Muzan estava furioso e só pensava em matar Tayoumaru. Sua mente não parava de rodar, queria dominar o Japão, queria invadir a Vila dos Ferreiros e sabia que venceria qualquer samurai que tentasse impedi-lo. Se tornou um demônio ambicioso e cheio de luxúria, adorou a hipótese dos samurais morrerem em um confronto de demônios e humanos no Templo Kamamura e no Palácio, ria sozinho pensando nessa possibilidade.
Porém aquele tempo na cabana esperando o sol ir embora foi suficiente para pensar mais a fundo nos mongóis que foram expulsos por ele. Se voltassem, será que valeria a pena todo o esforço para proteger o império? Porque todos os samurais que cruzaram seu caminho tentaram matá-lo, mas na baía de Hakata nenhum japonês o viu, mas e se vissem? Pensou na possibilidade de procurar o próprio Xogum. Conseguia controlar suas garras e dentes, mas os olhos eram impossíveis. E o então Xogum era uma criança, ele iria correr. O Shikken poderia ouvir, mas como chegar até ele sem matar toda a guarda imperial?
Enquanto confrontava seus irmãos só tinha esse objetivo, deter os mongóis e qualquer outro invasor com seu poder e conquistar os países do sul e a Ásia. Agora sozinho olhando a multidão de árvores vazias começou a pensar como iria fazer isso, porque palavras são muito fáceis de dizer. Ficou com raiva de si mesmo. Mas mesmo desacreditando sua única alternativa era visitar Kamakura. E prometeu que se fosse negado a ele o direito de fazer o império crescer, espalharia devastação por todo o país e quem sabe fora dele.
Agora, pela vontade de invadir a Vila dos Ferreiros lembrou da Bruxa, queria respostas sobre as glicínias que o impediam de entrar. Rodava o Japão em minutos e Sannohe não parecia mais uma cidade longe do interior. Assim que o sol foi embora disparou feito um vento, lembrava do lugar onde a encontrou, mas não sabia onde ficava sua cabana, apenas que ela morava na floresta com dois filhos. Na esperança dela aparecer gritou como fez a primeira vez.
- Maldita! Apareça!
Ninguém apareceu. Mas seus instintos estavam aguçados, ouviu o barulho de um riacho e lembrou da história do velho morto por ela. Com sua visão de demônio estava se vendo no reflexo da água, estava todo sujo, era óbvio que nem o Shikken iria querer vê-lo daquele jeito. Passou a mão pela trança enorme que carregava, pensou em cortá-la pois nao era mais um samurai, mas de novo lembrou do Shikken. Ele não sabia disso, então continuou a maior característica da elite japonesa.
A cabana não ficava longe dali, avistou um telhado velho de palhas e barro, não haviam luzes mas sabia que era ali. Bateu na porta.
- Bruxa! Abra a porta!
Seu tom era de ordem com aquela voz que rangia os dentes. Mais três batidas fortes na porta.
- Bruxa! Eu vou entrar!
A porta se abriu e a figura alta da mulher olhou de baixo para cima até o rosto de Muzan. Ela estava chorando.
- O que você quer voltando aqui? Vai me comer?
- É uma boa ideia… Mas não.
Muzan olhou em volta da cabana, sentiu o cheiro tentador de morte e sangue.
- Está feliz com o que ganhou não é?
- Acredito então que você esteja arrependida. Quem fez isso?
- Um samurai… Foi dias depois de você sair daqui. Eu lhe dei o que tinha e perdi parte de mim. Meu filho mais velho foi buscar lenha e não voltou. Isao resolveu ir procurá-los, mas quando ele abriu a porta tinha um esquadrão aqui. Iroh estava amarrado e chamava meu nome.
Eu tentei, mas não pude fazer nada, levaram Iroh e Isao… Meu querido Isao se rebelou. Mataram ele na minha frente…
Muzan não mostrou nenhuma compaixão com a história.
- Sabe eu não perguntei seu nome…
- Não interessa, suma daqui! - Ela bateu a porta, mas as mãos fortes bloquearam.
- Espere! Você se esqueceu de me contar algo!
- Não quero saber!
- Cala a boca! Você vai ouvir!
Um vento adentrou a cabana e fez com que a bruxa ficasse com medo.
- As árvores de glicínias - ela parecia um pouco assustada - por qual razão não consigo respirar perto delas?
Ela começou a rir e Muzan ficou irritado, mas esperou até que ela parasse de desdenhar.
- Lembra o que lhe disse? Você só morrerá se uma gota de sol penetrar seu sangue. Tudo que é banhado pelo sol lhe faz mal. As glicinias não são do japão são dos países do sul, elas só florescem em ambientes de muito sol se forem muito bem cuidadas.
- Isso não faz sentido nenhum…
- Vá perguntar para o Diabo então - ela bateu a porta de novo que foi derrubada pelo demônio. Ela caiu no chão com o impacto e ele entrou na casa com a expressão furiosa, ela estava assistindo ele se aproximar - não, pare por favor! - Muzan agarrou ela pelo pescoço e ergueu na sua altura - por favor, pare! - ela estava engasgando - eu faço o que quer, pare!
- Ora, mas você é muito esperta - desdenhou
- Me solte Kazu!
- Não me chame mais assim! E como fará o que eu quero, tenho uma proposta - largou ela no chão que começou a tossir - Você pode ir atrás do seu outro filho, ou matar quem matou Isao.
