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História Deixe sua história - Pouco você sabe


Escrita por: someonedead

Notas do Autor


YOAH!
Esse conto já está escrito a muito tempo, por isso decidi postar aqui porque eu não estou atualizando a outra história.
Pois é!
Como sempre, estou sem tempo nenhuma. Trabalho, curso e faculdade e nisso eu não consigo escrever nada que preste.
Eu já até havia escrito o capítulo de SoS, mas apaguei porque não achei que condizia com a história.
Enfim, quando eu for escrevendo mais coisas pra essa história vocês vão pegando o ritmo, mas basicamente são vários contos que não têm exatamente ligação um com o outro então vocês não precisam ler eles na ordem.
Têm um pouco de realismo mágico nela.
Espero que gostem. A capa é provisória e tem mais a ver com esse primeiro conto.
\o/
Boa leitura e como sempre eu não revisei o capítulo então qualquer erro, sorry, me mandam mensagem dizendo onde que eu corrijo..
Bjs.

Capítulo 1 - Pouco você sabe


 

A jovem de cabelos castanhos sentou-se numa das mesas perto da lareira para se proteger do frio, dali ela tinha visão completa da livraria, mas as pessoas que entravam não podiam vê-la lá no fundo ao lado de uma estante com livros dos quais ela nunca ouviu falar.

Ela estava chorando e escolheu aquele lugar para evitar perguntas, apesar de a possibilidade de mais alguém aparecer ali às 04h30min da manhã ser muito pequena. 

Observou as estantes repletas de livros, observou as mesas com xícaras de café que pareciam nunca esfriar e todo o lugar que não mudou nada desde a última vez que ela fora ali dois anos atrás. Tinha o mesmo ar aconchegante e de refúgio, como se ali ela estivesse salva de todos os seus problemas, como se pudesse esquecer tudo que vinha lhe pesando o coração, lhe preocupando e prendendo-a dentro de si mesma, dentro de um buraco negro e escuro que ela mesma havia criado. De fato, ela havia criado o buraco, mas não havia se jogado dentro dele, foi ele quem a atirou lá, a pessoa que ela mais amava no mundo.

Ela não havia dormido aquela madrugada, não conseguiu descansar sua mente ou aquietar o coração que gritava. Sentou-se na cama, estava tudo escuro no quarto exceto pela luz perto do berço, a bebê estava dormindo também, completamente alheia a tudo. A fraca luz rosa iluminava brevemente o rosto de seu companheiro, ela podia chamá-lo de marido pois já moravam juntos, mas não haviam casado ainda, e ela não tinha mais certeza se iriam. O rosto dele não estava tão calmo ou sereno como de costume, ele parecia estar tendo um sonho desconfortável. Os cabelos bagunçados e a pequena cicatriz na testa, logo acima da sobrancelha. Ele parecia o mesmo de sempre, o mesmo pelo qual ela se apaixonou, pelo qual ainda era verdadeiramente apaixonada. Mas era difícil deixar o amor falar mais alto.

Quando era mais jovem, ela lia livros e assistia filmes e via o amor vencer todos os desafios, por isso quando ela amou alguém, amou com tanta força que acreditou que no que lia e assistia. Que o amor vence qualquer barreira, que é mais forte do que tudo. Agora que cresceu ela sabe que não é bem assim, algumas das sensações permanecem. Talvez o amor seja mais forte que os outros sentimentos, mas com certeza ele não é suficiente pra vencer tudo sozinho.

 A senhora, que assim como a livraria parece não ter envelhecido nada, apareceu perto dela com uma assadeira de biscoitos, incrivelmente os favoritos dela, com gotas de chocolate. A senhorinha tinha cabelos brancos presos no topo da cabeça por duas agulhas de crochê, tinha uma face amena, como se quisesse lhe colocar no colo, beijar sua testa e te ouvir chorar, pra no final perguntar se você está melhor e poder abrir um largo sorriso quando você dissesse que sim.

Ela saiu sorrindo sem questionar e a garota achou melhor pelo menos fingir que estava lendo algo. Pegou um livro qualquer de capa azul.

O título era “Só eu e você.”, mas não tinha nome do autor. A capa era a sombra de duas garotas de mãos dadas observando as nuvens.

A primeira frase do livro era.

“Se ela pudesse, teria esquecido tudo logo depois de acontecer.”

A garota pensou sobre isso, sobre o que ela esqueceria se pudesse.

