O dia da viagem até Sannohe amanheceu com uma garoa fina, Minoru se despediu formalmente da esposa e do pai. Ele não era um homem apaixonado, mas sempre a respeitava. Já Suyen sempre foi perdidamente apaixonada por Minoru desde quando o vía treinando no Templo ou passando pela Vila dos Ferreiros, ela ficava apreensiva quando ele saía para caçar, principalmente em busca de Muzan.
Ele preparou os mantimentos e convocou Rengoku e Tanaka novamente, não queria levar o garoto, mas aquela espada ajudava muito e reconheceu isso na luta com o Shikken. Convocou mais dois caçadores de espada chumbo e Koji insistia para ir com ele feito uma criança.
- É perigoso garoto, você não vai, ainda não está pronto.
- E por que Rengoku pode ir?
- É justamente por isso que você não vai!
Os cavalos partiram e todos desejaram sorte aos cinco e ficaram admirando o horizonte até eles sumirem, os caçadores fecharam os portões do Templo e voltaram para o treinamento. Em dias chuvosos era o exercício de meditação e respiração.
A viagem até Sannohe levaria 10 dias, se não parassem os cavalos, diminuiria para 5, mas Minoru fazia questão de descansar, afinal, iria enfrentar Muzan Kibutsuji.
No caminho iam conversando e falando das famílias, Tanaka perguntou se ele queria ter filhos, depois de uma breve pausa respondeu que sim, mas o problema era a esposa que não engravidava. Já Rengoku era filho único de um casal de lenhadores a mãe foi morta por um Oni e o pai decidiu que ele iria ser um caçador.
Por ser jovem junto com Koji, ele era muito querido no Templo. Os dois ganharam espadas diferentes e os Haganezuka constantemente queriam estudá-las. - Eles são doidos por lâminas, o mais velho tem cinco filhos homens, parece que eles gostam de pôr gente no mundo! - Todos riam no caminho.
Em alguns pontos ficaram em silêncio apenas apreciando a paisagem, às vezes precisavam trocar a rota para não serem vistos por soldados do regime. Passaram por pequenas vilas e grandes cidades banhadas por lagos e o comércio de peixe. Mas à medida que o norte se aproximava Minoru pensou em dar meia volta e ir para casa ficar com a esposa e o pai.
- E se ele não estiver lá? - começou Rengoku.
- Ele vai estar…
- E se perdermos?
- Perderemos com honra, como Yamamoto e Yoshida!
Pegaram chuva e sol, conheceram alguns senhores de estalagem e lá passaram as noites e se alimentaram. Sempre se informando com alguém qual o melhor caminho para Sannohe.
- Se Suyen engravidar, você quer quantos filhos? - Havia momentos que Rengoku não parava de tagarelar, mas os adultos não se importavam, gostavam de alguém puxando assunto.
- Eu acho que um já é o bastante, meu pai e meu avô só tiveram um, sempre foram muito ocupados, e agora eu estou caçando demônios… Um só tá bom.
- Eu acho que eu teria filhos também, mas queria três.
- Isso aí você já pode aprender com os Haganezuka - brincou Tanaka e todos riram de novo.
Sannohe ja nao estava longe e pararam em um vilarejo para perguntar as pessoas se havia acontecido alguma coisa estranha no lugar, se viram algum tipo de demônio ou morte suspeita - Destruíram a vila depois da floresta, ninguém mais entra lá, já faz muitos anos - Uma senhora baixinha e quase cega contou pra eles uma história antiga de uma cidade que foi destruída.
O vilarejo dela não abria os comércios a noite e assim que o sol se pôs todos entraram em suas casas. Os caçadores entenderam o motivo e ficaram por ali um tempo antes de partir para a floresta.
A lua já estava no auge mesmo com o céu nublado e eles galopavam na mata densa, nenhum sinal da tal vila que a velha falou. Não souberam calcular quanto tempo ficaram ali, Minoru achou que estavam andando em círculos até ouvir aquela voz.
