- NamJoon ah, você tem certeza disso? - SeokJin me perguntou nervosamente quando nos aproximávamos do terreno do lugar, que era quase minha segunda casa, de onde já se ouviam a música alta e os gritos das muitas pessoas que estavam ali. Já era relativamente tarde, cerca de 9 da noite, afinal, o parque que fôramos era do outro lado da cidade, e SeokJin havia inventado de ir comer antes de virmos para cá, "comida me acalma, e eu preciso me acalmar" ele dissera.
- Não foi você que pediu para vir a uma festa? - Dei uma risada nasal dele, mas deixei que segurasse meu braço quando ele fez isso, não parecendo se preocupar com a vergonha, como se apenas quisesse um porto seguro. Um erro, visto que ele começou a descontar seu nervosismo em minha pele, e eu já não sentia minha mão. - Não fique tão nervoso, eu vou estar com você, ninguém vai te fazer mal. - Disse, sem olhar para ele, mas tendo noção de que ele se virara para fazer isso. Seu aperto relaxou e vi com o canto dos olhos o pequeno sorriso que se desenhara em seus lábios carnudos.
SeokJin parecia ter se acalmado um pouco, mas quando nos aproximamos do portão de ferro do lugar, senti meu braço ser apertado fortemente de novo, desta vez mais próximo a mão, em meu pulso, me fazendo olhar para ele. O garoto tinha os olhos vidrados à frente e os lábios mordidos fracamente, parecia prestes a um ataque de pânico, e isso me preocupou muito mais do que gostaria de admitir. - Podemos ir embora se você quiser, eu posso te levar em casa e depois voltar. - Falei, falei sério mesmo, eu o levaria até em casa, mesmo que nunca tivesse feito isso por ninguém, eu não queria deixá-lo sozinho.
Ele me olhou agradecido, parecendo querer aceitar imediatamente, mas assim que abriu a boca, pareceu reconsiderar, franzindo o cenho em uma expressão teimosa.
⁃ Não tem problema. Eu que pedi para virmos, então vamos logo com isso. - Ele sorriu, sorriso que quase não durou em sua face branca, que logo voltou a ficar emburrada, como se ele travasse uma guerra interior. Provavelmente era isso mesmo.
Sorri com seu jeito, ele parecia tão assustado que não pude deixar de me preocupar, mas se havia algo que eu estava descobrindo sobre Kim SeokJin era que ele tinha um orgulho muito maior do que deixava transparecer. Mas não era exatamente orgulho, eu não o conhecia bem o suficiente para saber, e com ele não me atrevia a confiar nas leituras de pessoas que sempre me foram tão fáceis de fazer.
Aquele garoto era um desafio para mim, mas se me pedissem para apostar, eu diria que não era orgulho, era mais como...necessidade de provar algo.
Não disse mais nada quando caminhei até o portão, que estava fechado, batendo com a mão fechada ali.
O pedaço de ferro se abriu parcialmente, revelando o rosto de Manny nos encarar com cara de sono.
Ao me ver, o grandão fez uma careta e resmungou:
⁃ Qual é a senha?
⁃ Qual é, Manny? Eu já perguntei de onde merdas você tirou que tem senha. – Bufei, sem estar verdadeiramente irritado, meu sorriso deixava isso claro.
Ele deu de ombros. - O problema é que não tive muito controle mais cedo, e meu irmão ficou zangado e me mandou ficar aqui a noite toda. - Ele fez um bico. - Justo hoje que eu queria ficar lá dentro.
Dei uma risada, lembrando de a quanto tempo não via Jackson, o irmão mais novo, mas muito, muito mais maduro que Manny. ou não tanto. Dependia do dia e do humor de Jack. Saudades do cara.
⁃ Enfim, vai nos deixar entrar ou não?
⁃ "Nos"? Achei que estivesse sozinho. - O grandalhão abriu mais um pouco o portão como que para ver quem estava comigo, e eu senti SeokJin se mover para atrás de mim, se escondendo do gigante.
Soltei uma risada soprada, se SeokJin estava desse jeito com Manny, sabe-se lá como ele iria andar lá dentro. Talvez arranjasse uma concha pra se enfiar, era bem provável.
O grandão me encarou, com uma expressão que não consegui identificar, e deu de ombros, abrindo o portão, ficando atrás do mesmo.
Segurei o pulso de SeokJin de forma tão espontânea que depois me assustei com o ato. Mas naquele momento eu só queria que aquilo acabasse logo, sabe-se lá o que fosse. O puxei para dentro e acenei para Manny, que tivera a expressão anterior substituída por uma bastante maliciosa e irônica. Ele me olhava como todos os que me viam com SeokJin. Como se perguntassem: "cadê o senhor hétero?".
