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História Destinos Cruzados - Novidades no jardim.


Escrita por: IvyMingati

Notas do Autor


Aqui teoricamente começaria a segunda temporada de DC, mas decidi fazer como história corrida. Porém eu vou manter o prólogo porque ele tem tudo a ver com o rumo do enredo!

Hope you enjoy <3

Capítulo 18 - Novidades no jardim.


Fanfic / Fanfiction Destinos Cruzados - Novidades no jardim.


∫ Prólogo ∫

Quando tudo estiver desmoronando
E você sentir que o mundo
Se virou contra você
Quando tudo parecer perdido
E você perceber
Que não é tão fácil se encontrar
Quando tiver que tomar uma decisão
E você se der conta
Que apenas você tem a solução
O que você faria
O que você responderia
Quando te perguntassem
Quem você mais ama?

∫ XXX ∫ Início do capítulo ∫ XXX ∫ 

Uma semana se passou desde a notícia que Agatha dera para a sua sobrinha. Ela não estava preparada para aquilo, principalmente por saber que seus pais questionariam a atual condição da casa e, principalmente, a sua mudança de visual. Ivyin se acostumou à solidão, às festinhas, às visitas dos seus amigos — fossem homens ou mulheres — e com a escassa supervisão de sua tia, a garota experimentou o gostinho da liberdade, ao menos por um ano e alguns meses. Voltar a ser controlada por aqueles que praticamente a abandonaram era uma ideia que não lhe agradava nem um pouco. Em todo caso, evitou ao máximo demonstrar a sua insatisfação na frente da tia e das amigas, até porque não queria ser taxada como a filha desnaturada ou qualquer outro rótulo semelhante. Além disso, a volta deles com certeza iria trazer lembranças do passado que ela não queria ter de se deparar novamente. Talvez o retorno de seus pais não fosse lá muita vantajoso, ao menos não para Ivyin.

Aquela tarde estava mais quente do que o normal, portanto os alunos da escola de Ivyin e a citada usavam roupas mais apropriadas para aquela temperatura. Inclusive as pessoas pareciam mais alegres e extrovertidas, até mesmo aqueles que não eram tão soltos normalmente. A principal mudança podia ser vista em Nathaniel, que por incrível que pareça não estava carregando pastas e livros para cima e para baixo. Ele conversava com alguns alunos com um largo sorriso estampado no rosto, esbanjando simpatia. Provavelmente aqueles que conversavam com ele estavam tentando suborná-lo ou persuadi-lo a passar uma resposta ou outra sobre as provas daquele final de semestre, mas de certo ele não passaria. Ivyin e suas colegas estavam sentadas em um dos bancos do pátio e os observavam ao longe fazendo comentários maldosos e cômicos sobre aquela cena, mas logo tiveram de cessar com a fofoca devido à aproximação de Lysandre. Ele estava acompanhado por um rapaz desconhecido e que se vestia de maneira engraçada. Este se esforçava para manter um sorriso simpático no rosto enquanto o rapaz de olhos bicolores sussurrava alguns dizeres para ele. As meninas por sua vez estranhavam aquela cena, e Rosa principalmente já começava a questionar aquela situação atípica. Lysandre pouco se relacionava com os alunos novos. Na verdade, Lysandre pouco se relacionava com qualquer um fora do seu círculo de amigos.

— Pode ir falando. Quem é esse? — Rosalya foi a primeira a se pronunciar assim que eles se aproximaram o suficiente.  

— Bom dia para você também, Rosa. — Lysandre a respondeu com um sorriso no rosto, e mesmo que sua voz parecesse terna e suave, estava clara a ironia pretendida por ele. 

— Olá. — o rapaz que acompanhava Lysandre cumprimentou as meninas com o mesmo sorriso forçado de antes, porém este sumiu assim que suas órbitas pousaram em Ivyin. Seus olhos se semicerraram e seu cenho se franziu.

