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História Dependence (Em revisão) - Jealous Princess


Escrita por: kaisooisreal

Notas do Autor


Ela veio quente, e hoje eu to fervendooooo~~
não, eu não gosto de funk. Calma.
Mas vocês vão ver que essa frase vai combinar com o cap. (quem quer saber e quem não: eu nunca fiz tanto contato fisico num capitulo antes. Não sei o que me deu)

Bom, cá estou eu, 9 dias depois de postar o anterior. É um recorde. Recorde também é o de numero de palavras, que eu DISSE que ia bater de novo ^~^
Saudades de quando eu postava toda semana sem falta.

Bom, pra não falar muito aqui, vou encerrar com só uma coisa, que eu devia dizer todo santo capitulo, mas sempre esqueço:
GENTE, PASSAMOS DOS 700 FAVS. CÊS SÃO LOCO?? OBRIGADA. MESMO.

Bom, vou deixar vocês lerem. '3'

Capítulo 22 - Jealous Princess


O sorriso de Jin sumiu antes de ele chegar até mim.

E, diferente de antes, ele já não corria em minha direção. Segurou o passo quando estava a mais ou menos cinco metros de mim, me analisando como se analisasse uma cobra que poderia lhe dar o bote.

Se aproximou a passos calmos, parando à minha frente com o semblante confuso e hesitante.

- Você me disse que estaria tudo bem. – Falei, sem lhe dar chances de abrir a boca. Estava sentindo meu corpo começar a borbulhar com uma raiva conhecida. Droga, as últimas semanas haviam passado tão rápido e com tantas coisas. Eu quase me permitira esquecer daquele sentimento horrível.

- Hã? – Ele me olhou confuso.

- Você disse que seu pai não se importaria se você sumisse. – Justifiquei, cerrando os punhos. Mirei o corte em sua boca de forma raivosa.

O garoto pareceu só naquele momento lembrar que estava machucado, porque imediatamente assumiu uma expressão mais acuada, e seu olhar parou de se ligar ao meu.

- Isso... – Começou, com a voz fraca, olhando para as mãos, cujos pulsos estavam levemente roxos. Senti minha raiva arder de novo e mais forte ao ver aquilo. – Não é nada, eu estou bem. – Ele forçou um sorriso, de olhos fechados, como se não pudesse olhar em meus olhos.

- Tá nada. – Cortei, rude, e ele se encolheu. Suspirei, tentando suavizar minha voz. Uma tarefa difícil. Eu queria socar algo até quebrar meus dedos. – Eu já disse, Jin: se não se cuidar, eu mesmo vou fazer isso. – Ele não me olhou ,e eu suspirei sonoramente. – Vem comigo.

Me levantei, deixando minha mochila aonde estava sentado e caminhei em direção ao prédio. Dei alguns passos e me virei, notando que ele não me seguia. Bufei e fui até ele, pegando sua bolsa e a colocando ao lado da minha, logo segurando seu pulso e o puxando, sem violência, apenas para fazê-lo andar.

Andei a passos duros para dentro da construção, com Jin meio tropeçante atrás. Virei uma esquina, e ele gemeu baixinho. Parei imediatamente, me virando para ele, que fazia uma careta de dor, olhando para a minha mão.

Acompanhei seu olhar, e soltei o aperto em seu pulso ao notar que estava apertando seus machucados. Recuei um pouco, logo voltando a me postar à sua frente.

Mirei-o sem expressão, e ele logo levantou a cabeça para me encarar. Recuou um pouco o corpo ao encontrar meu olhar duro, e, antes que pudesse se afastar mais, prendi-o em meus braços.

Afundei meu rosto em seu ombro, sentindo o cheiro doce que suas roupas e cabelo tinham. Ele não retribuiu o abraço, mas tampouco se afastou.

- Desculpa. – Pedi, apertando-o um pouco mais, mas cuidadoso porque não sabia onde mais aquele monstro poderia tê-lo machucado.

Ele ficou em silêncio por um momento, sem se mover. Eu sentia sua respiração em meu pescoço nu, me fazendo arrepiar.

E então, devagar, ele elevou os braços, e pousou as mãos em volta de meu tronco, me abraçando de volta de forma fraca. Soltou uma risadinha sem som, e eu me senti relaxar um pouco. Ainda sentia o ódio arder em meu corpo, mas naquele momento, até aquilo podia esperar. Eu só o queria bem, e não seria dando um ataque que eu conseguiria isso.

- Você se desculpou. – Ele falou, sua voz delatando seu sorriso. Olhei-o confuso, capturando seu olhar, que havia levantado o rosto para me mirar, divertido. – Sempre sou eu que faço isso. Hoje foi você. – Justificou, sorridente, e eu soltei uma risada soprada após um momento de estranhamento.

Minha risada evoluiu, se tornando um pouco mais alta e regular. Sinceramente, aquele garoto realmente existia?

- Ai Jin... – Falei, parando minhas risadas. – Se eu fiz algo errado, óbvio que eu vou pedir desculpas. – Apertei seu corpo, e ele encolheu os ombros, logo ficando com o semblante sério.

- Você não fez nada errado. – Ele falou ,e então abaixou o rosto, pensativo. – Eu devia ter escondido isso. Tae me ensinou mais ou menos a como passar base... – Pensou em voz alta, e eu sobressaltei.

- Ei, ei ,ei. – Chamei, e ele elevou o olhar de novo. – Não tem que esconder, ok? Eu não vou ficar tranqüilo até ter certeza de que ele não vai mais poder fazer isso com você. – Mirei o vazio atrás de mim, apertando meus dedos em volta dele.

Jin pareceu sentir minha tensão, e apertou o abraço, gentilmente. Me permiti voltar ao momento, ele estava ali, tão perto. Podia apenas mantê-lo assim sempre. Não haveriam mais problemas.

Queria que fosse tão fácil.

Olhei para ele com o semblante sério, e ele sorriu, tentando suavizar minha expressão.

- Senti sua falta. – E aquilo foi o bastante para me desarmar completamente. Droga, eu queria tanto ele ali comigo, e agora estava. Eu devia querer algo mais que isso? Se sim, não pude imaginar o quê.

Sorri, e não pensei duas vezes antes de colar nossos lábios. Se eu estava fazendo aquilo com freqüência demais para um cara que tinha medo de abraçá-lo? Sim.

Eu estava ligando para isso? Nem um pouco.

Jin foi quem torceu o pescoço e aprofundou um pouco o contato. Eu estava me acostumando com aquele tipo de atitude por parte dele de vez em quando. Digo, ao menos eu já não me surpreendia tanto. Ele era realmente imprevisível.

Movi minha boca contra a sua, aproveitando a sensação boa que aquela boca me passava. Levei minhas mãos para sua cintura, apertando ali imperativamente. Eu o queria perto, e queria que ele soubesse que não se livraria de mim tão fácil.

Ambos congelamos ao ouvir vozes chegando ao corredor. Jin me olhou, parecendo estar caindo na real naquele momento. Eu não pensei duas vezes, e o puxei para longe dali. Saímos para o pátio correndo de mãos dadas, ignorando a quantidade de alunos que aumentava a cada minuto.

Jin acompanhava meu ritmo de forma ofegante, segurando minha mão como se sua vida dependesse disso.

Conduzi-o até o outro lado do pátio, fazendo o caminho que já conhecia melhor que o até minha sala (opa) e levando Jin até o pequeno espaço entre paredes externas esquecidas que servia de refúgio para todos os que quisessem. Jin diminuiu um pouco o passo ao ver os caixotes arrumados em forma de mesas e bancos. Alguém havia esquecido um baralho ali, e algumas garrafas de bebida jaziam meio consumidas ali em cima.

Puxei-o, tirando-o de sua observação e o levando até o fundo do lugar, afastando a placa de metal que escondia minha “escada” secreta.

Foi meio difícil fazê-lo subir, visto que ele não sabia nem onde estávamos indo e não parecia muito afim de escalar aquele estreito de paredes àquela hora da manhã.

Depois de muitos “confia em mim” e ajudinhas aqui e ali, consegui fazer com que ele terminasse aquele trajeto sem maiores problemas, e sorri ao ouvi-lo suspirar quando chegamos ao nosso destino.

Ele correu devagar os cinco passos que podia dar até a borda do telhado, olhando para a paisagem à frente sem nada dizer.

Subi o restante que precisava subir e fui até o lugar em que sempre sentava, na outra beirada do telhado, o sorriso fraco tatuado em minha cara.

- Esse é o seu esconderijo aqui na escola? – Perguntou, se virando para mim com os olhos meio brilhantes. Àquela hora da manhã, o sol iluminava o rio e as árvores de forma que tudo parecia encoberto por uma névoa brilhante. Deixava a visão meio difícil de se olhar, mas era muito bonito.

Acenei com a cabeça para sua pergunta. O sol estava atrás dele, fazendo com que eu visse poucos detalhes de si. Sua silhueta, com o sol tentando escapar de sua barreira, provavelmente era uma das coisas mais bonitas que eu me lembrava de ter visto.

Ele sorriu pequeno, e se afastou da beirada do telhado de concreto, andando até mim e ficando à minha frente.

- Definitivamente um caso sério de TOC. – Falou, brincalhão, e eu sorri.

- Minha mãe vai discordar. – Estendi minhas mãos para ele, que as segurou. Puxei-o para se abaixar, e ele sentou ao meu lado. – E você também, se olhar dentro do meu guarda roupa.

Ele riu de forma gostosa. Ao soltar sua mão, eu tombara a minha esquerda inconscientemente (talvez não tanto) em sua coxa, onde a dele jazia esquecida.

Olhei para ambas as mãos, e subi o olhar para ele. Era certo eu ansiar tanto por um mísero contato daqueles? Por que eu, que nunca gostei de gente muito perto ou de “contato humano”, estava querendo segurar aquela mão e não soltar nunca mais? Por que, quando eu tentava pensar em coisas mais bonitas que o sorriso de SeokJin, nada me vinha à mente? Por que aquele garoto me fazia sentir tão ansioso, nervoso, feliz e confuso, tudo ao mesmo tempo e em proporções tão drásticas?

E, principalmente: por que eu sentia que queria sentir aquilo para sempre?

Jin não havia notado meu olhar sobre si, e, se sim, apenas ignorara. Seus olhos estavam vagos, sem um ponto fixo, olhando de forma sonhadora para a cena à nossa frente. Seus lábios se curvaram num sorriso minúsculo, e eu estremeci ao ver o corte em seu inferior mover-se também.

Por um momento eu havia conseguido esquecer aquilo, mas não seria tão fácil. Jin tinha marcas de sobra para que aquilo ficasse rondando minha cabeça a todo momento.

Levei minha mão direita ao machucado, roçando a ponta de meus dedos de forma leve ali. Jin piscou ao sentir meu toque, e virou os olhos para mim, seu olhar se focando aos poucos.

Ele me encarou meio confuso por um momento, e eu apenas olhei para a marca ao lado de seu olho. Mais um centímetro, e ele poderia ter perdido o olho. Senti meu corpo ficar tenso.

Corri os dedos até seu queixo, levantando gentilmente seu rosto e mirando a marca vermelha que jazia ali. Um tapa, talvez?

Jin, parecendo meio alarmado para me acalmar – e parar de olhar seus machucados. Eu enlouqueceria – levou as duas mãos até a minha que sondava seus machucados, e a segurou, baixando-a.

Olhei para seu rosto, que me encarava serenamente, enquanto seus olhos, em contrapartida, se preenchiam de uma espécie de aflição.

Ele sorriu de forma fraca, e eu senti minha boca se torcer, descontente.

- Por que ele te odeia tanto? – Perguntei, minha voz saindo equilibrada com dificuldade pela vontade absurda de gritar.

Jin pareceu, no mínimo, ter sido pego de surpresa com aquela pergunta. Não era bem o que eu queria perguntar, mas dava para o gasto.

Ele suspirou, baixando os ombros e se ajeitando, ficando de frente de novo.

- Ele nunca quis um filho. – Começou, e eu apenas o mirei, esperando que continuasse. – Quando minha mãe engravidou, eles se casaram, mas não era como se eles fossem o casal dos sonhos ou algo assim. – Sorriu sem graça. – Minha mãe trancou a faculdade por minha causa, e ele fez o que pôde com seu secundário incompleto. O conforto dele foi o álcool, e aos poucos, ele parou de freqüentar a casa. Eu não lembro disso, mas minha mãe me contou.

Observá-lo falando sobre aquilo me deu uma sensação estranha. Eu sempre notara a tristeza e os traumas findados em seus olhos, que, não importando o quanto sorrissem, ainda pareciam carregar o peso do mundo nas costas.

- Tiveram uns problemas quando eu nasci. Eu sou prematuro, sabe. – Ele continuou, num só fôlego. – Minha mãe quase morreu quando eu nasci. E até hoje sua saúde é fraca. Ela adoece com facilidade, e às vezes partes de seu corpo param de funcionar sem motivo.

Ele engoliu em seco, e eu movi o dedão contra sua mão, num carinho singelo.

- Meu pai sempre me culpou por isso, e desconta toda a sua frustração em mim, desde que me conheço por gente. – Senti a familiar sensação de raiva subir um pouco por meu corpo, mas me mantive quieto, esperando que ele continuasse. – Eu sempre fiz o possível para que ele não descontasse na minha mãe, então sempre fiz o que pude, desde pequeno. – Seu olhar estava melancólico, e eu senti como se algo estivesse se quebrando dentro de mim.

Uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha, e eu levei a mão até ela, interrompendo seu trajeto até seu queixo e acariciando seu rosto fracamente. Jin sorriu de forma triste.

- Mas à medida que eu cresci, e ele descobriu que eu sou gay, a situação só piorou.

- Você é gay? – Arregalei os olhos. Eu senti como se tivesse jogado um balde de água fria no clima delicado que aquela conversa estava tendo, mas não pude evitar.

Jin me olhou, virando a cabeça preguiçosamente e tombando a cabeça para me mirar. Sua expressão dizia “sério isso?”.

- Não, NamJoon. Você é uma garota, nunca te contaram?

- Nã- eu. Quer dizer... eu não era- Aish. – Me atrapalhei com sua reação irônica ao responder. Aqueles humores inconstantes de Jin realmente me deixavam confuso. Abaixei a cabeça, frustrado, e Jin soltou uma risada alta.

Elevei um pouco o rosto, fazendo careta, que se desfez no exato momento que capturei sua imagem.

Ele ria com os olhos fechados, o rosto virado para o céu. Suas risadas pareciam mais que risadas, e, em suas bochechas, lágrimas escorriam. Era como se ele apenas estivesse deixando sair. Tudo; as frustrações, os medos, os segredos que ele apenas confiara a paredes antes daquilo. Suas lágrimas escorriam liberdade, e suas risadas soavam em um alívio.

Senti um sorriso cheio de leveza preencher minha expressão, e apenas o observei rir aquela risada estranha dele. Pelo menos pra alguma coisa tudo isso vai valer a pena. Eu lembraria daquela expressão em seu rosto pelo resto de minha vida.

Quando a última risada soou e a última lágrima secou, Jin me olhou de novo. Seus olhos estavam brilhantes, apesar de meio vermelhos.

- Obrigado, NamJoon. – Ele falou, sorrindo inocentemente. Aquilo fez meus lábios se esticarem mais um pouco em minha face.

Encolhi os ombros.

- Nah, é minha especialidade acabar com a seriedade das perguntas significativas. – Mostrei a língua, e ele riu baixinho, balançando a cabeça em negativa.

