1. Spirit Fanfics >
  2. Dépendance >
  3. Inocência

História Dépendance - Inocência


Escrita por: KarenAC

Notas do Autor


Como prometido, capítulo novo da semana! ;)

Capítulo 25 - Inocência


 

A origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós próprios e que desejamos impor aos outros.

Anaïs Nin

 

Plagg estava sentado à frente de uma escrivaninha de madeira puída, juntando borrachas, lápis e réguas em uma torre improvável à sua frente para aplacar o tédio. Ele havia assumido os negócios da Miraculous há menos de três meses, após muito insistir para o pai que seria uma melhor escolha para administrar os negócios da família do que seu irmão mais velho, mas estava começando a achar que estava enganado. Nenhum cliente aparecera desde que seu pai se aposentara e se mudara para a Austrália, deixando o garoto de 21 anos em posse da empresa de segurança.

Plagg pensava que seu pai ficaria decepcionado ao pensar que após tantos anos de funcionamento da Miraculous, seria logo ele quem faria o negócio ruir. Já começava a ouvir o discurso vindo da boca do pai.

 

O que mais eu podia esperar da ovelha negra da família?

Você podia ser mais como o seu irmão mais velho.

Quando vai dar um jeito na sua vida?

 

Três batidas tímidas soaram na porta e Plagg ergueu-se da cadeira de súbito, sentindo o coração pular no peito. Seria aquele o primeiro cliente em meses? Ele ajeitou a gola da camisa branca que ficava embaixo do colete social e passou a mão nas calças pretas, tirando possíveis sujeiras que fossem manchar a imagem da Miraculous.

Plagg adorava roupas de couro, piercings e tudo relacionado à moda punk, mas seu pai exigira que ele mantivesse a imagem social de seriedade da Miraculous, e por aquele motivo Plagg havia mudado completamente seu jeito de ser e de se vestir.

"Olhe para o seu irmão." seu pai dissera "As pessoas encontram seriedade quando olham para o Wayzz, encontram maturidade. O que vão pensar quando olharem pra você?"

Então no dia posterior ao discurso ácido Plagg arrancara todos os seus anéis, brincos e a personalidade que não agradava seu pai para se tornar uma cópia do irmão mais velho. Pensando nisso, pigarreou e levou a mão à maçaneta, abrindo a porta e erguendo as sobrancelhas com a visão.

Na soleira da porta uma pequena garota de cabelos lisos cor-de-rosa que chegavam aos ombros segurava um lenço no canto de um dos olhos, tentando conter grandes lágrimas que desciam pelo delicado rosto e molhavam a gola do vestido lilás cheio de babados.

Plagg ficou ali, imóvel, vendo a boneca viva que chorava silenciosamente, sem saber o que fazer. Seria ela uma criança perdida?

"Oi?" Plagg apoiou as mãos nos joelhos e se abaixou na direção da garota, tentando procurar o olhar dela que se fechava atrás do lenço de das lágrimas.

"Oi." ela fungou e abriu os grandes olhos na direção dele, secando o resto das lágrimas que paravam de correr "Aqui é a Miraculous?" ela ergueu a mão com o lenço para o nome em letras cursivas sobre o vidro da porta de madeira, então Plagg percebeu que apesar dos traços delicados, o olhar azul da garota tinha um certo tom de maturidade, um certo ar de experiência "Eu preciso de ajuda."

"C-claro, pode entrar." Plagg gaguejou incerto e abriu a porta rapidamente, indicando a cadeira à frente da mesa onde sentava, esperando que ela entrasse para fechar a porta atrás de si.

Quando ele se sentou, percebeu que a grande torre de objetos de escritório ainda estava empilhada, então corou furiosamente e a desmontou em um movimento rápido, guardando os materiais enquanto via a garota de cabelos cor-de-rosa cobrir a boca para segurar o tímido sorriso.

 

Que bela primeira impressão, Plagg.

Cheia de responsabilidade e maturidade.

Seu pai ficaria orgulhoso.