Todos, com exceção de Ivyin, acompanharam o olhar lançado pelo rapaz desconhecido. A garota de cabelos prateados, intimidada pelo olhar do menino, entortou levemente a cabeça para o lado ao tempo em que também o analisava tentando se mostrar tão intimidadora quanto ele. Aquela troca de olhares durou pelo menos um minuto até que o rapaz cedesse ao notar que seu rosto começava a ruborizar. Suas órbitas passaram a fitar o chão como se aquela fosse sua válvula de escape contra a timidez que o atingia. Os colegas ao redor se entreolhavam com um ponto de interrogação estampado em suas faces, e isso era bem visível em Lysandre, sendo que eram poucas as vezes em que era possível notar qualquer tipo de expressão vinda dele. Ivyin apenas abriu um pequeno sorriso satisfeita pela vitória naquela competição sem sentido. Um silêncio perturbador se estendeu ali, até porque ninguém mais sabia o que falar.

— Ahn... O que-

— Ah! Aí está você. — Nathaniel pronunciou ao longe ao ver o rapaz ao lado de Lysandre, interrompendo a fala de Kim — Vem comigo. Precisamos acertar a sua documentação para matrícula.

Sem questionar, o menino seguiu Nathaniel que sequer notou a presença das meninas. Lysandre logo voltou para a sua expressão normal enquanto as meninas, com exceção de Ivy, sussurravam alguns dizeres entre si. A garota de cabelos prateados pensou por um momento que aquele poderia ser algum conhecido seu, mas essas ideias se esvaíram assim que ela passou a olhar para Lysandre. Desde aquele dia em sua casa, pouco eles se falavam na escola, limitando-se apenas à cumprimentos um tanto quanto formais. Para disfarçar o seu incômodo com aquela situação e aproveitando a distração de suas amigas, a garota abriu um pequeno sorriso para o amigo, que retribuiu quase de imediato. O problema é que ele não parecia estar sorrindo verdadeiramente, pois seu olhar não entrava em harmonia com o sorriso estampado em seus lábios. Após soltar um breve suspiro desanimado, Ivy se levantou e foi em direção ao rapaz, pegando em seu braço sem nem mesmo esperar por uma objeção.

— Meninas, volto já. — ela pronunciou antes de se retirar daquele local em direção à escadaria mais vazia da escola, a mesma em que Lysandre gostava de escrever quando sozinho.

— Ivy, para ond-

— Lysandre, sério — ela pronunciou irritadiça ao encostá-lo contra a parede ao dá-lo um leve empurrão com as mãos em seu peito, obrigando-o a se apoiar no corrimão da escada — o que está acontecendo?

— Do que... Do que você está falando? — ele evitava olhar diretamente para ela.

— Do que eu estou falando? — ela perguntou incrédula, cruzando os braços — Lysandre, você mal fala comigo há dias. A gente só se cumprimenta. Eu não estou entendendo...

— É a mesma coisa... Que antes.  

— Sério isso? — Ivy perguntou num tom de deboche, soltando um baixo suspiro logo em seguida ao abaixar o olhar para os próprios pés — Lys, eu... Isso é por causa daquele dia? — ela levantou o olhar para ele, desanimada.

— N-não é is-

— Eu já te pedi desculpas. Você aceitou, não aceitou? — sua voz estava baixa e ela se esforçava para não ceder à tristeza que começava a invadi-la com as lembranças daquela noite — Por que você não veio falar comigo então? Era só uma conversa... Não custava nada me chamar. — a velocidade das palavras diminuía gradativamente conforme seus olhos eram preenchidos pelas lágrimas que teimavam em querer escorrer — Somos amigos há tanto tempo... Não quero que as coisas fiq-

Subitamente, Lysandre se desencostou da parede e envolveu Ivyin em um abraço apertado, fazendo-a dar alguns passos para trás graças ao impacto. A garota por sua vez permaneceu encolhida, aproveitando o aconchego daquele contato que há semanas não usufruía. A vontade que sentia de fazer o mesmo que fizeram naquela noite aumentava pouco a pouco, mas ela sabia que mais um envolvimento daquele tipo com Lysandre poderia desestruturar sua relação de amizade com ele. Aos poucos, suas pernas foram cedendo, o que obrigou o rapaz de olhos bicolores a sentar-se sobre o degrau da escada sem soltar-se dela. Mesmo que ela não o envolvesse igualmente, ele sentia as pequenas mãos dela segurarem firmemente em sua camisa. O aroma que os cabelos dela exalavam traziam-lhe lembranças daquela noite, e ele sabia que a relação de ambos havia chegado naquele ponto por causa do imprevisto que os impediu de prosseguir. Ele não estava bravo por causa da interrupção, muito pelo contrário. Talvez ela sequer estivesse preparada para continuar com aquilo. Porém ele sabia que Ivyin ainda não havia superado o término com Castiel, e esse fato sim o incomodava.