- Já que estamos fazendo perguntas significativas, posso fazer uma? – Perguntou. Olhar o sorriso descontraído em seu rosto e saber que tinha ocasionado aquilo, mesmo que um pouquinho, me fazia sentir uma leveza que eu nunca havia experimentado antes.

- Claro. – E então ele apontou para meus cabelos.

- Por que não ouve o Tae e pinta o cabelo de novo? Está meio feio, você sabe. – Terminou, meio sério, e foi minha vez de rir. Ele abaixou o dedo que apontava e riu baixinho.

- Sabe do que aquele capeta quer que eu pinte meu cabelo? – Perguntei, ainda meio rindo. Jin negou. – De rosa. – Falei, rindo de novo.

- Eu gosto de rosa. – Jin fez um bico, e eu arrumei minha postura, ainda sentindo as risadas tentarem escapar. Não eram risadas altas ou incessantes, eu apenas não conseguia parar.

- Eu sei. – Falei, sorrindo para ele. Quando Tae me sugerira aquela cor, eu nem sonhava que trocaria meia dúzia de palavras com SeokJin, quanto mais que consideraria possível algo antes tão impossível como pintar meu cabelo de rosa, apenas porque ele gostava daquela cor.

Que bicho me picou, sinceramente? O Homem Aranha ganhou super-poderes, eu só ganhei trouxisse tamanho XXBIG com uma dose de bobeira otimista que eu nunca vou entender como funciona.

Nos encaramos com sorrisos marcando nossas faces, que foram se suavizando à medida que nossos olhos se encontravam. Deuses, como ele podia ser tão bonito? Eu tinha quase certeza de que ele não costumava parecer tão bonito.

Tão irrecusável.

Num momento eu estava rindo como um idiota, e no instante seguinte estava analisando os poucos centímetros que ele estava sentado longe. Suas mãos, seu corpo, seu rosto, sua boca. Tudo parecia muito longe.

Voltei a visão para seus olhos, que me miravam com curiosidade confusa, e então, nu segundo, se curvaram num sorriso que, eu poderia estar louco, mas que tinha uma pontada de malicia em meio à diversão estampada ali.

- O que foi? – Perguntei, estranhando. Não sabia ao bem por que, mas aquilo não parecia uma reação costumeira dele.

Ele encolheu os ombros, o sorriso se tornando mais singelo.

- Estou te olhando. – Levantou o olhar para mim de novo. – Não posso?

- Pode. – Falei, desviando o olhar para sua boca, e então de volta para seus olhos. – As perguntas significativas ainda estão valendo? – Ele acenou com a cabeça. – Posso te fazer uma?

Recebi uma afirmação de novo, e me inclinei na direção dele, selando seus lábios com uma lentidão meio apressada, por assim dizer.

Ele arregalou os olhos, e eu sorri contra a sua boca antes de fechar os olhos.

Torci o rosto, abrindo seus lábios com os meus, e senti a familiar sensação deliciosa que sua boca carnuda me passava. Levei minha mão ao seu rosto, aproximando-o e movimentando lentamente minha língua para dentro de sua boca.

Jin levou as mãos para minha nuca, segurando meus cabelos de forma fraca, mas energética. Movi minha boca de novo, e ele me apertou mais contra si.

Como em uma deixa, levei as duas mãos em sua cintura e o puxei para meu colo, me apoiando na pequena mureta de concreto que delimitava o telhado e levantando o rosto para manter o beijo durante todo o tempo. Ele soltou nossas bocas por um pequeno momento, me olhando de cima.

- Isso não foi uma pergunta. – falou, e eu sorri.

- Foi uma pergunta para bons entendedores. – Falei, e ele riu, fechando os olhos e aproximando nossas bocas de novo.

Ele se arrumou em cima de mim, sem demonstrar problemas com a mudança de posições, fincando os joelhos de cada lado de meus quadris e esticando a coluna, abaixando o pescoço e segurando meu rosto com as duas mãos, tombando o rosto para o outro lado e soltando minha boca num estalo, logo voltando a juntá-las.

Jin, que até o momento apenas retribuíra ao beijo timidamente, tomou o controle do ósculo, movendo sua língua contra a minha de forma firme. Eu sentia como se fosse sufocar, mas era tão bom...sentia como se o ar e sua necessidade estivessem a anos luz da importância daquele momento.

Minhas mãos jaziam firmes em seus quadris, puxando-o contra mim. Meu pescoço doía um pouco por estar virado para cima, mas a sensação da boca de Jin na minha era a melhor possível. Não havia nada melhor que aquilo. Nem música boa numa tarde chuvosa ou um bom chocolate se comparavam àquilo.

Soltei sua boca num suspiro, e, com os olhos ainda fechados, trilhei um caminho de beijos por sua bochecha, indo até o pé de sua orelha e plantando um beijo ali. Desci mais, com o nariz raspando de leve em sua pele até seu pescoço.

Ao chegar onde queria, selei a derme de forma calma, sentindo meus lábios se grudarem um pouco na pele antes de soltarem-na de vez. Mirei a tez branca, onde, ao lado de meu selo anterior, havia uma pequena marca roxa. Rosnei baixinho. Não deixaria aquela marca permanecer ali, me lembrando do quanto eu estava prepotente contra o monstro que dividia teto com SeokJin.

Pus minha boca ali, dessa vez sugando sua pele devagarinho.

Sinceramente? Eu já estava meio fora de mim. O calor que subia por meu corpo, os movimentos leves de SeokJin sobre mim e suas pequenas exclamações que não tardariam em se tornar fracos gemidos, tudo, pareciam fatores determinadores para que manter minha total lucidez se fizesse impossível.

Maltratei aquele pedaço de pele religiosamente, os ofegos de Jin como música para meus ouvidos, e me sentia no céu.

Soltei a pele e lambi levemente, não tardando ali, visto que Jin não perdeu tempo antes de me puxar para cima de novo, voltando a encontrar nossas bocas.

Abri a boca para que ele se movimentasse como quisesse, e roçamos nossos dentes. Rimos de bocas quase unidas do pequeno erro, e logo já estávamos nos beijando de novo.

Levei minhas mãos pra o começo de suas coxas, subindo meus dedos até a barra de sua camisa. Arrisquei tocar levemente os dedos em sua pele nua, e, tendo como reação de Jin apenas mais uma aproximação de nossos corpos, continuei passeando minhas mãos pela base de seu tronco.

Era incrível, eu sentia cada centímetro da pele de SeokJin ferver onde eu o tocava, deixando uma trilha ardente por onde passava meus dedos curiosos. Cheguei com as mãos até sua cintura por baixo do uniforme, apertando o desenho leve que ela fazia.

Jin soltou o beijo, fazendo os dois abrirmos os olhos, e abaixou o corpo, com os olhos vidrados nos meus, lambendo os lábios vermelhos e estimulados. Ao estar sentado bem em minhas coxas de novo, levei o rosto para perto de si novamente, tentando capturar seus lábios.

Ele recuou o rosto, com um sorrisinho fino nos lábios, e eu fiz uma careta descontente. Ele riu fraquinho, levando uma das mãos que estavam em minha nuca para minha franja, afastando-a de minha testa levemente suada.

Levou o rosto até meus cabelos e enterrou-o perto de minha orelha direita, suspirando fraquinho ali.

- O sinal tocou. Temos que ir. – Falou, fraquinho, me fazendo estremecer. Ele ergueu o rosto, me olhando de novo, e eu o olhei como se ele tivesse acabado de sair de um disco voador e tivesse seis olhos.

Que porra de sinal? Acho que se passasse uma escola de samba por mim, eu não teria notado.

- Sério isso? – Foi a coisa mais inteligentível que encontrei para falar na referida situação. Eu ainda estava voltando à realidade.

Jin riu, provavelmente da cara que eu estava fazendo, e arrumou meus cabelos de novo, acenando com a cabeça.

- Não vamos matar aula hoje. É o primeiro dia de aula. – Sorriu, como se pedisse desculpas. Não deixei de notar que, diferentemente de sempre, não era como se ele se desculpasse como se tivesse culpa de algo. Apenas o fazia por sentir muito que as coisas funcionassem daquele jeito, mas funcionavam. Ele estava radiante, e eu não me importava com nada além disso.

Mas isso não quer dizer que não vou tentar aproveitar mais um pouco aquela obra de arte humana que estava em meu colo ao invés de ir para a sala de aula fechada e quente ouvir os professores reclamarem sobre como odeiam os alunos, seu trabalho e sua vida.

- Exatamente por isso que podemos ficar aqui. – Retruquei, sem muita energia. Eu queria ficar ali, mas sentia que não venceria aquela discussão. – Qual é, Jin. É o primeiro dia de aula. Não vai ter aula nenhuma. – Apertei sua cintura nua, numa tentativa de mantê-lo ali.

Jin riu pequeno, e balançou a cabeça em negativa, não negando meu ponto, apenas desconsiderando-o.

- Continuamos com isso em outra oportunidade. – Disse, se levantando de meu colo e arrumando a camisa.

Deixei seu corpo delgado ir com pesar, cruzando os braços em seguida, emburrado. Não era como se eu tivesse armado um bico como Tae e bufado como nos desenhos animados, mas qualquer um que me olhasse veria que eu estava contrariado.

Jin, que já havia se virado para descer dali, virou o rosto para mim e riu baixinho, voltando para perto e se agachando ao meu lado. Virei para olhá-lo, fazendo com que selo que seria para a minha bochecha, fosse depositado em meus lábios. Eu o mirei um pouquinho surpreso, e ele encolheu um pouco o pescoço, ruborizando um tantinho.

Vergonha inconstante. É isso o que eu quero dizer com isso.

- Vai mesmo ficar aqui? – Perguntou, e eu não respondi. Ele bufou fraquinho, revirando os olhos, e então se inclinando um pouquinho em minha direção. – Vem comigo. Eu não quero ficar sozinho na sala. – Me olhou com carinha de cachorro caído da mudança, olhar este que eu sustentei por uns poucos segundos antes de bufar, derrotado, baixando a cabeça.

Jin soltou um sorrisinho satisfeito, se levantando e estendendo a mão para mim. Agarrei sua mão e me ergui para cima por um pouquinho de sua ajuda. No exato instante em que fiquei de pé, puxei-o para mim, depositando boa parte de meu peso em si, com a cabeça encaixada em seu ombro.

- NamJoon, faça-me o favor. – Jin segurou meus braços, na intenção de me afastar, sem conseguir êxito. Ignorei sua reclamação e virei o rosto para seu pescoço, correndo o nariz por ali num carinho fraco, e então colando minha boca à pele, não num beijo, apenas num toque singelo, que fez ele se arrepiar. – NamJoon, nós temos mesmo que ir. – Tentou me empurrar de novo, e eu pus mais peso sobre ele, impedindo-o de me afastar.

- Não quero. – Murmurei, com a voz fraca e um pouco rouca.

Jin pareceu pensar por um momento, como se considerasse qual era a forma mais saudável de me levar lá para baixo. Eu quase conseguia ver ele mordendo a própria bochecha enquanto o fazia.

Por fim, ele suspirou, falando de novo.

- Ok. – Me afastou, conseguindo lográ-lo, ao menos um pouco. Me olhou. – Fique aqui então. – Falou, se soltando de mim completamente.

Ele andou calmamente até a descida, começando a fazê-la, sempre sem olhar para mim.

Foi uma questão de segundos, e eu já estava atrás dele, seguindo-o em silêncio. Não sou esperto nisso, mas quase conseguia ver o sorriso satisfeito em seu rosto. Eu não me surpreenderia se ele tivesse feito aquilo de propósito (provavelmente havia feito). SeokJin estava longe de ser idiota.

Quando chegamos ao chão e eu me pus ao seu lado para caminharmos, eu vi seu sorriso fraco, mirando á frente, mesmo enquanto falava comigo.

- Você não ia ficar lá em cima? – Perguntou, sem emoção aparente.

Encolhi os ombros.

- A atração principal foi embora. – Falei, e ele riu fraquinho, como se não estivesse esperando fazê-lo. E, sem mais nada dizer, ele conduziu a mão até a minha, entrelaçando nossos dedos de forma carinhosa.

Olhei para baixo, e então para ele, que sorriu, mesmo sem me olhar. E andamos, lado a lado, com as mãos juntas num aperto que, de fora, pareceria comum, mas que, para nós dois, significava todo um mundo.

Caminhamos pelo pátio deserto com passos um pouco apressados por parte dele, que eram acompanhados por mim sem tanta vontade.

Nossas mochilas não estavam mais onde eu as deixara, mas, diferentemente de Jin, eu não esquentei com isso. O pior que podia ter acontecido seria elas terem sido levadas para os achados e perdidos da secretaria.

Seguimos pelos corredores vazios de qualquer alma viva com as mãos dadas. Eu o sentia meio tenso por isso, o que acabava me deixando nervoso também. Chegamos à nossa sala sem empecilhos, e eu o mirei antes que entrássemos.

- Ainda dá tempo. A aula já começou, podemos voltar para o segundo período. – Falei, e ele revirou os olhos, com um meio sorriso.

- Não seja idiota. – Falou, levando a mão à maçaneta, soltando a minha.

Bufei, olhando para sua mão apoiada no metal.

- Qual aula é agora?

- Como eu vou saber, NamJoon? As aulas começaram hoje. – Me olhou com o cenho meio franzido, como se perguntasse seriamente qual era o meu problema. Sorri com aquela reação, e tombei a cabeça, provocando-o.

- Ué, o bom aluno SeokJinnie não sabe qual é a próxima aula? Huh, estou desapontado. – Jin revirou os olhos de novo, me batendo fraquinho.

- A próxima eu sei qual é. – Falou, sério, e eu o olhei, interrogativo. – É a aula de como se deve respeitar aos hyungs devidamente.

Ri baixinho com sua brincadeira, e me inclinei mais em sua direção.

- Mas eu te respeito, princesa. – Sorri. – Respeito sua bunda também, ela é bem bonita. – Emendei, e ele me olhou, estupefato. Não muito seriamente, se quer saber.

- Continue assim e não vai ver ela nunca mais. – Falou ,e eu ri de novo.

- Impossível. – Tombei minha cabeça em seu ombro de novo. – Você rebola ela para todo lado, hyung.

Jin estremeceu, e eu sorri, satisfeito.

Sabe, desde que me conheço por gente, sei que tenho o trato com o universo de me pagar de trouxa, pelo menos uma vez por dia. Nos últimos tempos, eu meio que tinha esquecido dessa regra, mesmo que ela continuasse funcionando a todo vapor.

Mas, quando a porta se abriu, me fazendo me afastar de Jin no mesmo segundo pelo susto, e a cara sacana de Suga surgiu à nossa frente, eu me senti obrigado a lembrar desse pequeno detalhe da minha vida fodida.

- Ei, vocês podem se pegar aqui dentro, sabe? A professora não veio, tá a maior suruba aqui. – Falou, afastando da porta para mostrar a sala, onde os alunos se sentavam em cima das mesas ou nas janelas, conversando, ouvindo música, escrevendo besteiras no quadro negro ou, realmente, se pegando com alguém no fundo do lugar. Só haviam dois casais, mas estava valendo.

Não respondi meu amigo, e apenas olhei para Jin, pesaroso. A gente podia ter ficado lá em cima.

Ele me olhou como se me pedisse para desistir daquilo, e praticamente me empurrou para dentro da sala.

Algumas pessoas da sala nos viram entrar e acenaram, cumprimentando. Alguns demoraram mais o olhar em SeokJin e seus cabelos, e, pode ter sido paranóia minha, mas tinha certeza de que me olharam maliciosamente antes de desviar o olhar de volta para o que faziam.

