Uzui e Tanjiro caíram sem forças enquanto as cabeças rolavam, o corpo decapitado de Gyutaro estava com uma cleaver fincada no peito.
Tanjiro não estava ouvindo nem enxergando nada, sem ar, procurava uma faísca de vida enquanto seu corpo tremia. Junto dos ferimentos, o veneno estava fazendo efeito.
- TANJIRO LEVANTA! - Gritou Uzui, mas ele não escutava.
O Hashira parecia se mover lentamente. - TANJIRO SAI DE PERTO DELE! VOCÊ VAI MORREEEEER!
Aquele kekkijutsu de lâminas de sangue saíram do corpo de Gyutaro e começaram a girar em redemoinho lançando novamente para todos os lados para acertar qualquer pessoa, dessa vez era puro sangue quente, cheirando a carne podre.
Obanai ainda conseguiu segurar o caçador, tentando protegê-lo, mas os três acabaram sendo arremessados para longe e quando finalmente pararam de rolar, Tanjiro estava desacordado e sem vida.
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"Um Oni infeliz, um jovem infeliz, com uma vida infeliz e uma mãe infeliz" - pensava Gyutaro constantemente. Nasceu um Karimise fruto de um abuso que a mãe sofrera, muito pobre, desnutrido e doente era rejeitado na vila e sofria constantemente bullying sendo seu único refúgio manter-se escondido nos becos e esgoto se alimentando de restos e insetos.
Crianças ali eram vistas como fardos e mais despesas, sua própria mãe tentou lhe matar diversas vezes.
Com a promessa de que sairia daquela vida, sua mãe aceitou o relacionamento com um homem "que veio além do mar" - dizia ela. Mas a alegria não durou muito, o Tal homem do mar partiu sem explicação e sua mãe acabou adoecendo e morreu depois que Ume, sua irmã nasceu. De olhos azuis e olhos puxados, uma joia linda diferente de todos.
Embora fosse linda, achava seu nome feio, pois era o nome da doença que matou a mãe, estava sozinho com uma responsabilidade que não era dele. A medida que Ume crescia ficava mais bela e interessou as mulheres da vila para vendê-la ao primeiro samurai que aparecesse Gyutaro se aproveitou disso e usava sua irmã para ganhar comida sempre dizendo que a entregaria para as mulheres.
Para a infelicidade da vila ele era bom de briga e começou a "Trabalhar" como caçador de recompensa para alguns Samurais.
Achava sua sensação de poder a melhor escolha para lidar com aquela vida.
Por uma negociação mal feita e só pensando em ouro e que sairia daquela vida, vendeu uma irmã aos treze anos para um desses Samurais mas arrependido do que fizera prometeu a menina que mataria o homem antes que ele encostasse nela, Ume sempre foi fria e calada. Nunca repudiava o irmão pelas brigas que ele cometia.
Mas naquela noite, o Samurai espancou Ume, por ela ter se defendido dos toques em seu corpo, furando o olho dele. Bateu na menina até seus ossos quebrarem e a ateou fogo ainda viva.
Gyutaro procurou por ela e quando finalmente encontrou, toda sua razão de viver foi embora, mas ela ainda por alguma razão se mexia. Se jogou no corpo da irmã abraçando-a e gritando arrependido pedindo perdão, mas se calou.
Dois cortes pelas costas, o Samurai que matou sua irmã o seguiu a mando de uma Oiran para assim acabar com as perturbações dele pelo distrito.
Gyutaro conseguiu puxar uma das foices que carregava e lançou bem na cabeça da Oiran, o Samurai preparou outro golpe, mas seu outro olho foi perfurado, caindo sem vida segurando a espada.
Decidido a morrer com sua irmã, queria lhe dar os últimos momentos bons de vida, pegou seu corpo totalmente irreconhecível e a carregou lentamente para longe do distrito deixando rastro de sangue.