Aos poucos, Lysandre fora soltando-se da garota deslizando suas mãos pela lateral do corpo desta, que por sua vez manteve-se de cabeça baixa. Era possível perceber que a batalha contra as insistentes lágrimas foram em vão, pois tanto o rosto de Ivyin quanto a camisa de Lysandre encontravam-se úmidos. Ele suspeitava do motivo para ela estar em prantos e culpava-se ainda mais por deixá-la chegar nesse ponto. Sua vontade de protegê-la apenas aumentava, pois a cena daquela garota frágil — ainda mais sabendo da história que havia por trás — o machucava. Lysandre se martirizava por pensar que contribuiu para aquela situação acontecer. De fato, ele tivera a sua parcela de culpa, mas Ivyin não chorava apenas por isso. Era um acúmulo de tristezas e decepções em seu peito que acabaram por se esvair justo naquele instante.

— Ivy...  

— Você sabe — a garota começou a falar tentando limpar algumas lágrimas com as costas das mãos — que eu preciso de você. Não é? — seu último questionamento fora acompanhado pelo levantar de seu rosto para fitá-lo nos olhos.

— E eu estou aqui. — abraçou-a no meio de sua frase, evitando que suas órbitas se cruzassem — Eu também preciso de você.  

Ivyin retribuiu ao abraço, já sentindo-se mais calma em relação ao começo daquela discussão. Porém a frase seguinte do rapaz saíra tão baixa que era impossível para ela decifrar o que ele dissera.

— O que você disse? — perguntou retirando seus braços do entorno dele.  

— Nada. — Lysandre abrira um sorriso um tanto quanto forçado, porém comum a julgar pela sua habilidade de não demonstrar emoções — Eu disse que preciso gravar um CD. — olhou para o lado tentando disfarçar sua mentira.

A garota franziu o cenho por um instante, mas logo sua expressão se suavizou com o riso baixo que soltara. — Você é estranho quando quer. — ela manteve seu olhar fixo ao dele por um instante, até que se apoiou no joelho daquele a sua frente para se inclinar sobre o seu corpo, depositando um demorado beijo em sua bochecha, afastando-se logo em seguida com um largo sorriso estampado nos lábios — Obrigada.

Lysandre, mais uma vez, estava estático. Sequer parecia que eles já haviam trocado carícias na outra noite, pois ele ruborizou apenas com o toque dos finos lábios da garota em sua bochecha. Os mesmos receios de ser rejeitado voltaram à tona, os mesmos arrepios de quando a tocou e descobriu que tinha sentimentos por ela também decidiram se manifestar. Sem ter muito o que a responder, fitou-a com seriedade por um instante retribuindo ao olhar que ela igualmente o lançava, isso até que ela se levantasse arrumando a barra de sua regata sobre a saia preta que usava. Após um pigarro e mais uma breve troca de olhares, Ivyin acenou para ele antes de descer as escadas rumo ao pátio. Lysandre soltou um longo suspiro, aliviado de certa forma. Estava tenso com a presença dela ali, principalmente com as atitudes nada convencionais que tinha. Estava se preparando para levantar e seguir o seu rumo também, porém fora surpreendido pela voz da garota com quem antes falava ecoando pela escadaria.

— Lysandre! — ela surgiu novamente ao subir as escadas do andar abaixo, parando um pouco antes do degrau da escada onde o garoto estava — Me prometa que tudo vai voltar ao normal agora.  

Hesitante, o rapaz de olhos bicolores permaneceu com os lábios entreabertos, pensando numa resposta para ela, mas no final cedeu ao óbvio abrindo, pela primeira vez naquela manhã, um sorriso sincero. — Eu prometo.  

