História Demon Slayer - A Origem dos caçadores de demônios vol. 1 - Os Três Se Tornaram Amigos

Kyogai comia um jovem no tatame da mansão, parecia enjoado e já estava farto de devorar. Muzan apareceu na sua frente vestindo um terno branco, estava decepcionado. 

- Não consegue mais comer? Esse é seu limite?

- Mestre? Não… Eu posso continuar… - Não pôde terminar de se justificar, seus olhos foram cortados. - Espere meu Senhor, por favor!

- Chega! Aprenda de uma vez esse é seu limite, você não faz mais parte dos Doze Kizuki! Não tem mais nada para me oferecer. 

Muzan deixou a mansão e Kyogai se viu desapontado sem vontade de comer o garoto. Para um Oni, quanto mais humanos devorar, mais forte fica. Muzan concedeu compartilhar parte de seu sangue com ele, pois era incrivelmente forte. Depois disso, tambores apareceram pelo seu corpo fazendo parte de seu kekkijutsu. 

Todo Oni antes de se transformar carrega consigo uma qualidade da vida humana, Kyogai era um ótimo músico e escritor. Mas seu anfitrião não achava isso, sempre o humilhava e desdenhava das suas criações.

- O que você escreve não tem vida! Tudo muito chato e muito igual! Nem mesmo aquela música sem graça - ele ouvia tudo calado e de cabeça baixa, o homem jogou suas anotações no chão. - Tudo sem impacto, beleza, nada! Apenas lixo!

O anfitrião deixou ele pisando nas anotações, estava com raiva das inúmeras ofensas e sentado na varanda da mansão, Muzan viu em seus olhos o ódio que exalava. Tornou Kiogay em um Oni e ele comeu o anfitrião que o humilhava, tomou a mansão para si e guardou todas as suas criações em caixas e cômodas enormes pela casa.

**

Batendo os tambores sem parar uma dessas caixas caíram no chão, fazendo todos os papéis com as sinfonias de músicas e histórias se espalharem. Tanjiro tentava constantemente chegar perto dele e quase conseguiu, mas os tambores o jogavam para longe. O Oni aumentou a velocidade das batidas e agora Tanjiro se via rodando no ar. 

As garras também aumentaram de tamanho e desviando de uma delas caiu no chão tomando cuidado com os papéis. Isso fez o Oni admirar o caçador que parou de bater os tambores. Tanjiro percebeu e olhou para os papéis - você não quer que eu pise neles.

Com aqueles segundos de admiração, Tanjiro pode controlar sua respiração e sentir o cheiro das garras do Oni, elas chegavam perto pouco depois do som do tambor e tinham cheiro de mofo. Soube respirar, para amenizar as dores na costela, pisar no chão com a ponta dos pés, como se faz o corte com as espadas. 

A garra vinha por cima, pela esquerda e por trás. Desviava de todas, chegando o mais próximo do Oni. Ele respirou fundo - concentração total, respiração da água - sua mão deslizou para o fim do punho da espada e com a ponta dos pés conseguiu correr no sentido horário que a sala virava, queria chegar bem na frente do rosto do Oni - o cheiro do fio de defesa - Kyogai! Seu kekkijutsu foi incrível! - isso distraiu o Oni que ficou boquiaberto, Tanjiro aproveitou e cortou perfeitamente seu pescoço enquanto aterrissou em um mortal. 

A cabeça rolou e o corpo começou a se esvair, por ter feito parte de um dos Doze Kizuki, a decomposição demorava um pouco mais. Kyogai estava com os olhos em lágrimas vendo Tanjiro pousar perfeitamente na entrada do cômodo, estava de costas para ele.

- Como… Como sabe meu nome?

- Eu vi nos papéis… - Continuava de costas e guardou a espada na bainha. 

- Me diga, achou mesmo meu kekkijutsu incrível?

- Foi incrível… - Tanjiro se ajoelhou - Mas não vou perdoá-lo por matar tantas pessoas. 

O Oni não respondeu, sua boca se decompôs, mas pelo olhar parecia grato pelo elogio. Tanjiro tirou uma agulha que parecia uma caneta do bolso e se levantou para extrair um pouco de sangue. Kyogai estava com os olhos riscados, mas ele fez parte dos Doze Kizuki. Guardou a amostra e pensou em descansar um pouco, estava com muitas dores e guardou muito ar nos pulmões para derrotá-lo, isso doeu muito seu peito.