Com a mesma mão que acenara, mandei o dedo do meio para ele, fazendo apenas com que ele risse de minha cara, aliviando a expressão e juntando o indicador e o polegar, fazendo um círculo com eles, formando um sinal de "perfeito" enquanto apontava para as pernas de SeokJin.
Fiz uma careta, não apenas pela brincadeira dele, mas pelo fato de que eu havia mesmo me irritado com o fato de Manny ter olhado para as pernas de SeokJin. Quase tirei meu blazer para pendurar na cintura dele naquela hora, mas me segurei.
Atravessamos o pátio de concreto, que agora tinha umas poucas pessoas, e nos aproximamos cada vez mais do RaveLux, que parecia vibrar por dentro. Senti SeokJin ficar tenso novamente, isso se ele tivesse relaxado em algum momento.
Olhei para ele, com um sorriso meio formado, preparado para tirar com a cara dele por estar tão nervoso, mas quando vi sua expressão, qualquer sombra de risada sumiu. Ele mordia os lábios tão fortemente que parecia que iriam se romper, seus punhos estavam cerrados e os olhos, semicerrados, se combinavam com as sobrancelhas contraídas numa expressão de puro nervosismo.
Soltei minha mão de seu pulso e passei-a por suas costas e ombros, num singelo carinho de confiança. Ele olhou para mim. Parecia prestes a chorar.
⁃ Por que você está tão nervoso? - Perguntei, ainda com a mão apoiada em seu ombro. - Se está tão mal assim, podemos ir embora. Afinal, isso é pra você se divertir, não tem sentido se você estiver tão inquieto.
Ele me encarou por um tempo, como se considerasse minhas palavras, logo abaixando o olhar e negando com a cabeça fortemente.
⁃ Eu vou fazer isso. - Ele respirou profundamente, logo levantado o rosto e sorrindo para mim. Um sorriso fraco, mas verdadeiro. Capaz de que se ele viesse me dizer que Deus existe com esse sorriso, eu virasse testemunha de Jeová.
Fiquei desconcentrado por um tempo, mas logo sorri e empurrei levemente suas costas até a porta de madeira à nossa frente. Quando abri-a, a música e as luzes explodiram em nossos olhos como uma tempestade. O som alto era algo normal, mas demorava para se acostumar, e as luzes, colocadas com esse objetivo, dificultavam a visão de me irritando, mas de certa forma confortável, como se estivéssemos em outro mundo. A névoa que saía das máquinas dos cantos do recinto era gelada e tinha um cheiro suspeito, como o da maioria das boates, nos dando uma sensação de calafrio gostoso e vontade de sair correndo para a pista.
Olhei para SeokJin, ainda sem conseguir ver muita coisa pelo choque luminoso, e notei que ele tinha os olhos fechados bem apertado, com a boca torcida numa careta. Dei uma risada, fazendo com que ele se virasse para mim, me olhado confuso.
⁃ Onde quer ir primeiro? - Perguntei/gritei pra ele, achando graça da forma que olhava tudo a seu redor com admiração. Ele se virou em minha direção novamente e encolheu os ombros, como se não soubesse o que me responder. - Venha. - Disse num sorriso, agora que penso nisso, eu estava sempre sorrindo quando aquele garoto estava ao meu lado. Puxei-o até o bar, sentando ali sem pedir nada. SeokJin me olhou com estranhamento, como se perguntasse por que estávamos ali. - É o melhor lugar para se começar a curtir uma festa. - Respondi, meio que gritando, para que ele me entendesse. - Eu, particularmente não gosto muito de beber, porque acabo exagerando e, bem, você já me viu de ressaca. - Ele forçou uma cara séria e acenou com a cabeça, ocasionando uma risadinha minha. - Mas eu sugiro que você beba um pouquinho, sabe, pra se soltar. - Completei, chamando o barman, e me surpreendendo ao ver que não era o cara aleatório que sempre estava lá, mas Jackson, sorrindo para mim.
⁃ Quanto tempo, Mon! - Ele se debruçou sobre o balcão e me abraçou de forma meio desajeitada. - Olá, companhia do Mon que eu não sei o nome! - Ele sorriu, abraçando SeokJin também, fazendo com que o mesmo se assustasse. Jack era assim, tinha a mania impulsiva de sair abraçando todo mundo, mesmo os que não conhecia.