Satisfeita com a resposta que recebera, Ivyin abriu um largo sorriso mais uma vez, desaparecendo então da visão do rapaz. Ele sabia que a relação dos dois não seria a mesma de antes, aquilo na verdade seria praticamente impossível. Os sentimentos que tinha por ela teriam de ser trancafiados dentro de si, pois era fato que se ele se confessasse, a dor que existia dentro dela seria maior. Ivyin, como possuidora de um grande coração, ficaria dividida entre ele e Castiel, isso se não tivesse outro garoto na jogada. Ela não iria querer machucar ninguém e no fim sairia carregando a dor de todos os envolvidos. Medidas teriam que ser tomadas para que Ivy pensasse que estava tudo normal, quando na verdade havia muita coisa por trás que ela sequer suspeitava.


[...]

— Gatinho! — Debrah chamou Castiel pelo apelido que ele menos gostava, prolongando o som do "o" no final — Onde você está?

O rapaz de cabelos rubros se encontrava na varanda da casa tentando compor uma melodia para a nova música que Debrah havia feito. Apoiava um de seus pés sobre a espreguiçadeira enquanto ajustava os acordes de sua guitarra. Sua concentração era tanta que nem pôde ouvir a voz esganiçada de sua companheira, cuja qual descia os degraus de madeira enfurecidamente. Ambos haviam se mudado para a antiga casa de Castiel há uma semana, e para a sorte do rapaz, seus pais não passariam aquele ano naquela casa. O bom de voltar para a cidade "definitivamente" é que eles não precisariam ficar hospedados em hotéis, consequentemente teriam um espaço para ensaiar sem reclamações alheias. O lado ruim, para Castiel no caso, é que Debrah traria várias de suas amigas para passarem a noite vez ou outra. Isso tiraria completamente a privacidade do rapaz. Além disso, a morena já estava cogitando a possibilidade de fazer festas na piscina. As coisas não andavam muito bem para o ruivo.

— Castiel! — a garota passou pela porta de vidro da varanda rapidamente, irritada com a falta de resposta — Você não está me ouvindo? Eu estou te chamando há- — antes que pudesse finalizar sua frase, acabou batendo o pé no suporte da espreguiçadeira, feito visto por Castiel — Merda! Merda! A culpa é sua, idiota!  — ela proferia suas palavras de ódio enquanto segurava o pé machucado tentando se equilibrar sobre o outro. Seus olhos estavam vermelhos.

— Precisa de ajuda? — Castiel perguntou com um sorriso travesso nos lábios enquanto a olhava de canto de olho.

O semblante dramático antes esboçado na face de Debrah tornou-se uma expressão de ódio. Para não perder a pose e segurando-se para não deixar as lágrimas escorrerem por seu rosto, a garota voltou a colocar o pé no chão cuidando para que não se apoiasse sobre ele. Voltou à postura ereta e colocou uma das mãos sobre o quadril, abrindo então um largo sorriso — demasiadamente falso por sinal.

— E então? O que achou?

— Do que? — o rapaz perguntou, já concentrado nos acordes de sua guitarra novamente.  

Insatisfeita com a resposta que ele lhe dera, Debrah revirou os olhos, respirando fundo antes de agir de acordo com o que havia pensado. Andou, então, até o rapaz dando a volta ao redor dele para que pudesse retirar, com delicadeza, a guitarra de suas mãos, colocando-a sobre a espreguiçadeira na qual ele apoiava um pé. Irritado, o garoto enfim olhou para ela pronto para questionar sua audácia, porém surpreendeu-se ao ter seus lábios tomados pelos dela. A morena apoiava-se nos ombros de Castiel enquanto este tentava compreender o que ela estava fazendo. Apesar de serem apontados como um casal, a relação que eles tinham não era lá muito afetiva e as coisas mais básicas dentro de um relacionamento não eram comumente realizadas por eles. Com relutância, o rapaz acabou cedendo ao beijo iniciado por Debrah, apertando a sua cintura como resposta aos toques que ela realizava. Só então notou que suas costas estavam nuas, deduzindo que provavelmente o que ela queria lhe mostrar era uma de suas roupas de banho novas. Porém logo seus pensamentos foram tomados pelas sensações que aquele beijo transmitia. No caso, nenhuma. Era engraçado como ele havia perdido o interesse naquela mulher, mesmo já tendo sentido diversas coisas por ela. Impaciente e ansioso para ir direto ao ponto para encerrar aquela encenação, Castiel se afastou um pouco da garota para que pudesse fitá-la, notando que esta ainda permanecia de olhos fechados como se ansiasse por mais.