Mas se lembrou das crianças, iria socorrê-las e antes, reverenciou o demônio - por favor descanse em paz - Kyogai nunca pensou que iria admirar um caçador de Oni. Seu talento foi reconhecido, era essa aprovação que estava buscando. 

Tanjiro abriu a porta do cômodo das crianças com muita rispidez - CRIANÇAS! - ele foi recebido com livros, baldes e pedaços de madeira.

- EI, EI PAREM COM ISSO! SOU EU! POR QUE ESTÃO FAZENDO ISSO?

- Senhor Tanjiro é você?

- Nos perdoe! O tambor sumiu e entramos em pânico.

Teruko começou a chorar e o caçador se ajoelhou acariciando a cabeça dela. 

- Já está tudo bem agora, não existem mais monstros. 

Os três foram para a saída e ele carregava Kyoshi nas costas, estava sentindo o cheiro do Zenitsu e do Shoichi, mas chegando na porta sentiu um cheiro forte de sangue. Apertou o passo, mas sem assustar as crianças e quando o sol tomou conta de seus olhos, Zenistu estava agarrado a caixa da Nezuko e apanhando do caçador com máscara de lobo.

Com a voz engasgada viu o amigo na porta da mansão. 

- Tanjiro… Protegi porque você disse que era mais importante que sua vida… 

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Zenitsu acordou tonto, depois que Shoichi gritou em seu ouvido. Ele levantou com as mãos na cabeça.

- O último giro do cômodo nos jogou aqui Senhor Zenitsu. O senhor me protegeu mas…

- Mas eu caí de cabeça né? - suas mãos estavam com sangue e ainda se sentia tonto.

- Sim… Está doendo?

- Eu to tonto… Eu vou morrer! 

Não pode reclamar muito porque ouviu uma risada vindo de dentro da casa, ele se levantou e se colocou de novo na frente da criança. O caçador quebrou a porta com as espadas e parou escorregando na sua frente, respirava por entre a máscara parecendo aliviado - To sentindo cheiro de Oni - Zenitsu já tinha ouvido aquela voz, era do caçador que subiu o Monte Fujikasane primeiro, se deu conta que era ele o caçador que estavam procurando. 

Ele parecia farejar algo na direção da caixa onde Nezuko estava - achei você - correu para matá-la. Mas Zenitsu como a própria respiração do trovão correu mais rápido e se colocou na frente da caixa.

- PARA!

- Sai da minha frente!

EU SOU ZENITSU AGATSUMA, DO ESQUADRÃO DE CAÇADORES ASSIM COMO VOCÊ! 

- ENTÃO EU NÃO PRECISO EXPLICAR! SAI DA MINHA FRENTE! 

- NÃO, ESSA CAIXA É DO TANJIRO!

- ENTÃO ACABO COM ESSA CAIXA E ESSE IDIOTA! - Ele levantou a espada para golpear Zenitsu no ombro, que nem se mexeu. - VOCÊ QUER MORRER É?

- NÃO VOU DEIXAR VOCÊ ENCOSTAR NESSA CAIXA, É MUITO IMPORTANTE PRO TANJIRO!

- AÍ DENTRO TEM UM ONI SEU IDIOTA! NÃO TÁ ENTENDENDO?

- MAS É CLARO QUE EU SEI DISSO! 

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Zenitsu sempre teve uma audição muito boa, um dom que desde pequeno escutava o que as pessoas diziam enquanto dormiam. Quando acordou em frente a mansão, percebeu que os sons dos onis sumiram, deduziu que Tanjiro os derrotou. Ele conseguia ouvi-lo caminhar e o caçador correr e rir pelos corredores. 

Para ele os sons dos onis são completamente diferentes de um humano normal, todo ser vivo emite algum som, se prestar atenção pode-se ouvir até os pensamentos. O som de um oni é diferente, o coração não bate e os pulmões não enchem de ar, eles parecem constantemente ranger os dentes. 

Porém o som que Tanjiro emanava era muito gentil, tão gentil que dava vontade de chorar, até mesmo quando ele ficou nervoso ele estava sendo gentil. Isso o tranquilizou, mesmo viajando com um Oni nas costas. Teve certeza que ele tinha uma razão muito grande para isso e por saber dessa gentileza, depositou confiança nele. 