- Ô, na moral. Eu não sou burro de carga, tá? – Nem tive tempo de me virar pra YoonGi quando ele empurrou nossas mochilas para meus braços. – Na próxima vez, ou carrega você, ou faz o JiMin ficar com elas, que eu não sou obrigado.

Jin pegou sua mochila comigo e Suga se virou e saltou num impulso de costas para se sentar em cima de uma mesa, pegando um pirulito do pequeno montinho deles que havia na mesa e o abrindo, colocando-o na boca.

Como Suga não era bem do tipo que perguntaria “vocês querem?”, eu apenas me inclinei para a mesa e enchi a mão de pirulitos. YoonGi me olhou como se quisesse me xingar, mas eu apenas o dispensei num aceno e sorri, satisfeito.

- Me devolve os meus pirulitos, seu puto. – Falou, sem tirar o próprio doce da boca, fazendo com que uma de suas bochechas ficasse estranhamente inflada.

- Seus a tua bunda. Você pegou lá de casa que eu sei. – Balancei minha mão cheia, como um troféu, e caminhei mais para o fundo da sala. O fundo onde não tinha gente trocando saliva, devo destacar.

Jin me seguiu sem um pedido mais direto, e sentou de forma um tanto tímida ao lado da cadeira em que eu mais me jogara que qualquer outra coisa.

Olhei para ele, que olhava para a mochila em seu colo distraidamente.

- Jin. – Tentei fazer com que me olhasse, e ele assim o fez, meio perdido. Franzi o cenho numa pergunta silenciosa.

Ele arregalou um pouco os olhos, e então colocou um mão ao lado da boca, como se me contasse um segredo à distância.

- As pessoas estão me olhando. – Falou, fazendo uma carinha que delatava sua preocupação com aquilo. Bem, era verdade que haviam olhado, mas ver sua reação àquilo era engraçado.

- Elas sempre olharam. Só que agora você está notando. Quer um? – Falei, apenas para tranqüilizá-lo um pouco, e lhe ofereci um dos pirulitos. Não era mentira: falassem o que falassem, SeokJin era um garoto bonito, e chamava atenções até notarem que ele não iria falar com você nem se quisesse. Desde que estou na mesma sala que ele (dois ou três anos), o chamam de “voz de vento”, porque, mesmo quando falava para responder às perguntas dos professores, ele o fazia num sopro, que ninguém entendia direito.

Hoje, eu vejo esse apelido com outra visão. Como a voz melodiosa que me acorda todas as manhãs, numa brisa quente e aconchegante.

Jin me olhou pensativo, provavelmente não acreditando em minhas palavras, e logo negando com a cabeça.

- Acho que não. Você que chama muita atenção, e como eu estou com você... – Sua frase morreu quando eu sorri pelo duplo sentido daquilo, e ele torceu o nariz, envergonhado. – Eu estou falando sério, NamJoon! – Tentou bater em meu braço, e eu desviei.

- Eu também. – Falei, rindo um pouquinho, logo mirando-o de novo. – Deixe que olhem, Jin. Você não tem que se importar com os outros, ok? Apenas receba os olhares de cabeça erguida e continue andando.

Ele me olhou meio sem reação, e eu soltei um riso em meio a um “o quê?” sem jeito.

- É normal as pessoas que fazem música ficarem falando poesia enquanto conversam no dia a dia? – Perguntou, intrigado. Eu, ao processar suas palavras, ri um pouco mais alto, e ele olhou ao redor para ver se não estavam nos olhando.

- Relaxa, Jin. – Falei, ainda sorridente. – Esses caras não estão nem aí pra a gente. Mas você devia aceitar o pirulito, está ótimo. – Ele negou com a cabeça, e eu dei de ombros, abrindo um para mim e colocando-o na boca.

Ele fez um beicinho, mas se sentou de frente para mim, parecendo um pouco menos tenso, e um pouco menos...enrolado como um caracol.

Eu ia abrir a boca para falar algo mais quando todo o falatório da sala parou, e todos olharam para a porta, recém aberta, onde a diretora Choi olhava para a sala com um sorriso sacana, como se dissesse “não se façam de anjos, eu sei que não são”.

- Bom dia, classe. Felizes de voltar para a escola? – Perguntou, ainda com o mesmo sorriso, amigável. Ao receber um pequeno coro de “não”, ela sorriu de novo, e continuou. – Bom, a professora Jung não vai poder dar aulas por um tempo, e por hora não temos um substituto, então vocês vão ter que me prometer que vão se comportar, para que eu não tenha que ir aqui fiscalizar vocês, ok?

Algumas pessoas responderam “sim”, outras apenas acenaram com a cabeça. A diretora sorriu de novo.

- E agora, eu vou lhes apresentar sua nova colega. – Isso despertou o interesse de alguns, que agora olhavam para a porta como se esperassem que a garota nova se materializasse ali. – Ela não mora na Coréia faz um tempo e não está acostumada com as coisas aqui, então sejam legais com ela, ok? – Novamente, recebeu respostas afirmativas de alguns, e nenhuma de outros. Eu e SeokJin pertencíamos ao segundo grupo.

A senhora Choi se virou para a porta e chamou a tal garota, que entrou na sala alguns segundos depois. Enquanto os garotos exclamavam e as garotas cochichavam entre si, eu me mantive estático. Só caí na real ao ouvir uma reclamação de Jin.

- O que...? – Ele disse. Olhei para ele, e logo para a figura alta e bonita que se mantinha na frente da classe.

- Muito prazer, eu sou Bae Suzy. – Disse, se curvando minimamente, sorrindo ao levantar o rosto, balançando um pouco os cabelos compridos. Passou os olhos delineados pela classe, e os pousou em mim. Seu sorriso se alargou, e eu estremeci. – NamJoon oppa!

Oppa? Desde quando?


 


 


 

- Hyung, você definitivamente sempre consegue as melhores histórias. – JiMin disse, rindo, enquanto sugava seu suco diet pelo canudinho. Aparentemente, a dieta voltara junto com as aulas.

- Não são histórias, JiMin. É a minha vida. – Resmunguei, fazendo JiMin e JungKook rirem baixinho. Por que, sempre que as coisas estão indo bem, o universo vem e fode com tudo?

Soltei o ar dos pulmões, cansado, e deitei a cabeça na mesa, olhando para meu lado direito.

- Ei, Jin. – Chamei, e o garoto respondeu num curto “hm?”, sem dedicar muita atenção para mim enquanto comia o pequeno pudim que estavam dando de sobremesa na cantina naquele dia. – Por que está zangado? – Perguntei, com a voz arrastada, tentando fazê-lo me olhar.

Ele desviou o olhar de seu doce por um momento, e me olhou com a expressão aparentemente vazia, mas com uma pontada de ironia nos olhos.

- Não estou zangado. – Falou, voltando a prestar atenção em seu pudim.

- Então por que está me tratando assim? – Perguntei, molenga, com os braços ao redor da cabeça, na mesa.

- Tratando como? – Perguntou, sem me olhar, batendo a colher no pudim, que se moveu gelatinoso em resposta.

- Assim. – Apontei parcialmente com o dedo para ele, que tombou a cabeça para me olhar de novo com uma expressão meio impaciente.

- Estou te tratando como sempre te tratei. Agora, me deixa comer. – Falou, pegando uma colherada do pudim e colocando-a na boca.

Bufei, escondendo a cabeça entre os braços. Não, ele não estava normal, e eu não estava entendendo por quê.

Eu tinha noção de que o casal à nossa frente estava nos observando com um interesse divertido, mas não estava com humor para me preocupar com aquilo no momento.

- E aí, cambada? – Levantei apenas um olho para olhar Suga, que chegava com os braços cheios de latinhas de refrigerante e os depositava na mesa. – Oi oppa. – Se virou para mim, sorrindo com falsa angelicalidade.

Murmurei um xigamento para ele, afundando o rosto em meus braços de novo. JiMin riu da brincadeirinha de YoonGi, e perguntou:

- Hyung, o que é tudo isso? – Demorei um pouco para notar que era das milhões de latinhas que ele falava, mas não tive vontade suficiente de levantar o rosto.

- Meus admiradores secretos viram meu tweet falando que estava tão quente que eu poderia tomar dez litros de refrigerante gelado. Quando abri minha mochila tava cheio disso aqui. – Falou, com a voz desinteressada de sempre. – Eu não agüento esse monte de refri, podem pegar.

- Hm... você é verdadeiramente uma celebridade. – Falei, com um escárnio frio, sem me interessar nem um pouquinho com nada além de que SeokJin estava me ignorando.

- Você também, sabia? – Suga disse, com um tom malicioso, provavelmente lembrando da cena de mais cedo, quando aquela coisa grudenta que parece gente começou a me encher o saco porque a diretora disse algo como “ótimo, já se conhecem. NamJoon, vou deixar ela sob sua responsabilidade”.

- É verdade. – JiMin disse, mastigando o sanduíche de JungKook. – Duas garotas vieram me pedir seu número hoje cedo.

- E você deu?! - JungKook perguntou, estupefato.

- Dei ué. – JiMin deu de ombros, sorrindo, mas parando ao ver a expressão descrente do namorado. – Não podia...? Eu sempre dei o telefone deles pra quem me pedia, é normal.

- Era normal antes..! – JungKook olhou para Jin de soslaio, notando que ele não prestava a menor atenção à conversa. Ou ao menos fingia que não. – Aish, esqueça. – O mais novo bufou, voltando a prestar atenção em sua comida.

Ignorei a reclamação de JiMin sobre como JungKook era incompreensível e virei o olhar para o outro lado, onde estava Jin, com o pudim terminado esquecido, e o olhar fixo no outro lado da cantina, sem foco aparente, com uma sombra de sorriso sarcástico no seu rosto.

Suspirei baixinho. Não era como se eu não tivesse a menor noção do que estava acontecendo, mas a ideia de que ele estava assim por ciúmes...me parecia meio surreal. Ele sempre pareceu muito de boas com tudo, então nunca me passou pela cabeça que talvez não fosse só eu que sofresse com aqueles sintomas estranhos de vez em quando.

Levei meus dedos para seu braço de forma discreta, passando os dígitos pela pele ali, num carinho para chamar sua atenção. Ele virou o olhar para mim com certa surpresa, como se não esperasse ter sua atenção chamada tão cedo.

Me mirou de forma aérea, eu sorri fracamente antes que ele tivesse chances de armar a carranca de novo. Ele piscou, ainda sem expressão, e então armou um pequeno bico, me mirando. Parecia querer falar algo, mas algo chamou sua atenção atrás de mim, e sua expressão cínica se armou de novo.

Franzi o cenho, levantando a cabeça e olhando para onde a atenção de Jin pousara.

Todo aquele trampo para conseguir fugir dela e você vai pro meio da cantina. Muito inteligente, Rap Monster.

Passando pela garota na velocidade da luz, a figura loira de TaeHyung surgiu muito mais rapidamente do que eu poderia processar à frente de nossa mesa.

- Tae! – JungKook cumprimentou. – Onde você estava?

- Cheguei agora. – Ele abriu seu sorriso retangular. Franzi o cenho, só eu havia notado seus olhos meio inchados? E quem vai à escola no intervalo do almoço? Não é melhor ficar em casa de uma vez? – O que tá rolando? – Perguntou, começando a se mover para pegar uma das latinhas de Suga na mesa, e se sentar, mas eu segurei sua cintura e a coloquei onde estava antes, na minha frente para a visão da peste que vinha em nossa direção. – O que foi, hyung? – Franziu o cenho.

- Shiu. Finge que eu não to aqui. – Falei, me encolhendo mais atrás dele.

- Então por que tenho que ficar na sua frente? – Perguntou, fazendo uma cara confusa.

- Cala a boca e fica quietinho aí. – Falei, mal humorado.

Tae deu de ombros, abrindo a latinha que pegara e bebendo um gole.

- Alguém pode me dizer o que está acontecendo? – Perguntou, sem mantendo de pé onde eu o colocara, relaxadamente.

- Os encantos do Mon capturaram mais uma pobre alma inocente. – Suga disse, risonho, apontando com o queixo para atrás de Tae, onde Suzy quase chegava à mesa.

- Inocente? Eu não fiz nada e essa coisa fica me perseguindo! – Reclamei, me encolhendo quando a figura bonita de Suzy chegou à mesa.

- Olá garotos. – Cumprimentou, sorridente.

JiMin e Suga cumprimentaram com acenos de cabeça, parecendo achar muita graça naquilo tudo. JungKook a olhou de forma vazia, e Jin, pegando uma latinha em cima da mesa, virou o rosto para o outro lado, ignorando a garota com sucesso. Tae apenas mirou-a como se ela tivesse um chifre no meio da testa.

Suzy tombou a cabeça curiosamente para me olhar, que estava encolhido atrás de Tae, e puxei-o um pouco mais para perto, me escondendo. Ela franziu o cenho.

- O NamJoon oppa está bem? – Perguntou, fazendo um biquinho pensativo com os lábios finos.

Tae, parecendo pegar todo o drama num segundo, apenas sorriu simpático (eu podia ver a falsidade em seu sorriso, mas ele sabia fingir muito bem), me cobrindo um pouco mais.

- Oi, tudo bem? – Perguntou. – Você é Bae Suzy, não? – Perguntou, e ela acenou com a cabeça, hesitante em manter a atenção nele ou em mim. – Eu sou Kim TaeHyung. Adoro seu trabalho. Não sabia que estava na Coréia, faz quanto tempo?

Tenho certeza de que todos os outros na mesa ficaram tão confusos quanto eu, mas a garota pareceu entender, e arregalou os olhos, subitamente mais cortês.

- Oh, você sabe quem eu sou?

- Claro. – Tae sorriu de novo. Agora eu estava me questionando se era falso ou não. – Você é aquela modelo da Rose France, não é? – Eu não fazia idéia de sobre o que Tae estava falando, mas ele estava conseguindo prender a atenção dela, e isso bastava para mim.

- Sou! – Ela sorriu. – Eu não sabia que alguém aqui na Coréia me conhecia. – Ela parecia sinceramente feliz.

- Ah, vários conhecem. Você é incrível no que faz. – O loiro mantinha o sorriso no rosto. – Quer que eu te apresente? Aposto que todas vão adorar conversar com você. – Colocou a mão perto das costas da garota, conduzindo-a para longe da mesa.

- Não, eu... – Ela me mirou por um momento, mas Tae a interrompeu, insistindo.

- Ah, vamos lá. Não tem nada pra você aqui. – Ele reforçou um pouco o fim da frase, mas ela não pareceu perceber.

Eu arrumei um pouco minha postura, observando os dois se afastarem. Tae olhou para trás, ainda conduzindo a garota, e eu agradeci silenciosamente. Ele sorriu, ladino, e piscou para mim, antes de voltar a falar com Suzy.

Ficamos observando eles se afastarem em silêncio, e então Suga falou, olhando para mim.

- Uou, quer dizer que uma modelo internacional caiu na sua? Como você fez isso? – Ele perguntou, ainda parecendo achar tudo muito cômico. Para mim, aquilo era, muito antes de engraçado, irritante.

- Eu não fiz nada. E eu não quero ela na minha, obrigado. – Resmunguei, virando para Jin, que aparentemente havia esquecido que ia ignorar tudo e todos e olhava para a saída da cantina de forma pensativa, baixando olhar para mim quando sentiu que eu o encarava.

Os outros na mesa riram, e eu desviei o olhar do garoto para eles.

- Bom, ela não parece afim de sair da sua. – YoonGi estava muito sorridente. Estou dizendo que ele gosta de ver o sofrimento alheio.


 

A fala de YoonGi se provou bastante verdade.