 

Plagg tossiu sem graça e sentou-se na grande cadeira giratória, puxando um bloco de notas e colocando-o à sua frente, pronto para anotar o que a garota lhe dissesse.

"Como é o seu nome, moça?" ele baixou a cabeça para o bloco, focando na linha em branco que seria preenchida com a escrita mais legível que ele conseguisse desenhar.

"Tikki. T-I-K-K-I." o soletrar trêmulo chegou aos ouvidos de Plagg, que escreveu letra por letra cuidadosamente.

"Meu nome é Plagg, muito prazer, Tikki." ele falou com calma, lembrando do treinamento que lhe ensinara a tranquilizar as vítimas. Estava indo até melhor do que imaginava para sua primeira vez "Quantos anos você tem?"

"Vinte." Tikki murmurou olhando para as mãos sobre o colo que espremiam o úmido lenço bordado.

Plagg ergueu as sobrancelhas em surpresa, mas afundou o rosto no bloco de notas como se estivesse concentrado no que escrevia para não demonstrar sua reação. Ela parecia ter muito menos do que aquilo.

"O que aconteceu?" Plagg continuou e ergueu os olhos para a garota que o fitava intensamente, como se ele fosse algum tipo de herói sem capa.

"Eles entraram na minha casa ontem à noite. Levaram tudo. Tudo." Tikki ergueu a mão com o lenço e enxugou o canto de um dos olhos "Meus pais estão lá. Eu consegui fugir, mas eles-"

"Eles quem?" ele perguntou seriamente, o lápis apoiado no bloco de anotações sobre a mesa.

"Os caras... Os..." ela não conseguiu terminar a frase.

Os ombros de Tikki começaram a sacudir com os soluços em um choro convulsivo, e Plagg ergueu-se rapidamente, dando a volta na mesa e se abaixando ao lado dela para tentar acalmá-la. Ele apoiou uma das mãos no braço dela, acariciando levemente a pele descoberta pela manga curta do vestido. Plagg não conseguia imaginar quem iria querer fazer mal para uma garota tão doce, e a raiva começou a consumi-lo internamente.

"Eu vou pegá-los. Vou salvar seus pais. Eu prometo." a voz dele era firme, mas um sorriso tranquilizador erguia-lhe os lábios suavemente.

"Obrigada, muito obrigada!" os olhos azuis de Tikki abriram-se na direção de Plagg, um sorriso amplo iluminava seu rosto.

Plagg viu o sorriso dela e não pôde evitar que seus próprios lábios se curvassem em alegria. Era muito melhor vê-la daquele jeito. Era quase um milagre que ela pudesse sorrir daquela forma depois de perder tantas coisas importantes. Tikki era uma garota muito forte, e por um segundo ele se perguntou se não havia sido destino ela ter batido na porta da Miraculous e os dois terem se encontrado.

Menos de uma hora depois, Plagg estava ajustando o coldre na volta do peito e carregando balas dentro do terceiro pente de que guardaria no bolso para assegurar que não ficaria sem munição.

"Mas você vai sozinho?" Tikki estava em pé, as sobrancelhas curvadas na direção dele em apreensão.

Ele não precisava ir. O objetivo da Miraculous era reunir agentes e designar-lhes missões, e não ele mesmo colocar a corda no pescoço esperando que alguém a puxasse. Plagg não precisava colocar a própria vida em risco, mas toda vez que olhava para Tikki, algo dentro dele dizia que ele não se perdoaria se mandasse alguém fazer aquele trabalho. Não se perdoaria se alguém falhasse e a fizesse chorar novamente.

"Não precisa se preocupar, eu sou treinado pra isso." Plagg passou a mão nos curtos cabelos negros e andou até a garota vestida de lilás, colocando a mão no ombro dela.

