porque você não deveria estar esperando por um convite para conversar comigo. Mas eu lhe ajudei, anos atrás, e queria saber se o dinheiro que eu lhe dei foi de bom uso? Era seu avô que precisava, não era?”

Yurio assentiu. Mas logo ele percebeu que seria melhor fazer as palavras saírem de sua boca. Só era complicado, pois seu coração batia forte lá dentro.

“Meu avô tinha que fazer algumas cirurgias e tratamento por causa da coluna, e nós nunca fomos uma família com muito dinheiro, por isso eu precisei pedir ajuda. E foi de muita importância, sem dúvida.”  A voz dele não saía com muita confiança, mas ainda assim as palavras chegaram até os ouvidos de Yakov.

“Então ele melhorou?”

A preocupação do homem parecia até bizarra, mas se ele perguntou…

“Ele está melhor sim, mas gosta muito de trabalhar e não pode mais. Acredito que o senhor, hum… Você entende bem como o corpo fica com o passar do anos.”

Yakov soltou uma leve risada. “Claro que entendo. Mas se ele está bem, eu fico feliz. Nosso dinheiro é conseguido com muito suor, com dificuldades, não pode ir para qualquer um que pedir. Tem que ser uma pessoa que precisa mesmo.”

Para aquilo, Yurio não tinha muito o que dizer. Por que Yakov considerava o avô de Yurio uma pessoa que merecia receber aquele dinheiro? Especialmente se for considerar a reação que Nikolai tinha em relação à máfia, sempre quis distância e se soubesse o quanto eles haviam o ajudado, certamente não iria gostar. Pelo menos não tinha como mudar o passado - o que nem sempre era uma coisa boa.

“E você, como está gostando do clube? Nunca tinha visto você por aqui, então acredito que Otabek o trouxe pra cá?”

“De uma certa forma. Ele queria que eu conhecesse o lugar onde ele trabalha, e onde ele tem amigos, por isso me trouxe ao clube,” Yurio parou por um momento. “Mas confesso que eu tive um pouco de receio quando ele me disse que era aqui.”

“E qual seria o motivo?”

“Honestamente? Todo mundo que vive aqui sabe que a nossa vida tem relação com a de vocês. Mas meu avô não é uma pessoa que gosta muito da interferência da máfia, e eu digo isso da melhor forma possível. Eu cresci com esses ideais, por isso tenho dificuldade também em aceitar isso.”

Yakov ficou em silêncio por um momento, como se estivesse analisando as palavras. Yurio não fazia ideia do motivo de ele ter falado aquilo, mas era culpa da bebida, que tinha terminado com alguns limites que ele tinha. Talvez não tenha sido a melhor ideia aceitar o convite para esta conversa.

“E o seu avô nunca disse o motivo de ele não querer se envolver com a máfia?”

A pergunta parecia inocente o bastante para Yurio não se sentir intimidado a responder ela. Mas ele já tinha falado demais mesmo, responder uma ou duas perguntas não faria diferença.

“Eu nunca soube exatamente o motivo disso, pra falar a verdade. Mas eu perdi os meus pais muito cedo, e ainda que meu avô tenha dito que não foi por causa da máfia, eu sempre tive a impressão que algo tinha a ver. Eu não culpo você, ou qualquer outra pessoa que esteja envolvida. Mas a minha vida tem sido influenciada por meu avô desde sempre, por isso eu me sinto assim, e ele também.”

“Então ele nem sabe que eu o ajudei?”

Yurio sacudiu a cabeça.

Yakov suspirou. Ele ficou em silêncio, pensando consigo mesmo. Havia algo em seu rosto que parecia falar coisas que Yurio não conseguia entender. O homem levantou seus olhos para enxergar Yurio.