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- EU VOU PERGUNTAR DIRETAMENTE PRO TANJIRO O MOTIVO DISSO! ENTÃO SOME DAQUI

O caçador chutou seu rosto, que já estava tonto com a queda e fez ele rolar saindo da frente da caixa. Ele fez de novo o movimento em “x”, mas caiu no chão, Zenitsu o chutou e agarrou sua perna - EU NÃO VOU DEIXAR VOCÊ ENCOSTAR NELA! - Pegou os dois pés do caçador e rodou seu corpo para longe - É IMPORTANTE PRO TANJIRO E EU VOU PROTEGER ATÉ ELE VOLTAR! - Se agarrou na caixa com as mãos e pés. 

O caçador começou a chutar o rosto de Zenitsu sem parar, acabou tirando sangue da testa e do nariz. Shoichi se colocou atrás de uma pedra assustado.

- SOLTA ESSA CAIXA!

- NÃO!

- SACA A ESPADA E LUTA COMIGO!

- NÃO VOU LUTAR, SOMOS CAÇADORES!

- CALA A BOCA! SE VOCÊ É UM CAÇADOR EU QUERO TE VER LUTAR!

Tanjiro apareceu na entrada da mansão. 

-PARAAAAA!

Uma fúria tomou conta dos seus olhos, suas veias estavam saltadas e o que via era alguém batendo em Nezuko protegendo Rokuta. O caçador estava preparado para fincar a espada nas costas do Zenitsu, ele olhou para ele sorrindo desdenhoso

- É você o Tanjiro então?

- EU MANDEI PARAR!

Correu de punhos fechados para o caçador que tentou usar as espadas para furá-lo, mas o soco no estômago foi tão rápido e forte que quebrou suas costelas. Zenitsu ouviu, mas não conseguia fazer nada, ainda estava tonto pelas pancadas. O caçador cuspiu sangue e rolou para longe dos dois. 

- VOCÊ NÃO FAZ PARTE DO ESQUADRÃO SEU MALUCO! DEVIA ENTENDER PORQUE O ZENITSU SE RECUSA A SACAR A ESPADA! NÃO PODEMOS LUTAR UNS COM OS OUTROS! E OLHA SÓ VOCÊ AGREDINDO OS OUTROS SEM RAZÃO ALGUMA! ACHA DIVERTIDO? - Sua boca espumava de raiva. - VOCÊ É DESPREZÍVEL! 

O caçador ria muito caído com sangue na boca, mas foi se levantando devagar. 

- Então tá bom, vamos brigar sem espadas. 

- PERA AÍ, VOCÊ ESCUTOU O QUE EU FALEI?

Mesmo machucado investiu contra Tanjiro tentando um golpe de direita, ele desviou e ainda tentava conversar com o caçador - EU DISSE QUE NÃO PODEMOS LUTAR UNS COM OS OUTROS! - O agarrou pelas costas e tentou jogá-lo no chão, Tanjiro impediu com um impulso para trás e um chute nas pernas dele. 

Ele correu de novo para atacar e parecia que iria dar um mortal, mas usou o impulso para chutar as pernas do Tanjiro. Ele desviou colocando um pé para trás e se apoiando nele tentou um chute no rosto do caçador, ele se colocou quase deitado no chão e quando levantou deu um soco em seu rosto que caiu de costas.

Os dois estavam brigando sem parar, um tentando derrubar o outro. Shoichi foi até Zenitsu limpar suas feridas e ajudá-lo, ele olhava tudo achando que os dois estavam ficando doidos. Os golpes que o caçador dava eram todos baixos, parecia que Tanjiro estava lutando com um animal - PARA COM ISSO VOCÊ NÃO CANSA, ESTÁ MACHUCADO! - Tanjiro tentava constantemente desviar dos golpes baixos - EU NÃO LIGO! - Ele agarrou os ombros do caçador e deu um impulso para trás - SE ACALMA! - Uma cabeçada perfeita.

O caçador cambaleou para trás e tirou a máscara, os dois olharam para ele espantados. 

- VOCÊ É UMA GAROTA??

Ele tinha as sobrancelhas muito bem feitas, seus cílios eram maiores que os comuns olhos japoneses, nariz arrebitado e sua pele não tinha nenhuma mancha. Os cabelos estavam com uma franja que cobria parte da testa ensanguentada.  

- O que tem algum problema com a minha cara?

- Na verdade é bem atraente.

- VOCÊ VAI MORRER! CAI DENTRO PANACA!

- NÃO! PRA MIM JÁ DEU! POR QUE NÃO SENTA UM POUCO?

- Tenho uma ideia melhor, eu me apresento e depois a gente volta a lutar! Eu sou Inosuke Hashibira! LEMBRE-SE BEM DISSO!