⁃ Jack, esse é SeokJin, ele é da minha sala. SeokJin, esse é Jackson, o irmão baixinho e assustador do Manny, um dos fundadores desse lugar. - Apresentei-os, vendo SeokJin curvar timidamente a cabeça e Jack me olhar feio por ter o chamado de baixinho, logo sorrindo calorosamente para SeokJin.
⁃ E o que vão querer? - Ele se desapoiou do balcão, cujo qual estava debruçado, assumindo a pose de profissional novamente.
⁃ Eu vou começar com cerveja. - Comentei. - Pra ele, batida de morango. - Apontei para SeokJin, que olhava as pessoas que passavam curiosamente, sem ligar para o a conversa.
Jackson deu uma risadinha ao ver SeoJin se assustar quando uma garota chegou nele e começou a dançar no ritmo da música, com a barriga de fora e as pernas expostas por uma minissaia, a garota poderia ser considerada uma verdadeira modelo: alta, com os cabelos tingidos de ruivo e rosa, claramente se oferecendo ao garoto.
Ele parecia tão assustado e sem saber o que fazer que comecei a rir, acompanhado de Jack, ambos rindo baixinho, sacudindo os ombros enquanto tentávamos não fazer escândalo e assustar a garota, que agora era acompanhada por duas amigas, todas comendo SeokJin com os olhos. Senti uma pontada ao vê-lo rodeado de tantas pessoas com más intenções, mas ignorei, eu não tinha nada a ver com isso.
SeokJin falava algo para a garota, com a cabeça baixa, ainda um tanto assustado. A garota sorriu maliciosamente e acenou com a cabeça, indo embora, arrastando as duas amigas com ela.
Ele se virou para o balcão de novo, se assustado quando Jackson lhe passou um copo grande com batida de vodka e morango.
⁃ O que é isso? - Ele me olhou inocentemente.
⁃ Suco de morango. - Respondi, vendo que Jack segurava a risada.
Os olhos de SeokJin se iluminaram, e ele pegou o copo, sugando com vontade pelo canudo da bebida.
O olhamos curiosamente, tentando ver sua reação ao gosto amargo e queimante da vodka, mas ele apenas fez uma careta, continuando a beber rapidamente.
Olhei para Jackson interrogativamente com uma sobrancelha levantada, era impossível alguém que nunca havia bebido não estranhar o álcool das bebidas, mesmo que fosse uma batida de frutas.
Jackson deu de ombros, abrindo um sorriso divertido depois.
⁃ Acho que exagerei no morango e maneirei na vodka. - Disse, sem parecer se importar, mas eu sabia que ele havia feito de propósito.
Acenei com a cabeça, olhando para SeokJin, que bebia o conteúdo do copo alegremente, sem notar meu olhar. Suspirei, não sabia como fazê-lo aproveitar aquilo sem deixá-lo, bem, bêbado, e eu me sentia meio culpado em enfiar a cabeça do garoto no álcool, principalmente porque já haviam feito isso com ele uma vez, e não fora o melhor jeito de apresentá-lo ao mundo.
Ouvi uma risadinha ao meu lado, e olhei para Jackson, que me encarava com um meio sorriso no rosto. Levantei a sobrancelha, questionando-o, e ele apenas balançou a cabeça negativamente, ainda sorrindo. Contraí as sobrancelhas, mas dei de ombros, voltando a olhar para SeokJin que terminava a batida e agora comia o morango que fora colocado na boca do copo como enfeite.
Ele terminou o conteúdo do copo e me encarou esperançoso. Dei uma risada nasal e peguei o copo, mandando-o a Jack, pedindo mais um e movendo meus lábios para o moreno: “mais vodka”. O chinês deu uma risada e acenou com a cabeça, pegando o copo e se virando para preparar mais do “suco” de SeokJin.
Olhei para a pista e notei duas silhuetas conhecidas começando a dançar.
Ótimo, baleia e cavalo estão aqui. Não me preocupei em ir até eles, Suga não havia me dito o que exatamente eu tinha que fazer, então ficaria quieto até que recebesse minha próxima ordem. Deitei a cabeça no balcão e encarei SeokJin que devorava outra bebida na velocidade da luz, sem parecer se preocupar com nada.
Assim se seguiu por mais uns vinte minutos, e eu estava começando a me preocupar com SeokJin que estava ficando alegrinho demais. Tudo bem que isso era o que eu queria, mas aquela criatura estava se mostrando muito mais tendenciosa ao alcoolismo do que eu jamais haveria imaginado, me fazendo olhá-lo o tempo todo, tentando parar o fluxo com que bebia. Se continuássemos assim, ele ia cair bêbado antes da meia noite.
