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História Destinos Entrelaçados - A Sós (2 Parte)


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Muito obrigada a todos pelos comentários, seguidores novos e favoritos !
Cá está a 2º parte também com dimensões consideráveis.

Referências musicais: In assenza di te - Laura Pausini & Royals - Lorde.

Capítulo 28 - A Sós (2 Parte)


A sós (2º Parte)

 

O relógio interno dizia-lhe que devia levantar-se. Por força do hábito, sempre que tinha dias livres saía da cama cedo para ir correr. Tendo em conta, que no dia anterior não fez qualquer tipo de exercício planeado, aquela devia ser a ação mais coerente a ser tomada. Só que em vez disso, pensou que podia fazer isso mais tarde. Estava quente, ou melhor, estava confortável como nunca tinha estado antes. Não queria sair dali. Não queria acordar e sair de um dos sonos mais tranquilos que alguma vez teve.

Esse tipo de pensamentos fê-lo mergulhar novamente num sono profundo que foi interrompido algum tempo mais tarde. Desta vez, não por vontade própria, mas porque Eren ao acordar apercebeu-se que embora, fossem aproximadamente dez da manhã pelo que podia ver no relógio da mesinha de cabeceira, Levi continuava nos seus braços não dando qualquer sinal de que fosse acordar. Não resistiu à tentação de o ter tão perto e começou por passar o nariz na nuca do homem de cabelos negros que se moveu ligeiramente, mas ainda sem despertar. Após esse toque mais discreto, beijou-o e aí viu a pele do outro arrepiar-se. Isso não o parou. Continuou a deixar pequenos beijos que começaram a intercalados com pequenas mordidas.

- Hum… Eren… - Murmurou Levi ao abrir os olhos lentamente enquanto sentia a sua pele arrepiar-se. A mão que antes rodeava a sua cintura, agora acariciava o seu peito por baixo da camisa. – Não eras tu que só querias dormir…hum… como uma pessoa normal? – Perguntou, tentando disfarçar o quanto aquelas carícias estavam a afetá-lo.

- São quase dez da manhã… - Sussurrou perto da sua orelha e mordeu-a um pouco.

- Ngh… Dez da manhã?! – Virou-se para encarar Eren, mas este assim que teve o seu rosto à frente dele, beijou-o. Ao notar alguma resistência, o adolescente decidiu não deixar que se levantasse. Posicionou-se sobre Levi que ao tentar falar novamente, foi interrompido pela língua que entrou na sua boca e o fez concentrar-se somente naquele beijo.

Tenho que parar… não posso continuar a puxar pelo meu controlo desta forma. Não sei até quando vou conseguir…”, os seus pensamentos foram interrompidos ao sentir uma das mãos do rapaz sobre o seu membro.

- Levi… parece que também acordaste com a mesma vontade do que eu… - Sussurrou perto da orelha do outro que mordia o próprio lábio para não deixar qualquer som escapar pela sua boca. – Quero perguntar uma coisa… estás à espera que faça dezoito anos para podermos fazer mais do que isto?

- Achas que… - Tentou manter a sua respiração sob controlo. – Tenho ar de celibatário? Querias que te encostasse a algum canto logo no primeiro dia em que concordei com isto?

Deixou a língua percorrer a orelha de Levi que teve que prender a respiração por alguns instantes.

- Isto? Isto o quê?

- O nosso relacionamento. – Falou, desviando o olhar.

Eren sorriu.

- Disseste-me que sempre foste alguém que não esperava por estas coisas. – Insistiu o adolescente. – Estás a ser tão cuidadoso comigo porque sabes pelo que passei quando era mais novo? Ou realmente estás a esperar? Quem sabe, seja as duas coisas, mas… - Agarrou o queixo de Levi para que este o encarasse. - Já te disse antes… eu confio em ti.

Vulnerável. Era assim que sentia naquele momento e isso assustava-o. Não gostava da ideia de se ver tão entregue às carícias e palavras de outra pessoa. Tão afetado que mal conseguia pensar coerentemente. Tão influenciado que ouvia a sua própria respiração cada vez mais agitada. Não sabia o que dizer ou no que pensar.

Era verdade que estava a controlar os seus impulsos perto dele. Fazia-o exatamente por aqueles dois motivos. Embora, também soubesse que existia o risco de assustá-lo. Ele não imaginava como gostava de controlar, manipular e “torturar” os outros durante o sexo. Aqueles que passaram pelas suas mãos, também não sabiam como gostavam de ser tão submissos até se verem nessa situação. Para quem não tinha um historial semelhante ao do adolescente, tudo aquilo poderia ser somente encarado como a realização de mais uma fantasia sexual. No fim, sabia que restava-lhes apenas o prazer de ser dominado por outra pessoa.

Porém, e se no caso de Eren, alguma coisa que dissesse ou fizesse o recordasse daquele que tinha arruinado a sua infância? A ideia de ver a mesma expressão que ele devia ter feito àquele monstro, fazia com que negasse as suas necessidades físicas.

Tentava por todos os meios, entender como podia ir com mais calma e ser tão carinhoso quanto possível, mas teria que admitir que quando o beijava, queria puxar mais os seus cabelos, queria arranhá-lo com mais força, queria marcá-lo com a sua boca e com as suas mãos. Sempre que a sua mente vagueava por esses pensamentos, sabia que tinha que parar antes que se arrependesse de algo que fizesse sem pensar.

- Levi? – Chamou Eren ao ver que o outro parecia perdido nos próprios pensamentos.

Essa distração foi o suficiente para que Levi reunisse as forças necessárias para reverter as posições.

- Não, não estou à espera que chegues à idade adulta. Para mim irás continuar a ser o mesmo pirralho de sempre. – Afirmou, puxando a camisa de Eren e este apenas seguiu os movimentos até ficar em tronco nu. – Só acho que devemos ter calma… - Inclinou-se, aproximando os lábios da boca de Eren. – Se soubesses o que já pensei em fazer contigo, terias medo de provocar-me assim tanto…

- Ou provavelmente provocaria mais.

- Eren… - O tom soava como um aviso. – Não tentes saber até onde podes puxar a corda. Não falo por experiência própria porque nunca tive nessa posição, mas… - Passou a língua nos lábios de Eren que deixou escapar um pequeno gemido. – Pela cara de quem não teve a oportunidade de usar lubrificante, digamos que a sensação não deve ser das melhores.

- Oh não, por favor, não me faças lembrar do Armin agora…

- Armin? – Beliscou a barriga de Eren com força suficiente para que este se queixasse.

- Fizeste isso porquê?! – Perguntou irritado.

- Eu é que pergunto o que andas a fazer com o teu amigo para a conversa chegar aí!

- Ele esteve a contar-me, sem eu querer, coisas sobre ele e o Jean! – Falou no mesmo tom e viu alguma surpresa no olhar do homem que continuava sobre ele. – Somos amigos, não ando a…

- Hum, é melhor assim. – Interrompeu Levi que se posicionou melhor, desta vez para começar a beijar o peito do rapaz que voltava a ruborizar-se novamente. – És meu, Eren… só meu, nunca te esqueças disso. – Assim que tocou com a ponta da língua no mamilo do outro, ouviu um gemido bem mais audível.

- Ngh… Levi, aí não…

- Porquê? É óbvio que gostas… - Desta vez, agarrou o membro do rapaz e acariciou-o lentamente. – Não imaginas como gosto de te ver assim, sem conseguir falar, sem conseguir respirar calmamente…

- Levi… - Era a única coisa que saía da sua boca, além dos gemidos que foram silenciados quando Levi voltou a beijá-lo. Continuava sobre o corpo do rapaz, mas entre carícias e beijos tinha pegado no membro de ambos. Masturbava-os simultaneamente, servindo-se também da fricção pelo movimento sincronizado que fazia com o corpo.

Não… como é que é possível sentir-me assim, só com ele a fazer isto comigo?”, perguntava-se Eren, gemendo cada vez mais contra a boca do outro, tentando aguentar um pouco mais para não ouvir mais comentários sobre a fraca “resistência” que tinha. “É bom… é demasiado bom… não vou conseguir”. Agarrava um dos ombros e a outra mão, levou-a aos cabelos negros e nesse instante, o beijo teve que parar, pois Levi afastou-se e escondeu o rosto contra o corpo de Eren enquanto deixava um gemido bem mais audível escapar da sua boca. Um arrepio percorreu o rapaz ao ouvi-lo e soube que era inútil tentar aguentar mais tempo, estava no seu limite.

