– Eu preciso que… Você… Escreva uma carta de amor para a garota que eu gosto! - Benedict disse, rapidamente.
– A garota que você gosta?! - perguntou Violet. De repente, eles ouviram uma voz passar por eles.
– Oi, Violet! Oi, Benedict! - disse Erica Brown, uma das autômatas da companhia de Violet.
– Olá, Erica. Tudo bem? - perguntou Violet.
– Oi, Eriquinha… - disse Benedict, suspirando.
– Estou bem! E você?! Ah, eu tenho que ir até a farmácia. Iris está com dor de cabeça, mas, está lotada de cartas para fazer. Eu já volto e você me conta como foi sua viagem! Quero saber de tudo! - disse Érica.
– Tudo bem… - disse Violet.
– Tchau, Érica… - disse Benedict, que não tirava os olhos dela.
– Então… Sua carta é para a Érica? - perguntou Violet.
– Ahhh! Está tão óbvio assim?! - gritou Benedict.
– Sim! Claro como o céu azul… - disse Violet.
– Sabe, ela me escreveu uma carta, anos atrás, mas… Eu era muito idiota e a dispensei… Só que, com o passar dos anos, eu comecei a reparar nela… E ela ficou tão linda! Só que eu acho que… Ela não vai mais me aceitar… Mas, eu não posso deixar de tentar… Você, pode me ajudar?! - perguntou Benedict.
– Sim… Acho que sim! - disse Violet.
– Ahhhh! Maravilha! Obrigado! - disse Benedict, que abraçou Violet, inesperadamente. Violet ficou com o rosto avermelhado e quando ele a soltou, ela viu a figura de um homem se afastar.
Violet sentiu o coração palpitar um pouco. Quando Benedict a soltou, ela correu até a esquina e olhou para os lados, mas, o homem havia sumido. Por um instante, Violet imaginou ter visto Gilbert.
– Ei, volta aqui! Eu ainda não disse como eu quero a carta! - gritou Benedict.
Violet levou a mão ao velho broche que estava em sua camisa e suspirou, entristecida. Ela retornou para a entrada da companhia e Benedict continuou a tagarelar no ouvido dela.
Enquanto isso, na rua de trás da companhia, Gilbert tinha a mão em cima do peito. Suas mãos tremiam de leve. Era ela, sua amada Violet. E como ela estava linda. Tão crescida, tão encantadora. Gilbert mal pode se conter, sentiu vontade de gritar o nome dela, de correr até ela e abraçá-la. Mas, um outro alguém já fazia isso. Quem era aquele rapaz que a abraçava com tanta segurança?! Violet… Estaria seguindo em frente?!
Tomado pelos ciúmes, tudo que Gilbert pode fazer foi correr, correr para o mais longe que podia. Não tinha bem certeza do que faria. Mas, não tinha pretensão de desistir de Violet tão facilmente. Gilbert colocou seu chapéu, para esconder o rosto e caminhou até o carro, onde o motorista o aguardava. Porém, alguém notou sua presença.
– Gilbert! Gilbert! É você?! É você mesmo?!
Quando Gilbert olhou para trás, Hodgins vinha em sua direção. Seu velho e bom amigo de confiança. Seu irmão do coração. Hodgins se aproximou dele e o envolveu entre seus braços.
– Meu velho amigo, que bom te ver! - disse Hodgins, com a voz embargada de emoção.
– Hodgins… Meu grande amigo… - disse Gilbert, que o envolveu com os braços.
– Eu… Mal posso acreditar que depois de todos esses anos, eu finalmente estou te vendo na minha frente! - disse Hodgins.
– Eu tive que vir… Você deve ter ouvido nos noticiários sobre o falecimento da minha mãe… - disse Gilbert.
– Eu sinto muito sobre isso… Sua mãe era uma boa mulher. Sempre tão sensível e acolhedora. Espero que ela encontre o descanso merecido… - disse Hodgins.
– Eu a fiz sofrer muito… - disse Gilbert.
– Não diga isso! Você fez o que fez porque foi necessário! Só você sabe a dor que passou todo esse tempo! - disse Hodgins.
– Não sei se todos entenderiam essa minha boa intenção…- disse Gilbert.