As pessoas continuavam chegando aos poucos, mas eu sabia que depois da meia noite iria ser difícil até mesmo andar ali. Mesmo que eu nunca fosse admitir isso para ninguém, eu havia levado SeokJin tão cedo não apenas pelo chamado de Suga (quem por sinal, eu não havia visto ainda), mas principalmente porque tinha a esperança de tirá-lo dali antes que a verdadeira festa começasse. Não o queria misturado a todas aquelas pessoas. Com seu rostinho bonito e inocente, SeokJin se fazia uma presa absurdamente fácil aos olhos famintos do bando de arrombados ninfomaníacos dali. Esse pensamento me lembrou de algo que eu havia estranhado mais cedo, me fazendo me curvar para mais perto do garoto, ficando próximo de seu ouvido para que me escutasse.
- O que você disse à garota? – Senti ele se arrepiar quando minha respiração bateu em seu pescoço, se virando para me olhar confuso, com o olhar meio vago que o álcool nos rende. – Aquela que veio se oferecer pra você, você disse algo e ela foi embora sem problemas. O que você disse? – Eu nunca havia visto uma garota, principalmente uma daquele...porte, desistir tão fácil do jantar.
Ele me encarou por mais alguns segundos, curvando a cabeça para o lado enquanto me encarava curioso. Parecia tentar decidir se eu existia mesmo, e se sim, quem eu era. Depois deu um sorrisinho, colocando o indicador sobre os lábios.
- É segredo. – Disse, dando risadinhas bobas.
Bufei, eu não tinha muita paciência com os “alegrinhos”, mas não deixaria SeokJin na mão, então apenas me virei para o balcão novamente, quase pedindo algo um pouco mais forte para Jack, mas sendo interrompido por uma garota que se jogava encima do chinês, alegando que tudo o que ela queria era ele, quando este lhe perguntava o que desejava beber. Jackson, diferente de qualquer desinteressado, não tratava a garota de forma grosseira, apenas sorria e pedia que ela saísse de cima do balcão e não o interrompesse quando fosse atender os clientes que realmente pediriam algo.
- Mas eu pedi algo, Jackson! – A garota bateu a mão no balcão, derrubando um copo de bebida que havia sido abandonado ali. – Você não está sendo um bom atendente! Eu pedi algo e quero receber! – Os gritos da garota atraíram os olhares dos que estavam por perto, mas meu amigo, agindo de forma absurdamente madura para a situação (se fosse eu, já estaria socando a cara daquela garota), apenas sorriu gentilmente antes de responder.
- Eu não posso te dar algo que já tem dono, HyeRin, por favor pare de gritar, está incomodando o pessoal.
A garota abriu e fechou a boca como um peixe ao ouvir a resposta de Jackson, os olhos arregalados enquanto tentava processar o fora.
Eu, como muitos que estavam por perto, apenas segurávamos a risada da cara de idiota que a garota possuía no momento, mas não nos atrevíamos a interromper a batalha de olhares que acontecia: Jackson sorria serenamente, seus olhos alegres e gentis escondiam muito bem a ironia que eu sabia existir neles. A garota, por sua vez, substituíra a expressão de confusão por uma raivosa, que perfurava Jackson como flechas.
- Como assim “dono”?! – A garota gritou, parecia dividida entre chorar e dar um soco na cara do moreno, que apenas tirou o boné, colocou o cabelo para trás e pôs o boné novamente, um gesto inconsciente que mostrava o quanto aquilo o estava incomodando.
- Isso mesmo que você ouviu. – Ele levantou o olhar para a bela garota novamente, encarando-a com olhos gentis, apesar de não estar mais sorrindo. – Pare de fazer tanto escândalo, está incomodando as pessoas. – Suspirou, e quando notou que a garota voltaria a gritar, saiu do bar, chamando um garoto da equipe para cuidar das coisas, puxando-a pela mão e pedindo desculpas aos que haviam presenciado a ceninha.
Encarei-os sumindo até lá fora, não deixando de notar o quanto Jackson parecera chateado. Eu queria sinceramente mandar aquela garota calar a boca, mas antes que eu fizesse qualquer besteira de inventar de segui-los, notei duas pessoas que entravam no galpão.
Olhei para SeokJin, que se divertida fazendo um morango conversar com outro, chamando-os de “ajumma” e “ajushi” e rindo da dublagem que fazia dos bonecos. Sorri, soltando uma meia risada soprada, ele parecia uma verdadeira criança e eu agradecia que fosse o tipo de bêbado mais quietinho, e mesmo que ainda não estivesse com tanto álcool no sangue, já havia bebido bastante para alguém que nunca fazia isso.