- Ah…ngh… Levi! – Puxou mais uma vez com força os cabelos do outro ao chegar ao seu limite e isso aliado, à visão de ver o estado em que o tinha deixado, também fez com que não suportasse muito mais. Para conter a própria voz, mordeu o pescoço de Eren para ter a sua boca ocupada.

Assim que se sentiu um pouco mais calmo, procurou os olhos de Eren e murmurou:

- Na próxima vez, vou fazer algo melhor do que isto… não me canso de te ver assim. – Afastou-se e avisou que iria tomar banho e que Eren devia fazer o mesmo em seguida.

O rapaz permaneceu na cama, ouvindo o som da água a escorrer na casa de banho. O corpo estava mole e pensava em como apenas aquelas provocações o deixavam naquele estado. Se era assim apenas com o que podia chamar de preliminares, arrepiava-se de pensar como seria…

Tenho que parar de pensar tanto nisto…pareço um desesperado por sexo, se bem que parte de mim, queria que ele deixasse os receios dele de lado”, fechou os olhos, “Nunca quis tanto que alguém que me tocasse. Nem acho que algum dia vá querer outra pessoa que não seja ele…”. Aspirou o cheiro de Levi nos lençóis. “Será que se soubesse o quanto quero ficar com ele, pensaria que sou algum exagerado? Seja como for, não há qualquer dúvida… não é possível desejar tanto algo sem sentir algo forte o suficiente que justifique isso”.

- Levi… - Murmurou. – Eu amo-te…

Sem dar por isso, acabou por adormecer novamente e Levi quando saiu do banho ainda abotoando a camisa, disse-lhe que já podia se levantar. Como não obteve qualquer resposta ou movimento na cama, aproximou-se. Ao ver que o adolescente tinha adormecido novamente, puxou os cobertores sem qualquer cuidado e quase o fez cair da cama.

- Huh? O que se passa? – Perguntou meio desorientado.

- Vai tomar banho. – Ouviu e ao olhar na direção da voz, corou de imediato ao ver Levi com a camisa desabotoada e os cabelos completamente desalinhados e molhados. A isso acrescentou as últimas palavras que tinha dito antes de adormecer e praticamente, saltou da cama quase caindo sob o olhar confuso do homem de cabelos negros que apenas viu como o outro corria até à mala para tirar algumas roupas e depois fechou-se na casa de banho.

Pergunto-me como é que ainda se comporta assim, tendo em conta as coisas que lhe faço”, suspirou. “Bom, ao menos posso divertir-me com estas reações idiotas”.

Quando, por fim, deixaram o quarto da estância já eram quase onze da manhã. Por muito que os funcionários da estância fizessem de tudo para agradar os hóspedes, a verdade é que disseram que a próxima refeição que iriam servir seria o almoço e que por isso, não fazia muito sentido servirem um pequeno-almoço em específico apenas para duas pessoas.

- Tch, é a primeira e última vez que venho a este lugar. – Reclamou Levi pela terceira vez, enquanto saíam da estância e então, reparou que Eren tinha ficado mais para trás e este veio a correr ter com ele. – Onde foste?

Antes da resposta, o rapaz entregou-lhe uma maçã vermelha e mostrou outra que começou a comer.

- Fui arranjar qualquer coisa para comer.

- Onde encontraste as maçãs? – Perguntou o professor intrigado enquanto também dava uma dentada no fruto.

- Digamos que estavam numa bandeja não vigiada já que não nos queriam servir a porcaria de uma refeição, acho que apenas tirei o que nos pertencia. – Encolheu os ombros, continuando a comer.

- Tens umas mãos leves se conseguiste tirar sem que ninguém desse por isso. – Comentou e não pretendia que aquilo fosse mal interpretado, mas mesmo de soslaio viu o sorriso mais triste que se espelhou no rosto do jovem de pele morena.

- Sei que pode parecer estúpido ou inacreditável, mas de todos os defeitos que tenho, ladrão não é um deles. Nunca tirei nada a ninguém por muito má fama que tenha no sítio onde vivo. – Ia levar o fruto novamente à boca quando Levi o puxou pelo braço até alcançar os seus lábios, beijando-o de leve.

- Foi um comentário idiota da minha parte. – Murmurou. – É claro que sei que não és nada daquilo que dizem. Sei perfeitamente quem és e os rumores não passam disso mesmo, de rumores.

- Obrigado. – Sorriu e não resistiu à vontade a abraçá-lo, coisa que surpreendeu Levi mas não fez nada para afastá-lo, deixando que o fizesse até que se sentisse satisfeito.

- Agora que estamos conversados sobre este assunto, vamos andando.

- Espera… - Agarrou a mão de Levi.

- O que foi?

- Hoje é a minha vez. – Viu o ar confuso na expressão de Levi. – Daqui a nada é hora de almoço, mas quem vai escolher o sítio para comer sou eu.

- Como quiseres. – Respondeu.

Em pouco mais de quarenta minutos, após torcer o nariz à maioria dos restaurantes, Eren encontrou o lugar que queria. Classificou aquele restaurante como um lugar onde serviam refeições normais, ou seja, refeições que ele conseguia dizer o nome e sabia do que estava a falar. Os preços também eram irrisórios, mas a quantidade de comida no prato era maior e Levi teve que recordar-se que como ainda devia estar em fase de crescimento, não devia estranhar o metabolismo do adolescente. Embora, desejasse que a altura não se alterasse mais. Ele já era alto o suficiente na sua perspetiva.

Aproveitando a atmosfera descontraída, Levi achou que aquela era a oportunidade ideal para trazer o tema de que queria ter falado desde do dia anterior.

- Eren gostava de saber uma coisa.

- O que é? – Perguntou, depois de beber mais um gole o sumo de laranja que tinha bebido.

- O que pretendes fazer quando acabares o Secundário? Oiço-te falar das indecisões do Armin ou das certezas da tua irmã quanto ao que quer, mas não falas de ti. – Falou calmamente. – Ou será que ainda tens dúvidas? Se for esse o caso, é perfeitamente natural. Há bastante gente que não sabe o que escolher e por vezes, é pressionado no sentido errado e acaba por fazer escolhas das quais se arrependem no futuro. É esse o problema?

- Se te disser que não pretendo ir para a Faculdade, é uma desilusão para ti? – Perguntou, recostando-se na cadeira.

- Não. A ida para a Faculdade não é obrigatória e o que me preocupa é que…

- É verdade que durante muito tempo, não fiz planos ou pensei nesse assunto. Não havia razão para pensar no futuro. - Admitiu e desviou o olhar para a paisagem que viam, através da janela mesmo ao seu lado. Dali era possível ver as ruas ainda movimentadas pelas pessoas que compravam coisas ou simplesmente, passeavam.

- Porque dizes isso? – Indagou.

- Tentei matar-me mais do que uma vez. – Confessou. – No tempo em que tive na casa de correção e mesmo depois, de ter sido acolhido pelo avô do Armin, continuava a ter dias em que agonia de respirar mais um dia se tornava insuportável. Sempre pensei que só iria aguentar mais um dia, ou até ver que a Mikasa e o Armin conseguiam uma boa vida e ser felizes. Quando eu já não fosse necessário, podia simplesmente desaparecer…

A atmosfera leve de antes tinha desvanecido por completo. Levi não sabia ao certo se estava arrependido de ter perguntado ou se era bom saber dessas coisas, no sentido em que significava que o rapaz à sua frente estava disposto a abrir-se com ele.

Porém, isso não fazia com que fosse fácil ouvir aquelas coisas. Só podia imaginar a dor e o sofrimento que alguém podia sentir para ponderar a ideia de tirar a própria vida. E não é que ele não soubesse disso, pelo menos em parte. Na conversa que tinha tido com o Sr. Arlert, tinha ficado claro que até mesmo aquele senhor de feições amáveis tinha testemunhado, sem querer, um dos momentos em que Eren pensou que seria melhor não existir. Essa razão, entre outras coisas que ouviu naquele dia decidiu mantê-las em segredo para não preocupar o neto e a Mikasa.