Depois daqueles poucos minutos de paz que Tae me proporcionou, o sinal tocou, nos mandando de volta às nossas salas. E, bom, ali Tae não podia ficar distraindo a praga pra mim.

- Se você tivesse me ouvido e tivéssemos matado, isso não estaria acontecendo. – Cochichei baixinho no ouvido de Jin, que estava sentado ao meu lado com um bico chateado e me tratando seco como fazia desde a primeira aula.

Ele bufou, e me olhou irritado.

- Não podemos ficar matando aula porque sim, NamJoon. – Ele falou, voltando a prestar atenção no livro que lia.

- Mas é a aula do Hae hyung. – Falei, ainda baixinho, olhando para a mesa do professor na frente da sala, que se encontrava vazia. – E ele saiu faz dez minutos e ainda não voltou. Vamos embora.

- Tem inspetores no corredor, NamJoon. – Jin respondeu, sem se dar o trabalho de me olhar de novo.

- Eles não falam nada, pode confiar. Eu sempre mato aula.

- Ah, que bom que se orgulha disso. – Jin falou, ironicamente. Eu fiz uma careta. Aquele tratamento de sua parte estava me deixando nervoso.

- Jin, qual é... – Falei, tombando a cabeça ao lado de seu braço, cutucando-o para chamar sua atenção. Ele virou a cabeça preguiçosamente para me olhar, parecendo se preparar para me dar uma bronca e deixá-lo em paz, mas a praga que estava ao outro lado de minha mesa se intrometeu.

- Sobre o que vocês estão falando? – Suzy se aproximou amigavelmente, mas eu apenas fiz uma careta. Cada vez que ela fazia aquilo, Jin me tratava pior. Eu estava ficando com vontade de trancar aquela garota no banheiro e nunca mais deixar sair.

- Pronto, agora você tem alguém pra encher as paciências. Conversem aí e me deixa ler. – Jin resmungou, olhando para o objeto de papel em sua mesa de novo. Sua fala foi fria a calculada como uma lâmina, e eu me perguntei o quanto aquilo estava o chateando para se alterar tanto.

Abri a boca para protestar, mas senti Suzy aproximar sua cadeira da minha de modo que elas ficassem coladas.

- Eu quero conversar, NamJoon oppa. – Disse, angelicalmente. – SeokJin ssi não quer conversar agora, certo?

Olhei-a sem interesse. Porra, ela está afim de deixar ele zangado ou o quê?

Desviei o olhar dela, mirando Jin, que fingia ler o livro, mas que tinha aquele ar cínico sobrevoando seu sorriso. Bufei, sabendo que nada do que eu dissesse ou fizesse iria acalmar ele no momento.

Suzy continuou tentando puxar assunto. Eu, de certa forma, agradecia por ela ser meio tímida, pois acabava não se atirando muito, mas bem, era uma timidez não muito coreana, por assim dizer. Na prática, ela acabava agindo como as garotas mais abertas daqui.

Mais alguns minutos se passaram, e Hae hyung voltou para a sala, falando alto, como sempre:

- Ok, seus pirralhos. O terceiro ano aqui do lado está sem professor, porque meus colegas aparentemente não lembraram que acabaram as férias e eles têm que trabalhar, então eu estou monitorando duas salas ao mesmo tempo. – Fez uma careta. – Como eu não vou, nem pagando, ficar dando uma de sapo cururu pulando de uma sala à outra, eu trouxe eles pra cá. – Ouviram-se algumas comemorações, e ele indicou que os alunos esperando ali fora entrassem.

Imediatamente os estudantes intrusos se juntaram aos amigos que tinham ali, e Hae hyung se jogou em sua cadeira, sem nos dar muita bola.

Eu, sinceramente, havia tacado o foda-se para tudo o que me rodeava, mas me permiti fazer uma careta quando vi Jia entrar, sorridente ao lado de Fei e se dirigir até onde eu estava, sempre com aquela energia que eu não sabia de onde ela tirava.

- E aí, Monstrão? – Minha amiga rosada se sentou em minha mesa, me olhando travessamente. – Oi Seok! Tudo bem? – Cumprimentou, animada, ao garoto que a olhou sem nem um décimo dessa animação.

- Oi. – Disse. Ele não foi mal educado, ao menos, mas qualquer um veria que estava de mau humor. Curvou a cabeça num cumprimento a Fei, que o correspondeu.

- Nossa. – Jia arregalou um pouco os olhos, e então se aproximou um pouco de mim, sussurrando. – O que ele tem?

- Sei lá. – Dei de ombros. – O bicho do mau humor picou e não passou ainda. – Falei, sem olhar para Jin, que eu apostaria estar me olhando repreensor no momento.

Ela me olhou fazendo um bico meio confuso, e cochichou de novo.

- Ué. Mas o q-

- Será que dá pra você descer da minha mesa? – Suzy interrompeu. Ela parecia um pouco chateada.

Jia olhou-a parcialmente com expressão de tédio, e arrastou a bunda para que ficasse apenas em cima da minha mesa, ignorando Suzy, que manteve a cara incomodada. Ela aparentemente não estava incomodada com a sua mesa, mas sim que Jia estivesse ali, conosco.

Jia se inclinou de novo para falar baixinho comigo.

- Tá, mas eu vim tratar de negócios. – Sorriu travessa. – Lembra do nosso trato?

Olhei-a sem entender por um momento, e então lembrei.

- Ah, me dá um tempo.

- Nãnãnã. – Chegou mais perto de meu ouvido. – Você disse “quando voltarem as aulas”. As aulas voltaram, garotão.

- É um jeito de dizer, Jia! – Reclamei. – Não tem como eu achar sua princesa perfeita da noite pro dia assim!

- Tô nem aí. – Deu de ombros. – Se arranja. Eu vou cobrar juros se continuar me enrolando. – Saltou da minha mesa, e se inclinou para falar, apenas para mim de novo, e me deu um beijo na bochecha, que eu só entendi a utilidade depois. – Ah, seus dois pretendentes estão te olhando como se fossem arrancar seu couro. Boa sorte, Don Ruan.

E se foi, num floreio, puxando Fei para a frente da sala, e sentando ao lado de YoonGi e algumas outras pessoas.

Arregalei um pouco os olhos, olhando cuidadosamente para Jin, que me olhava, realmente, meio assassino. Franzi o cenho, e ouvi a voz de Suzy.

- Quem era aquela? – Perguntou, olhando para Jia de forma estranha. Ela achava o quê? Que a gente se pegava?...

Ah.

Olhei para Jin de novo, que adotara novamente a expressão irônica.

Abri a boca para falar, mas, pensando melhor, me levantei e o puxei, levantando-o da cadeira.

Ele ficou meio sem reação, mas eu apenas o puxei. Suzy fez menção de levantar, mas eu a mirei, um pouco duro.

- Pode nos deixar conversar rapidinho? – Perguntei, sem tratá-la mal, mas tampouco sendo gentil. Eu tinha cansado daquilo. Queria resolver aquela merda de uma vez.

A garota se sentou imediatamente, parecendo meio chocada. Não como se condenasse meu comportamento, mas sim questionasse o seu próprio.

Andei com Jin em minha cola até a frente da sala, passando pro Suga, que conversava com Hope e mais alguns amigos não muito próximos. Hope estava ali desde quando? Ele era da sala de Jia, mas eu não o vira no intervalo. Me perguntei se aquilo tinha algo a ver com a aparição estranha de Tae mais cedo.

Não prestei muita atenção àquele pensamento, estava concentrado em outra coisa.

- Onde vai, Mon? – Hae hyung perguntou, e eu o ignorei. Ele apenas deu de ombros, e eu saí da sala puxando Jin.

- NamJoon! O q- – Jin se interrompeu ao perder um pouco o equilíbrio enquanto andávamos, num ritmo apressado. – NamJoon! – Queixou-se, com o cenho franzido enquanto andava rapidamente atrás de mim.

Não o respondi, e andei até chegar ao banheiro, adentrando ali sem pausa e levando Jin até as pias de granito, colocando-o de frente para mim ali e o soltando.

- NamJoon! – Ele reclamou, alto, quando se livrou de mim. – Qual o seu problema?!

- O meu? – Eu não estava gritando como ele, mas não estava exatamente falando baixo. – Você que está estranho desde o começo do dia e pergunta qual o meu problema? – Mirei-o, que desviou o olhar com expressão chateada. – Bom, eu vou falar: meu problema é você. O que eu fiz pra me tratar assim?

Ele mirou o chão por um momento, fazendo um pequeno bico inconsciente nos lábios chateados. Esperei que falasse, e o banheiro se preencheu de um silêncio mortificado.

Por fim, ele estalou a língua, e me olhou, ainda parecendo chateado.

- Você sabe o quê. – Disse, baixinho, em meio ao bico, com a cabeça meio abaixada.

- Não, eu não sei. – Reclamei, com tom maneirado. Eu teria que ser o paciente se ele não o seria. – Por isso estou te perguntando.

Jin elevou um pouco o olhar, me mirando meio desconfiado, como se buscasse sinal de graça em minha expressão ou algo assim. Por fim, torceu o nariz numa careta.

- Ah, vamos NamJoon. Você não pode ser tão lento. – Reclamou, olhando para o lado de novo. Parando pra olhar agora...ele não fica muito fofo assim irritadinho?

Sorri pequeno, desfazendo-o antes que Jin o visse.

- Quando parei para pensar, a única coisa que me apareceu foi ciúmes... – Comecei, atento a cada reação dele. – Mas deve ser outra coisa. Por isso estou perguntando.

Dei de ombros indiferentemente, e segurei outro sorriso ao vê-lo corar enquanto olhava para a parede.

- Woah! Eu acertei então? – Perguntei. Eu não estava exatamente surpreso, mas agora que minhas suspeitas haviam se comprovado, sentia um estranho prazer ao constar que ele estava realmente com ciúmes.

Tombei minha cabeça para olhar seu rosto, e ele desviou o olhar de novo.

Sorri divertido, e ele estalou a língua de novo.

- Ah, pare com isso, seu idiota. – Reclamou, me olhando com as bochechas ianda meio avermelhadas.

Ri baixinho.

- Mas eu não estou fazendo nada.

- Está rindo de mim! – Ele reclamou, olhando para o lado de novo. – Nunca mais olhe na minha cara.

- Ei, Jin! – Chamei, ainda sorridente, chamando sua atenção. – Eu tenho que rir, ok? Não faz sentido ficar com raiva de mim por tudo isso!

Ele me olhou, ainda torcendo o nariz, descontente. Até fazendo careta ele era bonito? Não era possível.

- E eu vou ficar com raiva de quê? Do chão? – Perguntou, se virando para mim diretamente, cruzando os braços.

- Da Jia! Da Suzy. Que tal? – Perguntei, em tom óbvio. Nada sério, porém. Estava achando aquilo bem engraçado. E estava feliz.

Ele me olhou desconfiado, e um tanto cínico.

- Ela não pode ter vindo com essa história de “oppa” do além, NamJoon. Alguma culpa você tem nisso tudo. – Seus braços estavam cruzados duramente em frente ao seu corpo, e o sorriso foi morrendo aos poucos em meu rosto. Jin riu pelo nariz, olhando para o outro lado. – De qualquer forma, eu não sei por que está perdendo tempo comigo. Você tem aquela garota linda te perseguindo por aí. Por que simplesmente não faz o que quer fazer? Não se importe comigo.

Ele não me olhou de novo, e eu me mantive sem falar por um momento, absorvendo suas palavras amargas.

Por fim, com o cenho franzido numa chateação calma que não era exatamente minha, eu o chamei.

- Jin. – Ele hesitou, e então me olhou. – Sinceramente, que tipo de cara você pensa que eu sou? – Minha seriedade súbita pareceu assustá-lo um pouco, fazendo-o aliviar a expressão. – Fazer o que eu quero fazer? É o que eu faço desde que nasci. E isso inclui, com todas as certezas possíveis, ter me envolvido com você.

Ele descruzou os braços, distraído, ouvindo cada palavra com atenção.

- Te ajudar naquele dia; Te levar para minha casa; Te perseguir como um doente depois disso; Te abraçar; Te beijar. – Suavizei um pouco as rugas de meu cenho. – Foram todas coisas que eu quis fazer, e nada mais que isso.

A casual expressão de confusão aérea e singela havia voltado à face de Jin depois de tantas horas, e eu sorri aliviado por isso. Continuei:

- Eu não quis que Suzy ficasse na minha cola, e não faço idéia de o que ela vê em mim. – Fechei os olhos, um pouco cansado. – Mas eu sei que não quero que fiquemos mal por algo assim. – Olhei-o, que tinha uma ponta de arrependimento no olhar. – Aquele eu no telhado hoje de manhã. Aquele sou eu de verdade. Nunca esqueça disso. Não preciso de mais que você. É mais que o bastante.

Acabei me empolgando e soltei muito mais do que pretendia de meus pensamentos internos vergonhosos e estranhamente – já que eu não era desses – clichês. Mas Jin não pareceu notar, e apenas sorriu, travesso.

- Quer dizer que o seu “eu” verdadeiro é um pervertido? – Sorri com a brincadeira. Queria dizer que estava tudo bem.

Sorri, malicioso em brincadeira e pesquei sua cintura com a mão, puxando-o para mim.

- Quem sabe? Talvez você descubra por si mesmo. – Falei, com o rosto a míseros centímetros do seu. Sua respiração quente batia em minha pele com a leveza de uma brisa, e eu sorri internamente feliz por conseguir fazer e falar aquele tipo de coisa sem preocupações como as de antes.

- Não preciso descobrir nada. Você é um livro aberto, Kim NamJoon. – Falou, sorrindo ainda de forma travessa, aproximando mais um pouco nossos rostos, colocando as mãos em meus ombros.

- Tem certeza? – Perguntei, achando graça. – Eu posso ter muitas entrelinhas. – Apertei sua cintura.

-Entrelinha nenhuma vai mudar o fato de que você fica olhando minha bunda por aí, senhor. – Alfinetou, e eu sorri.

- Bom, isso é uma verdade. – Falei, e então sorri de novo. – Mas vem cá, você não acha que estamos muito perto pra não aproveitar um pouco mais? – Jin riu, balançando a cabeça. Seus lábios pareciam mais finos apertados no fino sorriso que estavam.

- Definitivamente um pervertido. – Seus olhos brilharam, divertidos.

- Eu prefiro alguém que sabe aproveitar as boas coisas da vida. – Sorri de lado de novo, e ele balançou a cabeça novamente, sem desviar o olhar de mim.

- Minha bunda é uma delas?

- Você está insistindo nisso da bunda, não? – Perguntei, fingindo surpresa, e ele me bateu, me fazendo rir. – É sim, hyung. – Colei minha testa na sua, com os olhos fechados. Abri-os, e o mirei. – Mas sua boca serve por agora.

Recebi outro tapa, que também foi respondido com uma risada, e ele murmurou:

- Cale a boca, idiota. – Antes de cortar de uma vez a distância entre nossos lábios.

Sorri, movendo um pouco minha mão para segurar melhor seu corpo. Me perguntava se algum dia aquele beijo me parecia menos delicioso. Eu tinha quase certeza de que uma boca não deveria ser tão boa assim, me fazendo ser capaz de abrir mão de tudo, comidas e bebidas e todo o resto, apenas para ter aqueles lábios sempre nos meus.

Ele afastou os lábios um pouco dos meus, apenas o suficiente para me mirar.

- NamJoon, estamos no banheiro. Da escola.

- E quem se importa? – Falei, meio chateado por ter que soltar aquela boca tão cedo. – Não vai vir ninguém, confia em mim. – Falei, sem pensar, e voltei a juntar nossos lábios.

