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História Depois da Crise. - Tic-Tac


Escrita por: Kitsune_Strife

Notas do Autor


Oi gente, quanto tempo. É muito tempo. Mas como eu disse, eu não iria parar e nem abandonar a fic. Minha vida está começando a normalizar de novo e com isso consegui escrever mais um capítulo. Havia dito que seria o ultimo, mas sabe como é?! Eu tentei, mas achei que ficaria muito grande, por isso resolvi dividir. Espero que ainda tenha alguém por aí e que gostem desse capítulo tenso e um tanto melancólico. Um beijo grande a todos!!! Sentam-se abraçados assim como eu me senti com o poio de vcs.

Beijo enorme e boa leitura!!!

Capítulo 4 - Tic-Tac


Fanfic / Fanfiction Depois da Crise. - Tic-Tac

Pelo canto dos olhos Kyoko observou Aiolos caminhar para fora da casa de Sagitário, e mesmo quando ele já havia sumido de suas vistas a risada animada de Heitor lhe arrancou um sorriso também de canto. Keiko gargalhou, cruzando os braços e se aproximando.

- Só você mesma, Kyoko. – a mais velha suspirou.

- Humanos...confesso que essa situação me surpreendeu. Aiolos parecia tão...apaixonado. Pelo menos é do que me lembro. A cara de idiota dele quando te conheceu ficou bem gravada nas minhas memórias. – disse Kyoko perplexa. O semblante sério deixava a situação um tanto engraçada.

- Ah, Kyoko! Por favor! Não exagere. O Aiolos me ama e ao Heitor também. Ele só... está um pouco confuso.

- Um pouco?! – ironizou erguendo uma sobrancelha.

- Sim, maninha. Um pouco.

Keiko sorriu começando a caminhar de volta a árvore e se sentando. Seu sorriso se alargou pelas memórias do dia que viu Aiolos a primeira vez. Pensar que haviam passado por toda aquela Guerra só a fazia ter mais certeza do amor do cavaleiro. A mais nova voltou seus olhos a irmã e seu semblante se entristeceu. Kyoko ainda estava de pé mantendo os olhos perdidos no jardim que findava a beira de um penhasco. Keiko conhecia bem a irmã que possuía e por isso só de olhar sabia que Kyoko não estava bem.

- Kyoko?!

A kitsune mais velha moveu os olhos de um lado pro outro como se procurasse algo, mas logo parando em Keiko. Um sorriso de lado foi o disfarce que ela tentou usar, mas sabia ter deslizado feio com quem nunca acreditaria na frase mais mentirosa do mundo: “sim, eu estou bem.”

- Você não consegue esquecer, não é?! – indagou a mais nova, preocupada.

Kyoko forçou um sorriso irônico voltando a olhar o horizonte, os pensamentos perdidos na memória doloridas e que se esforçava a não se deixar abalar mais.

- Não, eu não consigo. Toda vez que eu olhar pra ele, eu vou me lembrar. – fez uma pausa. – Tudo que ele passou poderia ter sido evitado se eu não fosse tão egoísta. Saga...o tempo...não posso mudar o tempo...

- Você não tem que se culpar, não foi você quem fez todas aquelas coisas horríveis...

- Mas foi por minha causa que elas aconteceram e ainda irão acontecer. Minhas escolhas egoístas me mantiveram viva as custas da vida de outros. – fez uma pausa, sorrindo triste e olhando a irmã por cima dos ombros. – E eu decidi...decidi que esse ciclo vicioso já passou da hora de chegar ao seu fim.

Keiko se sobressaltou ficando de pé e indo até a mais velha, a rodeando até ficar cara a cara.

- Está bem. Agora você está começando a me deixa assustada de verdade.

A mais velha voltou a observar o jardim e as pequenas flores do campo que abraçavam o vento.

- Não se preocupe, eu não vou me matar se é isso que a preocupa. Eu amo Saga do fundo do meu coração, mas amo mais ainda o fato do filho dele está no meu ventre. Quero fazê-lo feliz em cada segundo que ele respirar. – completou a mais velha começando a caminhar.

Keiko ficou observando a irmã sair, sentindo uma dor aguda no peito pensando naquelas palavras. A irmã era tão cheia de segredos que era impossível deixar de pensar que algo de ruim ainda estava por vir. O tempo... aquela palavra vinda da boca de Kyoko e que a mais nova entendia muito bem a fez engoliu em seco apertando a mão em punho por conta da preocupação enquanto de longe Kyoko sumia pela Casa de Sagitário.