“Eu conheço o seu avô, e não posso dizer se tive ou não algo a ver com os seus pais. De qualquer modo, eu não gostaria de saber que você tem um imagem ruim de nós. Não que sejamos um grupo de santos, longe disso. Mas a máfia em Limanova serve para ajudar as pessoas, e nós todos estamos em um ciclo onde cada um tem seu papel. Assim como vocês nos ajudam com dinheiro, nós não deixamos ninguém de fora vir pra cá e incomodar o tipo de vida que temos. Não parece uma relação justa?”

“Parece,” Yurio concordou. “Mas eu acho que nem todo mundo vê essa participação da máfia nos negócios de Limanova como uma coisa boa. Pelo menos eu sei que nós ainda estamos pagando dívidas antigas para poder sair desse buraco, e tendo que doar um dinheiro todo o mês às vezes é complicado.” Yurio mordeu seu lábio, como se quisesse ter engolido aquelas palavras, mas Yakov concordou com ele.

“Todos nós temos que fazer nossos sacrifícios, não?”

Yurio assentiu. Contudo, não parecia que Yakov estava apenas falando sobre as taxas que eles cobravam, mas Yurio não iria pedir mais nada. Se ele conseguisse se controlar para não falar coisas que não devia, seria melhor.

“Bom, eu acho que não vou mais tirar do seu tempo com Otabek, certo?”

O alívio que refrescou a cabeça de Yurio foi enorme. Ele se levantou da cadeira ao mesmo tempo que Yakov apontou para a porta.

“Obrigado pela conversa,” disse Yakov.

“Obrigado a você.”

Yurio saiu dali com seu peito apertado. Aquela conversa havia sido estranha, inesperada, mas tinha colocado um pouco de luz em alguns assuntos que ele não sabia muito. O problema é que toda aquela emoção que ele tinha sentido antes de ir para a sala de Yakov agora havia se esvaído.

~*~

Otabek não conseguiu controlar seu coração até ver Yurio ali na pista de dança de novo. Não que houvesse algo ruim em ele ir falar com Yakov, afinal de contas o homem era só o chefe de Otabek, mas para Limanova ele não era só aquilo, e seria terrível saber que havia algum problema com ele e Yurio.

Contudo, Yurio voltou são e salvo para a pista de dança, e a coisa boa era que estava no horário de Otabek se despedir do pessoal. Ele não precisou esperar muito para falar com Yurio.

Os dois se encontraram no bar.

“Tudo bem?” Pediu Otabek ao colocar suas mãos em volta de seu namorado. Apenas o toque, esse aconchego entre eles era o necessário para fazer todas as coisas terem sentido. Não tinha como reclamar de nada ao ter Yurio em seus braços, mesmo que ele parecesse desconfortável com alguma coisa, e não tão aceso como estava antes.

“Tudo bem, sim. Já podemos ir?” Ele pediu. Havia uma espécie de nervosismo no tom dele, e Otabek não sabia se era por causa do que eles tinham combinado de fazer, ou por causa da conversa dele com Yakov, e ele não pediu nada.

Os dois saíram do clube após dizerem seus adeus para Victor. A viagem de moto era sempre alguma coisa que Otabek gostava de fazer com Yurio, mas naquela noite nem havia muita excitação para aproveitar aquilo. Pelo menos eles ficaram um colado no outro, o que era bom.

O apartamento de Otabek estava organizado para a chegada, mas havia algo em Yurio que parecia dizer que nada seria como eles haviam planejado.

Quando desceram da moto, Otabek queria pedir se Yurio estava bem, queria saber se algo havia acontecido, porque aquele silêncio não soava bem, mas ele não falou nada. Apenas pegou na mão de seu namorado e o guiou escada acima. A porta de seu apartamento era fácil de abrir, e ele o fez apenas com uma das mãos, sem se desgrudar de Yurio.

“Bem-vindo,” disse Otabek com uma voz pequena.

Yurio suspirou assim que ele entrou. Com a porta fechada, Otabek esperava trancar qualquer demônio para fora, mas não teve muito sucesso. A cara de Yurio não era a de alguém que queria ter uma noite selvagem na cama. Pelo contrário, ele nem parecia estar ali.