Jin levou uma das mãos aos meus cabelos, enroscado-os em seus dedos e correspondendo aos movimentos de minha boca na sua, e logo parecia não se importar mais com o pequeno diálogo anterior.

Empurrei-o devagar para mais perto da pia, levantando-o e colocando-o em cima da plataforma. Ele moveu sua língua contra a minha de forma impaciente, e eu ri colado a ele, colocando suas pernas ao redor de minha cintura. Apertei suas coxas, e ele se moveu um pouco, ainda me beijando.

Puxei seu lábio inferior de forma lenta, e então colei nossas bocas de novo, subindo minhas mãos por sua calça e pousando-as ao lado de suas nádegas, com os punhos fechados. Ele apertou as costas da minha camisa com um suspirou sôfrego, e eu sorri de novo em meio ao beijo.

- Ahn. – Ouvi a tímida voz soar no banheiro, fazendo com que nos soltássemos imediatamente, olhando para sua origem.

Um garoto que parecia ser do primeiro ano corou fortemente ao ter nossos olhares sobre si, e abaixou a cabeça, nervoso.

- Desculpa! Eu só queria lavar as mãos, mas não sabia como já que vocês... – Apontou para a bancada com as duas pias, onde Jin sentava bem no meio. – Me desculpem.

Eu sorri fraco para o garoto. Tinha plena noção de que Jin estava cavando o chão com o poder do pensamento de tanto que olhava para ele. Eu teria que ser o que manteria ao menos um pouco de postura.

Peguei as coxas de Jin com as duas mãos, tirando-o de cima da plataforma fria e colocando-o em meu colo. Andei para o lado com ele em meus braços, e soltei-o gentilmente, ainda abraçado a ele, que agora estava de pé.

Ele abraçou meus ombros com força, e enterrou a cabeça ali. Acariciei suas costas com um sorriso divertido, e observei o outro garoto se aproximar da pia enquanto nos olhava com um pouco de medo.

Ligou a torneira e lavou as mãos rapidamente, parecendo querer com todas as forças sair dali. Se afastou em direção à porta, mas antes de sair, se virou para mim hesitante.

- Vo-vocês deviam fazer isso em outro lugar. No banheiro entra gente o tempo todo. – Falou, e eu sorri ao notar que ele estava tentando ser gentil. Poderia muito bem estar nos xingando ou nos olhando com nojo, mas apenas parecia envergonhado.

- Viu, Jin? Temos que fazer isso em outros lugares. Eu tinha te falado, mas você não escuta. – Movi levemente o ombro, provocando o garoto apoiado em mim.

- Cale a boca, seu idiota. – Ele resmungou, abafado, sem levantar a cabeça. Eu ri, e o garoto na porta pareceu relaxar um pouco, sorrindo fraco.

Acenei a cabeça para o garoto, que repetiu o gesto e saiu do banheiro. Esperei um momento, e então voltei a prestar atenção em Jin.

- Ele já foi. – Sussurrei com a boca colada em seus cabelos. Ele não respondeu, e eu elevei o ombro, para fazê-lo desgrudar a cara de lá. – Jin?

Ele elevou o rosto, me mirando por um momento, e então enterrou-o em meu peito.

- Aaah, que vergonha. – Reclamou, como uma criança. Eu ri de seu jeito, e ele pareceu se encolher mais em meus braços. – Eu tinha esquecido completamente que estávamos na escola. Meu deus, NamJoon!

- NamJoon o quê? – Perguntei, divertido. – Eu não fiz nada sozinho, senhor. Você é bem sem vergonha também.

Jin levantou o olhar de novo e me mirou com a boca aberta. Recebi outro de seus tapas fraquinhos, e segurei sua mão, sorrindo sacana e beijando a palma de forma leve.

Ele arregalou os olhos, ficando sem reação em meu abraço por um momento, e eu sorri de novo.

- Ok. Você tinha razão. O banheiro não era um bom lugar. – Falei, por fim. – Vamos voltar para o telhado?

A expressão de Jin se franziu um pouco, e ele me mirou como se tentasse descobrir se eu estava falando sério.

Ao constar que eu estava, sim, falando sério, ele riu curtinho, balançando a cabeça.

- Você é impossível, NamJoon. – Levantou o olhar, me mirando energeticamente. – Vamos voltar para a sala, obviamente.

- Ahh. – Suspirei, murchando um pouco em minha postura. – Eu não quero voltar. – Tombei a cabeça em seu ombro, puxando-o mais para perto de mim.

Jin me apertou em seus braços, rindo.

- Mas têm que.

- Mas eu não quero. – Virei o rosto para mirá-lo, mesmo que ainda jogado em seu ombro. – Se a gente voltar aquele inferno vai começar de novo. Você vai ficar estranho de novo. A Jia vai me encher de novo. Eu não quero, hyung... – Arrastei a última parte, destacando o “hyung”, vendo-o estremecer.

- Pare de usar esse “hyung” pra tentar me convencer. Não vai funcionar. – Falou, tentando me levantar de seu ombro.

- Funcionou nas outras vezes. – Falei, sorrindo ao levantar a cabeça. Ele me olhou, o cenho franzido, mas não realmente sério.

- NamJoon. Você pesa. Podemos ir de uma vez?

- Ahh... – Reclamei de novo. – Por favor, Jin. – Apertei sua cintura. – Só mais um pouquinho...

- Um pouquinho nada. – Sua voz não estava me repreendendo, diferentemente de suas palavras. – Me solta e vamos para sala.

- E se eu não quiser? – Perguntei, arrumando a postura, e abraçando-o corretamente de novo.

- Então eu vou me soltar sozinho e te deixar aqui. – Disse, empurrando meus braços para se livrar, sem conseguir movê-los um milímetro. – NamJoon, me solta. – Reclamou ao notar que eu não deixaria aquilo fácil.

Soltei uma risadinha, e ele, que estava se esforçando em tirar meus braços ao redor de si, me olhou com o começo de um bico chateado.

Aproximei minha cabeça de si e selei sua bochecha rapidamente, deixando-o sem reação por um segundo. E então ele armou a careta descontente de novo, tentando se soltar. Minhas mãos escorregaram um pouco por seu corpo, mas, diferentemente do que ele deve ter pensado, não por seus esforços, e sim porque eu quis.

Ele me olhou com uma mistura de alívio e deboche, sendo respondido com um sorriso sacana de minha parte, e então minhas mãos em si com mais força que antes.

Apertei-o mais na base de sua cintura, elevando-o um pouco contra mim, de forma que seus pés ficassem um pouco levantados, e ficássemos na mesma altura.

- NamJoon. – Me alertou, rígido. – Pare de gracinhas. Vamos de uma vez.

- Você não está em posição de me dar ordens no momento, princesa. – Disse, e, ao receber um olhar meio confuso de si, sorri, apertando-o mais contra mim e retirando seus pés do chão.

Soltei-o num susto, porém, quando ouvi o som estridente e absurdamente alto do sinal que indicava a troca de professores. Aquela porra barulhenta ficava bem acima da porta do banheiro, eu tinha esquecido.

Jin, mesmo que assustado como eu, sorriu ao se ver em meu abraço solto, e, num passo para trás, se livrou completamente de meu aperto.

- Pronto. Agora eu estou em posição de te dar ordens. Vem. – Estendeu a mão comprida, sorrindo com um triunfo carinhoso enquanto me observava divertido.

Olhei para sua mão, e então para seu rosto. Bufei, sentindo um sorriso vencido se formar em meu rosto. Segurei sua mão, e me deixei puxar enquanto revirava os olhos. Ele riu, e me arrastou até a sala.

Apesar de tudo, ele estaria em posição de me dar ordens em todos os momentos possíveis. Porque eu já não era capaz de dizer ‘não’.


 

Quando chegamos à sala, esta se encontrava vazia. Eu fiquei confuso por um momento, e olhei para Jin.

- Devem ter ido para a educação física. – Falou, e eu respirei fundo. Educação física no primeiro dia? Vai tomar no cu.

Pegamos nossas mochilas de cima de nossas carteiras, e um pequeno pedaço de papel caiu da minha. Mirei o objeto dobrado com um pouco de confusão, e então me abaixei, pegando-o do chão.

Jin, que já o havia visto, se aproximou, lendo-o por cima de meu ombro.

“A última aula é de educação física. Venham para o ginásio depois ;)

Oppa, eu quero conversar com você.

Suzy <3”

Arregalei um pouco os olhos, e mirei o garoto que tinha o queixo em meu ombro.

Jin me olhou, com aquele ar cínico em suas sobrancelhas levantadas. Engoli em seco, esperando aquela merda toda que ocorrera no dia todo, voltasse, mas Jin apenas sorriu, meio sádico, e pegou o bilhete de minha mão, amassando-o na sua e colocando em seu bolso.

- Vem, NamJoon. – Chamou, ao ver que eu não o seguira até a frente da sala.

- Onde vamos? – Perguntei, piscando uma vez e o seguindo, com a mochila pendurada num dos ombros.

Jin me olhou enquanto andávamos, com a sobrancelha levantada.

- Como assim? Vamos para o ginásio.

- Mas você- Eu-

- O quê? – Franziu as sobrancelhas, se fazendo de desentendido. Se fazendo, porque eu sabia muito bem que ele estava irritado, e sabia muito bem a causa de minha confusão.

- Esquece. – Falei, andando em silêncio ao seu lado.

Chegamos ao ginásio coberto da escola poucos minutos depois, Jin com a expressão meio fechada, e eu igualmente, mas cansado, não mal humorado.

Havia pessoas na quadra, jogando basquete, enquanto outras brincavam com uma bola de vôlei numa roda e o restante estava jogado nas arquibancadas com cara que ‘queria estar morto’.

Acho que a única coisa que fazia com que Suga não estivesse no último grupo, era o fato de ter uma bola de basquete ali. Dezessete anos que conheço essa praga, e nunca vi ele gastar tanta energia em algo além de como gastava no basquete.

Nos direcionamos discretamente até uma das pontas da arquibancada. O nosso professor de educação física, diferentemente de qualquer outro professor de educação física normal, adorava jogar com os alunos e era magro e ativo na vida.

Isso era uma droga às vezes, porque ele não nos deixava ficar à toa, mas, para casos como o em questão, era bom, pois ele ficava bem alheio a tudo quando jogava, então eu duvidava que fosse notar nosso atraso enquanto enterrava a bola pesada de basquete na cesta com a energia de um adolescente.

Melhor falando: a capacidade de um adolescente. A energia era a de um maluco que tem problemas pra escolher como passar o tempo. Que tipo de doente gasta tanto tempo e esforço correndo como um retardado atrás de uma bola?

Eu era adolescente, e não tinha nem um pingo de vontade de gastar energia daquele jeito. Por isso, me joguei com um suspiro na arquibancada, olhando para os garotos e garotas que jogavam com o professor.

Todos estavam suados e ofegantes, mas pareciam gostar disso. Incompreensível.

Mirei o grupo que jogava vôlei na rodinha, encontrando, com um calafrio, Suzy ali. Ela não dera por nossa presença no ginásio ainda, mas eu sabia que isso não iria durar.

Olhei para Jin, me perguntando se teria que lidar com aquele seu jeito fresco e frio de novo. Achei que havíamos resolvido aquilo, mas aparentemente a mesma merda ia acontecer de novo.

Ele, que estivera observando os outros de pé ao meu lado, se sentou, colocando a mochila entre nós dois, e entrelaçando os próprios dedos enquanto mirava o chão de forma pensativa.

Olhei-o com atenção por um momento, parando a visão ao notar a pequena marca que aparecia na gola de sua camisa branca. Sorri. Aquilo era bem melhor que o golpe de seu pai. Faria o possível para que minhas marcas fossem as únicas que ele carregasse no futuro.

Corri os olhos para seus braços levemente tensionados. Eu podia ver a sombra deles pela camisa clara, assim como seu tronco delgado. Não era como se o uniforme fosse transparente, mas dava para notar onde havia corpo ali dentro, e eu me vi perdido naquela escultura linda que não fazia a menor idade do quanto o era.

E pensar que o inseguro ali normalmente era ele.

Segui com minha observação até suas mãos, apertadas uma contra a outra de forma relaxada. Seus dedos compridos e tortos eram engraçados, e eu me permiti sorrir pequeno ao vê-lo brincar distraidamente com os mesmos.

A brincadeira parou, e eu elevei a visão para seu rosto, encontrando-o me mirando sem expressão. Um pouco surpreso, talvez, mas nada mais que isso.

Não. Eu disse sem expressão? Isso não é algo possível para os olhos expressivos de SeokJin. Com o tempo, eu apenas comecei a chamar de “sem expressão” as expressões que me são tão complexas que eu não consigo lê-las.

Às vezes há uma variedade tão impressionante de emoções se misturando ali que eu simplesmente não sei o que pensar. Isso me irrita um pouco, por não conseguir lê-lo com a facilidade que normalmente tenho para fazê-lo com as pessoas, mas também me fascina. Eu nunca encontrara alguém assim. Era um desafio, e um prazer.

- O que foi? – Perguntou, após um momento. Eu pisquei uma, duas, três vezes, antes de conseguir voltar ao chão. E mesmo assim, abri a boca e fiquei ali, sem saber como responder.

O que ele queria que eu dissesse? “Estava te secando”?, “Por favor, me mata. Eu estou ficando louco”?

Não, havia tanta coisa passando por minha cabeça naquele momento que eu sentia que ficaria tonto.

Não fique zangado.

Nem em mil anos eu vou te trocar por aquela coisa lá.

Você é mais bonito sorrindo.

Me beija.

Por favor, não me deixa dormir sem você, nunca mais.

Não volta pra aquela casa.

Eu quero ter você comigo.

Sempre.

Você é tão lindo.

Eu quero te odiar, mas não dá.

Eu quero você.

Eu...

- Eu... – Soprei, quando provavelmente nós dois já não esperávamos que eu respondesse. Jin me mirou meio confuso, esquecendo que supostamente estava de mau humor e apenas me apunhalando com aquela carinha perdida que ele sempre tinha. – Eu acho que gosto mesmo de você.

Jin deu um sobressalto quando eu soltei aquilo. Seus olhos estavam arregalados, sua boca estava entreaberta, parada numa respiração. Ele parecia assustado. Eu também estava.

Eu gosto de você. Não era bem aquilo, mas estava perto. Eu sentia como se aquilo resumisse bem toda aquela confusão em minha cabeça. A idiotice, a impulsividade, a quase idolatria que eu sempre critiquei, eu estava vivendo-as por minha própria conta agora. Sentia como se fosse explodir a qualquer momento, sentia como se estivesse matando o meu ‘eu’ antigo, mas o novo me parecia tão...melhor. Um ‘eu’ com ele ao meu lado, parecia perfeito.

Aquela frase...resumia bem, mas não perfeitamente. Me perguntei se era porque não parecia forte ou abrangente o suficiente para tudo aquilo.

Eu gosto de você. Isso eu poderia dizer facilmente para TaeHyung, ou minha mãe, ou um bom copo de café. Jin não parecia no nível daquilo. Ele o havia passado fazia tempo.

- E- o-o-o quê... – Vi suas bochechas rosarem, e me separei por um momento de meus pensamentos confusos. Pousei o olhar nele, e senti vontade de sorrir. Eu, definitivamente, nunca o vira com tanta vergonha. Nas outras vezes, ele apenas escondera a cara e pronto. Dessa vez, parecia não ser o suficiente.

Seus olhos corriam pelo chão em busca de um lugar para focar, mas pareciam não encontrá-lo. Por fim, elevou os olhos para mim, hesitante, e eu me esforcei um pouco para sorrir, meio sem graça.

