Aquela coisa bizarra tinha uma aura esmagadora. Bastou a presença dela para deixar todos ali com mal estar. Allen, no entanto, era o pior de todos... O pobre garoto conseguia ver a alma da criatura, algo tão grotesco e perturbador que o fazia querer vomitar.
Por muito pouco ele se manteve firme.
O brilho na mão do Akuma se intensificou, acumulando uma estranha energia. Era o primeiro ataque dela: um feixe de luz roxo. Por pouco essa descarga de energia não acertou o grupo, que conseguiu desviar bem a tempo. Mas só a alta concentração de energia foi o bastante para queimar parte da capa da líder deles. Allen e Tanjirou se jogaram no chão, enquanto Tomoko — se desfazendo da roupa em chamas — e Lenalee puxaram a Finder para uma das paredes.
— D-Droga! — gritou a líder do grupo, materializando a sua Inocência.
Ela mirou e atirou a primeira flecha. A força de recuo era semelhante à de um canhão pirata, ecoando pelos corredores não tão estreitos da caverna. Mas, mesmo com tal força, o Akuma não teve o menor problema em segurar o projétil. Não satisfeito com isso, ele fez questão de quebrar a flecha só para mostrar que podia.
— Sua inocência fraca não é o bastante para me ferir.
— Se esse é o caso, nós só precisamos juntar forças para te parar! — gritou Lenalee, avançando em alta velocidade por conta de suas botas.
No último instante antes do impacto, a garota trocou de postura para acertar um chute certeiro no “estômago” da criatura. No entanto, ela nem mesmo viu como errou. O monstro simplesmente sumiu da sua trajetória e encaixou um soco certeiro na barriga da exorcista. A pobrezinha foi arremessada a alguns metros e só não caiu mais longe porque Tanjirou a segurou.
— Ele é rápido... — murmurou o garoto.
— Obrigada, Tanjirou.
— Não foi nada.
A garota se levantou novamente, limpando a boca. Ao olhar para o lado, ela viu que o Allen também estava preparado para lutar — já com a Clown Crown ativada —, o que a encheu de determinação. “Essa coisa vai cair hoje!” pensava a garota. Não importava que eles nunca tinham lidado com algo tão forte quanto um Level 4, era dever daqueles exorcistas destruí-lo.
— Allen, Lenalee, eu vou dar cobertura para vocês — falou Tomoko. — Tentem se aproximar para atacá-lo.
— Sim! — responderam em harmonia.
Os três — sim, o Tanjirou avançou junto com os exorcistas para tentar ajudar — cercaram o Akuma e o golpearam juntos. Tomoko dava suporte com flechas certeiras enquanto o Allen tentava a todo custo rasgar a criatura. Lenalee não ficava atrás, acertando chutes calculados por todos os lados. Até mesmo o espadachim tentava ajudar, descobrindo, por coincidência, que o metal de sua katana era forte o bastante para aparar os ataques daquele monstro.
Mas, apesar de tudo isso... O Akuma não estava se ferindo... Cada golpe recebido era devolvido nos garotos. Se não fosse pelo suporte de Tanjirou, os exorcistas já teriam perdido a cabeça umas três vezes.
— Vocês, humanos, são engraçados. Vão continuar com essas cócegas até quando?
E então, com o mesmo sorriso sádico no rosto, o Akuma se moveu. Com as mãos, ele parou, ao mesmo tempo, o ataque do Allen e o chute da Lenalee, os jogando de uma vez em cima do pode espadachim. Os três caíram, mas trataram de se levantar assim que tocaram o chão.
— Nós nem mesmo conseguimos feri-lo, o que vamos fazer? — perguntou Lenalee.
— Eu tenho uma ideia — falou o espadachim. — A minha espada já cortou Akumas antes com a respiração do Hi no Kami Kagura. Talvez eu consiga restringir um pouco os movimentos dele, aí vocês atacam.
— Tem certeza, Tanjirou?
— Sim!
— Nós ficaremos preparados, então — falou Allen.
O garoto firmou os pés no chão e respirou fundo...
“Hi no Kami Kagura, Enbu!”
O décimo segundo estilo da dança, um ataque direto na vertical. No momento que a espada acertaria a cabeça do Akuma, ele desviou para o lado. Mas era exatamente isso que o Tanjirou esperava. O garoto virou a espada na mesma hora e desferiu um segundo corte na horizontal que iluminou o ambiente com suas lindas chamas vermelhas. Esse corte, sim, acertou o monstro, mas não foi o bastante para destruí-lo. O golpe abriu uma pequena fresta em seu braço e o arremessou na parede com força.
“Eu sabia, o corpo desse Akuma é mais resistente que qualquer Oni que eu tenha enfrentado.”
— Desgraçado-! — reclamou o Akuma, se regenerando, mas percebendo algo peculiar no garoto... — Ora, ora, o que é essa outra forma de vida que você carrega nas costas?
— Não é da sua conta.
— Não seja mal, eu só estou curioso. E se eu...
Num piscar de olhos, o Akuma sumiu da vista do espadachim, que se surpreendeu. “Onde ele-!” se perguntou o garoto, antes de ser acertado por um soco quase direto no meio das suas costas, despedaçando a caixa que ele levava e lançando Tanjirou na parede. “D-Droga, se meu corpo não tivesse desviado por instinto, esse Akuma teria quebrado a minha coluna...”