Notei com alívio que, graças à brincadeira, ele não prestava muita atenção no que acontecia ao seu redor, então desviei novamente meu olhar para o ponto onde havia visto as duas criaturas. Encontrei-os perto da pista, se aproximando da muvuca maior que ali havia. Muvuca que tinha, para a infelicidade da missão de TaeHyung, como centro, um JiMin suado dançando como se não tivesse amanhã em meio a todos os tipos de pessoas, todas caídas e embebedadas nos encantos do baixinho que a tanto tempo não dava as caras.
Tae nem teve o que dizer quando o garoto que o acompanhava fechou a cara e bateu o pé até sair dali, vindo, olhe que ironia! Ao bar, e se sentando ao meu lado.
O garoto parecia tão chateado que sequer olhou para mim ao sentar, torcendo os lábios de forma raivosa, abaixando a cabeça enquanto cerrava fortemente os punhos.
Olhei para trás, para a pista, onde Hope falava comum TaeHyung afobado. HoSeok acariciava os cabelos do namorado de forma calma, ouvindo tudo o que o garoto de feições de elfo tinha a dizer, murmurando coisas que nem em sonho eu saberia o que eram. Os dois parados ali no meio da confusão de luzes, sons e corpos me deu uma sensação estranha, mas dei de ombros, voltando a encarar JungKook, que pedia algo ao garoto substituto de Jack, que não havia dado as caras ainda.
Quando ouvi o “o mais forte que você tiver” saindo da boca de JungKook, suspirei, eu não estava acreditando que seria babá de duas crianças que nunca haviam bebido uma gota de álcool na vida.
SeokJin, que ainda brincava com seus morangos, não notara o amigo ali, e eu agradeci por isso. Sabe-se lá do que um Kim SeokJin bêbado é capaz.
Voltando minha atenção para Jeon novamente, notei que ele recebera sua bebida, e estava virando tudo de uma vez na boca. Bem, ele teria feito isso, se eu não o tivesse impedido. Colocando o dedo sobre a boca do copo, abaixei-o gentilmente, ouvindo-o se chocar sobre a mesa sem estragos. JungKook virou a cabeça numa expressão irritada, como se fosse gritar comigo por interrompê-lo, mas se calou antes de começar a falar ao me ver. Sorri amigavelmente e fiz um gesto com a mão, cumprimentando-o.
Ele manteve a expressão de confusão por alguns, logo soltando uma risada soprada e abaixando a cabeça, balançando-a em sentido negativo. Não entendi sua ação, e me limitei a encará-lo confusamente.
- Eu devia ter imaginado. – Ele disse, virando para mim, ainda com um sorriso sem humor no rosto. – Toda a turminha de vocês está metida nisso? Estão tentando esfregar na minha cara o quanto JiMin está bem sem mim? – Ele deu um gole, dessa vez humanamente saudável, na bebida. – Eu não preciso disso pra me sentir mal, ok?
Observei-o levando o copo à boca novamente. Sua expressão era amarga, e agora que o via direito, toda aquela raiva em seu olhar era na realidade tristeza, comprimida em lágrimas que ele se negava a derramar.
- Eu não sabia que iriam te trazer aqui. – Disse. Era verdade, afinal de contas. Quer dizer, eu havia imaginado, afinal Suga me mandara ali para o plano começar, mas JungKook não precisava saber disso.
- Sei. – O garoto sorriu soprado, ironicamente, sem olhar para mim, mexendo o conteúdo do copo enquanto balançava o mesmo em círculos.
- É a verdade. – Eu, inesperadamente não estava com raiva do garoto naquele momento. Acho que a forma como parecera machucado ao ver JiMin ali, me tocara. Por um momento eu fiquei com raiva de meu amigo por ser tão descuidado e não tê-lo notado ali, mas era compreensível. Sem contar que o JungKook que ele conhecia nunca iria a um lugar como o Lux. – Veja, eu sei que Tae provavelmente te arrastou até aqui, mas eu não tenho nada a ver, já tenho uma criança para cuidar.
Ele me olhou interrogativo, e eu me limitei sorrir, escondendo discretamente SeokJin com meu corpo.
- Uma criança?