- Eren se não quiseres falar… - Começou por dizer. – Podemos mudar de assunto.

- Não penso mais nisso. – Sorriu um pouco, continuando a olhar para a paisagem que via através do vidro. – Não depois de ter conhecido, embora mesmo antes, quando conheci a Annie percebi que havia algo que sempre gostei de fazer.

- E o que é? – Questionou curioso.

- Cantar. – Falou e olhou para Levi com um sorriso mais evidente. – Quando estou sob um palco ou mesmo em alguma rua, onde quer que esteja, quando canto tudo desaparece. Posso ser quem quiser, posso ir onde quiser. É um mundo só meu.

- Então não o fazes apenas pelo dinheiro.

- Não. Nunca o fiz apenas pelo dinheiro. – Falou. – Fiz porque quando estou envolto na música, não penso em mais nada. Posso sentir o que quiser. Posso sorrir com as letras de uma música alegre, posso sentir a tristeza por detrás de outras. Posso experimentar uma quantidade de emoções e de coisas que não encontro em mais nada que tenha vivido até hoje. Ao explicar isto ao Annie, ela disse que ia ajudar-me a entrar no mundo da música. O que não é fácil, eu sei. – Disse, antes que Levi pudesse dizer alguma coisa. – E nem quero fazê-lo a qualquer preço e de qualquer forma por isso, a única coisa que considerei em fazer é quem sabe… entrar numa Conservatória de Música e tentar a minha sorte a partir daí. – Coçou a cabeça. – Eu sei que não é nada tão admirável como o que fazes.

- Ser professor não é…

- É sim. – Interrompeu. – Sei que não ensinas, apenas para que passemos a ter mais conhecimento. Ensinas para que também nos interessemos pelo tema. Ensinas para que não só eu, como os meus colegas sejamos cidadãos bem formados no futuro.

- Nunca pensei que tivesses esse tipo de ideia a meu respeito. – Afirmou Levi um pouco pasmo. – Ou mesmo sobre o que é ser professor.

- Posso não ser um grande admirador da escola, mas sei reconhecer um bom professor quando vejo um. Nesse aspeto, a Hanji também tenta dar o seu melhor e…

- Por favor, não me coloques no mesmo patamar que aquela louca. – Pediu, revirando os olhos e fazendo o adolescente rir-se.

- Levi? – Chamou ao fim de algum tempo.

- Sim?

- Não estás desiludido comigo? Por não querer seguir uma carreira mais normal, digamos assim.

- Claro que não. – Respondeu de imediato. – Devias fazer aquilo de que gostas e que te faz feliz. Embora, haja algo que me incomodou no que disseste…Eren, nunca trates a tua vida como descartável, em circunstância alguma.

- Esse tipo de pensamentos não é algo recorrente, pelo menos, não agora.

- Se alguma vez acontecer-me alguma coisa, proíbo-te de pensares numa coisa dessas. – Disse e dirigiu a mão ao copo que tinha na mesa. - Ou mesmo com outra pessoa de quem gostes… - A mão de Eren agarrou a sua, fazendo o olhar para o rapaz que numa voz trémula, disse:

- Não digas isso. Não quero pensar numa coisa dessas.

- Eren…

- Sei que pode parecer exagerado da minha parte, mas não estou habituado a ter momentos felizes duradouros na minha vida por isso, quando dizes essas coisas, fazes com que pense que pode mesmo acontecer alguma coisa. – Disse com o olhar um tanto perdido. – Sei que atraio problemas e se pensar bem sobre o assunto, a ideia de que te aconteça alguma coisa por minha causa não é assim tão descabida. Portanto… - Olhou para Levi. – Quero que me prometas que se alguma vez acontecer alguma coisa que te ponha em perigo… que me viras as costas e só te preocupas contigo.

- Eren, eu não…

- Se alguma coisa te acontecer por minha causa, se a má sorte que me acompanha por todo o lado chegar até ti, acho que não seria capaz de viver com esse sentimento de culpa. Seria a gota de água. Nã…

- Eren! – Puxou-o pela sua mão para o tirar daqueles pensamentos e entrelaçou as mãos, fazendo-o corar. – Não vai acontecer nada. Não trazes má sorte a ninguém e nem tudo é tão efémero como dizes. Também não esperes que prometa uma coisa que para mim é impossível. Nunca te viraria as costas e não há nada, nem ninguém que me convença do contrário. Pára de pensar em coisas que podem nunca acontecer e olha para mim, Eren… estou aqui, não estou? Há alguma coisa que tenha feito desde ontem até agora que te deixe infeliz?

- Não, claro que não!

- Então, não dês tanta importância a momentos menos bons ou até maus, tenta aproveitar o que a vida ainda tem de bom para te oferecer.

Um sorriso voltou ao rosto do rapaz que se sentia como a tensão e os receios de antes desvaneciam gradualmente.

- Tens razão, devia aproveitar os momentos bons.

- Agora que chegamos a um acordo, acho que mereces uma pequena recompensa da minha parte.

- Como assim?

- Nada de sexual. – Esclareceu e logo viu o rapaz ruborizar-se. – Pelo menos, não agora. – Fez sinal a uma das empregadas de mesa.

- O que vais fazer? – Perguntou curioso.

Depois de saírem do restaurante, Eren ainda mal podia acreditar no favor que Levi tinha pedido a uma das funcionárias. Pouco lhe importava o quão envergonhado devia estar no momento, o importante é que de fato iria levar a primeira recordação de ambos para casa.

Após a refeição, dirigiam-se a um espaço criado recentemente naquela cidade, onde as pessoas podiam patinar no gelo. Eren queria ir até lá e pelo caminho, dizia que desta vez iria mostrar a sua destreza.

- Patinar no gelo é diferente. – Avisou Levi com as mãos nos bolsos enquanto Eren ao seu lado gesticulava em defesa própria, dizendo:

- É tudo à base do equilíbrio. Sei andar de patins e vou mostrar-te. – O olhar desviou-se para uma pequena barraquinha que vendia doces. – Queres?

- Acabámos de comer. – Foi a resposta que recebeu, mas isso não impediu o jovem de olhos verdes de ir buscar algum doce com morangos.

- Tens a certeza que não queres? – Perguntou pela terceira vez. – Isto está ótimo.

- Tenho a certeza. – Respondeu entediado.

- É mesmo doce. Prova, a sério, os morangos est… - O gesto preferido de Levi repetia-se, agarrou a gola do casaco do rapaz e colou os seus lábios aos dele. Porém, não se deteve apenas com o encostar dos lábios, forçou-os a entreabrirem-se e sentiu o rapaz ficar tenso e quase de seguida, pôr a mão na cintura dele para mantê-lo perto.

- É doce. – Concluiu, afastando-se. – Já provei. Satisfeito?

- Hum, hum… - Era a única resposta que o adolescente ruborizado conseguia produzir naquele momento.

- Que nojo! Um menino beijou outro!

Para surpresa de ambos, estava uma pequena criança a observá-los e Levi arqueou uma sobrancelha, dizendo:

- Tão pequena e com tanta inveja. Se bem que com essa cara não acredito que algum dia alguém queira…

- Levi! – Puxou-o pelo braço para continuarem a andar, antes que o rumo das palavras piorasse. – Era uma criança!

- Tinha ranho na cara, Jaeger. Achas que alguma vez a vão querer assim? Estava a ser realista. Vai acabar numa casa repleta de gatos.

Eren não queria rir. Sabia que era errado rir de uma criança inocente que provavelmente, apenas teria sido ensinada a pensar daquela forma, mas com o comentário do homem de cabelos negros não aguentou. Deixou escapar uma gargalhada.

- Quando dizes essas coisas, entendo porque não foste para professor da primária.

- Aturar um bando de anões ranhosos e chorões provavelmente, faria com que acabasse na cadeia por matar algum.

- Isso não soa bem, vindo de um professor.

- O que não soa bem é a hipocrisia e eu não gosto de mentir. – Disse num tom desinteressado.

- Na tua idade, não devias ter instintos paternais?