Eles dois se conheceram quando ainda eram adolescentes, aos dezesseis anos ainda no ensino médio. Uma amiga dele havia apresentado os dois durante um jogo de futebol da escola. Imediatamente ele se tornou amigo dela. Tudo o que ela mais valorizava numa pessoa, ele possuía, era gentil, leal, engraçado e companheiro. Passaram a se tornar cada vez mais próximo e ao longo de seis meses, ele já era um dos seus melhores amigos. O primeiro beijo dos dois não pareceu planejado e ele pareceu mais surpreso do que ela quando aconteceu. Voltando de uma festa, dentro de um carro, ela se inclinou para se despedir com um beijo na bochecha, como sempre fazia, mas por algum motivo, alguma força magnética os puxou e fez as bocas se unirem. E veio o primeiro beijo. Essa é uma memória que ela não quer esquecer.

O pedido de namoro veio duas semanas depois, no meio da aula de biologia. Ele simplesmente pediu licença a professora e os quatro amigos dele entraram cada um com um buquê de flores e colocaram na carteira dela, ali mesmo ele chegou com uma única rosa e a ofereceu. “Quer namorar comigo?” ele disse. Ela não respondeu, somente o beijou mesmo com toda a vergonha por ser o centro das atenções. Ele levou dois dias de suspensão, mas disse que valeu a pena. Ela não quer esquecer isso também.

A primeira vez que os dois transaram foi planejada. Casa dele, final de semana sozinho. Foi tudo completamente diferente do que ela imaginou e eles tiveram um problema com a camisinha, mas no final foi incrível. Ela têm certeza de que vai levar essa lembrança ao túmulo.

Depois de quatro anos namorando, os dois finalmente conseguiram um apartamento, se mudaram e entraram na faculdade. Foram momentos de correria, mas regados a felicidade.

A gravidez não foi planejada, veio como uma bomba. Um susto. Mas como sempre, ele não saiu do lado dela um segundo sequer. Disse que enfrentariam aquilo juntos. Ele foi a todos os exames, a todas as ultra-sonografias e a ajudou a comprar roupas, gastou as economias pra decorar o quarto e comprar um berço. No parto, ele estava lá também. Ele segurou sua mão e chorou junto com ela. Os dois choraram e sorriram juntos, e depois choraram novamente.

Essa memória é confusa, ela não sabe se gostaria de esquecer ou não. É importante, mas não é 100% bom.

Antes de se levantar na madrugada fria, ela ficou por um tempo observando o berço. Observou seu companheiro enquanto pensava.

Ela queria poder dizer para ele o quão pouco ele sabe. Queria contar que ela se sente perdida e destruída. Que ela luta todos os dias contra as memórias. Queria poder dizer que já o perdoou, mas não esqueceu e que enquanto ele dorme, ela chora.Queria ter a coragem necessária para dizer que ela precisava de mais tempo até ele fazer aquilo. Que ela ainda precisa de tempo porque ainda dói. Dói tanto que as vezes ela desvia o olhar, mesmo sabendo que é errado.

Ela queria poder dizer que todos os dias ela têm que lutar pra se levantar daquela cama, que as vezes parece que ela precisa juntar cada pedaço dela para tentar se reerguer. Ela queria poder dizer que convive com medo, medo que ela possa mudar de ideia. Que ela possa ir embora. Uma parte dela já se foi e nunca mais vai voltar, e outra parte está com ele, e se ele for, não restará nada.

A jovem fechou o livro e sentiu as lágrimas quentes escorrendo pelo rosto e não tentou conter ou limpá-las. Ela as deixou correr livremente.

Algumas coisas ela gostaria de esquecer, gostaria de esquecer que por um breve momento ele realmente foi embora, e gostaria de esquecer o que veio com ele quando voltou.

Como poderiam eles continuarem os mesmos e ainda assim estarem tão diferentes?

Sua atenção se moveu pra porta da livraria. Ela estava surpresa de mais alguém estar ali aquela, o lugar não é muito frequentado mesmo que ficasse aberto 24h.

A imagem na porta faz o coração dela parar por um segundo. Ele está usando um gorro e um casaco preto. Ele para na porta e sorri olhando para um pequeno enfeite de estrelas pendurado, a bebê levanta as mãos e toca no enfeite de lua, sorrindo quando este faz um barulho. Ele sorri também. É uma imagem tão linda. Um pai e uma filha, sorrindo. Por que faz o coração dela se despedaçar?

Ele não a viu ainda, mas é só uma questão de tempo.

Ela quer perguntar. “Por que está aqui?” “Por que você fez o que fez?” “Por que é tão difícil esquecer?” “Você vai esperar até que eu me recupere?”

Quando ele finalmente a vê, dá um passo meio hesitante na sua direção, mas para ao ver as lágrimas. Ele olha pro chão e a bebê toca o seu rosto, depois vira na direção dela, sorri e abre os braços pedindo colo.