- Precisava dizer isso, assim?...Aqui? – Perguntou, baixando o rosto de novo.

- Desculpa. – Falei, mantendo o sorriso fraco em meu rosto. – Mas eu senti que precisava falar. – Ele elevou o rosto de novo, me mirando com uma ponta de descrença, e então virou o rosto de novo.

- Mesmo assim...como quer que eu reaja a isso? Não sou bom com palavras como você. Sabe disso. – Reclamou baixinho, parecendo menos envergonhado e mais chateado.

Me permiti soltar uma risada fraca, e ele me olhou de novo.

- Não quero que fale nada. – Falei, mirando-o com gentileza. – E sobre como reagir...essa reação foi ótima. Vou lembrar para o resto da vida.

Ele arregalou os olhos, abrindo a boca em reclamação.

- Não... – Inflou as bochechas, virando o rosto enquanto cruzava os braços. Ri.

- Essa também.

- Pare com isso, idiota. – Mirava meio emburrado onde os garotos brincavam de correr atrás da bola.

- Ei, para alguém que não gosta de apelidos, você tem me chamado bastante assim, não? – Lembrei subitamente, alfinetando-o num sorriso. – Sabia que ‘idiota’ também pode ser um apelido?

Ele me olhou, descruzando os braços.

- Então, até agora, esse é o que mais combina com você. – Sorriu, travesso, relaxando aos poucos a tensão que sua postura havia adotado.

Ri nasalmente, lembrando de uma coisa.

- Falando nisso, lembra da nossa aposta? Você está prestando atenção nos vacilos? – Perguntei, tentando lembrar se eu alguma vez havia deixado escapar um “SeokJin” ao invés de “Jin” enquanto falava com ele.

Para minha surpresa (porque eu tinha esquecido completamente daquela aposta idiota), ele acenou com a cabeça.

- Claro. Nenhum de nós errou ainda. – Falou, dando de ombros. – Acho que posso ser tão teimoso quanto você, no fim. Tenho tomado cuidado pra não escorregar.

Sorri com seu jeito, e me apoiei no degrau de trás de mim.

- Verdade? Eu tinha esquecido completamente dessa aposta, e não errei nenhuma vez. Pelo jeito, já sabemos quem tem mais chances de ganhar, não é? – Perguntei, sorrindo travesso. Ele arregalou os olhos, e então fez uma careta, orgulhoso.

- Já? Como pode ter tanta certeza?

- Apenas espere. Você vai ver. – Soltei mais um risinho, e olhei para a frente. O jogo de basquete havia acabado, ou dado um tempo, e os garotos suados bebiam água ou se sentavam, exaustos, na arquibancada.

Jin não me respondeu mais, mas pude jurar que ele fez uma careta antes de me acompanhar em minha observação silenciosa.

Depois de alguns instantes, virei a cabeça para ele de novo, encontrando seus olhos longe dali. Aos poucos, ele pareceu me notar olhando-o, e virou para mim, com o ar de pergunta impresso em seu rosto.

Sorri, negando com a cabeça.

- No que estava pensando? – Perguntei, e ele me mirou em silencio por um momento, logo sorrindo.

- Em como eu nunca tive companhia na educação física antes. – Sorriu, olhando para a frente de novo. – Em como parece estranho como tudo mudou tão rápido. – Sorri, compreensivo. Aquilo era meio triste, mas era passado. Eu não o deixaria ficar sozinho de novo.

Mirei-o de forma pensativa. Concordava com ele plenamente. Há algumas semanas, eu nunca me imaginaria como estava agora. Nunca me imaginaria largando tudo o que considerava importante, todos os meus ideais, todas as minhas certezas sobre tudo, penas por causa de um garoto.

Nunca me imaginaria tão dependente de um abraço, de uma voz, de um sorriso.

Ele suspirou fundo, virando para mim de forma rápida, com um sorriso simpático no rosto.

- E você agora? No que está pensando? – Perguntou, parecendo meio animado. Seu rosto normalmente era singelo e aéreo, escondendo a tristeza de uma vida dura, mas às vezes, era tomado por esse brilho radiante que me fazia sorrir sem nenhum esforço.

Eu gostava desses momento, ele parecia flutuar. Nenhum problema, nenhuma dor, apenas ele, lindo e radiante, como deveria ser sempre.

Sorri ao ter meus pensamentos interrompidos, e molhei os lábios antes de responder.

- Estava pensando... – Parei de falar por um momento, e ele me mirou como se me pedisse para continuar. Tantas coisas se passaram por minha cabeça que se eu dissesse, nunca pararia, e provavelmente o assustaria, então apenas sorri, apertando um pouco os olhos. – Em como essa mochila aqui no meio é completamente desnecessária. Está tentando me deixar longe ou o quê?

Jin demorou um momento para entender o que eu falara. Provavelmente estava esperando algo mais sério de minha fala. Vou ter muito tempo pra te dizer coisas sérias, apenas espere.

Por hora, só quero te ver sorrindo.

E ele sorriu, divertido, antes de pegar o objeto que era foco de meu incômodo, colocando-o de seu outro lado, se aproximando um pouco na arquibancada.

- Quando coloquei ela aí, queria sim. – Respondeu, divertido, e eu me segurei para não abraçá-lo agora que estava perto. Queria que sempre estivesse perto.

- Injusto. – Forcei um bico. – Já não te disse que não tem sentindo ficar bravo comigo por causa dessas coisas?

- Podemos não falar disso agora, por favor? Eu estou de bom humor. – Falou, com um sorriso fino nos lábios, e eu elevei as mãos, num sinal de rendição. Jin riu, e eu baixei as mãos, sorrindo também.

Ouvi o apito do professor liberando os alunos da aula, e se ouviu um suspiro coletivo dos alunos cansados no ginásio. Torci o pescoço para observar as pessoas de nossa sala se arrumando para sair do ginásio em direção à liberdade do fim do dia letivo, e torci o nariz ao ver que eu deveria ter sido mais esperto e vazado dali antes. Agora ela havia nos visto.

Jin olhou para onde eu olhava, e sua expressão endureceu de novo. Suspirei, buscando saco para agüentar aquela situação cansativa de novo.

- Oppa! Vocês vieram! – Suzy correu até nós, com o uniforme de ginástica justo em seu corpo bem desenhado.

Seu sorriso vacilou um pouco ao ver nossas duas expressões descontentes, mas voltou logo, meio sem graça. Continuamos mirando-a de forma fria. Eu estava apenas tentando passar tédio, mas tinha certeza de que o olhar de Jin estava um pouco mais pesado.

Ela abaixou o rosto, mirando os próprios pés, chutando o chão repetidamente com o tênis. Por fim, levantou a cabeça, abrindo a boca para falar.

- Oppa... eu quero conversar com você. – Falou, parecendo meio envergonhada. Mirei Jin, que apenas a olhava com o rosto limpo de expressão.

- Sou todo ouvidos. – Falei, considerando melhor terminar aquilo de uma vez. Estava pra lá de cheio dessa história toda.

- Eu, ahn...eu queria que falássemos a sós. – Falou, mirando Jin de forma hesitante.

Ele elevou as sobrancelhas daquele jeito que havia adotado quando Suzy estava metida na história, e eu estalei a língua de forma inaudível, buscando nervos para não mandar todo mundo se foder e sair dali.

Olhei para ela.

- Não dá pra ser assim mesmo? – Perguntei, olhando para SeokJin com o canto do olho. Eu não me importava em falar com ela a sós, se fosse para dar um fim naquela palhaçada, mas sentia que ele não me perdoaria tão facilmente se eu o fizesse.

- É...não. – Ela se encolheu mais um pouco. Jin soltou um riso sem som, mas transbordando deboche, e se levantou, indo em direção à porta do ginásio sem olhar para trás.

Olhei-o, nervoso, e voltei o olhar para Suzy de novo, me levantando num impulso para segui-lo.

- Oppa, não! – Ela segurou meu braço, e eu a mirei sem acreditar naquilo. Mano, eu não ia deixar Jin ir daquele jeito, será que não dava pra ela me deixar em paz? – Eu...me desculpa, mas eu quero mesmo falar com você. – Ela soltou meu braço, olhando para o chão. O rabo que segurava seus cabelos compridos estava meio solto, deixando que mechas caíssem sobre seu rosto.

Mirei-a por um momento, e então olhei para onde Seok havia ido, não o encontrando mais ali. Voltei a olhar para ela, e suspirei, pesaroso.

- Tá. Diz rápido. Eu preciso ir logo.

- Hã...eu... – Ela levantou a cabeça, meio perdida, e eu a mirei, impaciente. Ela pareceu se encolher um pouco. – Eu...eu gosto de você, oppa. Eu me apaixonei desde que nos conhecemos. E te admiro muito. Fiquei tão feliz de estudarmos juntos mas...sinto que estou incomodando... – Tá, conta uma novidade. Ela levantou o rosto para me mirar, ansiosa. – Eu quero saber se meus sentimentos tem futuro...ou se é melhor eu desistir deles.

Mirei-a sem reação por um momento. Eu não havia recebido milhares de confissões na vida, mas tinha quase certeza de que normalmente as garotas não falavam tanto numa situação assim. Posso ter me equivocado com o negócio da timidez.

- Olha... – Comecei. Sinceramente, eu estava com dificuldades de manter a atenção naquela conversa. Eu só queria ir atrás de Seok antes que ele escapasse por meus dedos. – Eu sinto muito. – Não. – Mas não posso dizer que seus sentimentos vão dar frutos. – Nem em sonhos. – Eu...não gosto de você. Mal. – Bem.

Ela me olhou por um momento, e então riu, parecendo entre o aliviado e o desolado.

Mirei-a com o cenho franzido. Que garota estranha.

- Eu...me desculpa. – Ela riu, me mirando. Eu via as lágrimas brilharem em seus olhos. – Mas você parecia tão afobado, por um momento eu pensei que fosse por mim, mas... – Fechou os olhos, sorrindo. – Vai lá com ele. Eu devo ter irritado ele bastante.

Terminou num sorriso. Lágrimas delicadas desceram por suas bochechas coradas, mas ela estava sorrindo, meio travessamente até. Tão burra ela não era.

Sorri fracamente de volta, e me virei, correndo até minha mochila e pegando-a enquanto continuava correndo para fora do ginásio.

A estranha conversa com Suzy me deixara com uma sensação de leveza. Pelo menos com ela não haveriam mais problemas.

Agora eu precisava achar a ferinha ciumenta.

Corri até o pátio frontal da escola, me sentindo meio perdido em meio à grande quantidade de alunos saindo da escola. Varri o local com os olhos, encontrando a cabeça loira de Tae com facilidade, e, automaticamente, vendo as figuras de JiMin, JungKook e...Jin.

Eles começaram a caminhar para fora da escola, e eu apertei o passo um pouquinho, chegando perto deles. JiMin e JungKook andavam mais à frente, conversando com Tae, e nenhum deles parecia ter notado que Jin se mantivera mais atrás, sozinho.

Isso apenas ia facilitar tudo. Obrigado.

Me aproximei em silêncio de Jin, passando o braço ao redor de seus ombros, e me colocando ao seu lado, mirando a frente.

Ele virou a cabeça para me mirar, e eu o olhei, sorrindo culpado. Sua expressão estava meio vazia.

- Como foi sua conversa a sós? – Perguntou, seco. Havia uma ponta de ironia em seu tom.

Sorri. O único jeito de eu agüentar aquela atitude era me fazendo lembrar que ele estava assim por causa de ciúmes. De mim.

Dei de ombros, feliz por ele ao menos não ter me tirado de seu lado ou me mandado parar de abraçá-lo.

- Acho que vai ficar tudo bem agora. – Falei, mirando a frente e logo ele de novo, que me olhou com o cenho franzido.

- Tudo bem com o quê?

- Eu rejeitei ela. – Dei de ombros de novo, e ele abriu um pouco a boca.

- Você fez o quê?

- Rejeitei ela, ué. – Olhei para ele, meio confuso. – Não era?

- Não é isso... – Ele negou com a cabeça, parecendo pensar. E então me olhou, confuso. – Como vocês chegaram a esse tópico de conversa? – Ele parecia meio desorientado, como se tentasse entender uma conta difícil.

- Ela disse que gostava de mim. – Ditei, sem me importar muito com aquilo. – E eu disse que já tinha uma princesa muito linda comigo, então não podia aceitar seus sentimentos. – Terminei, sorrindo travesso para ele, que me deu um pequeno tapa na mão.

- Você não disse isso.

- Não. – Ri. – Mas é verdade. – Ele não negou ou afirmou, mas um pequeno sorriso satisfeito surgiu em seus lábios.

- E você deixou ela sozinha lá? – Perguntou, parecendo meio preocupado. Acenei com a cabeça, meio hesitante. – Nossa, coitada. Você não tem coração? – Me mirou sem uma gota de brincadeira na expressão sinceramente preocupada.

Elevei os braços, olhando para cima.

- Decida-se. Você quer que ela saia de cima ou não?

- Claro que sim. – Respondeu, e eu coloquei meu braço sobre seus ombros de novo. – Mas não quer dizer que tem que tratar ela assim. Pobrezinha, com o coração partido e sozinha lá.

Não pude deixar de formar um sorriso com seu jeito. Como porras se supunha que eu deveria entender aquele garoto?

- Se eu desse carinho na cabeça dela ela só ia grudar de novo. – Falei, sem me importar muito. – Queria isso?

- Não. – Ele suspirou. – Tem razão, mas eu fiquei com um pouco de dó.

Sorri.

- Claro que ficou.

- E o que o senhor quer dizer com isso? – Elevou uma das sobrancelhas, e eu soltei uma gargalhada.

- Ora, ora, ora. – Ouvi a voz feminina e mirei sua dona ainda com o sorriso remanescente de minha risada. – Estão de bem de novo? – Jia tinha as mãos na cintura, sorridente.

JiMin e JungKook disseram algo sobre ter que ir, e todos nos despedimos de forma breve. Jia lhes deu tchau com um sorriso, e se virou para mim de novo, maliciosa.

- E então? Já marcaram o casamento? – Perguntou, e eu fiz uma careta. Tae riu, ao lado dela.

- Vai ficar falando merda mesmo ou vai me deixar ir? – Perguntei, sem tirar o braço dos ombros de Jin.

- Calma lá, garotinho. – Ela sorriu. – Não precisa ter tanta pressa para dar uns pegas no Seok. Meu negócio é rapidinho, juro.

- Vou ignorar suas idiotices porque meu ouvido não é penico. – Falei, inexpressivo. – O que você quer?

Ela sorriu, parecendo gostar de minha impaciência.

- É verdade que vocês estavam se pegando hoje cedo no corredor? – Perguntou, e eu arregalei um pouco os olhos. Já estavam falando? Esse povo não perde tempo.

Jia sorria, travessa, e eu, passada minha surpresa, sorri de volta, virando o rosto para Jin, que parecia envergonhado.

- Não sei. – Segurei um pouco o sorriso de lábios juntos que tinha, vendo-o me mirar. – É verdade ou não? – Perguntei para ele, com um sorriso sacana de canto. Ele arregalou os olhos, me batendo fraquinho.

- Idiota. – Falou, e eu e Jia rimos alto.

A verdade era que, depois de superar toda aquela merda em aceitar que eu estava, sim, atraído por SeokJin, eu estava pouco me importando com a opiniões externas. Nunca fui um cara que se deixava influenciar por mentalidades alheias. Se eu estiver bem comigo mesmo, será o suficiente.