— Fica bom em você. — proferiu de maneira indiferente, mas ainda assim tentando manter um pouco de complacência em sua voz. Para finalizar e poder finalmente sair dali, deu-lhe um rápido beijo na bochecha, pegando então a sua guitarra e voltando para dentro da casa.

Debrah abrira os olhos apenas para vê-lo adentrando a residência, não se sentindo convencida do elogio que ele a fizera. Decepcionada, irritada e com dor, como sempre decidiu dar de ombros, retirando sua camisa transparente usada como saída de praia, a dispondo sobre a mesinha de madeira mais próxima. Ajeitou os detalhes de seu biquíni para poder finalmente deitar sobre uma das espreguiçadeiras a fim de aproveitar o sol. Pensativa, a morena questionava-se pela primeira vez o motivo para Castiel ser tão frio, mas não pôde evitar os pensamentos que remetiam à falta que ela sentia das carícias trocadas no começo da relação. Ela não sabia se queria que aqueles momentos voltassem ou se estava satisfeita com sua atual situação. Arrependimento, talvez?


[...]
 

Aquele dia passou mais rápido do que o esperado. Ivyin só teve tempo para pensar sobre os resumos das provas que seriam realizadas em algumas semanas, então o espaço que reservou para tirar suas conclusões sobre o dilema com Lysandre fora em vão. Outro fator que a incomodava e ela via necessidade de questionar era sobre as estranhas atitudes do novo aluno do colégio. Mesmo durante os intervalos de aulas, o garoto permanecia a encarando de maneira assustadora, e pouco a pouco sua habilidade de enfrentá-lo fora perdendo a força. Com o tempo ele passou a entortar a cabeça da mesma forma que ela fazia, deixando aquela situação mais cômica do que o normal. Cansada, tanto física quanto mentalmente, a garota de olhos dourados aguardava o sinal da última aula bater para que ela pudesse ir para casa dormir, dormir e dormir. Por alguma razão desconhecida, Lysandre não estava ao seu lado naquela aula então ela não tinha com quem papear. Para o seu alívio, o sinal havia tocado cinco minutos antes do esperado, fazendo com que ela levantasse suas mãos para o alto como uma forma de agradecimento. Assim como os demais alunos, Ivyin começou a arrumar seus pertences em certa velocidade até, já levantando-se da cadeira para ir embora, quando fora surpreendida por um anúncio nas caixas de som da escola.

 

"Todos os alunos presentes de todas as séries, favor se dirigirem ao ginásio da escola para comunicado oficial da diretora."

                                       

 — Justo agora?  

— Que bosta! Essa diretora só inventa.  

— Eu ia no shopping quando saísse... Com que roupa vou na festa de amanhã agora?

O alvoroço na sala de Ivyin já estava generalizado e o professor responsável por aquela turma já havia perdido o controle. Os alunos reclamavam aos quatro ventos, enquanto a garota de cabelos prateados apenas respirou fundo antes de se retirar daquele local. Procurava por suas amigas no meio da multidão que invadia os corredores, mas sem sucesso, acabou chegando no ginásio sozinha. Sentou-se em um espaço livre qualquer mais ao fundo, porém ainda assim procurando pelas garotas. Como ninguém estava ocupando os lugares ao seu lado, dispôs sua mochila em um canto e relaxou sobre o espaço em que se encontrava, colocando os pés sobre o degrau. O ginásio já se encontrava quase completamente preenchido, portanto os alunos começaram a subir para o fundo. Ajeitou-se novamente — contra a sua vontade — para dar espaço para um rapaz que se aproximava para sentar-se ali, mas não o deu muita atenção, apenas o notando de relance. Assim que ele o fez, a garota olhou para o lado no intuito de saber se o reconhecia, surpreendendo-se com o que vira.

— Mas olha se não é o garoto estranho. — ela pronunciou de forma debochada, mas com a voz indiferente.