Os cavalos relincharam e os cinco foram empurrados de cima deles. Parecia um vento muito forte mas quando Minoru se levantou atrás dele seus colegas estavam todos imobilizados por Onis, as espadas estavam no chão e cada Oni apontava para a garganta dos caçadores segurando eles com o braço.
Minoru se virou rapidamente sacando a espada, Muzan abaixou desviando dela, ele tentou outro golpe, mas o demônio segurou o pulso dele torcendo fazendo a espada cair no chão.
Minoru acertou dois socos no demônio e recuperou a espada com o giro debaixo para cima, o braço de Muzan caiu e cresceu no mesmo instante. Um oni loiro tentou impedir, mas Muzan apenas levantou o dedo.
- Kekkijutsu - Minoru tentou outro golpe, mas foi erguido pelo pescoço por uma força invisível enquanto Muzan lhe encarava.
- Como me achou moleque? - Minoru engasgava.
- Parece que você não tem tantos aliados assim... - Olhou em volta e reconheceu um deles.
O Oni baixinho com chifres parecia ter esticado, ele segurava Tanaka e nos olhos estava escrito "Superior Quatro".
- Sabe, eu não acreditei que você havia crescido tanto, está do tamanho do seu pai. Era irritante ver matando tanto das minhas criações - Minoru se debatia e Muzan o arrastou para as próprias mãos, já estava quase sem ar, mas tentou manter a respiração.
- Eu… Eu vou te matar!
- Não, não vai. Eu cheguei primeiro e parece que você vai primeiro pro inferno também… Está com quantos anos rapaz? - ele não respondeu - Já tem filhos? - Outro silêncio, Minoru se debatia. - Não né ? Que pena…
Puxou a adaga que carregava e tentou cortar a cabeça de Muzan, ele segurou de novo seu pulso e tomou a adaga da mão dele.
- Isso aqui é meu, obrigado.
Nenhuma chance de luta, nem mesmo defesa, Minoru estava encurralado sem aliados, não imaginou que seria daquele jeito, Muzan estava mais forte do que a vez que se livrou dele com o pai na cabana. Ele parecia mais sombrio e mais ameaçador.
Seus pensamentos começaram a tomar conta e lembrou de suas lutas rápidas com Onis, dessa vez o lado do demônio estava ganhando dele com a mesma rapidez.
Com o pouco ar que restava, pensou no pai, Suyen, e os netos adolescentes de Ubuyashiki, não poderia se tornar um Oni. Se isso acontecesse o Templo dos caçadores seria descoberto. Olhava para cima da cabeça do demônio, queria que o pai aparecesse para salvá-lo, ou até mesmo outro caçador. Queria que a espada de Rengoku pegasse fogo e queimasse todos ali. Queria que sua espada abrisse um buraco escuro no chão onde todos estariam enterrados.
Lembrou de Rengoku e como ele era dedicado, seu pai com certeza sentiria sua falta, mas ele é um samurai está acostumado com perdas. Já o Sr. Rengoku, um simples lenhador, não poderia ficar sem o filho.
Muzan ficou passando a adaga pelo rosto dele e desceu até o corpo. Os Onis ali riam e esperavam as ordens, todos tinham uma numeração nos olhos.
- Soube que matou Tokimune… O que devíamos fazer com ele?
- MATAR! - COMER - JOGUE NO MAR!
- Ou eu poderia cortar sua cabeça e mandar para o seu pai - os dentes enormes tomaram conta de todo o sorriso doentio.
- Solte…
- O que? Não estou te ouvindo.
- Solte o garoto! - Muzan olhou para o menino que não parava de se contorcer.
- HAHAHA Parece você olha só.
- Solte-o! Por favor! Ele só tem 15 anos.
- É claro que vou soltar alguém pra contar história… Tayoumaru precisa saber como o filho dele morreu.
Uma perfuração no estômago de Minoru fez ele cuspir sangue. Rengoku gritava e os outros caçadores tentavam em vão se soltar das garras dos Onis Superiores.
- Douma! Solte esse moleque!
Douma se parecia com um humano, mas não era japonês, tinha cabelos loiros e usava vestes que imitavam um vestido, junto com a escrita "Superior Seis" nos olhos, fez cara de insatisfação.