- ENTÃO SOLETRA ESSE NOME ESQUISITO!

- O que? Eu… Não sei ler nem escrever, tá bom! Tudo que sei é meu nome que o meu…

O caçador começou a engasgar e ninguém entendeu o que estava acontecendo, ele caiu no chão e parecia convulsionar. Tanjiro correu para ele e virou seu corpo para poder cuspir o que estava engasgando. Diferente de Inosuke, ele estava bem e não sentia nada na testa. Já desmaiado, os dois caçadores apoiaram a cabeça dele com o haori e o cobriram até ele acordar. 

Todos agora estavam trabalhando para enterrar os corpos da mansão, Zenitsu se recuperou da pancada e ajudava com carinho a colocar pedras e terras nos corpos, quando Inosuke acordou, estava de novo agitado e quis atacar Zenitsu que se escondeu atrás do Tanjiro. Ele parou porque viu todo mundo em volta de um amontoado de terra e pedras. 

- O QUE ESTÃO FAZENDO?

- Enterrando os mortos… E você devia ajudar também! Muitas pessoas morreram na mansão.

- Qual o sentido de enterrar esses perdedores aí? Eu não vou fazer isso de jeito nenhum! Cai na mão comigo de novo!

- Entendi… Você não vai ajudar porque ta com muita dor né? - Zenitsu não entendeu o que Tanjiro disse e olhou pra ele com um olhar confuso. Tanjiro retribuiu sorrindo. - Tá tudo bem! Todos lidam com o luto de uma forma diferente. Trazer os corpos da mansão e cavar buracos para enterrá-los dá um trabalhão mesmo. Eu, Zenitsu e as crianças vamos dar nosso melhor, então não se preocupe tá bom?

As crianças e Zenitsu murmuravam que Tanjiro estava esquisito. 

- Você devia descansar um pouco Inosuke. Desculpa exigir tanto de você. 

- SEU PANACA TÁ ME CHAMANDO DE FRACO? EU VOU TRABALHAR MUITO MAIS QUE VOCÊS!

No fim do dia, todos os corpos estavam enterrados e agora faziam uma prece para eles, Inosuke já de novo com a máscara, constantemente dava golpes em uma árvore.

- O que o cabeça de lobo tá fazendo? 

- É melhor não olhar…

Quando terminaram decidiram descer a montanha, perto do campo de arroz onde encontrou Zenitsu, havia um posto de corvo de localização, precisava mandar aquela caneta para a Senhora Tamayo.

- PRA ONDE VOCÊS VÃO?

- Descer a montanha…

- MAS AINDA NÃO TERMINAMOS NOSSA BRIGA!

- Você tá cansado né? Venha conosco, aposto que acharemos um lugar pra comer. 

Todos murmuravam que Tanjiro estava ficando doido igual a Inosuke. 

- EU NÃO TO CANSADO COISA NENHUMA! VAMOS LUTAR! - Ele investiu contra Tanjiro

- Eu não vou lutar mais com você! - Desviou dele, que escorregou e caiu no chão - Viu? Você está cansado, vamos descer a montanha!

Ele concordou, mas constantemente enfrentava uma ou duas árvores, queria provar para si mesmo que poderia vencê-lo. Nos pés da montanha antes de se despedirem das crianças, Tanjiro deu para Kyoshi seu saquinho de glicínias - Ande sempre com ele, vai distanciar os onis de vocês. Se despediram com abraços calorosos, menos Inosuke que nem ligou para elas. 

Agora Tanjiro carregava Zenitsu e a irmã, ele estava muito tonto pela pancada na cabeça e dormiu nas suas costas cansado, o caminho todo Inosuke queria lutar com ele. 

- LUTE COMIGO!

- PARA INOSUKE! EU NÃO VOU LUTAR COM VOCÊ!

- Eu juro que vou encontrar seu ponto fraco! Eu vou te derrotar seu panaca!

- Eu tenho nome, sabia! É TANJIRO KAMADO!

- ENTÃO PÂNDERO ACAMADO! EU VOU TE DERROTAR!

- QUEM É ESSE AÍ EM?

- É VOCÊ SEU IDIOTA!

- NÃO SOU EU NÃO!

- MAS QUE DROGA! CALEM A BOCA!

Os três seguiram para dentro de uma vila depois do campo de arroz. E pararam em frente a uma mansão, cujo portão de madeira estava escrito “matar” com glicínias em volta. Bateram no portão e uma senhora abriu prontamente.