- Sim. – Acenei com a cabeça, chamando o garoto do bar e pedindo uma batida como a de SeokJin, mas de limão. Eu estava de saco cheio de cerveja, e já estava vendo que eu provavelmente seria o que teria que ficar lúcido até o fim da noite. Eu nem em sonho ficaria bêbado para me arriscar a deixar aquele retardado, que agora brincava com pequenos copos de bebida junto de seus morangos (que por sinal haviam aumentado sua população a medida que SeokJin matava um copo atrás do outro de bebida), murmurando coisas que para mim não faziam mais sentido nenhum, sozinho por sua própria conta e risco.
JungKook parecera inclinado a me perguntar algo, mas antes que o som saísse de sua boca, foi interrompido pelos braços que rodearam meu pescoço, junto do choramingo do dono dos braços:
- Nammieeeee... – Ele resmungou choramingando, apertando meu pescoço de forma bastante desconfortável. Peraí, “Nammie”? – Eu comi a ajumma! – Com voz enrolada e repleta de manha, chorava pelo morango perdido.
- Seok... Eu não consigo respirar. - Ignorei o olhar incrédulo de JungKook ao ver o amigo daquele jeito e segurei os braços de SeokJin que envolviam meu pescoço, diminuindo o aperto. Ele entendeu e passou a apertar fracamente, fazendo um bico com o queixo apoiado em meu ombro, ainda chorando. – Você comeu a ajumma? – Ele acenou com a cabeça, chateado como uma criança que deixara o sorvete cair na calçada. – Por que fez isso?
- Po-porque ela estava muito gorda, então eu resolvi deixá-la mais magra, mas ela era muito gostosa, e eu comi ela inteira! – Ele falava manhosamente, com a voz tremida pelo choro, fazendo um gesto com os braços, que estavam antes pendurados sobre meus ombros, mostrando que havia a comido por inteiro.
Eu normalmente ficaria sem paciência para esse tipo de bobeira ocasionada pelo álcool, mas ver SeokJin daquele jeito apenas me rendeu risadas. Comecei a acariciar o cabelo dele com a mão do mesmo ombro em que ele estava apoiado, fazendo com que ele quase ronronasse.
Eu havia esquecido da presença de Jeon ali, até que o ouvi limpar a garganta, nos interrompendo propositalmente. Esqueça o que eu disse, odeio esse garoto. Olhei para ele com uma ligeira careta, mas SeokJin deu um gritinho (nada másculo, diga-se de passagem) ao ver JungKook ali.
- Gukki ah. – Ele disse, quase gritando, se apoiando mais fortemente em mim, fazendo com que eu fosse obrigado a me curvar um pouco. – O que faz aqui? – Sua voz ainda tinha o ar de brincadeira, mas ele parecia preocupado, de uma forma infantil e inocente, mas preocupado.
- Então foi por isso que me deixou sozinho hoje? – Ele respondeu depois de um tempo encarando o maior com a expressão perplexa. Ele riu novamente daquele jeito irritante, balançando a cabeça e agindo como se sua vida fosse uma ironia. – Pra sair com o maior babaca da história da Terra? O cara que sempre me tratou mal, que sempre te tratou como lixo?! – Ele se exaltou, e eu senti SeokJin se encolher sobre mim, gemendo baixinho de medo. – Hein? Até você, Seok hyung?! – JungKook se levantou, irritado, perfurando o garoto, que agora me segurava como se eu fosse sua única saída, como se nunca mais fosse soltar. – Por que todos os que me pertencem são roubados? – Ele parecia falar mais consigo mesmo agora, as lágrimas começavam a escapar. Eu estava quase me aproximando mais um pouco para tentar acalmar o moreno, mas recuei quando ele repentinamente levantou a cabeça, me encarando raivoso. – Você. – Eu torci minha expressão em confusão, mas nem tive tempo para pensar antes de ele voltar a gritar. – Você encheu a cabeça de JiMin de merda e fez ele terminar comigo, e agora quer me tirar meu único amigo. – JungKook cerrou os dentes e o punho, dirigindo esse segundo em direção ao meu rosto.
Desviei facilmente do golpe, apesar de SeokJin estar fazendo peso sobre mim. Olhei para o garoto que, se possível, me olhava com mais raiva ainda, se preparava para tentar me acertar de novo. Desviei novamente, apenas virando a cabeça, e foi quando ele notou que eu não conseguiria fugir se ele me acertasse pelo outro lado, onde por sinal estava o rosto choroso de SeokJin, mas JungKook parecia ter esquecido disso, já que nem piscou quando, depois de eu desviar um soco seu, levou o outro punho para meu rosto, que encostava no do moreno em meu ombro.
