Diante de Ayame, Yona estava sendo arrumada pela garota que não se importava em invadir o espaço pessoal físico do recém-casado, como era com as demais servas.
Enfeitando-a com fitas de seda no kimono e fazendo-lhe pentiados, a bela jovem fazia aquela ação com um sorriso no rosto enquanto Hak, preso a esposa, sentava na cama ao lado e apenas encarava entediado.
- Vocês vão demorar muito? O velhote já está esperando com outros. Ou vocês querem esperar o festival terminar para irem? - provocou o moreno.
- Pelo visto alguém está emburrado. - disse Ayame. - Não é, Princesa Yona? - sorriu, mas a garota estava avoada. - Princesa Yona?... Princesa?
- Sim...?! - acordou corada.
- Não é nada. - desistiu Ayame confusa. - Você está bem distraída hoje. E por falar nisso... seu rosto me diz que você não dormiu esta noite. O seu também Hak.
- Hã? - soltou Hak.
- O perfume deu certo, então? - insinuou Ayame brincalhona. - Pelo visto acho que sim. Que bom que ajudei.
Com essas palavras, veio a tona a mente da ruiva os momentos da noite anterior. A forma como Hak a encurralara na cama e aspirara sua fragrância no pescoço a arrepiou por inteiro. Num rubor envergonhado, a princesa congelou cerrando os olhos. Algo que não passou despercebido pelo esposo.
- Errado. - disse Hak jogando uma almofada nela. - Só atrapalhou.
- Não acredito. - disse Ayame fazendo birra. - Àquele perfume é infalível.
- Não se pode dar esse tipo de coisa para as pessoas sem explicações das suas reais intenções. É quase crime. - retrucou Hak.
- Que malvado. Só estava tentando ajudar o casal de recém casados a aproveitarem a lua-de-mel. Tenho certeza que a sua esposa deve querer usufruir bastante dos efeitos. Já que o casamento com o Lorde Hak deve ficar gradativamente insuportável. - brincou ela. - Não é, Princesa Yona?
Encarando a ruiva, encontraram apenas uma estátua vermelha ao qual mostrava-lhes apenas as costas.
- Olá? - insistiu Ayame.
- S-sim... você está certa... - disse Yona e Hak surpreendeu-se.
Virando um pouco o rosto para mostrar a face tímida, completou:
- Apenas na parte do Hak ser insuportável. Com brincadeiras que me tiram do sério e bagunçam a minha cabeça.
Desviando o olhar, Hak suspirou fundo. "Não foi uma brincadeira... aquilo de ontem..." pensou o homem relembrando do qual seduzido sentiu-se pelo perfume da esposa. Eram palavras do pensamento que não poderia externalizar, então conteve-se em ficar calado.
- Eu perdi algo...? - confudiu-se Ayame.
- Não... - respondeu Hak.
Era o segundo dia no desafio e Yona passou a manhã inteira evitando olhar o marido por conta da noite passada. De certa forma, não estava zangada de verdade, apenas acanhada por ter presenciado um lado desconhecido de Hak, mesmo pensando ser brincadeira. Já o moreno agia como se nada tivesse acontecido e apenas dava o espaço da esposa para que essa não se sentisse desconfortável novamente.
Por fim, para quebrar o gelo que estava transparecendo para quem tinha bons olhos, o Velho Ancião sugeriu uma visita ao festival que ocorreria cidade abaixo; motivo que Ayame penteava Yona.
Ao final do penteado, os três foram para a entrada do Castelo se encontrarem com os demais e logo partiram para a cidade.
Aquela noite estava agradável. Estaria ainda mais bonita se não houvessem nuvens pelo céu que encobriam a Lua e as estrelas.
Ainda assim, as luzes das lanternas da cidades deixavam o local adorável.
Chegando ao local, Yona ficou maravilhada com o local.
Músicas, danças, comidas e produtos à venda, era tudo encantador naquela cidade em que passeavam.
As velas iluminavam as lanternas enfeitadas com delicados desenhos os quais davam um destaque belo. As pessoas com seus amigos e familiares sorriam lindamente, expondo felicidade naquele momento de lazer. Já os comerciantes faziam a suas festas com as vendas fartas de seus produtos que agradavam os clientes pela qualidade e pelo preço.
Pelos corredores da cidade iluminada, havia um clara o no final ao qual levava ao centro do festival. Lá havia uma enorme fogueira que abrigava adultos e crianças. Os menores brincavam e os mais velhos se entrosavam na dança e no namoro. Casais eram o que não faltavam.
Caminhando até o centro, Yona olhava para todos os lados. Ela, porém, mantinha-se quieta querendo evitar seu marido. Logicamente, ele percebeu.
- Você está bem, minha criança? Está tão calada. - perguntou Mundok à ruiva enquanto carregava nos ombros o pequeno Tae-Yeon.
- Sim... Estou...