Sem ter notado a garota que sentava ao seu lado, o rapaz que fora apresentado para Ivyin e suas amigas mais cedo assustou-se com a presença dela ali. Na realidade ele só sentou naquele lugar porque aqueles perto dos seus colegas já estavam ocupados, então ele teve que se afastar. Inicialmente as maçãs do seu rosto ruborizaram ao que ele passou a olhar para baixo, tentando disfarçar a timidez por estar sentado ao lado da garota que passou encarando o dia inteiro, porém um choque de realidade passou por ele. Não poderia e sequer queria voltar a ser o que era antes, então tinha que agir da maneira que aprendera durante o tempo que ficou fora. Levantou o rosto e abriu um sorriso travesso ainda sem olhar para ela.

— Não sabia que praticava bullying agora, — virou o rosto então para fitá-la — Ivyin.

— Ivyin...?

— Ei, garoto novo! — uma voz masculina ecoou tendo origem ao lado direito do local onde estavam — O cara liberou o espaço aqui!  

O garoto sem hesitar levantou e virou as costas para a garota que o olhava confusa. Seguiu então em direção a seus amigos desviando de algumas meninas que pareciam se dirigir ao local onde ele antes se sentava. Ivyin o observava se afastar com o cenho franzido tentando absorver aquela informação até que sua visão fora tampada por três garotas que tentavam chegar até ela, reconhecendo-as na hora.

— Com licença, com licença. — Rosalya falava com algumas pessoas, estas que tinham seus pés constantemente pisados por ela — Ivy! Por que você estava falando com o menino novo? — questionou-a assim que se sentou ao seu lado, seguida por Kim e Violette que se sentaram ao outro lado.

— Você é rápida, hein! — a morena pronunciou com a voz debochada dando uma leve cotovelada no braço de Ivyin.

— Aquele garoto sabe o meu nome. — a garota enfim se manifestou de maneira pensativa — Eu estou achando que conheço ele de algum lugar...

— Também, o tanto que vocês se encaram. Deve ser conexão de alguma vida passada. — Rosalya falou revirando os olhos, voltando então sua atenção para o centro do ginásio — Ah, a diretora vai falar.

Alguns alunos terminavam de se sentar enquanto a diretora e os professores terminavam de arrumar a aparelhagem de som do ginásio. Burburinhos por todo o lado podiam ser ouvidos no meio dos grupinhos dispostos pela arquibancada. Muitos se questionavam sobre o que a diretora falaria e outros tiravam sarro dos professores perdidos que levavam bronca da reitora. Ao terminarem de arrumar tudo e quando, enfim, a diretora tomou o microfone em mãos, o silêncio se estabeleceu.

— Muito bem. Boa tarde, crianças. — ela pronunciou com seriedade.

— Boa tarde! — os alunos pronunciaram em uníssono.

— Sei que vocês querem ir embora, mas o anúncio que venho lhes trazer hoje é importante. — ela olhou para os professores para que eles concordassem — Notamos que poucos de vocês estão realmente preocupados com a aproximação da data das provas do final desse semestre. Isso porque, segundo os meus colegas de trabalho, vocês têm se distraído demais com conversas durante as aulas. É por isso que, mediante um conselho realizado durante o final de semana passada, nós decidimos que as turmas serão organizadas por matéria, e não mais por série.

— Como assim, diretora? — um aluno nos primeiros degraus da arquibancada questionou. Aparentemente era Nathaniel que estava ali propositalmente para que parecesse que os alunos se interessavam.

— Basicamente, as turmas de vocês serão separadas. — após esse pronunciamento, uma gritaria começou a ecoar nas paredes do ginásio graças à indignação dos alunos presentes — Silêncio! Agora! — contudo, a voz da reitora com um microfone conseguia ser mais assustadora do que o normal — Bem, os alunos serão selecionados mediante um sorteio para montar turmas em cada matéria. Essa turma se manterá fixa durante aquela aula, mas não durante as demais. Restou alguma dúvida?

— Diretora, as aulas de Educação Física serão assim também?  

— Sim, todas as matérias, sem exceção. Mais alguma pergunta? — visto que ninguém mais respondeu, a reitora abriu um sorriso breve — Estão dispensados.  