– Gilbert, me acompanha para um café? Eu quero muito saber dos seus planos para o futuro… - disse Hodgins.
– Bem… Eu posso lhe acompanhar, com toda certeza. - disse Gilbert.
Os dois caminharam até uma cafeteria bem próxima de onde estavam e sentaram-se à mesa. A garçonete trouxe o cardápio e eles começaram a conversar enquanto aguardavam a chegada do pedido.
– Então… Você finalmente decidiu sair de sua toca… Ainda estou surpreso, mas, extremamente feliz, Gilbert. Sei como isso foi difícil para você.... - disse Hodgins.
– Eu lutei bastante contra meus demônios interiores para estar aqui… Mesmo assim, não tenho certeza se fiz o certo… Eu… Tenho que pedir perdão a muitas pessoas… Principalmente a ela… - disse Gilbert.
– Bem… Não vai ser nada fácil contar a ela o que fez, mas, não acredito que ela lhe odiaria… Na verdade, no fundo, ela ainda te espera… - disse Hodgins.
– Hodgins… Tem certeza? Tem certeza que ela ainda me espera? A Violet… Não encontrou outro alguém? - perguntou Gilbert, apreensivo.
– Gilbert, não sei lhe garantir com toda certeza… A Violet entrou na idade adulta… Ela é livre e dona das próprias escolhas… Então, não sei… Ela é uma linda mulher. Com certeza, ela deve atrair olhares… - disse Hodgins.
A garçonete apareceu com os pedidos e Hodgins notou Gilbert apreensivo. A garçonete saiu e Hodgins colocou um pedaço de bolo na boca.
– Hodgins… Será que ela vai entender?! Será que ela vai entender o que fiz? E vai entender que fiz para ajudá-la? Para que ela fosse livre?! - disse Gilbert, que deslizou a mão pelos cabelos escuros, que tinham um longo cumprimento.
– Gilbert, não tenho como prever ou te garantir nada. A única pessoa que pode te dizer isso é a própria Violet. Ela acabou de retornar de uma longa viagem. Não sei se é cabível falar com ela hoje. Mas, você pode encontrá-la amanhã de manhã. Ela estará em casa, já que Cattleya vai visitá -la com a Hope para que resolvam sobre os próximos clientes. - disse Hodgins.
– Eu… Estou tão confuso… - disse Gilbert.
– Gilbert, sua vida não tem mais espaço para indecisão. O tempo está passando, velho amigo. Até quando vai se privar de ser feliz? Ou de, pelo menos, de ser verdadeiramente livre? - perguntou Hodgins.
Gilbert segurou a xícara de café entre as mãos e ficou pensativo. Depois do lanche, os dois se despediram com um outro abraço.
– Gilbert… Eu sei que você tem seus receios, mas… Se você deixá-la livre demais, ela pode te esquecer de vez…- disse Hodgins
– Eu entendo… Obrigado, meu amigo. Você sempre tem bons conselhos. Eu prometo que vou me preparar para esse momento… - disse Gilbert.
– Boa sorte… Te desejo o melhor. E… Estou aqui se precisar de um ombro amigo… - disse Hodgins.
Os dois se despediram e Gilbert entrou no carro. Enquanto o motorista o conduzia, Gilbert olhou para o prédio da companhia postal. Em uma das janelas, estava Violet. Ela olhou de relance para a janela e os olhos de Gilbert brilharam. Estava tão linda. Era uma mulher tão encantadora, que, inevitavelmente, seu coração acelerou um pouco ao vê-la.
Enquanto isso, na companhia CH, Violet dava início a sua odisseia de ajudar Benedict a se declarar à Érica.
– Então, já se decidiu? - perguntou Violet.
– Ah, não sei… Não queria ser muito direto, mas… Se eu for sem graça, ela não vai se interessar. Ahh! Isso é difícil! - disse Benedict, que apertou a cabeça entre os dedos.
– Acho que você precisa de um tempo… Por que não continuamos isso depois? - disse Violet.
– Ei, você não pode desistir de mim assim! Que autômata é você, que enxota os clientes?! - disse Benedict, revoltado.
– Os meus clientes geralmente sabem o que querem dizer… - disse Violet.
– Ai… Essa doeu… Você nunca perdeu esse seu jeito bruto, não é?! - disse Benedict.