Plagg não mentia. Antes de ser encarregado da Miraculous, seu pai fez com que ele e Wayzz, seu irmão mais velho, passassem por um treinamento digno de academia militar. Pior, o treinamento que receberam transformava os conhecimentos militares em aprendizado de jardim de infância. Ele fora criado para ser o melhor agente da Miraculous, o melhor agente de segurança de Paris, e seu esforço imenso e sua necessidade constante de agradar seu pai assim o recompensaram. Ou quase isso, já que Wayzz era um tanto quanto melhor do que ele, e seu pai não fazia questão de esconder isso.

"Eu preciso que você fique aqui pra que eu sabia que você está em segurança. Esse aqui é meu telefone." Plagg anotou o número no bloco de folhas e tocou a anotação com o dedo indicador "Me ligue se alguém aparecer ou precisar de algo. Estarei de volta em algumas horas. Se eu não voltar, você procura a polícia, tá bem?"

Plagg ajustou o cinto com facas e canivetes sob a camisa e jogou uma jaqueta de couro sobre tudo. Andou então até a porta da Miraculous por onde Tikki entrara, colocando a mão na maçaneta, pronto para sair.

"Plagg!" a voz da garota soou às suas costas e ele se virou com as sobrancelhas erguidas. Era a primeira vez que ouvia seu nome dos lábios dela, e gostou bastante do som, mas gostou mais ainda de ver os olhos cheios de preocupação que miravam em sua direção.

"Eu vou voltar." Plagg sorriu de canto e piscou para Tikki, batendo a porta atrás de si e deixando a garota para trás.

A casa de Tikki não ficava longe dali. Quando ela lhe contara o endereço, Plagg soubera exatamente onde ela morava. A grande mansão na esquina da Champs-Elysées era um casarão por onde ele sempre passava no caminho para a escola, observando a fachada e imaginando quem morava em um lugar tão grande. Era estranho ser assim a forma que ele descobria.

Olhando pelo lado de fora, Plagg não notou nada de diferente. As cortinas estava fechadas por trás dos vidros selados, mas como ele não lembrava de vê-las abertas nunca, nem quando era mais novo, pareceu normal. Sua imaginação juvenil até o fizera cogitar na época se lá não morava uma família de vampiros ou algo do tipo. Deu a volta na quadra e olhou para cima, vendo as bordas proeminentes da sacada que o ajudariam a chegar até um ponto mais alto da mansão de dois andares. Invadir por um ponto inesperado lhe daria o fator surpresa de vantagem.

Plagg apoiou as mãos no gesso em relevo da parede e jogou-se para o alto, escalando até alcançar uma das únicas janelas que estava com a cortina aberta. Cuidadosamente, ele espiou para dentro e viu o cômodo que parecia um pequeno escritório vazio iluminado vagamente pelos raios de sol que entravam pelo vidro.

Ele se colocou de cócoras sobre a sacada cheia de flores e tentou erguer o vidro da janela, que surpreendentemente cedeu na primeira tentativa. Plagg não conseguiu evitar o sorriso de satisfação que lhe atravessou o rosto enquanto seus pés pousavam em silêncio sobre o tapete do escritório. Olhou em volta buscando sons no ar que pudessem lhe indicar qual caminho devia tomar. Como se em resposta à sua procura, o barulho de algo quebrando veio do andar de baixo.

Plagg tirou a arma do coldre que carregava embaixo da jaqueta de couro, engatilhando devagar enquanto encostava-se na soleira da porta do escritório, espiando com cautela o lado de fora. Um extenso corredor adornado com um corrimão mármore e um tapete cor de vinho estendia-se até chegar a grandes degraus de uma escada. No andar de baixo, conseguiu discernir passos encobertos pelo tecido do carpete.

Chegando no topo da escada, ele começou a descer, passos cuidadosos enquanto os olhos corriam de um ponto a outro da grande sala de entrada em busca de qualquer sinal de movimento. No chão brilhante de lajotas cor de baunilha cacos de um vaso azul e branco jazia, os pedaços espalhados em volta ainda tilintando levemente, como se recém tivesse sido derrubado.

"Eles devem estar por perto." Plagg sussurrou para si mesmo.