- Mas Mestre, os mais novos são saborosos.
- Obedeça!
Douma soltou Rengoku que tentou pegar a espada.
- Opa! Sem espada, e vai sem cavalo também!
- Senhor Tsugikuni! - Minoru olhou para ele ainda nas garras de Muzan estava ficando roxo. Não disse nada e Rengoku correu escorregando várias vezes, estava muito assustado e sem ar, também foi enforcado por Douma.
Ele se virou quando ouviu os gritos dos companheiros, a cena cruel tomou conta dos seus olhos, Muzan abocanhou o rosto de Minoru e os outros copiaram o Mestre, Douma dividia Tanaka com Hantengu.
Rengoku queria voltar mas suas pernas tremiam, Douma parou a comida para se virar para ele e foi o impulso para fugir, pensou que Douma estava lhe perseguindo e ele correu tanto que pretendia chegar até o sol para fugir dali.
Ele correu até o dia amanhecer, estava já na primeira vila que passaram pedia socorro por seus amigos e para ele, mas ninguém ajudou. Todos também se assustaram com ele até ser emboscado por samurais que passavam por lá.
- O que está fazendo fora do posto? - o samurai prestou atenção nas suas vestes - você não serve ao Xogum?
Começou outra conversa onde apenas um dominava, dessa vez com humanos. Os guardas queriam levá-lo. Até ele conseguir roubar a espada de um e golpeá-los. Correu de novo, dessa vez com a espada roubada na mão.
**
No Templo dos caçadores Tayoumaru orava com os Ubuiyashiki e a nora, os cinco saíram em um dia nublado e garoando, aquilo era mau presságio. Orava para o filho voltar são e salvo e com boas notícias da luta com Muzan, sabia que ele chegaria depois de 20 dias.
Quando entraram na quinzena da viagem eles começaram a ficar preocupados, nenhuma notícia. Os cinco levaram um corvo na gaiola para comunicar quando estivesse tudo bem. Mas nenhuma ave pousou no Templo.
25 dias, caçadores saíram para coletar pistas ou vestígios dos cinco. Nada
30 dias o pai de Rengoku foi para o Templo ter notícias do filho, nada.
35 dias caçadores foram até Kamakura para coletar informações. Nada
42 dias depois da viagem, já com o sol indo embora, Rengoku apareceu nos portões do Templo, estava quase desmaiando, suas vestes estavam sujas, sua cabeça sangrava e carregava uma katana comum nas mãos.
- O QUE ACONTECEU GAROTO?
- Guardas… Me perseguiram e me prenderam...
Ele caiu no chão e Tayoumaru correu para o portão, atrás vinha Suyen e Haganezuka.
- Onde estão os outros!?
Rengoku tremia e chorava.
- Ajudem este menino! Fumiko! - colocou a cabeça dele no colo - Rengoku! Onde estão os outros?
- Muzan…
- Respire garoto! O que aconteceu?
Todos os caçadores se colocaram em volta dele, olhavam para a entrada, Rengoku estava sozinho.
- Muzan comeu Minoru… E os outros.
Um calafrio tomou conta do corpo de Tayoumaru, ele tirou os olhos do menino e olhou para a entrada. Ninguém. Um filme passou na sua cabeça, com o menino desmaiado no seus joelhos olhou de novo para ele querendo que fosse o filho. Seu único pedaço vivo de Ami.
Abraçou o garoto e gritou, gritou tanto que os filhos de Haganezuka apareceram apreensivos. Quando chegaram entenderam o motivo. Minoru estava morto.
Todos os samurais em volta se ajoelharam, de alguma forma, queriam honrar a vida de Minoru e os outros. Fumiko chegou para cuidar do garoto e foi difícil tirar ele dos braços de Tayoumaru. Ele agarrava o menino como se fosse seu, e quando soltou queria ir atrás de Muzan e foi preciso que os quatro Haganezukas segurassem o homem de quase dois metros. Os portões foram trancados.