E enquanto caminhava a kitsune branca refletia. Não queria e nem iria admitir; estava com medo.

- Quer saber?! Eu não acredito que você vai ter coragem.

Kyoko continuou caminhando em silêncio, tentando ignorar a voz mais do que familiar a soar em sua mente.  

- Você é uma egoísta mesmo, por isso eu gostei tanto de você. Você já parou pra pensar em como seu “amado” Saga vai se sentir quando descobrir mais uma de suas mentiras? Quando ele descobrir que você foi capaz até mesmo de colocar a vida do filho dele em risco – mesmo você tendo acabado de dizer que o ama – pra se “proteger” mais uma vez? Eu acho que dessa vez ele vai te chutar pra bemmmm longe. – riu.

- Ele vai superar, até porque...Saga é muito diferente de você. – rebateu sem perder a frieza. O outro riu sarcástico.

- Será?! Ahhhh Kyoko. Você é igualzinha a mim. Você não presta. Só pensa em si mesma. Egoísta. Tão... egoísta...que os sentimentos do Saga não fazem a menor diferença pra você tomar uma decisão.

Kyoko parou, olhando nos olhos cor de sangue que mirava os seus com malícia e desprezo. O único detalhe que os diferenciava e que ela agradecia aos deuses por isso. Seu estômago se revirou conforme o suor frio causado por aquelas palavras descia pela espinha.

- Você não é nada. Saga é tudo que você nunca será. Não importa onde e quando, você não é nada.

O outro abriu mais o sorriso, gostando muito do tom e da leve tremulação na voz bonita da kitsune; um sinal claro do toque no ponto nevrálgico.

- Isso não vai mudar nada entre nós, você sabe, não sabe? Afinal...tudo tem seu preço. – volveu, erguendo a mão e tocando de leve o queixo de Kyoko.

- E quem disse que eu estou fazendo isso por sua causa? Você é só...o remanescente de um deus que não tem mais nada. Uma voz perdida na minha cabeça tentando sobrepujar a voz da minha própria coincidência.

Kyoko rebateu, voltando a andar, atravessando a figura que imitava Saga de propósito. Logo ele voltou a reaparecer ao seu lado, caminhando e a observando com ironia, disparando uma gargalhada alta.

- HIHIHIHEHEHAHAHAH... Você vai...mesmo tentar ferrar com ele? É isso? – parou.

- Interprete como você quiser, falso deus. – respondeu fria.

- Você... cada vez me orgulha mais!! Vai matar dois coelhos de uma só vez: a mãe e o filho.  Hihihihehehahaha...o “pobre” Cavaleiro de Gêmeos nunca vai superar...Você é a desgraça de Saga. - gargalhou mais.

Kyoko parou de andar, engolindo em seco, sentindo as palavras atravessarem seu corpo como espadas. Não queria admitir, mas ele tinha razão. Cada palavras, em cada letra ele confirmava mais e mais aquilo que sua própria consciência tentava lhe alertar, dizendo na mais profunda tristeza que Saga estaria melhor se nunca a tivesse conhecido, assim como todos ao seu redor.

Tentando retomar o controle de suas emoções, Kyoko levou a mão ao ventre, sentindo a elevação que ali crescia a cada dia mais e mais.

- Todos morrem um dia. Até você, Ares. – respondeu.

O remanescente do deus ficou parado, observando a raposa se distanciar fisicamente aos poucos. Seu sorriso se alargou adorando aquela situação ainda mais do que em perturba-la em sua mente; um preço muito alto cobrado pelo golpe em sua mente, uma cicatriz profunda e dolorosa.

- EU SOU UM DEUS, KITSUNE!!!! UM DEUS!!!! HIHIHIHEHEHAHAHAH...UM DEUS!!! HIHIHIHEHEHAHAHAH....

Kyoko ignorou a gargalhada que somente ela ouvia, descendo toda a escadaria das Doze Casas até a entrada principal de Áries. De longe ela logo reconheceu quem já a aguardava, se aproximando até estar cara a cara. Ele moveu a cabeça bem de leve, tentando encontrar os olhos bicolores escondidos pela sombra da franja, levando os dedos ao queixo dela. Kyoko fechou os olhos, sentindo o cheiro mais do que familiar se aproximar atrás de si a cada passo do outro.