Ela não sabe dizer o que sentiu, felicidade, tristeza, raiva de si mesma, raiva dele. Não importa qual o sentimento que ver aquilo despertou nela, o que importava era que com certeza aquela era uma memória que ela não iria esquecer. 

 

O jovem entrou na livraria sentindo a nostalgia lhe bater com força no peito. Aquele lugar nunca mudava não importava quanto tempo passasse. Ele fechou a porta atrás de si trancando o frio lá fora. Acertou o gorro na cabeça da bebê para ter certeza de que estava protegida e deu um passo.

Antes do lugar onde ficavam as mesas rodeadas de estantes, havia um pequeno degrau para se subir e pendurado ali perto, um pequeno enfeite em forma de lua e estrelas, como aqueles sinos que você encontra em algumas casas.

- Olha. - ele disse enquanto mexia no enfeite. Sua filha entendeu a mão e sorriu quando um barulho de sino soou.

Foi nesse momento que ele a viu, sentada numa mesa perto da estante ao lado da lareira. Ele deu um passo à frente, disposto a sentar com ela, mas parou ao observá-la melhor. Os cabelos dela estavam um tanto bagunçados e os olhos estavam claramente inchados de chorar, ela estava estática o observando. A vergonha o consumiu nesse momento, como vinha fazendo a muito tempo. Desviou o olhar para o chão. Sentiu as mãos enluvadas da pequenina tocando seu rosto e depois ela se inclinou para frente pedindo colo.

Olhando para a mesa, ele viu algo mudar nos olhos de sua amada. Alguma coisa se desfez, uma súbita respiração e um mudança de posição fizeram ele perceber isso. Era assim para ele, a conhecia tão bem. Anos passados juntos, anos aprendendo, observando-a de perto. E ainda assim, mesmo sabendo tanto, ele não conseguiu se impedir de magoá-la.

Fez o caminho até ela e sentou-se ne mesa a sua frente.

- Oi. – ela disse. A voz dela estava meio estranha, embargada pelas lágrimas. Aquilo lhe apertava o coração.

Ele não pensou muito no que iria dizer, os sentimentos as vezes são mais rápidos do que sua boca.

- Eu também não durmo muito. – ele disse.

Ela ficou confusa por um instante, mas um mínimo sorriso se formou nos lábios dela quando entendeu o que quis dizer.

Ele deveria ter tido isso antes. Poderia ter feito isso aquele dia, quando sentiu ela levantar do seu lado. Ele podia dizer claramente agora.

“Eu sei que você está chorando quando acha que eu estou dormindo.”

Mas não o fez, não precisava na verdade.

Mais de um ano atrás, quando seu primeiro filho nasceu sem vida, ele achou que a vida dele havia acabado. Foi sem dúvida a pior sensação que ele já havia experimentado. Um buraco sem tamanho foi aberto no seu peito e tudo o que ele sabia fazer era chorar sem parar como se fosse uma criança.

É estranho como você consegue amar tanto, devotar tanto de si a uma coisa que pode facilmente ir embora. Ele amava tanto o seu filho que ainda não havia nascido, ele deu tanto de si que quando isso foi tirado, ele não conseguiu se manter de pé. Simplesmente não tinha mais o suficiente de si mesmo para continuar.

Ele percebia agora que isso não acontece em casos só de pais e filhos como o dele, isso acontece o tempo todo e com todo mundo. Seres humanos são criaturas frágeis e nós os amamos mesmo sabendo que eles podem ir embora a qualquer momento e deixar um buraco dentro de você. Ele era cheio de buracos agora e estava aos poucos tentando preenche-los.

Naquela manhã logo depois de ouvir a porta da frente bater, ele se levantou e ficou observando a neve cair lentamente pela janela do quarto até sua filha acordar.

Ela ficou de pé no berço e estendeu os braços. Ele sorriu e a pegou. O berço da sua filha é do homem aranha, mas ele não precisa explicar isso para as pessoas quando elas vão visita-los. Ele fizera questão da primeira vez de contar a todas as pessoas que conhecia que iria ter um filho.

Não precisou contar a ninguém que o perdera, as notícias ruins circulam mais rápido.

Sufocado pelo ambiente do quarto, ele se agasalhou e teve certeza de que a bebê não teria nenhum problema com o frio aquele horário, e então saiu de casa.

Caminhou por vários e vários lugares até chegar na pequena livraria. Ele nunca entendeu o nome do lugar. “Deixe sua história.” Não fazia muito sentido.