— Tanjirou! — gritou Allen, correndo até o garoto e a garotinha que se levantou do meio dos destroços de madeira.
— E-Eu tô bem...
— Ora, ora... Um humano andando por aí com um Oni? Não é todo dia que se vê algo assim, hein.
— Deixa a minha irmã fora disso.
— Não, não posso... O irmão do Mestre adora ter Onis novos em sua coleção, principalmente se forem poderosos. Então me diz, a sua irmã é poderosa?
— Isso não é da sua conta! — gritou o espadachim partindo para outro ataque.
Visto de longe, ele parecia estar se deixando levar pelas emoções. Que observação errônea essa... O garoto tinha plena ciência do que fazia e respirou fundo mais uma vez.
“Hi no Kami Kagura, Enbu!”
Dessa vez, mesmo que possuindo o mesmo nome, era o primeiro estilo. Estilo esse que Tanjirou usou contra o Rui na montanha. O fogo carmesim envolveu a sua espada enquanto ele verdadeiramente dançava pelo chão e paredes da caverna, conseguindo manter o Akuma preso no meio de todos os seus ataques sem uma resposta.
A criatura então de moveu, pronta para acertar uma esfera de pura energia no garoto, mas ele foi mais rápido e mudou seus movimentos.
“Heki-ra no Tem!”
Tanjirou pulou, usando a parede como impulso, e desferiu um corte na vertical completo. Infelizmente, o Akuma desviou com um passo para o lado. Mas, assim que pôs os pés no chão, o garoto mudou novamente a forma.
“Retsujitsu Kokyu!”
Sua espada cortou o ar duas vezes, conseguindo abrir feridas maiores que da última vez no monstro. “O Aren disse que somente armas feitas com Inocência podem destruir Akumas, mas parece que a respiração do Hi no Kami Kagura consegue pelo menos ferí-los... Mas... Por que dessa vez as técnicas pareciam tão flúidas?”
— Você... É um humano chato — falou o Akuma, concentrando uma grande quantidade de energia em suas mão. Ele se preparou e deu o primeiro soco no Tanjirou que, mesmo defendendo o golpe com sua espada, foi arremessado há alguns metros de distância, caindo mais longe de onde a própria Nezuko e o Allen estavam.
Infelizmente, não parou por aí... A energia não parava de se acumular, fazendo uma grande esfera de energia. O garoto nem teve tempo de reagir antes que o monstro a atirasse nele.
Com medo que fosse ser pego no ataque, o espadachim fechou seus olhos e esperou o impacto... Esse que não veio, não diretamente nele. Allen, para proteger o seu amigo, se pôs na frente da bola de energia e, com dificuldade, estaca conseguindo segurá-la com sua garra e seu manto. Tanjirou levantou com o pouco de forças que havia recuperado e pulou para ajudar o seu amigo.
— Tanjirou?!
— Segura firme...!
— Certo!
— AaaaAAAAHHHHH!!!!! — gritaram os dois como prova de todo o seu esforço, desviando a esfera para o teto. Sem forças, ambos foram jogados ainda mais longe com o impacto que a explosão causou.
E, por incrível que pareça, foi isso que os salvou... Se os dois continuassem ali, seriam pegos pelo desmoronamento que bloqueou a passagem. Por sorte, os dois garotos foram salvos... Mas, infelizmente, agora estavam separados do resto do grupo.
— Não! Droga, droga, droga! — gritavam os dois, se levantando e já sentindo os machucados.
A determinação estava exposta em seus rostos, eles queriam passar por aquelas rochas e salvar seus amigos. Mesmo machucados, os dois continuaram tentando abrir uma espécie de caminho. Porém, nem o próprio Allen, com sua garra e a Clown Crown, conseguia retirar as pedras...
— Não! Lenalee, Lenalee! — se esgoelava o exorcista, preocupado.
— Allen, nós estamos bem! — gritou Lenalee. — Corram, se demorarem demais aqui o sol vai nascer e eles vão matar o General Cross e o Hashira!
— Não, eu não vou abandonar vocês! Eu não posso fazer isso!
— Allen, nós-ARGH! — Os garotos não podiam ver, mas Lenalee desviou por pouco de um ataque certeiro da criatura. — N-Nós não temos tempo, então se apressem!
— Mas-
Antes que ele pudesse responder, Tanjirou colocou a mão em seu ombro. Mesmo que relutante, o garoto já tinha conseguido aceitar o que Lenalee estava falando. Eles não queriam, de forma alguma, abandonar seus amigos... Mas seus coração sabia que era necessário fazê-lo.
— Lenalee — falou Tanjirou antes de se virar e continuar o seu caminho com Allen —, como a minha irmã está?
— Ela...?
— Lenalee? O que foi?
— Ela... Está acordada... Mas o corpo dela parece ter crescido!
“Entendo...” pensou Tanjirou. “Mesmo que não seja contra um Oni, a Nezuko sabe que aqueles ao seu redor estão em perigo. Droga...!” Seus olhos marejaram e os dentes se forçaram. O garoto queria chorar, mas não era hora para isso. Ainda não.
— Nezuko! O seu irmão vai voltar para te buscar, eu prometo!
E então, limpando os olhos úmidos, ele e Allen seguiram caminho. Só a determinação dos dois em querer acabar com isso de uma vez por todas já era o bastante para destruir mesmo o mais forte dos inimigos que se prostrasse diante deles.
No próximo capítulo: Avante, Nezuko!
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