Suyen gritava junto com o sogro tão alto que perdeu forças no corpo, se ajoelhou pensando na morte dolorosa do marido e claro, que estaria viúva e sem filhos, passaria a vida sem se casar novamente, pensou que seria expulsa do Templo e que iria parar em Yoshiwara. Sem ar e trêmula, desmaiou. Tiveram que socorrê-la.
**
Os dias se passaram e Tayoumaru não queria sair de seus aposentos no Templo, estava devastado. Não queria nem mesmo treinar os netos de Jun. Pensava na nora e na incapacidade dela de engravidar, era seu único caminho de ter o sangue do filho correndo por aquele Templo. Não participou nem mesmo quando os Haganezuka organizaram uma cremação de cinco Higanbana em homenagem aos caçadores e ao filho.
Quando Suyen se recuperou foi até Haganezuka se despedir, afinal era viúva e sem filhos para poder continuar ali. Ele concedeu que ela fosse embora, mas quem impediu foram as quatro noras, insistiram que ela ficasse até encontrar um lugar seguro. Haganezuka não se atreveu a brigar com quatro mulheres na sua frente.
Tayoumaru não saia nem mesmo para tomar sol, às vezes quem levava comida a ele era o pequeno Kiriya, filho mais novo de Ryo. Ele não apresentava tantas manchas na pele e vivia ajudando a avó e a irmã com as tarefas.
**
Quase três meses se passaram, Munjuro Rengoku se sentou na porta de seus aposentos e curvou o corpo como uma oração. Tayoumaru não estava vendo, mas podia ouvir.
- Mestre, lhe peço do fundo do meu coração que me perdoe. Por eu ser jovem, nas duas últimas lutas homens morreram para me salvar. O Senhor Tsugikuni, mesmo imobilizado, pediu a Muzan que me soltasse. Ele poderia pedir pela própria vida, mas pediu pela minha. Eu lhe peço perdão e lamento muito a perda do seu filho. Eu não conheço essa dor, mas eu farei o que for possível para aquecer seu coração mais uma vez.
Ele continuou curvado esperando uma resposta, mas só ouviu a própria respiração. Quando se levantou para sair, Tayoumaru abriu a porta e o abraçou muito forte. Os dois entraram em prantos.
- Não precisa me pedir perdão, eu tenho certeza que meu filho pediria isso.
**
Um dia de sol nasceu no Templo, naquela semana novas obras iriam começar, iriam ser criadas mansões e casas para os caçadores que mais se destacavam. Eles recebiam desde lenha a seda por cada missão concluída com sucesso.
Fumiko estava com a neta e Suyen estendendo roupas, era um dia de muito calor e Suyen usou um kimono com panos leves. Depois de estender um lenço encarou a jovem mulher de 25 anos e chegou perto dela.
- Está tudo bem Senhora Ubuyashiki?
- Você está grávida.
Suyen riu e ficou sem jeito.
- É claro que não! Eu ainda sangro!
- Mas está! Olha o tamanho do seus peitos! - ela tocou na barriga - Quando foi a última vez que se deitou com seu marido?
- Foi uma noite antes daquela viagem… É claro que não Senhora Ubuyashiki, é impossível!
- Você estava abalada e já se acostumou que não poderia engravidar. Mas você está menina! Eu sei o que digo, tive dois filhos! Sua barriga está totalmente dura e seus peitos aumentaram.
Fumiko parecia feliz, mas Suyen assustada. Miyka perguntou se poderia contar ao Senhor Tsugikuni e Haganezuka, a senhora assentiu.
Suyen olhava para a barriga que não parecia estar grande nem tão dura como Fumiko falou. Mas um misto de emoção passou por ela principalmente alívio, grávida de um Tsugikuni poderia morar no Templo.
Quando Tayoumaru soube, antes de finalmente sair do seus aposentos, pensou que Suyen se deitou com outro homem, pois já fazia tempo que Minoru morrerá, mas pediu perdão a si mesmo. Suyen era apaixonada por seu filho, mesmo ele sendo um tanto distante dela.
Ele saiu no quintal para ver Suyen e os netos de Haganezuka já tocavam sua barriga brincando com ela. Tayoumaru apenas a abraçou e agradeceu, seu nome estava vivo e mais um samurai iria ser treinado por ele. Mas ao mesmo tempo, já pensava em proteger o neto das atrocidades de Muzan.