Sua cabeça começou a girar em pensamentos. Fora o vaso quebrado, nada parecia fora do lugar. Nada parecia estragado ou desaparecido. Lembrava de Tikki ter dito que haviam roubado tudo, e imaginou que veria pelo menos alguns sinais de destruição ou luta, mas até mesmo onde seus olhos chegavam aos outros cômodos do andar de baixo, tudo parecia perfeitamente normal. Normal até demais. O dedo indicador próximo ao gatilho da arma coçou em antecipação.

Plagg desceu o último degrau e algo atingiu o lado esquerdo da sua cabeça, jogando-o violentamente contra a parede. Por puro reflexo, seus dedos não soltaram o revólver que carregava, e aquilo era algo que ele devia agradecer a seu pai. Depois de mil tombos e encontrões durante o treinamento onde lhe obrigavam a pressionar ainda mais firme na mão o que segurava quando era atingido, aquele agora era um movimento automático.

"Pode ser a diferença entre a vida e a morte. Não solte. Um dia você vai me agradecer."

Era o que o pai do garoto moreno de olhos verdes de apenas doze anos gritava quando enormes sacos de areia sacudiam em sua direção, atingindo-o enquanto uma arma permanecia firme entre os dedos de sua mão direita. Tanto treinamento, tantos anos de dor e esforço, mas nenhum dia sequer o preparara para o que aparecia diante seus olhos. Nenhum dia sequer o preparara para ver uma garota de delicados cabelos cor-de-rosa e vestido lilás segurando uma arma mortal na sua direção.

Enquanto Plagg sacudia a cabeça para focar a visão e limpava o filete de sangue do nariz com a manga da jaqueta de couro, uma longa corda com lâminas na ponta vinha em sua direção. Ele jogou o corpo para o lado, rolando no chão e alcançando o outro lado da sala para se desviar do ataque. Teve plena consciência da arma engatilhada na mão, mas não conseguiria usá-la. Não ali. Não contra Tikki.

"Desista!" Tikki gritou na direção de Plagg, fazendo-o dar um passo para trás como se tivesse sido atingido pelo golpe que conseguira desviar.

"Tikki, o que-" Plagg começou, mas novamente a lâmina voou em sua direção, tão firme quanto um bastão, e mais uma vez ele precisou ser rápido.

"Desiste, Plagg!" a garota gritou de novo, avançando em passos lentos na direção dele como se não tivesse pressa alguma.

"Desistir do quê?" o moreno se ergueu do chão e finalmente juntou coragem para apontar a arma para Tikki, mas suas mãos tremiam incontrolavelmente, e ele sabia que seria incapaz de atirar "Do que você tá falando? O que tá acontecendo?"

"Desiste dessa missão. Sai dessa casa." Tikki não gritava mais, sua voz agora tinha um tom de ordem, de certeza. Um tom de controle, que ela demandava que ele obedecesse sem pestanejar. Um tom que Plagg nunca imaginara que ela poderia proferir.

"Nunca!" Plagg gritou e olhou em volta, procurando uma explicação plausível para a cena que se desenrolava à sua frente "Eles estão fazendo você fazer isso? Onde eles estão?" ele deu dois passos para trás e girou a cabeça para os cantos da casa, assegurando-se de volta e meia retornar o olhar na direção de Tikki para manter-se longe de um novo provável golpe.

"Você é ingênuo, Plagg." Tikki sorriu e enrolou a corda no antebraço, girando o pequeno pedaço remanescente solto sobre a própria cabeça, fazendo as três lâminas da ponta da corda zunirem no ar "Você acredita em tudo. Você se deixa levar pelas aparências. Você não está pronto."

Ele sentia o suor acumular-se em sua testa, as palavras da garota muito mais baixa do que ele juntando-se em seus ouvidos enquanto os passos dela se dirigiam a ele, informações unindo-se rapidamente, frases familiares que ele já ouvira de outros lábios, destacadas pela adrenalina que pulsava em suas veias.

"É tudo uma armação." a voz de Plagg não foi mais do que um sussurro, mas o sorriso que puxou o canto de um dos lábios de Tikki apenas confirmou o que ele temia.