“Alguma coisa aconteceu?” Otabek finalmente pediu.

“Eu quero te perguntar umas coisas, posso?”

A questão o pegou de surpresa, mas Otabek assentiu. Ele apontou para o sofá e os dois se sentaram. Otabek ofereceu sua mão para Yurio pegar, e ainda que ele achou que aquilo não fosse acontecer, os dois se deram as mãos, e logo os olhos se encontraram.

“Desde que a gente saiu junto pela primeira vez eu sinto que quero pedir isso pra você, mas não sei se consigo.”

O que seria aquilo? Será que Yurio não queria mais ficar junto com ele? Yakov nunca faria nada de ruim para Otabek, ou pelo menos era aquilo que ele achava que nunca iria acontecer, mas será que a conversa daquela noite havia mudado alguma coisa? Yurio nunca se sentiu muito confortável no Yakovienne, mas até aquela noite nada parecia assim complicado.

“Pode pedir,” Otabek falou, nervoso.

“Você é da máfia?”

“Não?” Otabek respondeu confuso.

Yurio olhou para ele por um segundo sem falar nada. Mas logo respirou fundo. “Então, mesmo que você trabalhe para o Yakov, você não é da máfia de Limanova?”

“Eu trabalho no bar, e sim, muita gente que eu conheço é da máfia, mas isso não é uma realidade para todo mundo aqui em Limanova? Não achei que fosse algo tão complicado assim…”

E como resposta para aquilo, Yurio suspirou, abaixando a cabeça. Logo ela a levantou, e depois avançou por cima de Otabek para lhe dar uma abraço. Não havia como saber qual era o motivo daquela reação, mas talvez era o álcool falando, porque Yurio tinha bebido bastante.

“Alguma coisa aconteceu?” Otabek pediu de novo, colocando sua mão na cabeça de Yurio, puxando ele para perto de seu corpo.

No primeiro momento, Yurio apenas sacudiu a cabeça, mas logo começou a falar. “Meu avô odeia a máfia. Eu cresci aprendendo a odiar a máfia, mesmo vivendo no território dela. Se você fosse da máfia, meu avô iria odiar você, e daí eu nunca poderia nem contar pra ele sobre nós dois.” Após aquelas palavras eles se separaram o bastante para poder se olhar nos olhos.

“E o seu avô é assim importante pra você?” Otabek pediu.

“Sim, ele é toda a família que eu tenho. E se ele não aceitasse nós dois, não sei o que iria acontecer.”

“Então quer dizer que o que tem entre nós é tão importante assim pra você?”

Yurio colocou uma de suas mãos no rosto de Otabek.

“Eu não sei exatamente o quanto é importante, pra falar a verdade. Mas a cada dia eu vejo isso como uma coisa que eu não quero perder. Nem sei o motivo de me sentir assim, mas eu sempre quero mais de você, ficar mais perto, por mais tempo. Não ter que dizer adeus. E parece bobagem que eu sinta tudo isso assim no começo…”

“Mas é o que eu sinto também,” Otabek o interrompeu.

“Sério?” O rosto de Yurio perdeu a preocupação que havia se grudado nele antes.

“Sim. Eu não gosto de dizer que alguma coisa é pra sempre, mas eu tenho vontade de poder descobrir tudo sobre você, e sem uma data de validade pra isso aqui acabar.”

Os dois se olharam.

Se antes o desejo parecia ter se perdido, com aquelas palavras, Otabek conseguiu acender uma nova chama. A distância entre eles parecia grande demais, por isso Otabek deu o passo final até poder selar seus lábios com os de Yurio.

Independente do que fosse aquilo que os ligava, não havia nada no mundo que parecia mais importante.

Quem sabe, Otabek queria poder ter aquilo pra sempre.

 



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