- Na tua idade, tu é que não devias ter instintos paternais. Credo, Jaeger. Como é que podes gostar de criaturas tão chatas? Espera, não respondas. Foi uma questão retórica.

Eren simplesmente abanou a cabeça num aceno negativo, continuando, desta vez, de mãos dadas, a guiar Levi até à pista de gelo que era a nova atração da pequena cidade. A prova disso era a quantidade de pessoas que lá se encontrava. Inicialmente, isso desanimou um pouco o adolescente, pois pensava que não teria a oportunidade de patinar com todas aquelas pessoas ali.

No entanto, depressa percebeu que a grande maioria não estava na pista de gelo e sim, com câmaras e telemóveis nas mãos a filmar amigos, filhos, entre outros. Os que se arriscavam a deslizar sobre o gelo, não estavam a fazer boas figuras com a exceção de meia dúzia de pessoas. Entre essas, a maioria apenas se aguentava de pé e apenas dois patinavam com mais facilidade, sendo a atração do momento era uma rapariga de longos cabelos negros, olhos castanhos e uma atitude exibicionista que chamava a atenção das câmeras.

O aluguer dos patins tinha um preço irrelevante e nem assim, Eren deixou que Levi pagasse. Fez questão de pagar a sua parte e a ânsia por ir para a pista de gelo demonstrar a sua destreza, fez com que se apressasse a calçar-se. Portanto, acabou por erguer-se do pequeno banco primeiro do que Levi que achou melhor acompanhá-lo porque tinha um mau pressentimento sobre as ideias erradas que o jovem tinha quanto às semelhanças entre patinar no gelo ou na rua.

Logo ao levantar-se, o rapaz notou alguma dificuldade em manter o equilíbrio, mas tentou convencer-se que isso se resolveria mal colocasse os pés na pista de gelo.

- Olha só Levi, vê só co… AHH!

O homem de cabelos negros suspirou, levando a mão ao próprio rosto e saiu do banco com facilidade, entrando na pista de gelo sem problemas.

- Com que então é a mesma coisa. – Comentou, vendo as tentativas ridículas de Eren que não conseguia levantar-se, sem voltar a espalhar-se ainda mais, tal como acontecia com outras pessoas.

- Como é que estás assim de pé? – Perguntou frustrado. – Ajuda-me a levantar.

Levi estendeu a mão e puxou-o sem problemas. De seguida, colocou-se à frente dele, segurando nas suas mãos.

- Será melhor que te ensine como se faz, antes que saias daqui com um traumatismo craniano.

- És um exagerado… - Falou e fez um ar amuado. – Pensava que era mais fácil.

- Esquece isso. Se ouvires o que vou dizer, vais poder patinar a tarde toda se quiseres.

- Tens a certeza? – Perguntou com um sorriso.

- Absoluta. – Afirmou, frisando as qualidades de bom professor e antes que Eren pudesse comentar algo sobre a sua autoestima, também disse que o adolescente aprendia rápido quando se empenhava em alguma coisa.

Apesar da pista de gelo ser a grande atração do momento e consequentemente, estar bastante concorrida, Levi não pôs qualquer entrave em usar o pouco espaço que encontravam para ensinar Eren a patinar. Também não deixou que caísse mais, agarrando-o com firmeza num dos braços, mal o visse com os primeiros sinais de desequilíbrio. Com o passar do tempo, algumas pessoas foram saindo e trocando de lugar com outras. Poucos foram o que permaneceram tanto tempo. Uma dessas pessoas também era a rapariga exibicionista que não perdeu a oportunidade de lançar alguns olhares que transmitiam alguma diversão maldosa. O seu olhar dizia claramente que aquilo era uma perda de tempo e mais do que uma vez, tentou chamar a atenção do professor que por duas vezes, apenas disse ao rapaz que ignorasse a miúda e todas as outras pessoas. Repetiu que precisava somente de concentrar-se nele e nada mais.

- Acho que já apanhei o jeito… - Disse, continuando a ver como Levi apesar de não o segurar, observava-o de perto.

- Consegues fazer o mesmo? – Perguntou, colocando-se à sua frente depois de uma meia volta rápida e continuando a deslizar de costas pela pista agora mais vazia.

Com um olhar decidido, imitou o mesmo gesto o melhor que conseguiu e apesar de não se sentir ou aparentar tão elegante, também foi capaz de fazer o mesmo. Podia não ser perfeito, mas não tinha sequer comparação com a falta de equilíbrio que tinha no início da tarde.

- Viste, Levi? – Perguntou sorridente e viu um aceno do outro. – Sabes fazer mais coisas aqui?

- Nunca pratiquei patinagem artística se é isso que estás insinuar. – Comentou. – Mas com uma mãe bailarina e fascinada também pela patinagem no gelo, aprendi algumas coisas.

- Sei que é pedir muito para que me ensines até porque provavelmente precisaríamos de mais horas, mas podes mostrar-me alguma coisa porreira?

- Hum, suponho que te impressiones com facilidade por isso… - Voltou a distanciar-se, desta vez, deslizando com maior liberdade e rapidez até ganhar balanço suficiente. Ao alcançar o meio da pista, os pés deslocaram do gelo por alguns momentos num salto sem qualquer falha. Voltou a tocar no gelo com a mesma facilidade com que tinha quebrado o contacto anteriormente.

- Há alguma coisa que não saibas fazer? – Perguntou Eren ainda surpreendido.

- Sim. – Falou, aproximando-se. – És muito impressionável.

- Tens razão, eu sei de algo que não sabes fazer.

- Vais falar das minhas capacidades sociais? – Indagou, revirando os olhos.

- Não. – Disse com um sorriso matreiro.

- Então, diz-me o que achas que não sei fazer para te dizer se tens ou não razão.

- Ich würde gerne der Grund für Deine schlaflose Nacht sein. – Disse depois de alguns momentos de silêncio e Levi esperou que a tradução viesse de seguida, mas reinou apenas o silêncio.

- E isso significa?

- Se soubesses o que significava, acho que podias encarar como sedução.

- Agora, apenas consigo pensar que podes ter-me insultado e eu aqui sem saber. – Retrucou de imediato e Eren riu, ainda sem explicar o que tinha dito. – Sabes tão bem quanto eu que não entendo alemão por isso, importas-te de traduzir?

- Tenho fome. – Foi a resposta que recebeu. – Vamos comer qualquer coisa?

- Estás a ignorar a minha pergunta, não estás? – Perguntou enquanto via o rapaz sair da pista de gelo com um sorriso divertido.

O pior é que já não me lembro de metade da frase que ele disse… e mesmo que me lembrasse, não penso que conseguisse imitar perfeitamente a pronúncia para perguntar ou tentar escrever em algum tradutor automático”, suspirou, concluindo que teria que esperar que Eren lhe dissesse ou até perder a paciência e obrigá-lo a falar.

Algo dentro dele dizia-lhe que acabaria por ceder à tentação da segunda hipótese.

Saíram da pista de gelo e caminharam um pouco mais pela cidade. Pararam numa pequena pastelaria para comer qualquer coisa rápida, antes do adolescente querer regressar à rua, onde mais uma vez, um véu de flocos de neve começava a cair. Não se cansava daquela paisagem e de tentar e preservar a neve nas suas mãos. Aproveitando-se da distração e fascínio do rapaz de olhos verdes, Levi conseguiu tirar-lhe uma fotografia sem que desse por isso e guardou discretamente a máquina que há algum tempo atrás, lhe tinha passado para as mãos. Essa era a única maneira de se assegurar que pelo menos levaria algumas fotografias para casa, caso contrário parecia ter vergonha de pedir.

Ao cair da noite, estavam de regresso à estância. Levi acabava de fechar a porta do carro quando viu que Eren não se dirigia para a entrada e sim para o lado oposto. Seguiu-o com os olhos e tal como tinha notado antes, por alguma razão, o adolescente desde que ali chegaram, não conseguia ignorar o guitarrista de rua que tentava ganhar algumas moedas dos turistas que por ali passavam e tiravam fotografias com a paisagem de fundo.