Estava nevando naquela noite, uma das piores noites, sempre quando nevava eles passavam necessidades, pois ninguém ajudava. Finalmente, depois de perder muito sangue, caiu na neve gelada novamente abraçado ao corpo dela.
- Minha nossa que coisa horrível não é? - Uma voz angelical parou diante de sua cabeça.
Um homem branco, loiro e com vestes vermelhas carregava a Oiran mutilada nos ombros. Era Douma e seus olhos tinham a escrita “Superior Seis”
- Não queria falar… Mas essa menina está morrendo… Ah é, você também. Tive uma ideia, e se eu desse um pouco de sangue para vocês dois? Assim vocês ganham vida novamente… - Abaixou o tronco e sussurrou - Se tornando Onis.
Largou os pedaços da mulher no chão.
- A vida é sagrada demais para deixar ela se esvair, vamos aproveitar enquanto dá. Estendeu os braços e fez um leve arranhão.
Gyutaro não tinha saída, e não se arrependeu de ter escolhido esse destino, guardou em sua alma que não importava quantos vezes renascesse, iria ser um monstro. Mas se arrepende de ter escolhido por ela.
Queria que ela levasse uma vida diferente e vivesse feliz e saudável. Admirava a personalidade da irmã, e pensou que ela morrera por sua causa - “Ataque primeiro antes que te ataquem” - era o que dizia para ela.
Seu corpo estava sumindo junto de sua cabeça que viu a irmã virar pó primeiro. Mesmo sabendo que iria para o inferno, desejou não renascer de novo, mesmo que Deus tenha esse propósito para ele. E que se um dia escolher isso, não trazer sua irmã contigo, queria que ela renascesse em um lugar bom.
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- Olá garoto lobo. - Sorria Shinobu na ponta do pé enquanto tirava do uniforme uma carteira de seringas - Sabia que cheguei no mesmo instante quando salvei seu amigo? - Ajoelhou e bateu o antídoto com os dedos - Você está com os olhos arregalados, perdeu muito sangue não é? Sinto muito. - Injetou em sua veia do pescoço e Inosuke começou a respirar. - Ah… Mas esse corte na barriga é perigoso. Se apressem com ele está bem? - Pediu aos Kakushis - Levem até Tamayo imediatamente!
- Sim Senhora!
- Onde está o Tanjiro? E o que essa menina tá fazendo aqui fora da caixa?
Ela ajudou a enrolar a Nezuko e mais Kakushis apareceram com mais lençóis.
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- Zenitsu! Zenitsu querido, não morra! - Pedia Mitsuri que acabara de chegar colocando a cabeça do caçador em seus joelhos - Fique acordado, está bem? Você vai ficar bem!
Ele fechava os olhos lentamente, sentia uma dor absurda em suas pernas e os cortes das faixas mancharam todo seu corpo. Sonolento, sua última visão e sentido foi ser erguido por um gigante.
- Pobrezinho desse garoto… - rezada Gyomei com ele nos braços - Um bravo guerreiro e tão frágil.
- Senhor Himejima! Ele não morreu! - Reclamou Mitsuri.
- Mas está tão mole coitadinho…
- SENHOR HIMEJIMA!
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Obanai se recuperou, menos o garoto, seu coração não batia então começou a massagem cardíaca.
- Antídoto!
Mira deslizou para os dois tirando do uniforme uma carteira com seringas.
- Senhor Iguro o antídoto não está fazendo efeito. - Disse ela muito nervosa após a aplicação.
- Está sim. Ele que está fraco.
Massageava enquanto Mira lhe passava ar. Ombro, mão, queixo e perna do caçador estavam quebrados, além de cortes das faixas pelo corpo inteiro.
Uma luta por uma vida e uma demora como esperar pelo amanhecer no início da noite. - “Você não pode morrer” - era os pensamentos de Obanai - “Eu prometi a Rengoku, você não pode morrer”.
Um suspiro de alguém que estava acorrentado no fundo do mar se ouviu, ele tossiu levemente e logo seus olhos se fecharam novamente. Mas dessa vez o coração batia.