- Vocês são um amor, mas eu também quero sair abraçadinha por aí. – Jia disse, após parar de rir. Óbvio que ela ia vir com essa historia de novo. – Já estou começando a contar os juros, Rap Monster.

- O que vão ser os juros? – Perguntei. Eu tinha que arranjar uma garota logo, senão Jia só ia me encher cada vez mais. Quem sabe se eu pagasse pra uma garota agir do jeitinho que ela gostava...não, ninguém ia agüentar Jia por muito tempo. E eu não tinha dinheiro.

- Sei lá. – Deu de ombros, abrindo um sorriso. – Mas qualquer hora eu decido, e eles já vão estar contados.

Revirei os olhos, acenando com a cabeça.

- Tá. Vou passar no puteiro da esquina pra procurar uma mina que te queira. – Falei, tentando avançar por ela, que não o permitiu.

- Tem um puteiro na esquina? Oba. – Ela lambeu os lábios, brincalhona, mas então voltou à sua posição mais ameaçadora. – E isso que você tá falando não tem nada a ver. Tem um monte de mina que me quer.

- E por que você precisa que eu arranje uma pra você, senhora “tem um monte de mina que me quer”? – Levantei a sobrancelha, e senti Jin segurar uma risada, assim como Tae, que parecia apenas nos esperar para ir embora.

Jia abriu a boca, mas essa expressão não durou muito. Ela era especialista em fingir que não podia ser atingida por nada.

- Porque nenhuma delas é meu tipo. – Sorriu. – Eu quero alguém que combine comigo.

- Quer dizer que seu tipo são garotas chatas e controladoras que não dão sorvete pros amiguinhos? – Perguntei. Jin riu de novo, e Jia fez uma careta.

- Você sabe qual é o meu tipo. – Falou. – E eu não dou sorvete só pra você. Porque você é muito chato. Bestão. – Nisso, ela passou por nós, indo para dentro do terreno da escola de novo.

- Eu sei que você me ama! – Falei, rindo, para ela, que se afastou em direção à um grupo de garotas ali perto.

- Meu deus. Não! Você descobriu que eu sou hétero? – Colocou as mãos em frente à boca de forma teatral, a ironia divertida transbordando de suas palavras.

- Eu sempre soube! – Falei, segurando a risada.

- Ah não, Monster. Sinto dizer, mas eu sou lésbica e você é viado. Nunca daria certo entre nós dois. – Falou, com falso pesar, colocando a mão no coração.

Soltei uma risada, e ela, num floreio, acenou para nós enquanto se virava para se afastar de novo, dessa vez indo mesmo.

- Opa, revelação alto-falante em praça pública? A comunidade tá se assumindo? EU SOU PAN PESSOAL, SE VOCÊ TIVER UMA BOCA, EU VOU TE QUERER. – Suga gritou, rindo enquanto surgia de sabe-se lá onde com um sorriso gigante no rosto.

- PAN, O OUTRO NOME PRA PUTA. – Falei, não tão alto quanto ele, mas ainda sim, alto.

- Me respeita que eu te respeito. – YoonGi parou ao nosso lado. Tae cumprimentou-o, rindo, e eu sorri ao vê-los aparentemente se tratando como os bons amigos que eram.

- Você nunca me respeita. – Falei.

- Pois é. – Ele deu de ombros, com um pequeno sorriso na boca. Mirei-o meio desconfiado, e perguntei:

- E por que o senhor está tão feliz? Podemos saber?

YoonGi me mirou como se não tivesse notado que estava tão sorridente, mas então sorriu, malicioso.

- Qualquer um fica de bom humor depois de um bom boquete. – Deu de ombros, e eu ri. Claro que tinha algo a ver com isso.

- Hyung, você já está passando o rodo nos moleque do primeiro ano? – Tae franziu o cenho, não realmente sério.

Suga encolheu os ombros.

- Tem umas coisinhas bem gostosas no 1°C. – Falou, malicioso. Tae passou a língua pela boca, por puro costume estranho seu.

- Eu sei. Aquele WooZi é bem bonitinho. Você está de olho nele faz tempo, não é hyung? – Tae bateu as mãos, parecendo se lembrar de algo.

Suga apenas sorriu mais, e mais malicioso.

- Eu sei. Estava com ele agora. – Falou, passando a língua pelo inferior, não por hábito como Tae, mas por perversão mesmo. Puta que pariu, abutre de amigo é foda.

Tae arregalou um pouco os olhos, e então soltou uma risada gostosa.

- Caralho, como você conseguiu? Ele é super na dele.

- Tenho minhas técnicas. – YoonGi encolheu os ombros de novo, com falsa modéstia.

Sorri. Eu sempre me mantinha meio calado nesses papos, mas era engraçado ouvir. Mirei Jin, que parecia meio aéreo. Franzi o cenho, abaixando um pouco o rsoto para falar em seu ouvido.

- Você não tem que trabalhar hoje? – Perguntei, me lembrando. Jin piscou uma vez, e então me mirou, quase fazendo nossos rostos se tocarem. Me mirou com os olhos arregalados.

- Caralho! Eu esqueci! – Gritou, e eu, após recuar um pouco o rosto, surpreso, soltei uma risada alta. Eu nunca ia conseguir prever as atitudes daquele garoto.

Tae e Suga, tendo sua conversa interrompida pelo grito de Seok, apenas nos miravam confusos.

Ri mais uma vez, sem gargalhar dessa vez, e me direcionei a eles.

- A coisa esquecida aqui tem que trabalhar. Estamos indo, ok? – Falei, começando a andar. Jin tinha o rosto meio encolhido por ter gritado daquela forma, e apenas me acompanhou.

Os dois riram um pouco, e Tae sorriu.

- Eu posso ir com vocês, hyung? Não vai ter ninguém em casa, e eu não quero ficar sozinho. – Perguntou, um pouco ansioso. Apesar de seu sorrisão, eu vi um pouco de aflição em seus olhos.

Mirei Jin, logo dando de ombros.

- Tudo bem, eu fico sem fazer nada lá mesmo. – Sorri de lado, e Tae alargou o sorriso com minha autorização. Não que ele precisasse disso para ir conosco, mas ele parecia gostar daquele tipo de mimo.

Como de qualquer tipo de mimo.

- Fica sem fazer nada porque quer. Você não é obrigado a ficar lá. – Jin comentou, baixinho, e eu o mirei, sorrindo.

- Nunca disse que era obrigado. – Disse, simples. Como se eu fosse te deixar sozinho enquanto posso estar com você.

Jin corou um tiquinho, e nada mais disse. Meu braço ainda estava sobre si, e eu mal conseguia não sorrir. Nos despedimos de YoonGi, que não poupou piadinhas enquanto nos distanciávamos em direção à estação.

Tae meio andava meio saltitava ao nosso lado, e nós três andávamos em silêncio.

Lembrando, levei a mão que não estava no ombro de Jin e pesquei dois pirulitos em meu bolso. Os sobreviventes dos que pegara de YoonGi.

- Quer? – Perguntei para Tae, que pegou o doce com um sorriso. Mirei Jin, oferecendo o outro em silêncio.

Jin pegou o doce com um pouco de relutância, abrindo-o em seguida e colocando-o na boca com uma alegria silenciosa.

Mirei-o por um momento, andando, e ele logo notou, se virando para mim com aquele ar aéreo. Tirou o pirulito da boca e o ofereceu, num “hm?” singelo. Sorri, e abri a boca. Ele colocou o doce ali. Movi um pouco a língua sobre o pirulito e o soltei. Jin recolheu-o de volta e o colocou na boca, mirando a frente como se nada tivesse acontecido.

Lambi um pouco do doce que grudara em meus lábios, com um meio sorriso satisfeito no rosto, e olhei para Tae, que nos mirava com a boca meio aberta e o nariz ligeiramente torcido.

- Desde quando vocês são tão tranqüilos pra essas coisas? – Perguntou, as sobrancelhas feitas curvadas numa expressão confusa.

Dei de ombros, sorrindo pequeno. Jin esticou a boca para o lado numa expressão de “sei lá”, e Tae, depois de um segundo, sorriu.

- Como as coisas ficaram com a Su? – Perguntou. Demorei um segundo para entender de quem ele falava.

- Acho que tudo bem. – Falei, dando de ombros em descaso. Havíamos chegado à estação. – Falando nisso, valeu por hoje cedo. Você estava fingindo ou realmente gostava tanto dela? – Mirei-o de lado, e ele sorriu, ladino.

- Bom, vamos dizer que eu prefiro a JiHyun como modelo, mas a Suzy é boa também. – Mostrou a língua enquanto parávamos na plataforma. O trem estava quase chegando. – Mesmo que eu tenha só visto uns dois ou três ensaios com ela.

- Ou seja: você não a conhecia tanto assim. – Falei, vendo a máquina que subiríamos se aproximar.

- Algo como isso. – Ele encolheu os ombros, travesso.

- Você já pensou em ser ator, TaeHyung? – Perguntei, enquanto subíamos no trem. – Você estava parecendo um fã devotado lá.

- Fãs devotados normalmente não são os que começam a gritar e fazem sacrifícios pros ídolos? – Jin perguntou, me olhando de forma curiosa.

Ri baixinho, dando de ombros, divertido.

- Um fã educado e civilizado então. – Respondi, e Tae sorriu.

- Isso não existe. – E eu fiz um muxoxo, desistindo.

- Foda-se então. – Jin e Tae riram.


 

O trem estava cheio, então ficamos de pé por todo o trajeto até o bairro em que Jin trabalhava. TaeHyung conseguiu, após um momento de surtinho, passar uma maquiagem nos machucados de Jin, para que ele não tivesse problemas no trabalho. Eu tinha começado a ignorar aquelas marcas, mas Tae fez bem em lembrar de escondê-las.

Foi difícil fazê-lo em um trem cheio em movimento, mas se tinha algo que Tae fazia bem, era maquiagem.

Quando descemos do transporte, Tae foi o primeiro a correr para fora da estação.

- AH! LIBERDADE! – Ele reclamara durante todo o trajeto sobre como estava quente, abafado, apertado, claustrofóbico, etc, etc. – Hyung! Você nunca tinha me contado que trabalhava no Min! Esse lugar é incrível!

Jin encolheu os ombros, num pedido de desculpas silencioso.

TaeHyung tomou a frente, correndo como criança de vitrine em vitrine, claramente animado. Eu e Jin apenas íamos atrás, observado-o. Eu havia soltado Jin do abraço no trem, porque, realmente, estava muito quente, mas caminhávamos próximos um do outro, com nossos ombros quase se tocando.

- Hyung! Olha isso! – Tae apontou para uma vitrine que exibia um conjunto de chá de porcelana, um violino e uma boneca muito bem trabalhada em porcelana fina. Sorri, olhando para a loja, logo reconhecendo-a.

- Tae, agora temos que ir, mas eu te trago aqui de novo. – Falei. – A gente conhece a dona. – Falei, e Jin sorriu.

Tae acenou com a cabeça, e nos acompanhou com a mesma animação infantil.

Quando chegamos ao café, os olhinhos de Tae brilharam. O lugar era realmente caprichado, e meu amigo parecia querer pegar os doces bem feitos da vitrine e guardar em potinhos.

Jin foi para atrás da loja, na área dos funcionários, com um pouco depressa por ter se atrasado alguns minutos. Logo voltando com o uniforme dos garçons ali (que parecia muito com o de nossa escola) e sorriu para Tae quando ele perguntou se podia provar todas as tortas da vitrine.

- Você tem dinheiro, Tae? – Perguntei, soprando o riso pelo seu jeito afobado.

- Papa me deu o cartão de novo. – Respondeu. – Ele disse que eu tinha sido um bom garoto e que a mama não devia me dar castigos assim.

A família de Tae sempre me fora meio estranha. Seus pais trabalhavam muito, então o garoto não tivera muita presença deles em sua infância (por isso praticamente morava em minha casa desde que nos tornamos vizinhos). Ele adorava seu pai, que, pelas poucas vezes que o vi, parecia um cara divertido. O homem lhe dava tudo o que ele queria, como uma forma de compensar a ausência.

A mãe, por outro lado, era uma mulher distante e de personalidade endurecida. Não aprovava as atitudes do marido para com o filho e muito menos as atitudes de Tae em seu dia a dia. Odiava HoSeok e nunca direcionou palavras gentis a mim, YoonGi ou JiMin. Todos meio que a odiávamos, e, sempre que Tae ficava de castigo ou algo assim, podíamos ter s=certeza de que tinha partido dela.

Recentemente, TaeHyung havia ficado sem seu cartão de crédito. Ele não explicara por que, mas sua mãe havia tirado-o como castigo para algo que ele fizera e não a agradara. Parando para pensar, aquele surto de banho de loja que Tae havia tido nas férias provavelmente fora posterior à devolução do cartão.

Jin trouxe pequenos pedaços de cada uma das tortas da vitrine, e se afastou para atender uma dupla de amigas que entrara na loja.

- Hyung! As tortas são minhas! – Tae reclamou, com a boca meio cheia de uma torta com pêssego e creme branco.

- Deixa de ser regulão. Tem milhões de tortas aqui. – Falei, colocando o pedaço de chocolate que eu roubara do pedaço à minha frente. – E eu te dei um pirulito.

Tae fez um bico, mas resolveu me ignorar, voltando a comer seus doces.

Eu devo ter comido um quinto daquelas tortas, e estava me sentindo explodir. Como Tae continuava comendo? Tudo bem que estava bom, mas caralho, era muita coisa.

Depois de bastante tempo, os pratos em cima da mesa ficaram limpos, e Tae limpou os lábios açucarados com a língua, suspirando enquanto se jogava no encosto do banco.

- Hyung. A gente pode ir naquela loja agora? – Perguntou, com os olhinhos brilhantes.

Parei de olhar para o prato desenhado com pássaros negros que tinha à minha frente, e olhei para ele. Mirei Jin de forma relutante. Ele não passava por ali fazia um tempo, ocupado com as mesas do outro extremo da loja. Eu não gostava da ideia de apenas deixá-lo ali, mas...

Chamei-o quando ele se virou para nós num momento, e ele veio rapidamente, com uma bandeja parcialmente cheia de louça suja, pegando os pratos de torta e os equilibrando ali.

- Vamos na loja da ajumma rapidinho, ok? Eu volto depois. – Jin me mirou por um momento.

- Claro. – Sorriu pequeno. – Pra que me perguntar essas coisas? – Encolheu os ombros, gentil.

- Porque o hyung não quer ir. – Tae falou, com a sinceridade direta que eu só vira nele e em crianças pequenas. – Ele quer que você diga que não é pra irmos.

Olhei-o. Ele estava brincando ou eu estava deixando tanto escapar de minha expressão? A verdade era que eu ia ali para esperá-lo, mas sentia como se tivesse que ficar ali...era apenas uma teimosia minha, eu sabia, mas não deixava de me deixar nervoso.

Jin riu.

- Está bem. – Parecia não ter levado a fala de Tae a sério. Levantou a bandeja, pronto para se afastar. – Você pode ir. Eu não vou a lugar nenhum. – Bagunçou meus cabelos como eu normalmente fazia com ele, e se afastou.

Mirei-o ir, e Tae chamou minha atenção de volta à realidade.

- Vamos? – Perguntou, com um sorriso divertido e malicioso.

Me levantei, olhando uma ultima vez para Jin quando saímos do estabelecimento. Ele, nos vendo, acenou com um sorriso singelo, e nos fomos.

Tae, a caminho da loja, parecia saltitar ainda mais que quando viéramos. Meu, ele tinha comido cinco quilos de torta, e estava cantarolando como se fosse a Branca de Neve no bosque. Se eu tivesse comido tudo isso de torta, estaria parecendo mais o Lobo Mau depois de papar os porquinhos.