Eu poderia apenas ter desviado novamente, mas se tirasse o rosto dali, ele acertaria SeokJin, e aquilo eu não deixaria acontecer. Eu tirei, sim, meu rosto de sua área de dano, mas ao mesmo tempo levantei a mão, segurando o punho do garoto a alguns centímetros do rosto da criança que chorava baixinho em meu ombro, alheio ao que o amigo quase havia feito.
Não precisei de muita força para segurar o soco de JungKook, já que ele mesmo não a tinha, mas o encarei duramente enquanto ele tentava processar o que havia acontecido e tratava de soltar sua mão do meu aperto.
- É assim que trata seus queridos amigos? – Disse, mantendo a voz baixa, mas o mais envenenada possível. – Estava chorando pelo carinho dele e agora não se importa em socá-lo?
- Ele me traiu. – Ele cuspiu as palavras. – Ele caiu no seu papo, como JiMin, não tem problema se ele pagar por isso.
Cerrei a mandíbula, me segurando para não socar eu mesmo aquele garoto.
- Ele nunca te traiu. – Senti a mão de SeokJin segurar meu ombro, como se pedisse para eu me acalmar. – Ele ficou me enchendo o saco a tarde toda porque queria ir te ajudar, mas eu o impedi. Agora vejo que eu estava certo. – Semicerrei os olhos, encarando o garoto a minha frente com toda a intensidade. – Alguém podre como você não merece nem metade da preocupação e do carinho que SeokJin tem com você. – Cuspi as palavras da mesma forma que ele havia feito, deixando-o estático, com as lágrimas rolando livremente sobre sua face.
- Parem... – Ouvi a voz delicada de SeokJin em minha orelha. – Por favor, não briguem. Eu não quero que briguem. – Ele começou a chorar baixinho de novo, e eu encarei JungKook com o cenho franzido enquanto passava novamente a mão sobre o cabelo de SeokJin. O narigudo fez uma careta, mas acenou com a cabeça, se sentando novamente.
Ficamos ali, sem dizer nada, por alguns minutos, apenas com SeokJin cantarolando, por algum motivo, “noite feliz”, com sua voz melodiosa se chocando em meu pescoço, me dando arrepios. Jeon o encarava com um meio sorriso nos lábios, parecendo ter esquecido que estava zangado com aquela criatura. Esse era, provavelmente, um dom: eu, que não o agüentava por perto, com o menor contato simpatizei de forma absurda com ele, e JungKook, o senhor ninguém-me-quer-e-eu-não-vou-predoar-ninguém, já esquecera da suposta “traição” do amigo.
- Se acalmou? – Perguntei, tirando a mistura do que quer que fosse de perto dele e oferecendo minha batida de limão, aquele garoto não podia beber mais daquilo, ia acabar entrando em coma alcoólica. Jeon acenou com a cabeça fracamente, parecendo feliz com a nova bebida. – Mais fácil de engolir, hm? – Disse, segurando uma risada quando ele acenou com a cabeça de forma infantil. O observei beber mais um pouco, e ele me encarou de volta, com um sorriso envergonhado. Eu ia falar algo para ele, mas tive meu rosto pego com certa brutalidade e virado para o lado oposto.
- Nammie! – A voz, que tinha um timbre infantil nela, vinha dos lábios vermelhos de SeokJin. – Aqui! Ahh... – Ele disse, levando um morango até minha boca. Antes que ele enfiasse aquela coisa em meus lábios, fechei-os com força, virando o rosto. – Vamos, coma! – Ele choramingou novamente, tentando colocar a fruta em minha boca. Desviei mais algumas vezes, mas ele continuava insistindo.
- Pare! – Segurei seu pulso, evitando que ele avançasse com o morango. – Não fique tentando colocar coisas em minha boca. Ele abaixou a cabeça tristemente com a aspereza com que minhas palavras saíram, soluçando. Suspirei, fechando os olhos por um momento para me acalmar. – Ei, desculpe, é que eu não gosto do sabor do morango.
- Por que não? – Ele levantou o rosto molhado pelas lágrimas, me olhando com aquela carinha de criança curiosa.
- Não sei. – Dei de ombros. – Mas veja pelo lado bom, assim sobra mais pra você.
Ele abriu a boca, os olhos brilhando como se eu tivesse lhe dado a notícia de que o natal era hoje, acenou com a cabeça rapidamente, voltando sua atenção ao morangos que estavam na bancada.
Voltei à minha posição anterior, encarando JungKook novamente, que sorria ternamente para a cena, mas logo seu semblante foi invadido pela expressão de tristeza de novo, e ele começou a chorar como um bebê.
- Ei, ei, o que foi? – Me mantive onde estava, com medo de despertar a fúria do menor se tentasse tocá-lo.