Os adultos se sentaram para conversar e pediram a ela que aceitasse ser abençoada para que a criança nascesse forte e capaz de lutar. Por estar em uma família de samurais, ela aceitou sem rodeios.
Todo esse tempo que esteve no Templo treinando os caçadores, Tayoumaru e Haganezuka também procuravam a tal forma sobrenatural de vencer Muzan que eles queriam. E encontraram o próprio Mítico do Imperador que era difícil o contato com ele, mas a notícia da gravidez era o motivo perfeito para ele aceitar vir até o Templo.ra tudo ou nada, então pediram para alguns caçadores irem até Kamakura e de lá para os guardas passarem a mensagem ao Mítico convidando ele para o Templo.
**
O contato levou mais de uma semana e ele apareceu no Templo admirando todos os Ipês e glicínias.
- Eu poderia denunciar esse lugar, mas quando soube que era um Ubuyashiki e um Tsugikuni que morava aqui… Ah eu queria vê-los com meus próprios olhos.
- Eu sinto lhe desapontar - reverenciou Tayoumaru - mas no momento os Ubuyashiki são apenas crianças.
- Imaginei, ninguém vive guerreando para sempre - Tayoumaru não se deu o trabalho de corrigir o velho, ele parecia ter sua idade. - Onde está a menina?
Todos os caçadores e ferreiros entraram e contaram a história de Muzan até parar na morte de Minoru antes de apresentar Suyen. Contaram também sobre as espadas que o velho pareceu não estar surpreso, o que ele disse sobre elas que deixou os dois Senhores intrigados.
- Ah, as Espadas do Sol… Também estão no Palácio e há uma no Templo Kamakura… Como vocês sabem ela absorve a energia da primeira pessoa que a toca, mas ela faz isso porque cada pessoa tem uma característica especial para compor com a espada. Por exemplo, a espada azul, muito delicada - Haganezuka já sabia disso - ela precisa de alguém que além de lutar, deve passar a energia para ela, se não, se quebra. Se a espada é delicada, passe energia delicada.
- Desculpe interromper - começou Koji - o Senhor sabe alguma coisa sobre a espada rosa?
- Ah a espada rosa… Ela é muito parecida com a azul - todo mundo concordou - mas ela só fica rosa porque o dono é alguém que apresentará uma nova característica para ela - ele levantou a mão porque o garoto iria perguntar - eu não faço a menor ideia do que ela quer que apresente.
- O Senhor tem alguma informação sobre a espada preta?
- Quem tem espada preta? - Ele parecia curioso.
- Eu e… Meu filho tinha.
- A espada preta só aparece quando o dono dela é capaz de passar qualquer energia para ela. Afinal o preto absorve tudo e ela é extremamente leve - Tayoumaru concordou. - Eu diria que é difícil uma espada preta se quebrar, mas pode ser que aconteça. Diferente da branca… - eles ficaram espantados - Não existe ninguém com espada branca? - Negaram e ele continuou - Bom, a espada branca é extremamente pesada, só quem a tem consegue levantá-la. Diferente da preta que absorve tudo, ela precisa de uma energia fria, alguém incapaz de ter sentimentos. E por conta disso, é uma espada altamente durável. O dono dessa espada era o Imperador Fushimi e o dono da espada preta era o Imperador Go-Saga… Curioso…
- O que é curioso? - Perguntou Tayoumaru.
- Eu só vi a espada preta e branca na família imperial…
Mahina
Era verão de 1220, um senhor que pescava avistou uma cesta que banhava no lago, ele pegou e nela estava muito bem enrolado uma menina de cabelos pretos. O velho que nunca teve filhos decidiu cuidar da criança e a batizou de Mahina.
Ele servia a uma vila de samurais e quanto mais a menina crescia, mas queriam que ela se casasse logo. O casamento acabou acontecendo quando ela tinha quinze anos, o samurai que a quis fazia parte de uma família rica e muito religiosa, os Ubuyashiki.