Chegamos à loja em questão, e entramos, fazendo o pequeno sino acima da porta soar.

Adentramos no estabelecimento colorido e lotado de forma harmoniosa. Passamos pelas alas com louças de todos os tipos e então pela instrumental, e, como com Jin antes, a ala de bonecas foi a que cativou Tae.

Ele parecia não saber onde olhar em meio a tantas figuras delicadas. Os vestidos coloridos e caprichados nas bonecas de todos os tamanhos e tipos eram uma obra de arte aos olhos de TaeHyung. Seus cabelos bem arrumados lhe pareciam a sétima maravilha do mundo. Seus rostos delicados, como o seu próprio, pareciam lhe atrair mais que qualquer expressão humana.

Sorri ao observá-lo. Tae sempre gostou das coisas ligadas à beleza, e sempre disse que as bonecas eram melhores que pessoas, porque eram bonitos, e apenas isso. À medida que fomos crescendo, ele aprendeu a gostar das pessoas de verdade, mas sempre teve seu amor pelas bonecas. Gostava das modelos também, porque elas, ao menos num momento, eram apenas bonecas, livres de qualquer emoção humana ruim.

“As bonecas foram minha companhia quando eu não tinha mais ninguém, hyung”.

Uma vez, quando tínhamos por volta dos sete anos, e JiMin havia acabado de se mudar para o bairro, Tae me segredou, antes de irmos conhecer ao garoto novo que havia na vizinhança.

- Hyung. – Disse ele. – Você acha que ele vai gostar de mim? – Perguntou, meio inseguro. Seu rostinho redondo estava meio corado, e seus olhos brilhavam com um medo infantil.

- Claro que vai! – Exclamei. – Por que não gostaria?

- Porque...eu sou estranho. – Murmurou, abaixando a cabeça. – Os garotos da escola disseram que eu não sou um menino por causa das minhas bonecas. O garoto novo também não vai querer ficar perto de mim.

Franzi o cenho, chateado.Aqueles garotos foram minhas primeiras brigas de rua. Eles gostavam de mexer com Tae, chamando-o de “garoto das bonecas” e provocando.

- Se o garoto novo for idiota igual e eles, a gente nunca mais fala com ele, ok? – Falei, oferecendo minha mão para ele.

Tae me olhou, e fungou, abrindo um sorriso grande.

- Ok!

No fim, TaeHyung se tornaram ótimos amigos, por serem nascidos no mesmo ano. E, mais para a frente, ser o “garoto boneco” se tornou o charme de TaeHyung, que, por sua personalidade simpática e seu rosto de porcelana, atraía multidões de amigos e todo tipo de gente.

- Oya, menino NamJoon! – Virei para onde a voz soara, e sorri ao ver JaeHwa ajumma ali. – Achei que não viria de novo.

Me virei para ela, curvando-me num cumprimento. Olhei para Tae, que ainda observava as bonecas com a cabeça longe dali. Lhe dei uma cotovelada discreta, fazendo-o me mirar emburrado.

- Ai hyung! – Sua expressão reclamona se desfez ao ver ajumma ali. Se curvou, apressado. – Eu sou Kim TaeHyung. Me desculpe, não tinha te visto.

Ela soltou uma risadinha.

- Sem problemas, querido. – Acalmou-o. – Eu sou Park JaeHwa. – Falou, se curvando de forma curta. – Você também gosta de bonecas? -Perguntou, gentil.

- Também? – Tae perguntou, após acenar com a cabeça afirmativamente.

- Sim. – Ela sorriu. – SeokJin também gostou delas. – Olhou para mim. – Onde ele está?

- Trabalhando. – Falei, suave.

- Hyung! – Fui surpreendido pelo tom repreensor de Tae. – Se você falar assim vai parecer que saímos juntos para trair o hyung enquanto ele trabalha! – Franzi o cenho pela teoria maluca de Tae, e ele se virou para JaeHwa ajumma, se curvando, afobado. – Eu sou só amigo do hyung, ok? Ele é como um irmão mais velho para mim! Eu juro que não estou interferindo no relacionamento deles dois!

JaeHwa ajumma o mirou um pouco impressionada, e então riu.

- Não se preocupe querido. – Disse, ainda rindo. – Nunca pensei algo assim de vocês. NamJoon não olha para você como olha para SeokJin.

- Como assim? – Tae arrumou a postura, confuso. Ajumma sorriu, divertida.

- Ah, ele te olha com carinho, mas é diferente. – Franzi um pouco o cenho. – Quando ele olha para SeokJin, é como se ele fosse a coisa mais preciosa do mundo. É uma visão bonita. Imagino que agora isso esteja mais intenso ainda desde quando os conheci.

Pisquei uma vez com o que ela disse tão facilmente, como se tivesse notado isso no primeiro segundo que nos vira. Provavelmente havia mesmo. Engraçado...naquela época eu ainda estava meio em negação, não? Havia tanto carinho em meu olhar assim? Há tanto tempo?

Nem havia notado que Tae estava rindo, mas quando voltei à mim, ele falava, divertido:

- Sim! Eles parecem perfeitos um para o outro, não é? – Não sabia o que eles estiveram falando, mas claramente era sobre mim e Seok. – Estou dizendo isso para o hyung há séculos.

JaeHwa ajumma sorriu, concordando.

- Querem um chá? Eu posso fazer. – Tae aceitou, sorridente, aparentemente adorando aquela velha mulher, que de velha só tinha a idade. Sua personalidade e pensamento parecia mais avançados e evoluídos que de muitos jovens que eu conhecia.

- Não vai incomodar? – Perguntei.

- Claro que não, querido. Hoje é segunda feira, o movimento é menor. – Nos conduziu para o fundo da loja. – E eu já tenho os biscoitos prontos. Sobraram vários dos que eu fiz para meu neto. Ele acabou de ir, é uma pena que não tenham se encontrado.

Acenei com a cabeça, me sentando ao lado de Tae enquanto ela se dirigia até atrás da loja e voltava em seguida com biscoitinhos caseiros e um bule de água quente.

Passamos as horas seguintes conversando com ela. Era incrível fazê-lo; ela nunca parecia se desinteressar pelo assunto, então sempre falava energeticamente, sobre qualquer tipo de assunto. Falou sobre música comigo, e em seguida sobre bonecas com Tae, mostrando uma paixão pelas pequenas figuras delicadas quase igual à dele.

TaeHyung estava vidrado nela e no que dizia, e pareceu que ia explodir de alegria quando ela perguntou se ele não queria pegar uma das bonecas da loja, de presente, quando nos levantamos para ir embora.

- Adeus garotos. Não esqueçam de vir mais vezes. – Despediu-se na frente da loja. – NamJoon, eu quero que SeokJin venha na próxima vez, ok?

- Eu vou avisá-lo. – Falei, devolvendo o aceno.

- Tchau ajumma! – Tae acenou animado com a mão que não carregava a pequena boneca ruiva vestida em azul que ele levava nos braços.

Ela sorriu e entrou na loja, fechando a porta. Olhei para Tae.

- Já decidiu um nome? – Apontei para a boneca.

- JaeHwa. – Falou, sorrindo. Eu ri nasalmente, acenando com a cabeça. – Hyung, você vai voltar para o café agora, certo? – Acenei com a cabeça. – Então eu já vou indo. – Falou, me abraçando ligeiramente.

- Por quê? – Franzi o cenho. Não era do feitio de Tae me largar tão cedo ou facilmente. Ele normalmente aproveitaria e jantaria na minha casa.

- Pra você e o Jin hyung voltarem sozinhos. – Mostrou a língua, travesso. – Já deu de vela por hoje.

- Mas a gente não fez nada.

- Quando vocês se olham eu já me sinto um intruso. – TaeHyung sorriu quadrado. – E você não tem idéia do quanto é bom não te ouvir mais negando o tempo todo, hyung.

- O quê?

- Nada. – Disse, se virando e andando em direção à estação. – Até amanhã! Eu te amo, hyung!

Franzi o cenho, mas sorri pequeno ao vê-lo se afastar. Tae era estranho e animado demais, mas era um ótimo garoto.

Coloquei as mãos nos bolsos, rumando para o café em que Jin trabalhava. O sol estava quente, mesmo que estivesse quase se pondo, mas o ar estava fresco, então o calor não era insuportável. Olhei para a mistura de cores no céu e sorri.


 

Quando cheguei ao café, os últimos raios de sol estavam dando adeus, e eu me perguntei quanto tempo havia ficado conversando com a ajumma. Entrei no café, vendo-o com várias pessoas e vários garçons, mas Jin não estava entre eles.

Varri o local com o olhar, e encontrei, sentada no balcão sorrindo para mim, Suzy. Ela me chamou com um aceno de mão, e eu me aproximei, meio confuso.

- Olá, NamJoon ssi. – Cumprimentou, e eu notei a ausência do ‘oppa’. Isso me fez relaxar um pouco. Acenei com a cabeça, cumprimentando.

-Você viu o Jin?

- Uou, direto ao ponto, né? Assim eu magôo. – Mas ela estava sorrindo. Franzi um pouco o cenho, e ela riu, apontando para o canto do balcão, onde havia uma porta. – O período dele acabou de acabar. Ele deve estar se trocando. Pode entrar se quiser.

Agradeci a ela e me encaminhei até onde ela havia apontado, parando em frente à porta que tinha “SOMENTE FUNCIONÁRIOS”, escrito em vermelho. Olhei para Suzy de forma hesitante, e ela acenou com a cabeça, sorridente.

Dei de ombros, e abri a porta. Caminhei pelo corredor pequeno. Uma porta à direita levava à cozinha e estava aberta. Fui até a que indicava “vestiários” e entrei.

Encontrei a figura magra de Jin de costas para mim, sem camisa. Prendi a respiração, e olhei ao redor, para ver se não tinha mais ninguém ali. Vazio.

Me aproximei em silêncio, sentando no banco que havia no meio do lugar, sorrindo. Jin demorou alguns segundos para se virar, esticando o braço para a camisa do uniforme, que estava à minha frente no banco.

Ao me ver ali, ele deu um pulo digno de desenhos animados, e eu ri.

- Meu deus, NamJoon! – Colocou a mão sobre o peito descoberto. – O que está fazendo aqui?

- Suzy me mandou vir aqui. – Dei de ombros, temendo que o nome fizesse Jin ficar de mau humor, mas ele apenas disse:

- Claro que disse. – Revirou os olhos, e eu sorri. Não tinha entendido, mas desde que ele não ficasse de mau humor, para mim estava ótimo.

- Vem cá, ninguém mais trabalha aqui não? – Perguntei, estranhando a ausência de outros funcionários terminando o turno.

- Eles já foram. – Jin disse, encolhendo os ombros. – Eu sempre fico por ultimo para poder me trocar em paz. – Acenei com a cabeça. Eu meio que gostara daquele hábito. Pelo menos ninguém podia vê-lo sem roupa. – O que me lembra: você pode sair? – Fez um gesto com os dedos, me dispensando.

Fiz um bico forçado.

- Eh? Por que eu não posso ficar? – Reclamei.

- Eu vou me trocar, NamJoon. – Jin me repreendeu, pegando a camisa do banco e apertando-a sobre o corpo.

- Por quê? Pode ficar assim. É bonito. – Falei, me levantando.

- Quer que eu saia pra rua assim? – Perguntou, irônico.

- Não. – Sorri de canto, me aproximando. – Mas aqui está ótimo. – Ele recuou um pouco, até tocar as portas dos pequenos armários para funcionários que tinha na parede.

- NamJoon. A gente está nos fundos da loja em que eu trabalho. Lembra disso, né? – Falou, quando eu apoiei os braços no metal atrás dele e me inclinei sobre ele.

- Lembro. – Falei, respirando perto de seu rosto. – É rapidinho, hyung. Eu não vou fazer nada demais. – Colei os lábios nos seus.

Jin demorou poucos segundos sem corresponder ao beijo, mas acabou abrindo a boca, me deixando passar.

Movi minha boca contra a dele como um sedento no deserto encontrando um oásis. A verdade? Eu estava com saudades. Não fazia sentido, mas aquelas poucas horas longe me deixaram com uma falta absurda. Eu queria ele contra mim de novo, aquela boca contra a minha de novo. Iria querer sempre, odiando qualquer distância que existisse entre nós.

Jin soltou a camisa de uma das mãos, e a levou até minha nuca, fincando suas unhas curtas sobre a pele ali. A outra foi para cima de meu ombro, apoiando o braço ali. Ele respirou fortemente, torcendo o rosto e circulando minha língua com a sua. Me pus mais sobre ele, cerrando os punhos na parede atrás dele.

Soltamos as bocas num estalo, e ele me mirou, um pouco ofegante.

- Nós realmente não devíamos fazer isso aqui. – Falou. Seus olhos contradiziam suas palavras. Pareciam querer ficar ali para sempre.

Molhei meus lábios, olhando para baixo, para seu peito desnudo, que exibia seu colar orgulhosamente.

Peguei o medalhão retangular com as sobrancelhas levemente franzidas. Eu me interessara pela presença daquilo ali antes, mas não havia prestando atenção nele de perto.

Aproximei um pouco a visão, e li o entalhe do metal:

“Nunca desista do que é importante”

Franzi de novo o cenho, olhando para ele.

- De quem você ganhou isso? – Não sabia por que, mas tinha a sensação de que aquela mensagem tinha muita historia por trás. A começar por quem a deixara.

Jin me mirou, em seguida o pingente em meus dedos, e então a mim de novo.

- Meu ex-namorado.


 


Notas Finais


Quem tava pedindo pegação? Acho que até enjoaram agora.
...ou não, do jeito que cês são.

Mas e aí gente? Quem vocês preferem? JiHyun que nem o Tae ou a Suzy? Quero saber >.<
(fotinha pra quem não sabe quem são)
SUZY: http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjImdn4rbTMAhWDEpAKHaO9AwAQjRwIBw&url=http%3A%2F%2Fwww.allkpop.com%2Farticle%2F2015%2F01%2Fmiss-as-suzy-turns-down-casting-offer-for-the-girl-who-can-see-smell&psig=AFQjCNFrXGPUAweAU060DUlQydBJhDtWtA&ust=1462036849381674
JIHYUN: http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjai5_MrrTMAhXBIpAKHXnXBZAQjRwIBw&url=http%3A%2F%2Fwww.koreadailyus.com%2Fkpop-spotlight-4minute-hate-comeback-concept-analysis%2F&bvm=bv.120853415,d.Y2I&psig=AFQjCNHu8PCtZkJfz-2wgBGr03v-lDRpmg&ust=1462037004226242

Eu? Eu prefiro a GaYoon ;P Não, ela não tá na fic, mas ela é a minha bias lienda, gostosa, cheirosa, maravilhosa, então senti necessidade de falar. (me ignorem)
~esperando as 4nia se manifestarem~

Ta...AH, LEMBREI. EU SEMPRE ESQUEÇO DE DEIXAR MEU TT AQUI.
Quem quiser: @klu1202

Bom..eu não lembro do que mais tinha que falar, mas quero me desculpar por não ter respondido os coments ainda. Eu estou com muita dificuldade de conseguir Wi-Fi. Só postar isso aqui já foi um parto.

Boom, mesmo assim, eu leio todos (pelo celular, quando consigo roubar net rapidinho. Mas eu respondo pelo PC, então...) e adoro suas opiniões e reações. Espero que continuem me dando essa força incrível.

Obrigada, amo vocês. Beijão no coração. Tomara que consiga postar rapidinho de novo o próximo.
~BEIJO PRA QUEM QUISER!


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