Aliviado, entregou o trabalho para os Kakushis e Mira que começaram a aprontar as suturas.
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- Entendi… Superior Seis… Infelizmente essa é a classificação mais baixa dos Superiores - Debochava Obanai que sorria por baixo da faixa para Uzui.
Ele estava apoiado nas três esposas, que olhavam para o Hashira furiosas e Kanao já injetava nele o antídoto.
- Mesmo sendo dessa classe, vocês derrotaram… Então, parabéns. Mesmo sendo um Seis…
- Olha, não sei se isso foi um elogio, mas valeu... - Começou Uzui.
- O Senhor demorou muito pra chegar - Disse Makio.
- Só apareceu depois que a luta acabou - Suma apontou o dedo pra ele com raiva, não se importava que era um Hashira.
- Na verdade, eu estava bem ali… - Ele apontou o dedo coberto pelo haori em direção à Nezuko. - Uma mão e um olho… O que planeja fazer agora? - Obanai parecia esperar o Hashira morrer - E quanto tempo esperar até você voltar a trabalhar? Vai precisar de um substituto enquanto se recupera.
- “Esse cara é meio folgado” - Pensava Hinatsuru.
- Alguma sugestão para quem pode te substituir enquanto isso?
- Na verdade eu vou me aposentar.
- Prontinho Senhor Uzui - terminou Kanao. - Desculpe a demora.
Ele assentiu e a caçadora partiu para a irmã.
- Como percebeu, não dá mais pra eu continuar lutando… O Mestre irá entender.
- Não seja ridículo! - Obanai não parecia mais debochar - Muitos querem o lugar que está, mesmo que você esteja nessas condições já é melhor do que nada. Continue lutando até a morte.
- O QUE VOCÊ TÁ FALANDO EM! DEMOROU HORAS PRA CHEGAR E AGORA TA COBRANDO ELE PRA LUTAR ATÉ MORRER? - Gritava Suma.
- Ele perdeu a mão e um olho pro mais fraco dos Onis Superiores… E já quer se aposentar?
- É EXATAMENTE ISSO!
A cobra mostrou as presas para Suma e ela agarrou no marido com medo.
- E nós ainda não colocamos ninguém no lugar que o Rengoku deixou para trás. Olha… - Sorria Uzui - Os jovens estão melhorando sim, acredite. Até mesmo o Tsuguko dele.
- Se ele sobreviver…
- Ele vai. Você sabe que vai...
Uzui se levantou com dificuldade, depois de alguns minutos daquele grande diálogo enquanto o Hashira olhava por todo o arredor, com a ajuda das esposas viu Sanemi saltitando nos entulhos apoiando seus braços entre a espada no ombro.
- Parece que você levou uma surra, amigo! Ainda bem que cheguei a tempo de ver sua cara estragada!
- Não! EXTRAVAGANTE! HAHAHAHA
As risadas pararam com uma frieza vindo das suas costas.
- Você perdeu a mão. - Comentou Muichiro sem tirar os olhos do pulso cortado e assustando suas esposas.
- O QUE É ISSO? ASSOMBRAÇÃO! - Gritou Suma
- Doeu? - Perguntou o Pequeno sem se importar com a mulher.
Uzui deu uma pausa engraçada.
- Nem percebi.
- Que bom. - Muichiro se virou para ir embora.
- O sol já vai nascer… - Olhou ele sentindo a brisa do vento - Onde está Tanjiro?
- Está bem. - Respondeu Mira abrindo passagem para a maca que o carregava.
- Ah... Kamado! Me perdoe… Por não te proteger…
Tanjiro estava irreconhecível, seu corpo inteiro sangrava e a marca na testa havia aumentado de tamanho.
Tomioka foi o último Hashira a chegar e ajudou com os cuidados de Tanjiro, ele o acompanhou até Tamayo em um carro do esquadrão. Seguindo a viagem em silêncio de olho na estrada e a mão no peito do caçador medindo as batidas do seu coração.
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