Alfred caminhava a passos largos, o frio da noite cortava a pele da sua bochecha, mas ele não se importava muito. Seu pulmão ardia tentando sugar todo o ar que o esforço necessitava, e finalmente chegar no seu destino, a ponte da cidade. Só de pensar que era a última vez que iria fugir do seu quarto a noite para ver seu melhor amigo, desde o jardim de infância, o assustava mais do que a guerra.
A uma semana atrás, ambos viram na tevê da sua casa a notícia do ataque em Pearl Harbor. Foi um silêncio mortal na casa. Alfred que geralmente era distraído, conseguiu ver o temor e insegurança nos olhos de Kiku. Era como se a vida deles nunca mais fosse a mesma, e realmente não foi. Um dia depois os Estados Unidos entraram na guerra, a tevê foi bombardeada com propagandas contra o eixo, e a loja do pai de Kiku foi diminuindo a clientela a cada dia.
Kiku esperava escorado na coluna de sustentação da ponte, com o olhar longe olhando para o rio a baixo dos seus pés, os cabelos negros e curtos balançando ao vento, e suas bochechas tão vermelhas quando a de Alfred. Ele sorriu e acenou ao ver o amigo, que imediatamente correu ao seu encontro:
— É verdade o que você disse? — Kiku perguntou, se lembrando da rápida conversa que tiveram ao telefone.
— Sim, eu fui convocado. Vou amanhã mesmo — Alfred disse ainda sem folego, se curvando e apoiando as mãos nas cochas.
— Seus irmãos também? — ele riu ao ver o amigo se debruçar. — Não aguenta correr dois quilômetros, e vai para a guerra.
— Christian está ansioso, Matthew chorou o dia todo. Ele acha que vai lutar contra o amigo de correspondência dele — Alfred se virou, encarando a rua.
— E você? Você está feliz? — Kiku o encarou sério.
— Eu estou, vou lutar pelo meu país afinal — ele deu de ombros.
— Obrigado por me contar — ele falou olhando para a mão depois olhou para o rio, Alfred fez o mesmo.
Eles permaneceram em silencio, o vento gelado passando por eles não melhorava o sentimento de tristeza e insegurança do futuro. As palavras que Matthew disse quando receberam a notícia, martelavam na cabeça de Alfred. Eles estavam indo para a morte, eles nunca mais veriam sua família de novo. Alfred nunca mais veria Kiku novamente. Seus olhos começaram a lagrimejar, sua respiração se tornou errática, e milhares de imagens da sua vida passava pela sua cabeça:
— Eu vou morrer — Alfred sussurrou.
— O que você disse, Alf? — Kiku perguntou confuso, colocando a mão sobre o braço do amigo.
— Eu vou morrer — ele repediu, se tornando alto consciente.
Uma onda de ansiedade percorreu o corpo de Alfred, e ele se virou ficando de frente para Kiku o prendendo num abraço, apertando seus lábios juntos. Kiku arregalou seus olhos assustado com o ato, em resposta Alfred pressionou seus lábios mais juntos, até que sua boca começasse a doer:
— Eu vou morrer — ele beijou o amigo por todo o rosto, enquanto recitava a frase como um mantra. — Eu vou morrer. E eu amo você.
Sua voz vacilava e ele chorava, sentindo cada musculo de Kiku se apertando contra ele. Por sua vez, Kiku conseguiu soltar seus braços do aperto de Alfred e tocar o seu rosto:
— Eu amo você — ele sorriu, sentindo Alfred relaxar ao seu toque. — E vou escrever para você todos os dias.
— Você promete? — Alfred perguntou, apoiando o queixo no ombro do amigo.
Kiku apenas balançou a cabeça em afirmação, apertando o amigo contra si. O vento da noite não era mais um incomodo, nem a sensação de insegurança sobre o futuro. Tudo que os rodeava agora, era a sensação de conforto e carinho, e ambos aproveitaram o momento, rezando para que pudessem repeti-lo no futuro.
A única carta que Alfred recebeu, só alguns dias depois de chegar na base francesa, era da sua mãe, perguntando sobre ele e fazendo inúmeras recomendações. Kiku também nunca recebeu uma carta de Alfred.
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