- Você...contou pra ele? – indagou chorando.

- Sim. Você não está pronta e eu...ainda quero proteger você. Não me leve a mal, Hime-sama. Só espero que me perdoe. – sorriu de lado, colhendo uma lágrima dela.

Kyoko fechou os olhos virando devagar. Sentiu quando o calor da armadura a abraçou com carinho através do cosmo ameaçador, mas que ao mesmo tempo conseguia ser gentil, doce. Saga ergueu a mão esquerda tocando o rosto dela, fazendo um suspiro sôfrego parecer querer minar as forças de Kyoko. Com carinho, o dedão de Saga moveu-se sobre a pele de alabastro, sentindo a maciez ao mesmo tempo que uma lágrima escorreu até ali para logo ser aparada pela mão dele. Kyoko sentiu o frio do vento onde a pele já sentia falta do calor que tanto adorava, fazendo ela, enfim, abrir os olhos. E bem diante dela o imponente Cavaleiro de Gêmeos observava com atenção a pequena pérola, sentindo na própria carne a aflição de Kyoko ao mesmo tempo que as palavras de Shion ecoavam em sua mente.

 

A vida humana é muito diferente da de um youkai, Saga. Oitenta, cem anos...isso nunca chegará nem perto do tempo deles. Você já pensou nisso alguma vez, Saga? O que são esses míseros anos para quem pode viver dez vezes mais do que isso?!...

 

Saga piscou uma vez, movendo a pequena pérola entre seu indicador e dedão. Aquela dor...a dor dela que não passava e não entendia por quê.

— O tempo...- fez uma pausa. — ...não posso mudar o tempo.

Os olhos verdes de Saga seguiram para o semblante perdido e confuso de Kyoko, mirando todos os seus detalhes. As palavras de Shion o fazendo finalmente entender, compreender o desespero dela em protegê-lo.

Kyoko engoliu a saliva com dificuldades, dando um mísero passo na direção do Geminiano. Estava assustada e a voz em sua cabeça, provocando seu medo não ajudava; e se a voz estivesse certa?

— Saga...

E sem mover nenhum dedo, Saga impulsionou seu cosmo, fazendo-o acertar em Kyoko como um vento forte. A raposa soltou um grito de susto e depois gemeu, arregalando os olhos ao passo que seus sentidos a deixavam pouco a pouco. O cavaleiro aparou o corpo dela com um único braço, observando a kitsune perder os sentidos até desmaiar por fim.

Observando a cena, Cheshire sorriu satisfeito. Se aproximando ele tocou o ombro de Saga.

— Enfim você entendeu. – declarou passando por ele.

Saga não disse nada, pegando Kyoko nos braços e indo com ela até seu quarto em Gêmeos, colocou-a na cama com cuidado e lhe dando um beijo demorado na testa.

— Está pronto?

— Sim! Vamos! – declarou o mais velho a seu gêmeo.

Logo eles seguiram por Rodório até a ponte que levava para a Grécia dos humanos comuns. Saga parou por alguns instantes, olhando para trás, sentindo um aperto no peito, mas continuou sua caminhada pela ponte que parecia ser estendida sobre as estrelas e atravessando no fim o portal. Do outro lado Saga viu, recostado numa parede próxima e muitíssimo bem vestido num kimono branco e preto com detalhes dourados, o lobo branco: Ookami.

- Hum! Saga...já era de se esperar. – falou irônico, mas satisfeito pela troca.

O cavaleiro manteve o silêncio, passando pelo outro e seguindo seu caminho pelo extenso beco até o cais onde vários navios e amarrados com o restante dos peixes não vendidos do dia já cheiravam.

- Mundo dos Homens. Fede. – rosnou o lobo observando a sujeira.

Quando chegaram primeiro no destino um belíssimo Yamoto já os aguardavam. Os gêmeos se aproximaram, mas logo se surpreendendo ao ver ali também, ninguém mais ninguém menos que o Heika, Águia.

- Heika!(Alteza) – balbuciou Saga.

- Por favor, não comecem com as formalidades desnecessárias. – reclamou Águia, sério como sempre.

- É sério que você deixou o próprio Rei vir nessa maluquice?! – ironizou Kanon a Yamoto.  

- Eu não ia chamá-lo, mas...ele fez questão de dizer que qualquer coisa que envolvesse Kyoko-sama, ele queria participar, então...o que eu podia fazer? Ele é o Rei, agora. Não sabíamos que Saga viria no lugar dela. – Yamoto se justificou.