"Desiste, Plagg. Você é uma farsa. Esse não é você. Não é as roupas que você veste, não é a maneira que você se comporta. Você não pode ser mais forte do que eu usando essa máscara, hesitando dessa forma a cada passo que dá. Você não pode me vencer sem me mostrar suas verdadeiras garras."

Então era aquilo mesmo. Plagg olhou Tikki da cabeça aos pés tentando compreender como uma garota daquele tamanho, com um ar tão inocente no rosto e vestida como uma boneca podia parecer – e ser - tão mortal. Então ele sorriu. E riu. E gargalhou. E foi a vez de Tikki dar um passo para trás, temendo o que parecia a loucura de homem tomando forma.

"Foi ele. Foi meu pai." Plagg ria tanto que dobrou o próprio corpo, a arma de fogo sacudindo no meio de seus dedos, engatilhada e pronta "É um teste, não é?"

"Você não é bom o bastante para a Miraculous, Plagg. Deixe o Wayzz fazer o trabalho dele."

"Ah, nem pensar!" Plagg então gritou no meio das gargalhadas e jogou a arma no chão, puxando duas facas que estavam em cada lado do cinturão por baixo do casaco. Era covardia usar uma arma de fogo contra uma garota daquele tamanho, ou pelo menos era o que ele achava.

Tikki pulou mais alto do que ele acreditava que ela seria capaz e os pequenos pés se equilibraram sobre o corrimão atrás dela, pondo-a imóvel sobre o mármore liso, o corpo firme como uma estátua. Sem sair do lugar, com o rápido movimento de uma mão, ela arremessou habilmente as lâminas na direção de Plagg. Ele rolou para o lado, desviando-se, mas ao invés de fugir, ao invés de se distanciar, impulsionou-se para a frente, correndo na direção de Tikki, aproximando-se e cortando o ar com as facas uma em cada mão. O estalido do metal lhe disse que ele havia acertado algo, mas era apenas o mármore do corrimão de onde Tikki já havia saído em um pulo para o alto. E com o golpe, ele cometeu o erro de abrir a defesa.

A garota rodopiou o corpo no ar sobre a cabeça de Plagg, o vestido girando no ar com a leveza do movimento, e antes os pés da boneca viva alcançassem o chão, ela novamente lançou a corda na direção das costas dele. As lâminas passaram próximas à nuca dele, que sentiu a corrente de ar e jogou a cabeça para o lado antes de ser decapitado. Ainda assim, como tudo que vai precisa voltar, ao retornar à mão de Tikki as lâminas acertaram o ombro de Plagg, rasgando o casaco de couro e a carne sob ele.

"Merda." Plagg praguejou e virou-se buscando Tikki que recém havia pousado com os pequenos pés no chão de lajotas.

"Desiste, Plagg!" Tikki gritou novamente, sacudindo a ponta da lâmina no ar para limpar o excesso de sangue de Plagg que respingou sobre as lajotas, voltando a girar a corda sobre a cabeça.

"Ela é rápida, eu não consigo me aproximar, mas..." Plagg falava consigo mesmo, o tom baixo da voz calculando a cena na mente.

"Chega, Plagg!" a garota de cabelos cor-de-rosa gritou quando viu o sangue escorrer do ombro para a mão de Plagg e pingar no chão "Você não pode me acertar. Eu não quero te matar. Desiste!"

"Você pode me matar se quiser." Plagg sorriu, mas Tikki arregalou os olhos com a quantidade de dor que ouviu na voz dele "Aposto que meu pai não se importaria com isso."

Ali, ali estava o momento que ele esperava. Plagg viu Tikki hesitar, voltar a ser a garota inocente que o enganara na Miraculous, então viu a cena dentro da cena. O show dentro do show. Nem tudo ali era mentira. Nem tudo ali era enganação. Embaixo daquela cena armada, das lágrimas que ela lhe apresentara mais cedo, existia um coração que pulsava, alguém que se importava. Ele não estava enganado, e sorriu sozinho com o pensamento.