- Sim?

- Desculpe por incomodá-la tão tarde senhora…

Zenitsu se assustou com a feição dela.

- Meu Deus um fantasma!

- ZENITSU!

- De onde você apareceu velha?

- MEU DEUS VOCÊS SÃO DOIS MAL EDUCADOS! 

A senhora os reverenciou, não se importou com os comentários.

- Vocês são caçadores, não são?

- Sim! Aqui é um posto de corvo de localização? Preciso enviar uma mensagem.

- É sim, por favor entrem!

- Velha tu já passou da hora…

- INOSUKE!

- Um lobo de Honshu? Eles não estavam extintos? - Inosuke não respondeu - Ah… esse é um dos últimos não é?

Os lobos de Honshu eram venerados no Japão, já que mantinham animais herbívoros como cervos afastados das colheitas. Porém, a partir da Era Meiji, o governo passou a promover a agropecuária o que levou a muitos conflitos entre lobos e fazendeiros, já que eles atacavam gado. Assim os fazendeiros passaram a matar os lobos, os envenenando e usando armadilhas de ferro. O último exemplar conhecido morreu em 1905.

Os três entraram e o quintal da mansão era imenso, cheio de glicínias e ipês, antes da entrada da mansão, a senhora apontou para uma cabana em que um senhor baixinho e gordinho limpava as gaiolas dos corvos. 

- Com licença… Preciso enviar uma mensagem para a Senhora Tamayo - Tanjiro parou na frente dele tirando a caneta do bolso.

O senhor se virou olhando para as gaiolas procurando o nome “Tamayo”.

- Ah… Senhor! Eu acho que ela se mudou.

- Eu sei… Qual é a mensagem?

Ele estendeu a caneta e o senhor olhou para ele desdenhoso, suspirou fundo e pegou a caneta. Um corvo não carrega objetos pesados, apenas cartas.

- Envio amanhã pelos correios…

- Obrigado! 

Os três voltaram a seguir a senhora, ela preparou banho e roupas limpas. Depois foram examinados pelo médico e tomaram remédios. A mansão era extremamente silenciosa, mas Zenitsu disse que haviam mais pessoas andando por lá. No jantar os três estavam famintos, mas Inosuke ainda queria provocar Tanjiro e fez isso roubando sua comida. Ele esqueceu completamente da caixa que tentava atacar, só queria saber de brigar com seu colega caçador.

- Pode pegar, eu não me importo de dividir.

- EU NÃO QUERO MAIS!

- Vocês dois são esquisitos… 

A senhora acompanhou os três até um enorme quarto que estava muito bem preparado com três futons e a caixa com Nezuko estava nos fundos. 

- Meu deus, essa velha me dá medo.

- PARA ZENITSU!

Inosuke escolheu o primeiro futon.

- Eu vou dormir aqui, cheguei primeiro.

- Tudo bem pode dormir onde você quiser. 

- Como você tem paciência com ele? - Zenitsu cochichou no seu ouvido enquanto a senhora saia do quarto

- O segredo é não dar atenção e dizer o contrário do que ele quer…

Inosuke ficava se perguntando porquê Tanjiro não ficava mais nervoso, não se lembrava que tentou matar a Nezuko e por isso o irmão se enfureceu, a convulsão ajudou a diminuir seu olfato, por isso quando acordou achou que era só uma caixa com equipamento que Tanjiro carregava. Os três se arrumaram para dormir, mas estavam inquietos, mesmo cansados, suas mentes o perturbavam.

-  Quem diria né… Estamos todos quebrados.

- A minha cabeça é a que mais dói.

- Me desculpa…

- Cade minhas desculpas, Inosuke? Me arrebentou todo.

- Nem a pau…

- PEDE DESCULPAS!

- NÃO!

- Só pede desculpas pra ele Inosuke!

- JÁ DISSE QUE NÃO!

- Olha, ninguém vai querer comer com você se continuar agindo assim.

- O que isso tem a ver?

- Por que as refeições são mais gostosas quando se está com os amigos…

- Zenitsu tá certo.

- Vocês tão batendo bem da cabeça?

- OLHA SÓ QUEM FALA!

- Os senhores precisam de mais alguma coisa? - A voz aguda da senhora ecoou pela porta.

- MEU DEUS A VELHA DO CAPETA!

- CALA BOCA ZENITSU! Não senhora, muito obrigado!

- Está bem, boa noite.