Ela não respondeu porque sabia das consequências. Olhou para o corpo do filho e um filme passou em sua cabeça. A morte do marido, o pacto com o diabo, a fuga para a floresta e os anos que passou com aquela sede de sangue, foi uma mulher forte para controlar aquele desejo. Se arrependeu de ter concedido para Muzan porque agora ele estava dominando a situação e em sua cabeça foi ele que fez com que perdesse sua família.
- Já sabe como faz não é? - ele assentiu
- Quero meu próprio filho!
- E você terá… só procurar bem… Aliás eu conheço uma família que só almeja riqueza. Aposto que foram eles que espalharam aos mongóis que aqui poderia ter ouro.
- Não quero saber das suas histórias de samurai orgulhoso…
- Já falei pra calar a boca e ouvir! Tome-os para você, faça dessa família a sua.
Ela não respondeu e permaneceu na mesma posição. - Não tenho a noite toda...
- Faça!
Muzan apenas esticou a mão até o pescoço da Bruxa rasgando ele com suas garras. Ela ajoelhou tremendo e segundos foram o suficiente para que sua pele ficasse áspera e pálida com uma escama. Seus olhos se tornaram de gato e vermelhos, sua língua diminuiu parecendo uma língua de cobra e garras cresceram no lugar de seus dedos.
- Vou perguntar mais uma vez… Qual é o seu nome?
- Ela levantou devagar a cabeça e respondeu prontamente.
- Yulah.
- Yulah… Reunirei mais servos. Você é minha primeira - ela já estava de pé em sua frente e usou o dedo indicador para tocar na íris de seus olhos - e irá me ajudar a dominar o Império. E quero que a partir de agora me chame de Muzan.
Os olhos de Yulah arderam como se tivesse caído pimenta neles, mas não reclamou. Estava disposta a vingar o filho e a procurar o seu mais velho, olhou para trás e encarou o corpo de Isao. Muzan queria provar aquele corpo, mas conteve sua tentação também segurando a agora, serva.
- Você vai comer seu filho?
Ela não respondeu, respirou e com um puxão, bateu a porta deixando o corpo sozinho na cabana. Para criá-la estava com muita determinação e com uma expressão fria e séria, pensou se ela seria uma ótima aliada para caçar e quem caça bem à noite é uma cobra. Muito diferente de quando transformou Ami, tinha outra expressão no rosto: nojo.
**
- Posso lhe dar qualquer coisa Ami.
- Eu quero poupe a vida do meu filho! - Minoru estava em pé ao lado dela segurando uma espada. Ele se parecia muito com o pai.
- É por causa dele não é? - entrou na cabana caminhando determinado para ela.
- NÃO ENCOSTA NA MINHA MÃE! - A ponta da espada estava apontada diretamente para seu olho.
Sua expressão mudou e as veias saltaram, fez um movimento de corte com as mãos no pescoço de Ami, ela se contorceu e os olhos se tornaram de gato. Sentindo o cheiro humano do filho tentou pular em seu colo para comê-lo, Muzan a segurou pelo pescoço e Minoru só conseguia olhar para ela com medo. Estava babando e rosnando, sua mente se esvaiu e não sabia quem era o próprio filho.
Muzan olhou pra ele desdenhoso insinuando se ele ia ou não usar logo a espada. E foi o que ele fez, tentou um corte no pescoço que ele se abaixou ainda segurando Ami, tentou um corte na diagonal e usou Ami para bloquear, se arrependeu de acertar a mãe, mas a ferida se curou instantaneamente. Ela ainda o queria comê-lo. Tentou um corte no quadril do demônio e a espada fincou.
- Já acabou?
Minoru tremia, ele tirou a espada do corpo e pegou o braço do garoto - Posso fazer ela te comer aqui mesmo! - levantou Ami pelo pescoço e ele se contorcia querendo fugir - MAMÃE!!! - Você vai ficar aqui dentro só vai sair quando outro humano chegar - jogou ela para longe batendo nas paredes da cabana.
Prendeu os braços de Minoru e foi para o telhado esperar Tayoumaru.
**
Os dois seguiram floresta adentro em direção a um vilarejo, Yulah precisava se alimentar. Muzan também aproveitou para conseguir mais súditos e quando chegaram no pequeno vilarejo iluminado, as pessoas se assustaram com a feição dela.
- Coma todos.
Muzan ordenava cada ataque dela, e apreciava os golpes que ela fazia com as mãos. Talvez pelo por ele ter pensado ao criá-la, tenha nascido aquela pele áspera e a língua de uma cobra, mas os golpes que ela dava eram inusitados. Parecia uma técnica chinesa de meditação com as mãos.
Cada refeição humana foi comemorada e saboreada da melhor maneira por ela e Muzan, destruíram toda aquela vila até a última pessoa e até a última gota de sangue. Ela estava dentro de uma pequena casa quando Muzan apareceu na entrada com dois samurais, agora Onis de olhos amarelos e enormes, para chamá-la.
- Nós vamos a Kamakura…
- Mas já?
- Não temos tempo antes dos mongóis voltarem… Eu tenho algumas propostas ao Shikken Tokimune.
Ela obedeceu, não se importava quais eram as propostas, mas ao olhar pela casa, viu um espelho quebrado e ficou curiosa por sua aparência. Pegou o espelho e viu a pele pálida e áspera como de uma cobra, mas o que chamou a sua atenção foram os olhos, no esquerdo estava escrito “Superior” e no direito “Um”.
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