- Parece pálida. Quer desmaiar? - indagou Han-Dae.
- Não... - continuou negando. - Eu estou bem.
- Tem certeza? - perguntou Tae-Woo. - É só você pedir que haverá várias pessoas à disposição da esposa do Lorde Hak.
- Obrigada, mas estou bem. Sério. - sorriu gentil pela preocupação deles.
- Ah, que bom. Já ía pensar que esse empalidecemento e vontade de desmaiar era um sinal de um bebê chegando. - soltou Han-Dae.
De repente, a ruiva saltou de vergonha e os demais encararam Han-dae com reprovação.
- Essa coisas a gente tenta ser discreto, Han-Dae. - repreendeu Saki.
- Pra quando vai ser o nascimento? - já indagou Ayame animada.
- Por que não diz isso à sua namorada, Saki? - replicou Han-dae.
- Isso me lembra uma pergunta que o senhor nunca me responde vovô... de onde vêm os bebês? - perguntou Tae-Yeon inocentemente.
Todos paralisaram com a pergunta, mas o velho recobrou a compostura. Ou tentou.
- Bom... é... você sabe. Quer dizer... eles vem... eles... simplesmente vem!
- Quê? - confundiu-se o menino.
- A culpa é sua, Han-Dae. - repreendeu Tae-Woo socando o amigo.
- Foi mal... - tentava se defender.
Nessa confusão, a princesa chegou ao limite do acúmulo de vergonha em seu peito, expondo tudo pra fora numa voz tímida de protesto:
- N-Não... não tem bebê algum!
Nesse quase grito, seus olhos umideceram em constrangimento, bem como pela saudade de um sonho não vivido ao ser despedaçado. Todos a olhavam com semblante abatidos e souberam na hora que haviam chutado uma ferida que era melhor terem deixado quieta. Arrependeram-se.
- Nunca vai ter... - sussurrou para si.
Inclinou o corpo querendo sair dali, mas logo foi impedida tanto pela fita quanto pela mão do esposo que tentava proteger o desafio.
Num silêncio constrangedor e dolorido, Hak quebrou-o sério.
- Voltamos logo.
E pegou na mão da esposa encaminhando-a por outro caminho. Esta deixou-se ser guiada pelo marido como uma boneca entristecida.
- Tá... - soltaram preocupados.
Após alguns minutos caminhando ruas abaixo pelo centro das festividades.
De repente, Hak sentiu um puxão. Era a Yona que havia parado de andar.
- Não tem bebê...
Olhando para trás, Hak viu o rosto baixo da esposa.
- Nunca vai ter um bebê...
- Eu sei. - disse preciso, apesar da melancolia, mas ela pareceu não ouvir.
Com os olhos marejados, ela prosseguiu sua fala trêmula pelo gelo do ambiente e do coração:
- Sinto muito decepcioná-lo, pois sei que você me trouxe pra pra essa viagem apenas para cumprir seus deveres conjugais nessa "lua-de-mel". Mas não importa o lugar, a hora ou a época, não haverá um bebê. Eu não posso... eu simplesmente não consigo...
Aquele olhar frágil e debilitado da esposa despedaçou as muralhas da força que Hak guardava para si.
Yona sentiu a garganta doer e os olhos arderem anunciando o choro. Tentou segurá-lo para não parecer ridícula ou fraca, ainda mais tão em público. De repente, em seu rosto gelado sentiu a mão quente do marido.
- Eu sei disso. De tudo isso, antes mesmo de nos casarmos. - levantando o rosto dela, prosseguiu. - Eu não me casei com você por isso e "cumprir meus deveres conjugais" não é o motivo de estarmos aqui. - abraçando-a para esconder o rosto dela, continuou. - Então não se preocupe com isso, eu nunca vou farei nada contra sua vontade. Nunca. E não permitirei que ninguém faça isso com você.
Ouvindo aquelas palavras, Yona surpreendeu-se novamente com a postura do marido em relação ao casamento. Encolhendo-se suavemente no esposo, ela permitiu-se chorar com o rosto escondido no peito dele.
Sentiu as mãos dele apertarem seu braço, acolhendo-a, mas logo soltou-a para enrolar sobre a esposa o seu manto.
- Você está um gelo. Deve ser a noite. - disse sereno, enrolando-a.
- Hak... - cortou-o com o rosto fundo em seu peito. - Então por que se casou comigo? Por que estamos aqui?
Mexendo um pouco nos cabelos dela, Hak olhou para cima apreciando as nuvens que escondiam o que deveria ser uma noite estrelada.
Haviam respostas duras demais para responder e fora de época para contar. Talvez nunca teria coragem para confessar. "É para protegê-la..." pensou tentando se isentar da dor da culpa. Mesmo assim, tentou desconversar.