Antes de jantarem, a senhora explicou que sua família um dia foi salva por caçadores, então decidiram abrir a mansão para receber e cuidar dos caçadores de Onis em suas viagens, faziam isso de graça e com prazer. Aprenderam com eles que as glicínias repeliam os Onis e adotaram o brasão igual ao uniforme dos caçadores. 

- O Esquadrão de Caçadores é o máximo…

- Falando nisso Inosuke, porque decidiu entrar pro Esquadrão?

- Um membro do esquadrão apareceu na minha montanha, a gente competiu pra ver quem era o mais forte e aí eu roubei a espada dele…

- Tenho dó desse coitado…

- Depois, ouvi um negócio chamado de Seleção Final e descobri que os Oni existiam de verdade.

- E qual é a da máscara?

- Não é uma máscara, é a cabeça da minha mãe

- O QUE?

- MAS O QUE É ISSO SUA MÃE É UM LOBO? - Inosuke começou a rir.

- O velho que me criou disse que me viu na floresta mamando no corpo de uma loba ensanguentada. Ele me pegou e levou a cabeça dela pra empalhar. A casa dele só tinha esses animais e foi ele que me ensinou a escrever meu nome. Quando eu cresci ele me deu a cabeça e disse que era minha mãe.

- Meu Deus, você é doido e foi criado por outro doido.

- Para Zenitsu… E seu nome, foi ele que te deu também? 

- Não… Ele disse que meu nome estava em um cordão que eu usava - ele colocou as mãos no bolso e tirou um pequeno colar de madeira “Inosuke Hashibira”.

- Uau, que bom que ele cuidou de você… Você cresceu nas montanhas, como eu!

- Mas eu não tinha família… O velho era meio lelé das ideias.

- Igual você não é? - Zenitsu desdenhava e Tanjiro desistiu de corrigi-lo. 

Os dois estavam quase pegando no sono, mas era difícil Zenitsu dormir, estava ouvindo o barulho de Oni na caixa então resolveu perguntar. 

- Tanjiro, você tá viajando com um Oni não é? 

Ele se levantou e estava com um olhar genuíno.

- Você sabia e mesmo assim protegeu a caixa? Muito obrigado, você é uma pessoa boa.

Se dirigiu até a caixa e deu três batidas leves, a portinha se abriu o que apavorou Zenitsu que correu para pegar a espada. Inosuke ainda estava deitado e olhava para a caixa. Nezuko saiu dela engatinhando até crescer e ficar na altura normal, ela parou do lado do irmão e olhou para Zenitsu que estava em pé tremendo e boquiaberto olhando para ela.

- Pessoal, essa é minha irmã Nezuko.

- Pra mim deu, é muita informação. Eu vou dormir! 

- Tanjiro…

- Sim? - Ele viu a espada saindo da bainha, uma espada linda reluzente e amarela, achou que Zenitsu ia atacar a irmã, mas a espada estava apontada para si e não para ela.

- Por que você tava viajando o tempo todo com essa garota linda e não me avisou? EU VOU MATAR VOCÊ!

- Zenitsu, ela é minha irmã!

- NÃO INTERESSA! POR QUE NÃO ME AVISOU? A COISA MAIS DIFÍCIL NA MINHA VIDA É ARRUMAR ALGUÉM PRA CASAR!

- VOCÊ NÃO VAI CASAR COM A MINHA IRMÃ!

- SE EU MATAR VOCÊ EU VOU!

Os dois começaram a correr pelo quarto, queria atacá-lo com a espada e foi difícil fazer ele se acalmar. 

Eles ficaram na mansão por mais de uma semana tratando os ferimentos e toda noite quando Nezuko saia da caixa, Zenitsu corria atrás dela, queria conversar, acariciá-la, conhecê-la. Tanjiro tentava impedir e ficavam os três correndo pela casa. Inosuke se distanciava deles, mas teve uma noite que se irritou e golpeou Tanjiro nas costas.

- POR QUE FEZ ISSO?

Inosuke só gritava e começou a correr atrás dele para brigar, os quatro correram a noite toda, Nezuko corria de Zenitsu que corria do Tanjiro que corria de Inosuke.

Quando finalmente estavam curados dos ferimentos, a senhora lhes entregou uma carta que veio direto do quartel general. 

 

“Tanjiro Kamado, Zenitsu Agatsuma e Inosuke Hashibira”

Dirijam-se a norte-nordeste para o Monte Natagumo, há suspeitas de um Oni sequestrando pessoas na montanha.

Membro Kakushi”