Plagg sacou a arma e deu dois tiros na corrente do lustre acima da cabeça de Tikki. Quando ela percebeu o que estava prestes a acontecer, que seria esmagada pela luminária gigante de cristal, já era tarde demais. Ela tentou juntar a corda nas mãos e pulou para trás, mas logo Plagg já estava atrás dela, uma das facas firme contra o fino pescoço de pele alva, a outra mão segurando o pulso onde ela juntava as lâminas da corda. O lustre se despedaçou no chão, estourando em vidro e metal, pedaços atirados por todos os lados.

"Larga." Plagg pediu com calma, sacudindo o punho dela, mas viu que Tikki resistia na tentativa de recuperar os movimentos "Larga, eu disse!" ele então gritou, e ela obedeceu, colocando as duas mãos para o alto em rendição enquanto a corda e as lâminas atingiam o chão em um estalido metálico.

"Parece que seu pai está enganado sobre você." Tikki sorriu ainda sentindo a faca de Plagg pressionada contra seu pescoço "Você sabe se virar."

"Ele sempre esteve enganado sobre mim." Plagg sentiu-se levemente tonto, e percebeu que o cheiro de sangue era forte em suas narinas "Sobre tudo. E eu posso provar isso."

"Como?" ela perguntou sem se mover.

"Trabalha comigo, Tikki. Eu posso te provar todos os dias. Posso provar pra ele. Pra todo mundo." Plagg falava seriamente, quase não reconhecendo as palavras que saíam de sua boca "Vou te mostrar quem eu sou de verdade, então você decide se eu sou ou não capaz do que eu faço."

A respiração dos dois era ofegante, o cheiro do sangue de Plagg manchando o vestido lilás de Tikki, unindo-se ao dela que escorria em um filete pelo delicado pescoço, drenado embaixo da afiada lâmina. Um pacto de sangue se formando secretamente.

"Eu vou te ajudar." a frase de Tikki fez com que Plagg diminuísse a pressão no pescoço dela "Vou te ajudar a provar que ele está errado."

 

● ● ● ● ●

 

"Você consegue imaginar como se vai disso pra um relacionamento?" Tikki riu enquanto desligava a boca do fogão embaixo da panela de curry.

"Você ia mesmo matar ele?" Ladybug estava sentada na ponta da cadeira, os dedos afundados no couro cabeludo enquanto apoiava o queixo na palma das mãos.

"Claro que não. Ou sim, acho que nunca saberemos." Tikki riu "Mas se não, não era porque eu não podia." a garota tutti-frutti ergueu uma das sobrancelhas e colocou as mãos na cintura.

"Aquela era sua casa mesmo? E o que aconteceu depois?"

Atrás de si, Ladybug ouviu passos e notou que Plagg e Chat Noir adentravam a cozinha, as narinas de Plagg dilatadas enquanto sentia o delicioso aroma que se espalhava por todo o lugar. Tikki piscou para Ladybug e ela soube que o resto da história teria que ficar para outra hora.

"Já tá pronta a bóia?" Plagg entrou na cozinha e espiou sobre o ombro de Tikki, levando a mão até a tampa da panela para abri-la. Ladybug teve que segurar o riso quando Tikki bateu na mão dele com a colher.

"Não é pra fuxicar aqui! Botem a mesa, vai, vai!" Tikki sacudiu a colher no ar, e Plagg deu dois passos para trás enquanto revirava os olhos.

Ladybug olhou para Chat Noir e percebeu que ele lhe fitava. Quando os olhares azul e verde se encontraram, ambos desviaram o rosto para outros pontos na cozinha. Ela não sabia se aquela estranheza entre os dois algum dia se dissiparia, mas se Tikki havia tentado matar Plagg e os dois acharam um futuro em comum, ela só podia imaginar o que aguardava ela e Chat Noir. O que o destino guardava ela e Adrien. E rezar.


Notas Finais


Votem e comentem se gostaram ^____^


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...