Porém, desta vez, mais do que observar de longe, Eren foi ao encontro do senhor que sorriu ao ver que ele colocava algumas moedas e trocava alguns sinais com o guitarrista. Sem entender o que se passava, Levi começou a aproximar-se e foi com surpresa que ouviu, as primeiras letras da canção sair da boca do rapaz. Acompanhava os acordes com uma voz suave e afinada que chamou, sem surpresa, a atenção de quem por ali passava. Não era somente a voz que impressionava o professor, mas também a pronúncia aparentemente exata das palavras em italiano. Ainda que se recordasse que Annie tinha comentado algo sobre isso naquela noite no bar.

 

Flashback

- Ele canta em línguas bem diferentes. – Comentou surpreso ao ouvir uma música latina.

- Sim, é ótimo para apanhar sotaques e letras, mesmo que nem sempre as entenda na íntegra. Dá-lhe uma música nova e deixa-o ouvi-la durante algumas horas e no dia seguinte, tens um espetáculo memorável. – Respondeu Annie, bebendo mais um gole da bebida à sua frente.

- É um talento curioso.

- Desde que o vi, sei que nasceu para isto.

Fim do Flashback

 

A música que cantava não era recente e era também admirável como se recordava de cada palavra. Levi conhecia a canção, pois a mãe tinha vários CD’s dessa cantora e por isso, reparou que as pessoas que paravam para escutá-lo com expressões nostálgicas, também já tinham uma determinada faixa etária. Ainda assim, de soslaio, o professor reconheceu a rapariga de antes na pista de gelo que com uma expressão irónica, disse:

- Olha, ali tens, um cantor de rua.

Ele não entendeu muito bem o porquê da ironia ou mesmo da frase e a mulher ao lado dela, também procurou o dono da voz e disse:

- Quero ver o que vai fazer com as notas altas que aí vem.

O tom de voz começou a subir com algum cuidado. A projeção de voz parecia cuidadosamente pensada para aquele momento e lugar. Como se ele soubesse exatamente como deveria colocar a voz para que a música não perdesse a suavidade e se tornasse estridente.

- Non è possibille dividere la vita di noi due (Não é possível dividir a nossa história)

Ti prego aspettami amore mio (Peço que me esperes, meu amor)

As notas mais altas vieram e mereceram o aplauso, assobio e até palmas de muitos daqueles que tinham parado para escutá-lo.

 - Questo silenzio dentro me (Este silêncio dentro de mim)

È l’inquietudine di vivere la vita senza te (A inquietude de viver a vida sem ti) – Pronunciou, concentrando-se não só na letra e no controlo de voz, mas também, olhando em específico para uma pessoa enquanto prosseguia com as seguintes palavras:

Ti prego aspettami per ché (Peço-te que me esperes porque)

Non posso stare senza te (Não posso ficar sem ti)

Non è possibile dividere la storia di noi due (Não é possível dividir a nossa história)

 

O refrão repetiu-se mais uma vez e desta vez, os olhos verdes perderam-se na multidão. Levi agradeceu em silêncio que assim fosse, pois não sabia por quanto tempo conseguiria disfarçar o frio na barriga que sentia quando Eren decidia cantar sem nunca tirar os olhos dele.

A canção terminou com uma ronda de aplausos e mais felicitações para o rapaz que sorriu e agradeceu, apontando então para o pequeno chapéu ao lado do guitarrista que com algumas lágrimas nos olhos viu a quantidade de moedas e até algumas notas que foram depositadas ali.

Contudo, Eren ainda estava determinado a conseguir mais um pouco. Antes disso, tirou as luvas que levava num dos bolsos e entregou-as ao senhor que agradeceu o gesto, embora dissesse que só as podia colocar depois de o acompanhar em mais uma música. Como resposta, ele apenas lhe disse que na próxima não precisaria de acompanhamento. Serviu-se de uma das mãos para marcar o ritmo com pequenos estalidos produzidos entre os dedos.

- I’ve never seen a diamond in the flesh (Nunca vi um diamante ao vivo)

A música mais atual e moderna convenceu sem problemas a parte do público mais jovem. E se não fosse apenas a sua voz, também os sorrisos e o piscar de olho a alguma das meninas também era razão suficiente para o acompanharem na letra.

Foi então que Levi viu a patinadora exibida de antes, sair por entre outras adolescentes que só podiam estar no cio, na sua modesta opinião. Ela cantou diretamente na direção de Eren que deixou que ela o acompanhasse, fazendo que as vozes de ambos ressoassem quase em uníssono.

Foram precisas cerca de cinco a sete músicas até que Eren se sentisse satisfeito com o dinheiro que o senhor guitarrista recebeu e agradeceu dezenas de vezes.

- Posso tirar uma fotografia contigo? - Pediu uma das raparigas.

- Claro. – Concordou sem hesitar e colocou-se ao lado da adolescente de cabelos loiros que tinha tido coragem de aproximar-se enquanto a que devia ser a sua irmã dava gritinhos de excitação e tirava não só uma foto, mas várias.

- E eu? Não posso tirar uma foto contigo? – Perguntou a irmã enquanto se agarrava ao braço do jovem de olhos verdes. – Dás-me um beijo na cara?

- Hei, não sejas abusada.

- Depois tiro uma assim também contigo e assim, ficam as duas contentes. – Disse, resolvendo prontamente o problema.

Seguiram-se outras fotografias com outras pessoas até que repentinamente, foi literalmente arrastado até ao interior da estância. Deixando algumas pessoas confusas com a atitude e outras frustradas por o terem perdido de vista.

- Como assim não sabe o nome dele? – Insistia a rapariga de longos cabelos negros que tinha cantado mais do que uma música com Eren até que no fim do espetáculo improvisado, o rapaz foi engolido pela multidão e perdeu-o de vista antes de poder falar com ele.

- Não sei, menina. Simplesmente chegou aqui, disse-me que era um bom guitarrista e que me ia ajudar a ganhar mais dinheiro. – Olhou para as luvas nas suas mãos e o dinheiro no chapéu. – Nem ao menos pude agradecer-lhe como se deve. Os pais dele deviam ter orgulho de ter um filho assim. Não é habitual encontrar pessoas tão jovens e tão boas.

- Sim, pois deveras emocionante. – Ironizou. – O que eu quero saber é o nome dele e não se é ou não boa pessoa.

- Conseguiste descobrir o nome dele, filha? – A mulher de cabelos também negros mas acima dos ombros, finalmente conseguia furar a multidão.

- Não, este idiota não nos pode ajudar.

- Não fales assim. Pede des…

- Mãe, por favor, deixemos a minha educação para outro dia. Não achas que encontrar aquele cantorzinho de rua é mais importante?

- Não era somente um cantorzinho e tu reparaste.

- Sim, tinha uns olhos interessantes. – Olhou para a estância. – Achas que pode estar ali?

Entretanto, ainda sendo arrastado e a caminho do salão onde se realizavam as refeições, Eren tentava acompanhar os passos apressados de Levi, mas tropeçava bastante.

- Posso saber o que foi que eu fiz?

Sem resposta.

- Levi? – Chamou mais uma vez.

Nada.

- Ficaste com ciúmes?

Os passos rápidos param abruptamente e antes que Eren pudesse perder o equilíbrio, Levi puxou-o pela gola do casaco e colocou-os frente a frente.

- Estavas a fazer aquilo de propósito? – Perguntou num tom ameaçador.

- Huh? Não. – Respondeu, corando ligeiramente pela proximidade. – Eram só fotografias. Fiz isto muitas vezes. É força do hábito.

- Tch, força do hábito… - Empurrou o rapaz e ia continuar a andar na direção do salão quando a sua mão foi agarrada. Ia perguntar o que se passava quando Eren acercou-se o suficiente para o beijar no rosto.

- Estás melhor agora? – Perguntou.

Levi por momentos ficou sem reação. Atónito e com um arrepio que não lhe era familiar. Estava a sentir-se pouco à vontade. Estava a ficar embaraçado e isso ia-se notar se não fizesse nada. Começou a andar na frente do adolescente, pedindo interiormente que não tivesse corado com aquele gesto.

Puta que pariu! O que é que se passa comigo para ficar assim com estas coisas? Mas também o que é que lhe deu para fazer isto?”.

Eren seguiu-o, estranhando o silêncio e o fato de que por vários minutos, Levi não se atrevia a encará-lo.