Se mudaram no mesmo ano quando o samurai conseguiu terras vastas em outro lugar como recompensa. Eles tiveram o primeiro filho quando ela completou dezessete anos, Kazu, mesmo todos duvidando, ele era sim filho de Teru.
O segundo levou cinco anos para nascer, mas não pôde aproveitar muito a vida do pai que faleceu quando ele completou dois anos, Jun.
Ela era amiga de outra mulher jovem casada com outro grande samurai. Essa mulher não conseguia engravidar do marido. No período de gravidez do segundo filho ela não via essa amiga, que estava sempre presa dentro de casa por ordens do marido.
Até que esse samurai bateu em sua porta com uma criança no colo. Ele pediu para que ela cuidasse de seu filho, sua esposa havia falecido. A criança era Tayoumaru.
Fuyumaru mesmo jovem ansiava por deixar herdeiros, queria que seu nome fosse reconhecido e admirado como os Ubuyashiki. Ele conseguiu, mas pagou um preço enorme por isso, a própria morte em uma batalha depois de alguns anos.
Mas antes de conseguir esse mérito, já que sua esposa não conseguia engravidar, buscava outras mulheres pela vila e pelo Japão. Em uma convocação do Palácio ele acabou se envolvendo com a filha de Go-Saga que andava por lá, mesmo o pai já não sendo mais Imperador.
A beleza da mulher lhe intrigou, era exatamente idêntica a esposa de Teru Ubuyashiki, Mahina.
A garota acabou ficando grávida e com medo dela ser morta com seu filho no ventre, a levou para morar em uma cabana afastada de todos na floresta. Mas quando chegou o dia do nascimento da criança, ela acabou morrendo no parto.
Ele levou a criança para casa e como era um homem calculista, armou um circo perfeito para os guardas do Palácio encontrarem o corpo da mulher e sair ileso da situação.
No período da gravidez ele trancou a esposa em casa para que ela não falasse com ninguém, ou duvidassem que ela tenha engravidado até ele chegar com a criança dele para ela cuidar. Quando Tayoumaru completou dois anos, em uma volta para a casa, encontrou a esposa se envolvendo com outro samurai. Ele a matou e mandou enforcar aquele samurai.
Naquele tempo no Japão, quando uma mãe tinha filhos gêmeos, era obrigada a matar o segundo filho, pois acreditavam que ele iria sugar todo o futuro do primeiro. A mãe de Mahina não conseguiu fazer isso. Ela a abandonou longe do Palácio.
Fuyumaru como todos no Japão, também acreditava nessa crença dos gêmeos, foi ele que informou Teru que Mahina era gêmea e tinha sangue imperial. Esse foi o motivo para que ela vivesse apanhando do marido. E quando ela engravidou de Jun ele dizia que era melhor não ter dois na barriga. Ela rezou para que isso não acontecesse.
Mahina é mãe de Kazumaru, Jun e tia de Tayoumaru. O sangue nobre veio dela, e a espada preta dos dois também. Jun herdou a espada azul por ter uma personalidade muito diferente da do irmão e do primo. Se contentava com pouco, mesmo vindo de uma família rica e muita gente dizia que ele era tão bom porque não conviveu com o pai.
**
Tayoumaru lembrou do que Muzan, ainda Kazu, contou quando se encontraram pela primeira vez, mas tirou os pensamentos da cabeça porque para ele era impossível ter sangue imperial, afinal ele era muito parecido com o pai e claro, só pensou na traição do lado da mãe.
- É curioso mesmo… Mas como aqui ninguém tem espada branca não somos da família imperial.
- É claro que não - o velho riu ainda intrigado, mas seguiu os Senhores para onde estava Suyen.
O velho mítico ficou com a menina por horas até o início da noite, ele fez um tipo de água vermelha com glicínias e Higanbana para ela tomar, depois fez uma oração tocando sua barriga e ela dormiu profundamente.
Na hora de se despedir, o velho parecia nervoso e chamou Tayoumaru.
- Eu me despeço, mas quero lhe dizer que precisa ter perseverança agora…
- Por que?
- Sua nora… Carrega gêmeos na barriga.
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