– Sinto muito… - disse Violet.
– Aiai… Tá, não faz essa cara! Está tudo bem!- disse Benedict.
– Bem, se está com tantas dúvidas, você deveria buscar uma forma de se aproximar dela… - disse Violet.
– Me aproximar? Humm… Ah, já sei! Tenho uma ideia! Lembra do parque de diversões itinerante? - perguntou Benedict.
– Sim! Ele esteve aqui ano passado! - disse Violet.
– Vou chamar a Érica para ir comigo! E você também vai! - disse Benedict.
– Eu?! - disse Violet, surpresa.
– Isso! Assim, vamos como amigos e ela nem vai suspeitar que eu estou fazendo minha pesquisa sobre ela. Hahahaha. - disse Benedict.
– Ah… Entendi… Tudo bem. Eu irei. - disse Violet.
– Maravilha! Vou lá chamar a Eriquinha! - disse Benedict, empolgado.
Violet observou Benedict sair empolgado em direção a mesa de Érica. Ela segurava algumas folhas de papel e as deixou cair das mãos. Benedict sorriu e a ajudou a pegar as folhas, enquanto Violet notava o rosto de Érica ficar vermelho. Ela deu um sorriso leve e decidiu caminhar um pouco do lado de fora. Antes de chegar até a saída, encontrou-se com Hodgins.
– Violet, está tudo bem? - perguntou Hodgins.
– Sim, está tudo como deve ser… - ela respondeu.
– Violet, eu… Queria… Queria dizer que estou muito orgulhoso da moça que você se tornou. Você não para de me surpreender, todos os dias. - disse Hodgins.
Violet fez uma expressão surpresa. Ela uniu as mãos na frente do peito e se curvou.
– Muito obrigada, senhor Hodgins. Devo tudo isso a você. Você me deu a chance de recomeçar e de ver a vida com outros olhos. - disse Violet. Hodgins abriu um sorriso
– Era o mínimo que eu poderia fazer por você… Eu… Devia isso a ele… - disse Hodgins. Violet abaixou a cabeça, entristecida. - Ora, mas, não vamos ficar nesse baixo astral. Sabe, eu ando muito curioso de uma coisa…
– Do que seria?! - perguntou Violet.
– Então, você é uma moça bela, tem educação, escreve cartas lindas… Não apareceu nenhum novo pretendente para você? Não tem… Interesse em alguém em especial?! - perguntou Hodgins.
– Pre-Pretendente?! - disse Violet, surpresa.
– Isso mesmo… É… Desculpe se estou sendo indiscreto, mas… Você é como uma filha para mim e eu… Quero garantir que você esteja bem assistida. E se tiver alguém que você tenha interesse, eu… Tenho que avaliá-lo, para saber se é digno de você. - disse Hodgins, um pouco desajeitado.
– Não… Não tenho pretendentes… Só… Apenas eu… - disse Violet, que levou a mão até o broche.
– Entendo… Sabe… Eu gostaria mesmo que você estivesse mais feliz nesse aspecto… Mas, saiba que estou aqui, para qualquer coisa que você precisar. - disse Hodgins.
– Tudo bem… Obrigada… - disse Violet. Os dois se cumprimentaram e Violet abriu a porta para sair, quando ouviu a Hodgins a chamar mais uma vez.
– E Violet… A vida ainda vai te surpreender muito e você ainda vai ser muito feliz. Tenho certeza disso. - disse Hodgins, que sorriu para ela, levou as mãos até os bolsos e se afastou. Violet o observou com atenção, mas, não entendeu o que ele quis dizer.
Violet foi para o lado de fora, caminhou até um parque nas proximidades e sentou-se em um dos balanços. Ela observou um jovem casal passar em sua frente, de mãos dadas. Violet levou a mão até o broche e o apertou de leve. Tudo o que queria entender sobre o amor antigamente, havia se tornado uma vontade de sentir tudo aquilo de forma recíproca. Mas, tudo o que havia lhe sobrado era um coração solitário e um poço de incertezas. Violet começou a se balançar, esperando que o vento que balançava seus cabelos levasse embora aquele restinho de dor que tinha preso dentro do peito e que lhe impedia de viver plenamente.
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