Saga suspirou, massageando as têmporas de preocupação. Sua cabeça já doía desde o momento que saíra do Templo do Grande mestre. A conversa com Shion ainda martelava em sua mente e pensar que agora teria que ter atenção redobrada por conta de Águia que não deveria estar ali era o fim da picada. Mas por outro lado entendia a posição deles. Os Quatro ainda possuíam dentro de si a convicção de um Shinobi e só estavam ali por acharem que seria Kyoko a ir nesse encontro. Se soubessem que tinha tomado o lugar dela antes, com toda certeza, os outros não estariam ali além de Kanon.

E depois das formalidades Saga, então saiu na frente, sem dizer nada e sendo seguido pelos outros, se embrenhando pelos becos e escadas. Quando chegaram próximo do local Saga sentiu um frio na espinha, mas não demonstrou, observando seu último algoz parado no fim do cais diante do mar. O Geminiano mais velho fez um sinal com a mão, caminhando sozinho até estar ao lado dele. O vento sacudiu os longos cabelos dele fazendo o perfume amadeirado parecer enforcar Saga.

— Minos...

O juiz tragou seu cigarro, jogando o resto fora junto com a baforada, observando com imponência e um sorriso malicioso o rosto sério de Saga.

— Oi, Saga. – falou sínico, olhando Saga e sua armadura de cima a baixo. — Não era você quem eu esperava, mas confesso que não me surpreende.

— Desculpe por desapontá-lo. – ironizou Gêmeos.

Minos suspirou, virando na direção do mar, sentindo o cheiro do sal. O silêncio sendo quebrado somente pelo som das ondas quebrando sobre as pedras, dando a sensação a ambos que Poseidon também estava ali, só que não estava.  

— Eu nunca me esqueci da primeira vez que a vi. Ela parecia uma miragem. Eu não conseguia ver nada além dela. Tudo a minha volta pareceu tão...vazio. Ela era tão incrivelmente bela, quanto venenosa. Hum! O pior é que eu sabia que era. Mas eu gostava. Tê-la era um capricho que até mesmo meu Senhor Hades não me recriminaria em ter.

— O que você quer, Minos? – Saga indagou. Não queria estender aquele encontro por muito tempo.

— Foi assim que você também se sentiu quando a viu pela primeira vez? Tocar nela, gozar naquele...corpo voluptuoso...– volveu o Juiz.

— Isso não lhe diz respeito, Minos! O que você quer? – rosnou Saga.

— O que eu quero?! – ironizou, Minos. O sorriso malicioso que incomodava. — Ela sabe muito bem o que quero. Ela não te contou? – Minos se afastou, rindo. Passou as mãos no cabelo e acendeu outro cigarro, voltando a mirar o mar. – Nosso imperador Hades ficou muito impressionado com a performance da dela e confesso que eu ainda mais.

- Aquilo não foi ela. Foi Ares. A Kyoko não fez nada. Ela foi só uma vítima. – disparou Saga crispando o cenho.

- Assim como você? Ah Saga, ela fez sim, assim como você também fez e sabe que fez. Todo aquele...potencial. Tudo que Ares usou fazia parte dela, ele só...aperfeiçoou tudo que ela tinha pra dar.

- Eu não vou permitir que mais nenhum deus toque nela. – rosnou o gêmeo mais velho.

Minos gargalhou, soltando a fumaça pelo nariz deixando seu ato ainda mais presunçoso. Saga apertou os punhos, com raiva; não deixaria mais ninguém tocar em Kyoko. Mataria todos os deuses se isso fosse preciso. Estava cansado de toda aquela obsessão sem sentido para com a kitsune. Estava cansado de abaixar a cabeça para os deuses.

- E quem disse que você tem que consentir a cobrança de uma dívida? – disparou Minos fazendo Saga empalidecer.  

- Você morreu, Minos. Não há mais dívida.

Minos gargalhou mais alto adorando aquela situação.

- Morri?! Pareço morto pra você, Saga? -fez uma pausa olhando dentro dos olhos profundos de Saga. – Ela passou despercebida na última Guerra Santa, não por minha culpa. Mas na próxima ela não passará. O Senhor Hades é um deus de palavra e respeita muito a Santa Trégua.

- E ela ainda continuará por muito anos.