Ele fungou antes de me encarar.
- Vocês parecem tão fofos juntos, isso me fez lembrar que eu estou sozinho e que meu namorado está lá, tirando lasquinha de meio mundo. – Ele voltou a chorar, apontando para a pista de dança, onde, realmente, todos tiravam umas lasquinhas de JiMin.
- Bem, tecnicamente, ele não é mais seu namorado. – Comentei, fazendo com que ele apenas chorasse mais. – Ok, ok, olhe. – Segurei seu ombro, forçando-o a me olhar. – Chorar não vai te ajudar. Se quer seu namorado de volta, levante essa bunda daí e faça alguma coisa! Você é um homem ou um rato?
- Um rato... – Ele choramingou, e eu revirei os olhos, começando a rir e levando-o junto comigo. Logo, estávamos os dois gargalhando sem motivo aparente, sendo drasticamente ignorados por SeokJin, que comia seus morangos, se despedindo corretamente de cada um antes de colocá-los na boca. Fomos nos acalmando e paramos, sorrindo um para o outro, ofegantes. – Ok, você tem razão, eu não posso ficar parado aqui. Tenho que fazer alguma coisa.
- Fazer o que sobre o quê? – Ouvi uma voz familiar atrás de mim e me virei para o balcão do bar, encontrando um Jackson sorridente atrás desse.
- Jack! – Sorri. – Resolveu as coisas com a senhorita?
- Resolvi. – Ele deu uma risada de minha expressão maliciosa. – Dei um belo fora nela, aí ela me bateu e saiu correndo, jurando que eu ia me arrepender. – Deu de ombros, sem parecer preocupado com aquilo.
- Mas por que jogou essa fora? Ela era gostosa pra caralho.
- Eu disse. – Ele deu uma piscadela sacana. – Não se vende produto que tem dono.
- Quero conhecer esse dono qualquer dia. – Devolvi a piscadela, erguendo o punho fechado para que ele me cumprimentasse.
- Pode deixar. – Ele deu uma risada, dando um soco em meu punho fechado. – Mas o senhor está cheio de belas companhias, não? – Olhou curiosamente para JungKook, que nos encarava meio perdido.
- Tira o olho, esse é do JiMin.
- Ahh... – Jackson olhou JungKook de cima a baixo, dando um assobio baixo. – Agora entendi por que a baleia gostosa largou os parça. – Deu uma risada gostosa, digna de Jackson, fazendo com que Jeon se encolhesse, envergonhado. – Mas o que você ia fazer, belezinha?
- Ia lá recuperar a posse. – Apontei com o queixo na direção em que JiMin dançava quase se fundindo às pessoas ao seu redor, antes que JungKook abrisse a boca.
Jackson deu uma risada alta, olhando para o moreno, um pouco mais alto que si, sentado, olhando de forma nervosa para a bagunça à sua frente.
- Bem, vai precisar de um encorajamento pra isso. – Se virou, enchendo um copo com algo que eu não reconheci. – Nada como uma boa dose. – Completou, mandando o copo até o mais novo.
- O que tem aqui? – JungKook olhou para o copo, hesitante.
- Melhor beber e depois descobrir. – Jackson deu uma piscadela.
JungKook quase levou a bebida aos lábios, quando um corpo grande se chocou ao seu. Olhei para o brutamontes e dei de cara com um cara alto, provavelmente alguns centímetros mais alto que eu, com feições nada coreanas com seus olhos azuis e suas cabelos loiros.
- Com licença. – Ele chamou Jackson, com o coreano embolado. – Eu quero duas de sua melhor bebida. – Disse, todo sorridente.
Jack acenou com a cabeça e serviu dois grandes copos com um líquido avermelhado que fora produto da mistura de um monte de coisa, nem imaginei o gosto daquilo, mas parecia forte.
O cara pegou os copos com a felicidade vazando-lhe os poros, e se dirigiu à pista. Todos (menos SeokJin) seguimos a figura com o olhar, vendo-o se aproximar da figura de JiMin, que ainda dançava, já parecendo alterado pelo álcool. Observamos um tanto boquiabertos enquanto o cara dava um dos copos para nosso amigo e se esfregava de forma nada discreta em Park, apertando seu corpo e beijando seu pescoço, sem receber negação de JiMin.
Eu nem sequer havia processado direito o que havia acontecido quando vi JungKook virar a bebida de seu copo de uma vez e se dirigir a passos duros até a pista.
Cabeças vão rolar. Foi bom te conhecer, JiMin.
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