Agora, sentado com as duas pessoas que ele mais ama no mundo, ele percebia como os seus erros o afundaram cada vez mais, o quanto ainda afundam diariamente, o quanto o deixam mais afastado de quem ele ama.

Pessoas lidam com as perdas de maneiras diferentes. Ela havia se trancado em casa, desistido da faculdade e chorado o dia inteiro. Ele achou seu remédio no álcool. Foi demitido e também parou com os estudos. Certa dia depois de uma briga, ele simplesmente desapareceu por duas semanas.

Ele nunca contaria a ela todas as coisas que ele fez aquela semana, se ele pudesse voltar atrás, se pudesse dizer a si mesmo como aquelas coisas o destruiriam.

Ela ainda estava lá quando ele voltou, ela o abraçou, preocupada, com medo. Ele apenas se deixou ser abraçado e pediu desculpas, mais desculpas do que ele pode se lembrar.

Sete meses depois uma garota bateu na porta de sua casa. Ele não tentou brigar ou discutir, não negou ou pediu um teste que comprovasse que ele era o pai. Não havia dúvidas de que era.

Esse momento foi tão terrível quanto o primeiro. Doía quando ela desviava o olhar, mas ele sentiu que tudo havia sido destruído quando ela impediu que ele a tocasse. Aquele foi o momento em que ele percebeu que ele destruiu sozinho tudo o que eles haviam construído durante anos. Ao contrário do que ele pensava, ela não pediu pra que ele fosse embora, apenas passou a dormir no quarto vizinho.

Os dois eram estranhos dentro da própria casa. A situação se tornou quase insuportável e ele sabia que a culpa era toda dele. Ele seguia machucado e machucando-a.

Ele queria dizer para ela o quanto a amava e o quanto ele se arrependia de tudo o que fizera, mas isso não mudava o passado. Ele tinha quase certeza que iria sucumbir novamente, era como se ela fosse a única coisa que o impedisse de se entregar, era a terra sólida que não deixava que os erros dele o afogasse. Mas ela também estava indo embora.

Foi ai que ele encontrou algo novamente. Quando sua filha nasceu, quando ele a olhou nos olhos pela primeira vez, ele sentiu que tinha que continuar porque ainda existiam aqueles que precisavam dele. Mais uma vez, independentemente de sua vontade, como se não tivesse aprendido da última vez, ele deu tudo de si aquela pequenina. Deu tudo até que não restasse quase nada dele.

Quando a mãe de sua filha lhe disse que iria viajar e não poderia levar a criança, ele sentiu dentro de si uma mistura de alegria e desespero. Ele poderia ficar com sua filha, ele poderia viver com ela. Mas então, seria como jogar no rosto daquela que ele tanto amava, que ele poderia ter com outra algo que não teve com ela.

Eles ainda moravam juntos, legalmente tinham cada um metade do apartamento, apesar de claramente não ser esse o fator que os faziam continuar ali. Ela ainda estava se acostumando com o fato de ele tinha uma filha. Quando ela o viu com a bebe pela primeira vez, ela desviou o olhar como se a imagem lhe ferisse, e isso o feriu. Ela claramente precisava de tempo, mas ele não podia dar. A bebê foi morar com ele, e ele tinha que agradecer e reconhecer que ele amava a pessoa mais incrível de toda a terra. Ela o ajudava diariamente com tudo o que ele não sabia, ela cuidava da bebe enquanto ele trabalhava e isso claramente aproximou os dois novamente, até o ponto em que estavam novamente dormindo juntos.

Era estranho ter ela ali do lado e ainda assim saber que ela estava distante.

Nas madrugadas frias, ela se levantada ou chorava em silêncio, e ele fingia estar dormindo, sem saber o porquê. Ele queria dizer que estava tentando. Queria pegar cada pedaço dela e a deixar inteira novamente, mas não era tão simples assim.

Agora a bebê se inclinava para frente e estendia os braços. Ele não sabia ao certo se ela iria querer pegá-la no colo, mas quando ela sorriu e abriu os braços, ele entregou a filha.

Elas não eram nada parecidas, mas juntas ali, as duas pessoas que tinham tudo dele, era algo lindo de ver. Ele fez questão de fazer um retrato mental. Não iria esquecer aquilo.

- Eu amo vocês. – ele disse.

Ela assentiu levemente.

- Eu trouxe você aqui quando nós mudamos pro apartamento, lembra? –

Ela sorriu olhando o lugar, lembrando-se do momento em que eles por acaso acabaram ali, também numa madrugada.