- Exatamente. E é por isso que não consigo parar de pensar...como alguém como Kyoko teve coragem de se misturar com um cão de Athena.

- Maldito! Como se atreve?!! – bradou Kanon que antes só observava, sentindo a mão do irmão o impedir.

- Talvez seja porque o “cão de Athena” se saiu muito melhor do que o vira lata de Hades. Em todos os sentidos. – sorriu malicioso, fazendo o sorriso do Juiz morrer. – Entenda de uma vez, Minos; a Kyoko é minha por livre e espontânea vontade...- apontou para a trança em meio a seus cabelos que, agora curtos, destacavam a mecha ainda mais. -... Minha esposa. Não será você e nem deus nenhum que a tirará de mim.

Minos olhou novamente para o mar, pensativo. Aquelas palavras realmente o haviam irritado mais do que o fato de não poder ser diretamente com Kyoko aquele diálogo. Não assumiria, mas no fundo queria mesmo era Kyoko ali. Olhar naqueles olhos de raposa que já não via a muito tempo, sentir o cheiro doce que se desprendia da pele dos cabelos dela, se deixar levar pela armadilha, a mesma armadilha, que Saga assim como tantos outros e  - isso incluía a si mesmo - não conseguiam resistir. Sabia bem, assim que viu Saga, o que aquela trança significava e isso era realmente irritante. Não era idiota e muito menos inocente ao ponto de não imaginar que aquele encontro não sairia como desejara, mas mesmo assim não deixaria que o Cavaleiro de Athena se desse bem.

- Não, Saga. Não será nenhum de nós. – fez uma pausa deixando Saga confuso. – Será algo que vocês, humanos, não podem vencer. O tempo.

- O quê?! – disse Kanon.

Saga crispou cenho, engolindo em seco e amargo, e evitar lembrar-se da conversa com Shion foi impossível...

 

- Por que permitiram isso? Por que a deixaram fazer aquela loucura? Por que me manter fora da luta? Eu sou um Cavaleiro de Ouro, eu morreria pela minha obrigação! – bradou Saga ficando de pé.

- Ela nos ameaçou, Saga. – Shion falou, calmo. Gêmeos sentiu a boca abrir por vontade própria, voltando a sentar.

- O...qu...a...meaçou? – balbuciou 

- Sim. Ela mandou Cheshire assim que vocês saíram daqui na noite que Poseidon chegou. Depois do jantar. Se Ares tocasse em você mais uma vez, se algum de nós permitisse que você se ferisse no que ela sentia que estava por vir...ela se aliaria a Ares de livre e espontânea vontade. Ela daria a ele o que Hades e Hiroaki sempre quiseram só pra te manter vivo. Massacraria o mundo dos humanos em troca de uma única vida: a sua. – fez uma pausa, observando a perplexidade no rosto do cavaleiro. — Ler o seu diário, saber o que você passou por 13 anos, achando que era louco, se culpando ao ponto de tirar a própria vida... isso a desesperou. Ela está...desesperada, Saga e irá fazer qualquer coisa.

- Ares se foi. Não há mais nada aqui.

- Você ainda não entendeu, não é? Ainda...não consegue ver quem ela está tentando derrotar? Quem é o maior inimigo de vocês?

Saga ficou parado, pensando. Tentando ligar os pontos, mas nada vinha em sua mente. Não havia mais nada a se derrotar e nem ninguém para ameaçar a segurança do Santuário e nem a sua própria, então...sobre o quê Shion falava?

Shion enfim se sentou de frente a Saga, levando devagar a xícara de porcelana aos lábios, soprando e logo provando o chá verde. Um gesto rápido, mas que para Gêmeos pareceu uma eternidade. A calma de Shion naquele momento deixou Saga ainda mais tenso e preocupado.

- Shion...

- O tempo. – fez uma pausa, colocando a xícara na mesinha e olhando Saga nos olhos. – O tempo, Saga. Kyoko não pode mudar o tempo. Ninguém pode. E ele chegará para mim, para seus amigos...e para você.

Saga ficou perplexo, tentando colocar os pingos nos is. Ele sabia bem sobre o tempo e que ganhar uma vida nova de Athena não o deixava imortal, mas mesmo assim...

- Não entende ainda, Saga?! *Fuuu...* O tempo de vida dos Youkais é muito diferente do nosso. A vida deles foi baseada na vida dos deuses. – fez uma pausa olhando dentro dos olhos perplexos de Saga. – Cem anos, um dia.