Será que…ficou envergonhado?”, perguntou-se em pensamentos e depois abanou a cabeça, concluindo “Não, não é possível. Ele não é do tipo que se envergonha. Provavelmente, ainda está chateado por causa das fotografias”.

Depois do jantar regressaram ao quarto, onde se notou de imediato o funcionamento do aquecimento central. Levi ficou momentaneamente mais satisfeito, ainda que tenha reclamado da demora em resolver o problema. Já Eren pensava que graças a isso, perderia a oportunidade de dormir novamente com o professor. Suspirou desanimado e assim que o outro ouviu e preparava-se para perguntar qual o motivo daquele desânimo, ouviu-se o som de uma chamada.

Assim que pegou no aparelho, Eren surpreendeu-se com o nome no visor e em seguida, ponderou se devia ou não atender. Optou por fazê-lo, por consideração ao Armin que podia querer deixar algum recado e só ter encontrado aquela forma de o fazer.

- A que devo a honra de tão ilustre chamada?

Ouviu risos.

- Armin. – Concluiu aliviado. – Assim posso deixar a ironia de lado.

- Sinceramente, pensei que me fosses insultar ao atender por isso, a ironia até não é das piores opções. Liguei numa má altura?

- Não, podes falar à vontade. – Confirmou, sentando-se na cama ao mesmo tempo que despia o casaco.

- Mas antes disso, há outra pessoa que quer falar contigo. – Ouviu alguns burburinhos. – Eren? Estás a gostar da estância?

- É surreal, Mikasa. Nunca tinha visto nada assim na minha vida. – Falou, sentando-se na cama e começou a descrever algumas das coisas que tinha visto.

Levi sorriu discretamente ao vê-lo tão entusiasmado a descrever o fim-de-semana e tirou o casaco. Ao ver que a conversa com os amigos podia demorar, procurou uma roupa mais confortável numa das malas e ponderou em ir vestir-se para a casa de banho.

Contudo, chegou à conclusão de que não havia qualquer razão para o fazer. Afinal, nunca teve problemas em tirar as roupas na frente de outra pessoa e além disso, aquela seria uma oportunidade curiosa para ver as reações do adolescente que aparentava estar bem distraído na sua conversa. Pousou as roupas sobre a cama e começou a desabotoar a camisa que levava. Nos primeiros três botões, não houve qualquer problema, pois o rapaz estava mesmo distraído, mas a partir daí quando olhou novamente para ele, vi-o desviar o olhar e ruborizar-se.

Tão fácil de provocar…”, concluiu.

E se tirar a camisa foi algo digno de uns olhares envergonhados, quando chegou às calças, a parede do quarto subitamente tornou-se interessantíssima. A conversa até se tornou pouco coerente com várias pausas e perguntas da irmã que tentava entender a razão daquela mudança no comportamento.

Depois de trocar de roupa, Levi dirigiu-se um pequeno sofá diante da televisão. Ligou-a e reparou num pequeno livro que havia sobre esta. Pegou e leu a contracapa para poder perceber do que se tratava. Inconscientemente, enquanto o fazia coçou ligeiramente a barriga, levantando de leve a camisa que tinha vestido.

- Ouviste o que eu acabei de dizer, Eren?

- Si…sim.

Ele tem que estar mesmo assim tão à vontade comigo?”, perguntava-se, “Se bem que o fato de estar assim tão relaxado comigo… significa que sou das poucas pessoas que vê este lado dele”.

- A Mikasa passou-me o telemóvel porque acho que a conversa contigo estava a tornar-se monossilábica. O que foi? O professor está a fazer-te alguma coisa?

- O quê?! Não!

Levi olhou para o adolescente curioso, perguntando-se acerca do porquê daquela reação, mas decidiu não dar muita importância. Pousou o livro, pois não era do seu interesse e sentou-se no sofá, começando a procurar algum programa interessante.

- Consegues andar?

- Claro! Há mais de dezassete anos, Armin! – Falou e tentou controlar o tom de voz, murmurando mais baixo. – Ele está aqui comigo. Não me faças perguntas…

- Ainda não te pôs de quatro? – Perguntou surpreso.

Silêncio e rubor ao extremo.

- Armin… - Murmurou num tom baixo. – Por favor, este não é o momento.

- Mas alguma coisa já devem ter feito. Ouve, vai-te preparando para me contares absolutamente tudo. Além disso, ainda têm esta última noite ou a viagem de regresso dentro do carro… Também é bom, depois de encontrares uma posição confortável.

- Oh meu Deus…

- Senta-te no colo dele, é melhor por uma questão de espaço e … ou em cima do capô do carro, Eren! Não imaginas como…

- Vou desligar, Armin.

- Espera! Eren, ainda há coisas que…

- Só uma coisa antes de desligar, o teu avô está bem?

- Sim, está. Também está à espera que voltes para lhe contares como foi a viagem, mas não mudes de assunto. Eren precisas de saber que…

- Até amanhã, Armin. – E desligou a chamada.

- Estavas a tentar uma conversa assim tão má? O que foi que o Armin te disse? – Inquiriu Levi curioso.

- Nada. – Respondeu, incapaz de olhá-lo nos olhos. – Vou pôr o pijama.

- Podes mudar de roupa à minha frente.

- Pois, mas… eu… é melhor não! – Falou e depois de pegar nas roupas que queria, fechou-se na casa de banho, deixando para trás Levi a rir-se um pouco.

Pouco depois, Eren saiu da casa de banho e viu o homem de cabelos negros levantar-se.

- Já vais dormir?

- Não. Vou fazer o mesmo que fizeste agora por último. – Ao ver o rapaz olhá-lo confuso. – Lavar os dentes.

- Ah, ok.

- Quero ver um filme que vai dar. “Evil Dead”. – Entrou na casa de banho sem fechar a porta e enquanto se dirigia ao sofá, Eren perguntou:

- É de terror?

- Sim. Quero ver se vale a pena a não ser que estejas muito cansado e queiras ir dormir.

- Não. Eu fico a ver contigo.

Minutos mais tarde, estavam os dois sentados no sofá. A verdade é que embora não estivesse muito afastados, também não estavam exatamente numa posição em que duas pessoas que têm um relacionamento podiam estar. Lado a lado, sem se tocar.

Eren ainda ponderou em aproximar-se um pouco mais e não porque tivesse medo de filmes de terror, mas porque queria estar perto do outro que não afastava os olhos do ecrã e não se mostrava interessado em contacto físico.

Com o avançar do enredo, também o adolescente ficou envolvido na atmosfera e deixou de se incomodar com a proximidade, melhor dizendo, a falta dela. A certa altura, a única coisa que tinha próxima a ele era uma almofada que das suas costas, em algum momento do filme, passou para as suas mãos. Apertava-a junto do peito e numa daquelas cenas que eram para Levi bem previsíveis, não resistiu à tentação de tentar uma coisa. Abaixou-se ligeiramente e ao mesmo tempo que veio um momento que para a maioria das pessoas servia para saltar da cadeira, agarrou a canela de Eren. Este que teve que conter um grito de susto e olhou aterrorizado para Levi que não resistiu e começou a rir em alto e bom som.

- Não tem graça! – Disse irritado e já não prestando atenção alguma ao filme.

- Eren… - Ainda a tentar segurar o riso. – Como é que te pudeste assustar com uma coisa destas?

- Estava distraído com o filme.

- Tens medo de filmes de terror? – Perguntou Levi ainda divertido.

- Não!

- Devias ter-me dito que sim, que tens medo e teríamos visto outra coisa.

- Não tenho medo de filmes de terror! No entanto, posso dizer que tenho algo contra brincadeiras de mau gosto. – Falou já de pé e indo na direção da sua cama.

- Oh, tens a certeza que não tens medo? – Provocou novamente.

- Absoluta! – Afirmou, puxando os cobertores.

- Porque se tivesses, ia deixar-te dormir comigo. – Viu o rapaz parar com a fúria de puxar os lençóis. – Com o aquecimento central a funcionar não há razão para que não durma na minha cama, mas se tens medo de ficar sozinho depois de um filme destes, posso fazer-te companhia.

- Não é preciso. – Respondeu, contradizendo os próprios pensamentos e enfiando-se debaixo dos cobertores como uma criança amuada.