- Não tínhamos fogão ainda. – ela disse. – E você me arrastou procurando qualquer lugar onde pudéssemos comer. –

- Os melhores biscoitos do mundo e o livro desconhecido também. – sorriu. Ele ficou em silêncio por um tempo, depois disse. – Você não precisa ter medo. –

Ela o encarou confusa.

- Eu amo você. Eu sei que cometi erros e estou tentando concertar eles desde então. Eu sei que eu magoei você e peço um milhão de desculpas por isso. Eu escuto quando você chora a noite e finjo que estou dormindo porque não sei ao certo o que dizer. – agora ele chorava, as lágrimas escorrendo incontrolavelmente. –Eu sei o quanto você sofre porque eu sofro também. Toda vez que vejo os adesivos no berço ou abro o guarda roupas eu penso em como tudo poderia ser diferente. –

Ela encarava um livro na mesa, a capa aos poucos sendo molhada.

- Eu estou tentando. – ela disse. – Todos os dias. Você têm alguém agora e eu não tenho nada. –

- Você têm a mim. Tem tudo de mim e sempre vai ter. – ele olhou para a filha e tocou seu cabelo. – E têm a ela também, você têm a nós dois. –

Existe um momento durante o choro, que você não consegue conter os sons e libera toda a sua dor.  Ela chegou a esse ponto, onde só as lágrimas não eram suficiente. Abraçou a criança com força e chorou, os sons vindo abafados pelo rosto enterrado nos braços de uma criança que sequer entendia o que estava acontecendo, e que ainda assim afagou os cabelos dela com carinho aparente.

Ele se levantou e se ajoelhou ao lado dela, encostou a cabeça no joelho e fechou os olhos. Eles continuaram daquele jeito por alguns minutos até ela tocar em seu gorro.

Os olhos dos dois se encontraram e ele viu um pedido nos olhos dela. O mesmo que ele tinha nos olhos há muito tempo. Era um pedido de socorro, um pedido por ajuda, uma súplica por um remeço.

Ele balançou a cabeça positivamente, mesmo que ela não tenha verbalizado o pedido, ele o entendeu, ele o sentiu.

- Eu vou esperar. Não importa quanto tempo precise. – ele lembrou-se do livro que compraram ali, anos atrás. – Eu vou te amar, hoje e sempre, até o sol apagar. –

Ela sorriu com a última frase e ele sentiu crescer dentro dele algo que havia muito sido arrancado.

Esperança.

Mesmo depois de anos, sempre tem-se algo a aprender com a pessoa que você ama, mesmo que você a conheça, você sempre pode se surpreender com as ações, com as palavras e com os sentimentos e capacidades dos outros.

Eles acabaram comprando o livro de capa azul, e depois de muito tempo, eles deram as mãos. Ainda tinham muito caminho a percorrer, mas finalmente eles voltaram para a estrada certa e deram o primeiro passo.

Ele estava simplesmente maravilhado com a capacidade que ela tinha de continuar o amando mesmo depois de tudo, assim como ele fazia. Talvez o amor fosse mesmo o maior dos sentimentos, mas ele não iria sobreviver sozinho, agora ele iria trabalhar para construir o resto, principalmente a confiança.

Você que ama alguém, observe cada detalhe do seu grande amor, observe a maneira como ele sorri, como caminha, como ajeita seu cabelo castanho atrás da orelha, apaixone-se novamente a cada gesto memorizado, a cada dia passado. Observe e toda noite antes de dormir e fique maravilhado ao perceber que quando se trata de amar alguém, pouco você sabe.

Depois que os jovens saíram de mãos dadas e com uma bebê linda no colo, a dona da livraria sorriu afetuosamente. Mesmo depois de tantos anos, ela não conseguia deixar de se maravilhar com as histórias que aquele lugar tinha pra contar.

Ela caminhou lentamente até o fundo da loja e abriu um baú. Dentro dele estava um livro que minutos atrás estava completamente em branco, mas agora tinha muitas páginas e uma capa e um título.

A capa mostrava uma jovem de cabelos castanhos sentada na cama olhando a janela, ao lado dela, dormia um jovem, ou pelo menos parecia dormir. O título em alto relevo e com uma letra elegante. “Pouco você sabe.”

A senhora caminhou e o colocou numa das estantes. A sua coleção nunca estaria completa, enquanto existissem histórias, existiria espaço em sua livraria.

A porta da frente se abriu e um rapaz entrou tremendo pelo frio. A senhora lhe cumprimentou.

“Bem-vindo meu jovem, deixe aqui sua história. “Ela disse sorrindo.

 


Notas Finais


Então?
Comentem. Ficou bem grandinho. ashuuas
Até a próxima.


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