Mais uma vez uma bagunça generalizada começou, porém os professores e muito menos a diretora se importaram em organizar. Os alunos estavam indignados com a decisão tomada pelo Conselho e vez ou outra era possível ver alguns grupinhos de meninas se lamentando por não poderem ficar mais juntas. Ivyin olhava para o nada ainda pensando sobre aquele rapaz. Pouco captou da mensagem da diretora, mas aquilo de fato não a atrapalharia em nada. Seria na verdade uma oportunidade para fazer novas amizades. Rosalya falava ao telefone com seu namorado proferindo aos quatro ventos o quão indignada estava. Ao outro lado, Kim tentava consolar Violette que pareceu ficar bem desanimada com aquela situação. Por fim, vendo que a conversa naquele final de tarde seria pouco produtiva, Ivyin se despediu das meninas e desceu os degraus da arquibancada atrás de mais alguns grupos de alunos. Estava tão distraída em seus pensamentos que sequer tentava ultrapassar os mais lentos a sua frente, e ao passar pela porta alta do ginásio, fora tirada de seu transe ao ser puxada pelo braço.

— Meu Deus, que violência! — ela proferiu olhando para a mão em seu braço, só depois fitando o rosto de seu "agressor". Ao reconhecê-lo, abriu um largo sorriso — Oi, Lys.

— Você estava bem distraída... — ele respondeu com um meio sorriso, já não mais segurando o braço dela.

— Realmente... Aquele seu amigo é estranho. — proferiu com o cenho franzido, observando-o fazer o mesmo, porém logo sua expressão relaxou — Ah, por que você não estava na aula?  

Lysandre então abriu um sorriso terno, como se estivesse feliz por Ivyin ter tocado neste assunto. — Tenho uma surpresa para você.

— Para mim? O que é? — ela estava achando aquilo mais estranho do que o menino que a encarava.

— Procure pelo seu jardim.  

— Meu... — ela abaixou o rosto, pensativa — Jardim? — quando subiu as órbitas para fitá-lo, Lysandre já estava longe, aparentemente indo embora. Ivyin revirou os olhos, terminando de ajeitar a mochila em suas costas — Agora quer fazer misteriozinho. Essa galera tá estranha hoje. — murmurou para si mesma.

Acompanhando a multidão, logo a garota estava ao lado de fora da escola, seguindo rumo à sua casa rapidamente. Estava cansada, mas ao mesmo tempo ansiosa para saber do que se tratava a tal surpresa citada por Lysandre. Em pouco mais de quinze minutos, estava virando a esquina que levava a sua rua, já esticando o pescoço para tentar enxergar alguma coisa, porém sem sucesso. Acelerou o passo no intuito de chegar mais rápido e não ter sua visão tampada pelos arbustos, porém, subitamente, um rapaz de estatura mediana e cabelos verdes levantou-se no meio do jardim observando algo em suas mãos. Dito isso, Ivyin fora diminuindo a velocidade gradativamente enquanto apertava os olhos para tentar reconhecer o rapaz que se encontrava no meio do seu jardim. Ao notar que não conseguiria, andou os poucos metros que faltavam para chegar e parou em frente ao portão baixo, pendendo um pouco a cabeça para o lado enquanto fitava o garoto de cima a baixo. Ele usava uma espécie de avental verde, com luvas marrons da mesma cor que um tipo de boina. Ao olhar para baixo, a garota notou que seu jardim estava com alguns buracos e alguns montinhos de terra. Confusa com aquela situação, Ivyin passou silenciosamente pelo portão, parando próximo ao rapaz distraído logo em seguida ao cruzar os braços.

— Creio que você não seja minha surpresa. — pronunciou com a voz debochada, porém tentando se manter séria. O rapaz, assustado, virou-se para ela subitamente.

— Sur-surpresa? — ele deu um passo para trás — Desculpe, não sei do que você está falando. — um pouco mais aliviado por notar a figura inofensiva ao seu lado, colocou o objeto em suas mãos no chão e voltou a fitá-la — A senhorita poderia, por gentileza, se retirar desse jardim? Em breve a dona da casa vai chegar e pode ser que ela não goste.  

Ivyin franziu o cenho com o pedido do rapaz, porém abriu um sorriso debochado logo depois. — Amigo, quem é você? — ele a fitou por uns instantes e então abaixou o olhar, sentindo-se intimidado — Certo, eu sou a dona da casa. Poderia me dizer agora quem é você? Porque assim, você está meio que invadindo o meu jardim e fazendo vários buracos nele. — ela concluiu de maneira enfática.  