- É realmente uma pena. – Desligou a televisão e riu um pouco ao ver o rapaz completamente escondido nos cobertores.

Se por um lado, quis que Eren deixasse o amuo de lado, por outro lado, pensava que quem sabe, fosse melhor assim. Dormirem na mesma cama novamente, podia não ter algo tão fácil como na noite anterior já que desta vez, o frio não era um incómodo. Sem isso na equação, a sua cabeça enchiam-se de várias ideias de como ocupar o tempo e possivelmente, subir a temperatura do quarto. Portanto, dormir sozinho seria o mais indicado para não ceder à tentação.

Apagou a luz e seguiu-se um longo silêncio. Esse que fez Levi cair num sono que julgou que fosse ser ininterrupto até ao amanhecer. Não sua perspetiva não havia razões para ser de outra forma.

Contudo, a meio de uma madrugada aparentemente tranquila, começou a acordar. Não por iniciativa própria, mas devido ao ruído. Uma voz inquieta, acompanhada também de uma respiração agitada. Acendeu a luz do candeeiro para ver que o adolescente estava parcialmente descoberto com alguns dos cobertores no chão.

- Não… - Murmurava.

Ainda ensonado, o professor ergueu-se da cama calmamente. Deduziu que seria melhor acordá-lo do pesadelo e começava a arrepender-se de lhe ter mostrado o filme de terror. Embora, nunca pudesse ter imaginado que fosse tão impressionável.

Bocejou, passando a mão nos próprios cabelos e deu alguns passos na direção da outra cama. Estendeu a mão para lhe tocar no ombro e chamá-lo, quando deteve esse gesto abruptamente. Não era somente um pesadelo.

- Não… não quero… não quero fazer isto. – Pedia. – Larga-me…

Com um nó na garganta, Levi decidiu tocar no braço de Eren e chamá-lo para que saísse daquele pesadelo. Assim que abriu os olhos, afastou rapidamente o braço e encolheu-se na cama. Estava assustado. Podia ver-se claramente que tremia e apenas se permitiu acalmar um pouco ao ver o olhar consternado de Levi.

- Eren? – Chamou, não sabendo ao certo o que fazer.

- Acordei-te? – A voz soava trémula e parecia querer quebrar a qualquer momento.

- Não importa, est…

- Desculpa…

- Não tens que pedir desculpa, Eren. – Falou de imediato.

- Já fazia algum tempo que não tinha destes pesadelos.

- É por causa do filme? – Perguntou, pois mesmo sabendo a resposta, queria ter a certeza de que não tinha sido ele a causa daquilo.

- Não… infelizmente, os meus pesadelos tendem a ser reais. – Respondeu, escondendo o rosto entre os braços. – Não quero que me vejas assim. Vai dormir, eu… - Viu o seu braço ser puxado e quase tropeçou quando Levi continuou a praticamente a arrastá-lo até à sua cama. Chegando lá, foi empurrado para se deitar e viu o outro deitar-se ao seu lado e mover seu corpo contra o dele, como se o abraçasse. Isto tudo decorreu num silêncio absoluto, apenas quebrado por um sussurro, depois de já estarem deitados.

- Estou aqui, Eren… não deixo que nada te aconteça.

O rapaz escondeu o rosto no pescoço do outro e agarrou também a camisa, procurando manter ao máximo aquele contacto. Acima de tudo, tentando manter aquele sentimento de segurança que sentia naqueles braços. Habitualmente, após ter aquele tipo de recordações, passava a noite em branco com suores frios ou com lágrimas enquanto sentia nojo do próprio corpo. Como se cada vez que fechasse os olhos, pudesse sentir a mesma repulsa de antes. A isso seguiam-se pensamentos que procuravam encontrar uma forma de dormir e nunca mais acordar. Sim, nessas noites, os pensamentos suicidas regressavam e muitas vezes, parou por hesitação e outras porque encontrou a irmã ou o melhor amigo na sala preocupados com o fato de estar acordado de madrugada.

Apesar de a situação ser semelhante a outras noites, desta vez, esse tipo de pensamento não o atormentava. A razão? As palavras e os gestos de carinho reconfortantes. A mão que antes o tinha puxado até ali passou a mover-se entre os seus cabelos. Esse gesto, aliado à respiração tranquila e àquele desejo de proteção, fez com que pensasse mais uma vez que estava definitivamente enredado por ele. Aliás, ia bem além disso e quando pensava nisso, concluía que se fosse para ter algum tipo de marca diferente e lembrança diferente no corpo, queria que fosse daquele que ao fim de algum tempo, parecia diminuir ligeiramente a frequência das carícias no cabelo. Perguntou-se se estaria a adormecer e se assim fosse…

- Levi? – Chamou.

- Não consegues adormecer? – Perguntou num tom que deixava implícito algum sono.

Desencostou-se ligeiramente para encará-lo de frente e antes que o professor pudesse dizer mais alguma coisa, Eren encostou a boca dele, procurando um beijo que começou tranquilo. Em pouco tempo, o desespero de sentir um pouco mais da boca do outro fez com que tentasse colocar-se sobre ele, mas Levi não deixou que o fizesse.

Em vez disso, decidiu ele pôr-se sobre Eren sem nunca quebrar aquele beijo que começava a ficar desesperado de ambas as partes.

Porém, assim que sentiu a mão do adolescente entre as suas pernas, parou o beijo.

- Eren… - Disse-o num tom que servia como aviso.

- Faz-me esquecer que houve outro que me tocou antes de ti. – Pediu. – Quero que sejas aquele que vou considerar como o primeiro e único.

- Não digas estas coisas… - Falou, desviando ligeiramente o olhar.

- Porquê? Levi… - Chamou e assim que o viu novamente a encará-lo… - Não suporto mais acordar destes pesadelos e sentir nojo de mim…

- Eren… - Começou por dizer. – Eu… não quero que te assustes comigo. Não quero que alguma coisa que te diga ou faça te traga más recordações. Sabia o que fazer com outras pessoas com que estive, mas contigo…

- Não é a mesma coisa. – Concluiu com um sorriso. – Se pensas assim, para mim é suficiente. – Estendeu a mão até tocar no rosto dele. – Levi…

Não precisou repetir o nome novamente. Ele aproximou-se novamente dos lábios do rapaz, mordiscando-os até ouvir um suspiro que o fez abrir a boca o suficiente para aprofundar o beijo. Mesmo sabendo que era inútil tentar lutar pela dominância, Eren tentou explorar como podia a boca do outro que lhe arrancava gemidos abafados. Estes que tornaram um pouco mais audíveis quando a boca quente de antes que o tinha deixado com os lábios avermelhados, agora alternava entre mordidas e pequenos beijos no seu queixo e pescoço.

Em seguida, sentiu as mãos puxaram a sua camisa.

- Estás com muita roupa… - Falou, afastando-se ligeiramente e ficando sentado sobre Eren enquanto puxava a camisa.

- Tu também… - Replicou o rapaz e viu o outro sorrir de lado. Assim que o ajudou a tirar a camisa, também tirou a dele, mas de um modo bem mais apressado que demonstrava o quanto também desejava que continuassem com aquilo.

Eren aproveitou aquele instante para levar as mãos até ao peito de Levi, acariciando-o de leve, ao mesmo tempo que tentava guardar na sua mente cada detalhe que podia ver e sentir.

“É ainda mais perfeito do que pensava…quero marcá-lo…”, pensava Eren, mas antes que pudesse tentar fazer algo assim, Levi voltou a atacar o seu pescoço, desta vez com beijos mais demorados e molhados. Esses que além dos traços de saliva, também deveriam estar a deixar marcas.

O rapaz também queria tentar fazer igual, mas era impossível concentrar-se em algo que não fosse nos arrepios e gemidos que escapavam da sua boca. Aquele ritmo quente, apenas se deteve quando repetiu o mesmo gesto de antes. Conseguiu que uma das mãos alcançasse as coxas de Levi e este deixou escapar um suspiro, parando o que estava a fazer.