- Bom... estamos aqui para que você se sinta em casa e veja que agora faz parte dessa família. E gostaria que isso pudesse te fazer feliz mesmo que só um pouquinho. Sei que às vezes vão ter brincadeirinhas como a que acabamos de fugir, mas... também haverá muito risos...
Aquelas palavras preencheram o peito dolorido da ruiva com esperanças de momentos menos piores. Apertando a roupa das costas do marido, balbuciou:
-...casa...?
- Sim. Casa. Um lar. Mas... talvez não se sinta assim ainda não, é? O que posso fazer para mudar isso? - sorriu triste.
Foi quando a luz de uma barraca ao lado chamou sua atenção. E então teve uma ideia do que poderia fazer pela esposa.
- Poderia fechar os olhos? - perguntou Hak.
- Por que? - perguntou confusa.
- Só fecha. - respondeu confiante, pegando o manto que estava sobre ela e levantando-o até sua cabeça. - Confie em mim.
Relutante, ela acenou com a cabeça e logo foi guiada pelo marido.
Com o manto do dele, ela privou-se a andar de olhos fechados enquanto sentia a mão quente do marido a proteger.
"... gostaria que isso pudesse te fazer feliz mesmo que só um pouquinho..." relembrou, apertando o manto de seu marido, bem como sua mão. Sentiu ele acariciar sua mão de volta, sendo tentada a abrir os olhos, mas não o fez. "É só minha imaginação." convenceu-se.
Logo pararam e Yona sentiu o agradável cheiro do incenso de uma barraca. Ouviu também Hak conversar com alguém, mas distraiu-se completamente em seus próprios pensamentos, distraindo-se da fala de Hak.
"Tem o cheiro dele..." pensou retendo lágrimas nos seus olhos cerrados. "Tem o cheiro dele... tem o cheiro dele..."
- Hak... Hak...? - chamou-o achando a escuridão desconfortável.
Estranhamente, queria ver o seu rosto. Não queria ficar naquela escuridão sozinha.
Ouvia as famílias, os amigos, as crianças, mas não mais a ele.
- Hak...? - continuou sussurrando.
Em resposta, este apertou a não dela suavemente.
- Estou aqui. Espere só mais um pouco.
- Certo...
Após um breve silêncio, voltaram a caminhar com a ruiva ainda de olhos cerrados.
- Hak...! - reclamou, esbarrando-se acidentalmente nele.
"Duro..." resmungou passando a mão pelo rosto.
- Você está bem? - indagou ao ver que ela passava a mão pelo rosto.
- Sim. Mais ou menos, na verdade. Onde estávamos? - questionou frágil apalpando-o cega.
- Já pode abrir os olhos. Não quero ser molestado em público. - permitiu e ela obedeceu corando pela piada.
- O que é isso? - perguntou analisando um objeto na mão de Hak.
- Como vê, é um presente. - respondeu sucinto
Com um sorriso suave, Hak abriu a mão mostrando o motivo de sua saída.
Era um lindo adereço plumado e alvo. Sua brancura demonstrava delicadeza e beleza nos detalhes frágeis. Uma peça extraordinariamente bela, feita de penas das mais finas garças e pequenas pérolas.
Pelas plumadas era frequentementes vistas pela tribo, mas essa tinha um toque especial.
- Com licença. - disse Hak.
Sem dizer mais nada, aproximou-se e com precisão tentou colocar a presilha fracassando, mas logo conseguiu, pegando Yona de surpresa.
A pureza daquela pena em contraste com a ardência dos cabelos ruivos propiciavam uma beleza única a sua esposa no qual admirou por alguns segundos.
- Não é uma joia como as que você está acostumada, mas essa tem o charme da Tribo do Vento.
- Sim... tem... - disse parando de chorar. - Tem mesmo... - repetiu soltando um leve riso ao vislumbrar as demais pessoas utilizando adereços plumados.
- Para te ajudar a se sentir mais em casa.
- Mas e você? Você também usava penas quando nos conhecemos, não lembra? Por que deixou de usá-las? Não gostaria de usar penas também?
Um pouco reflexivo, Hak respondeu com um sorriso:
- Não... não preciso das penas para saber que meu lar é aqui. Não importa aonde eu esteja, aqui ou no Castelo Hiryuu, eu nunca vou esquecer essas pessoas, essa familiaridade e esse acolhimento. - disse nostálgico admirando o festival junto com a esposa. - Mas quanto à você, acho que combinou apesar do seu cabelo ser incomum.
Apesar da brincadeira, Yona sorriu fraco com as palavras do marido, parando de chorar.
- Eu também... não quero esquecer desse lugar... - sorriu fracamente, porém sincera.
Olhando às pessoas, Yona teve a certeza de que iria querer se lembrar sempre daquele lugar. Seria uma lembrança calorosa para uma vida inteira e ao seu lado, o sorriso de Hak observando o festival, por mais estranho que parecesse a ela, também iluminava aquele local de pura alegria.
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