— Senhorita Ivyin?  

— Creio que sim. — respondeu ríspida e com as sobrancelhas arqueadas.

— Mas a Dona Caroline me disse que você tinha cabelos pretos e-

— Você  é um enviado de minha mãe? — Ivyin descruzou os braços e colocou um dedo sobre o peito do rapaz como se estivesse o ameaçando — Você não está aqui para me espionar, né?  

O rapaz olhou um pouco assustado para o dedo da menina e logo depois para a expressão desconfiada dela, porém logo uma risada tímida fora solta por ele. — Ela também comentou sobre o seu bom humor. Meu nome é Jade, ela me contratou para cuidar do jardim dessa casa. — o rapaz encerrou a sua apresentação retirando a luva de uma das mãos e a esticando para cumprimentá-la.

— Hm. — ainda desconfiada, a garota se afastou do garoto e olhou para a mão dele, tocando-a logo em seguida realizando o cumprimento pretendido por ele — Bom, eu preciso entrar agora. Não volte para casa muito tarde, em breve vai escurecer. — abriu então, finalmente, um sorriso simpático que fora retribuído igualmente pelo rapaz.

— Ah, isso aqui parece ser seu, senhorita. — Jade se abaixou para pegar o objeto que antes estava em suas mãos, parecendo ser um CD embalado com um papel de presente completamente roxo com um laço branco. Entregou-o para Ivyin que o agradeceu com um breve menear da cabeça, adentrando então em sua casa.  

A garota de cabelos prateados observava aquela embalagem com um pequeno sorriso nos lábios. Ela já sabia do que se tratava e ficava ainda mais contente por saber que fora Lysandre o responsável por aquele presente. Subiu ao seu quarto rapidamente jogando a mochila na cadeira do computador, ligando então o aparelho para que pudesse colocar o CD que não mais estava embalado. Assim que o fez, a primeira música a tocar fora aquela que marcou a noite que passou na casa do rapaz. As lembranças do momento que passaram juntos começaram a invadir seus pensamentos e em poucos segundos ela já estava cantarolando e dançando sozinha pelo quarto. Enquanto o fazia, aproveitava para trocar a roupa que usava por uma mais simples, composta por um short de moletom preto e uma regata branca. O sorriso estava estampado em seu rosto, e para animar-se ainda mais, abriu a janela de seu quarto para poder observar o entardecer daquele dia. Suspirou aliviada assim que o fez, apoiando-se no batente da janela ao que ainda cantava a música num tom de voz mais baixo, dando espaço para os pássaros igualmente cantarolarem numa saudação em conjunto para aquele fim de tarde. Ao abaixar o olhar para o jardim, notou que Jade estava ajoelhado e ainda parecia bem ocupado com as plantas. De certa forma, ter a presença daquele rapaz ali também a animava, afinal ele parecia ser um outro marco das mudanças que estavam ocorrendo em sua vida. Decidiu, quase que num impulso, convidá-lo para entrar.

— Ei, Jade! — esperou que ele olhasse para cima, notando que ele a tinha visto graças ao sorriso que ele abrira — Quer beber alguma coisa? Um café ou chá, talvez. — sua voz estava elevada para que ele a ouvisse.

— Ficaria muito grato, se não fosse incômodo, senhorita Ivyin. — ele a respondeu já se levantando.

— Me chame de Ivy. — ela concluiu sua fala com um sorriso terno, o mesmo lançado por Jade em resposta ao pedido da garota.



As coisas não pareciam estar mais tão ruins assim.  
Talvez a volta de seus pais não fosse trazer apenas lembranças indesejáveis.  
Talvez aquele fosse o marco de uma nova fase de sua vida.  
Talvez as coisas enfim ficassem melhores. 
Talvez, quem sabe...

 


Notas Finais


Bom meninas, como vocês devem ter percebido esse capítulo ficou maior e talvez um pouco mais maçante do que deveria. Àquelas que não gostam de leituras muito grandes, sinto muito, mas infelizmente os capítulos a partir daqui têm mais ou menos essa média de tamanho e isso só se altera mais para frente.

Espero que não se incomodem!


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