Saga sentiu o ar lhe faltar, enquanto sua mente processava em tempo recorde aquela constatação que nunca, em momento algum, havia parado pra pensar; o tempo para ele e para Kyoko passavam de modos diferentes.

- A vida humana é muito diferente da de um youkai, Saga. Oitenta, cem anos...isso nunca chegará nem perto do tempo deles. Você já pensou nisso alguma vez, Saga? O que são esses míseros anos para quem pode viver dez vezes mais do que isso?! Saga...a Kyoko se apaixonou por você em segundos, como se um mísero olhar fosse suficiente para fazê-la morrer por você. Está agarrada a isso, tentando desesperadamente lutar contra o tempo, mantendo você vivo o máximo que ela puder, porque...mesmo que você viva cem anos ainda assim não será o suficiente para ela. O amor dela, Saga vai durar centenas de vidas humanas, e ela sabe disso. Sabe que não pode mudar o tempo. Que não pode fazê-lo parar. Não se passou nem um dia para ela, Saga. Ficar com você em cada mísero segundo é o que ela luta desde que te conheceu, pois ela sabe...vai perder você para o tempo, por isso não deixará que nada além disso o tire dela. Sacrificará milhares de vidas; humanas, youkais. Não importa. Só para ficar com você até que o tempo vença.”

 

- Athena deu a vocês uma vida nova, mas não deu a vocês o que só nosso Senhor Hades pode dar; a eternidade. A imortalidade. – sorriu fazendo uma pausa. – Eu não preciso fazer nada, Saga, porque...quando a Trégua acabar você não estará mais lá, mas a Kyoko... ahhhh...essa sim vai estar. Assim como eu também estarei.

- Eu não vou permitir isso. – rosnou fechando os punhos.

- Nem seus ossos estarão lá para protegê-la. Entende porque essa conversa não faz sentido com você? Quando a Trégua acabar ela ainda estará lá; linda. Exatamente como da primeira vez que a vi. Como você a viu.

Minos caminhou até Saga, parando bem próximo a ele. Sentia o furor gritar dentro do cosmo dele, mas não se intimidou, pelo contrário, gostou muito. Na verdade, preferia acabar com os Gêmeos ali mesmo, mas seu respeito por Hades era maior e era só por isso que as palavras, naquele momento, eram suficientes. Eram a melhor arma, o melhor golpe que podia dar.

- Vá para casa, Saga. Faça amor com sua mulher, aproveite cada segundo de sua vida medíocre ao lado dela, porque...quando você se for na sua velhice eu vou estar lá...

Minos ergueu a mão, mostrando a Saga o corte na palma da mão. O mesmo corte que Saga também possuía. A indicação de que ela tinha realmente um pacto com o Juiz assim como tinha consigo.

-...pra tomar o seu lugar. Tomar o que me pertence. O que é meu por...livre e espontânea vontade.

Minos se afastou, sorrindo diabólico, satisfeito como a tempos não se sentia. Pensou que aquele diálogo seria um saco, mas no final deixar o Cavaleiro de Athena perturbado para o resto de seus míseros dias era muito bom.

Saga sentiu o peito apertar ainda mais, entendendo a sensação de impotência que Kyoko sentia diante daquela situação, admitindo mesmo não querendo que Minos estava certo. Não havia como lutar contra sua humanidade. Envelhecer, adoecer e morrer era um fato que todo ser humano sofria; cavaleiro ou não.

Com um sorriso vitorioso o Juiz começou a caminhar de costas, mirando os olhos furiosos de Saga, dando um tchauzinho e sumindo dali, deixando o guardião de Gêmeos ainda pior do que estava quando saiu do Templo do Grande Mestre.

 

Continua...


Notas Finais


É gente, o maior inimigo da Kyoko e do Saga é o tempo! A vida deles passa de formas diferentes. Levou bastante tempo pro Saga se tocar nisso, mas agora que se tocou, o que será que ele vai fazer? Como vencer sua própria natureza?
Enfim, espero que vcs tenham gostado e se ficou alguma dúvida podem perguntar. O próximo capítulo já esta em andamento e espero não demorar tannnto quanto demorei dessa vez. Mas é como eu disse no jornal: minha vida estava de cabeça para baixo, mas graças a Deus está voltando ao normal. Devagar minha inspiração e vontade de escrever também está voltando.
Um beijo grande a todos e até!!


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