Aproveitando-se disso Eren com a outra mão livre, puxou o professor pelos cabelos de forma a poder expor o pescoço dele. Este deixou que o jovem torturasse aquela zona com a sua língua, lábios e dentes. Nem ao menos se incomodou com a possibilidade de ficar marcado. A sua mente afastava-se cada vez mais da realidade e uma das mãos segurava os lençóis com força. Tentava manter-se racional o suficiente para não fazer exatamente o que faria, se fosse outra pessoa. Pararia de imediato com aqueles preliminares e sem aviso, encheria aquele quarto de gemidos de dor e prazer enquanto o prensava contra aquele colchão. Sim, esse era a forma que normalmente as coisas seguiam. Sem muita preparação, sem cuidado e ele sabia que não podia agir da mesma forma.

Conseguiu libertar-se da mão de Eren que segurava os seus cabelos e endireitando o corpo, moveu os quadris sobre o rapaz que ruborizado, agarrou as coxas dele, deixando escapar mais um som extremamente erótico aos ouvidos de Levi. Este sorriu e distanciou-se o suficiente para começar a puxar as calças do adolescente que também levantou ligeiramente o corpo da cama para apressar o processo.

- Podes não acreditar, mas realmente pensava em controlar-me este fim-de-semana… - Disse Levi, acariciando o membro do outro sobre os boxers pretos que ainda tinha vestidos. – Portanto, como deves imaginar, não há lubrificante e mesmo assim, arrisco dizer que é tarde para recuar.

- Não quero parar… - Deixou escapar entre mais um suspiro.

- Sendo assim, preciso preparar-te o melhor possível e para isso… - Colocou dois dedos na frente da boca de Eren. – Chupa.

Obedeceu sem hesitação e até puxou um pouco mais a mão para mais perto.

Levi tinha que admitir que embora, tivesse ao mesmo tempo a arrancar a última peça de roupa de Eren, estava a ter dificuldades em concentrar-se com aquela língua em torno dos seus dedos. Assim que afastou os dedos, optou por antes de mais nada, pegar no membro de Eren e masturbá-lo um pouco para ser mais fácil distraí-lo de uma dor praticamente inevitável.

- Preciso saber de uma coisa, Eren.

- Ngh… o que… ah… o que é? – Perguntou.

- Já te fizeram isto antes? – Quis saber. – Não quero detalhes, quero apenas saber se sabes que vai…

- Doer, sim…ah…eu sei. – Falou, tentando sem muito sucesso controlar os gemidos, pois a mão de Levi continuava a masturbá-lo num ritmo agoniante. – Hum… duas vezes… ele tentou, mas doía… ah… tanto que… desistiu porque… ah, ngh… podia chamar a atenção, se eu fizesse muito barulho.

- Vai doer e ser desconfortável, mas vou fazer com que sintas bem. – Disse, aproximando os dedos e vendo como Eren ficava um pouco mais tenso. – Se doer muito, só tens que dizer para ir com mais calma.

Ele assentiu e fechou os olhos. Não doía tanto como recordava, mas ainda assim era desconfortável. Compreendia porque precisava daquilo, mas não era tão fácil como pensava relaxar. Pelo menos, isso era o que pensava até ter outra coisa em que se concentrar. A mão de Levi tinha parado de movimentar-se, mas em compensação desta vez, sentia a sua boca e isso fez com que sons mais audíveis escapassem.

A sensação dolorosa e desconfortável, em alguns minutos, passou a ser parte do passado. Em vez disso, Eren sentia que estava a enlouquecer com as sensações que o arrepiavam e faziam todo o seu corpo queimar. Era uma tortura não ceder perante um orgasmo que era cada vez mais iminente.

- Le…Levi…ngh… - Queria pedir-lhe para parar. Não queria que apenas ele se sentisse daquela forma. Não queria que a noite acabasse por ali, mas não conseguia falar. – Ahh! – Gritou mais alto ao sentir que lhe tocava naquele ponto novamente.

- É bom? – Perguntou num tom banhado de malícia. – Queres ficar por aqui? Não me importo de te fazer gritar mais algumas vezes só com isto… - Empurrou novamente os dedos e ouviu mais um gemido bem audível.

- Nã…Não… pára…ngh…caralho

- Tens a certeza, Eren? Pensa bem, se ficaste tão desconfortável ao início apenas com os meus dedos, o que achas que vais sentir quando não forem os meus dedos?

Se estou assim apenas com os teus dedos, acho que vou enlouquecer se…

- Quero mais… ahh! Ngh, Levi…

- Se é assim que queres… - Comentou, retirando os dedos e levantando-se da cama para tirar o resto da roupa.

- Esp…espera. – Pediu Eren um tanto trémulo, sentando-se com dificuldade.

- Com dúvidas?

- Não, mas… - Empurrou um pouco Levi para se distanciar ligeiramente da cama sem que este percebesse a razão. Até que o viu, ajoelhar-se à sua frente.

- Eren, não…

- É como disseste. – Segurou no membro do outro. – Não há lubrificante e eu não quero esperar por isso, deixa-me fazer isto. – Não esperou por uma resposta e começou por deslizar vagarosamente a língua por toda a extensão. Ouviu claramente quando Levi prendeu a respiração e com a repetição do mesmo movimento, não conseguiu evitar um gemido um pouco mais audível e demorado. Incentivado pela reação, decidiu usar a boca para envolvê-lo por completo. Isso aliado aos movimentos da sua língua foram mais do que suficiente para que o outro segurasse nos seus cabelos enquanto deixava escapar vários palavrões, acompanhados de gemidos.

Se isto continuar assim…”, puxou Eren pelos cabelos para afastá-lo e de seguida, empurrou-o para cima da cama. Sabia que tinha parado no momento certo, pois não imaginava que pudesse ser tão bom, tê-lo de joelhos à sua frente. Não era somente a destreza dos movimentos, mas também o fato de nunca ter desviado o olhar ao mesmo tempo que o fazia. Como se quisesse ver o efeito que provocava e baseando-se nas reações, intensificar ainda mais os movimentos.

Contudo, a atitude mais ousada era coisa do passado visto que no instante seguinte, o adolescente de olhos verdes debatia-se com a ideia de ter que relaxar ainda que o seu corpo quisesse fazer totalmente o oposto. Levi teve novamente que masturbá-lo para causar algum tipo de distração e assim, não ter que pensar tanto na dor que estaria a sentir. Já o homem de cabelos negros pensava em como estava afetado com tudo aquilo, a ponto de se preocupar se estava a magoá-lo ou não e a ter um cuidado muito grande, em oposição ao que normalmente fazia.

- Eren… - Chamou, vendo o rapaz de olhos fechados e com ambas as mãos nos seus ombros, apertando-os com força. Tentava controlar a respiração, mas podia ver e sentir alguns tremores.

- Só…só preciso de… dá-me um pouco de tempo. – Pediu, abrindo um pouco os olhos e logo os fechou novamente, quando sentiu os lábios do outro encostar nos dele. Primeiramente, apenas alguns beijos de leve para depois, a língua adentrar pela sua boca e provocar arrepios.

Provar e explorar a boca de Eren era a única forma de manter-se ocupado e resistir à tentação de se movimentar e provavelmente, magoar o jovem que começava ele próprio, a puxar mais o corpo do professor contra o dele. Era os primeiros sinais de que podia mover-se um pouco e mal podia esperar para o fazer, já que aquele ritmo lento de fazer as coisas era uma tortura. Queria mais do que tudo, perder-se naquele calor insuportável e assim que se mexeu um pouco, ouviu logo alguma reação do rapaz que gemeu contra a sua boca. Quem sabe, ainda fosse mais dor do que prazer, mas sabia que para mudar isso, não podia continuar parado.

- Ah…Levi…

- Estou a magoar-te? – Perguntou, deixando mais uma marca no pescoço do rapaz.

- Ah…não… não muito… - Disse com a voz entrecortada. – É bom…é…AH! – Esse era o resultado de um movimento mais brusco que causou um gemido mais alto por parte de ambos. – Faz… faz isso outra vez… - Pediu.

Não era necessário que repetisse o pedido, pois Levi sentiu que finalmente tinha permissão para impôr o seu ritmo e arrancar mais gemidos daqueles. A dor de antes, passou a certa altura para segundo plano e a até chegou de todo a ser excluída, quando tudo o que conseguia fazer era gemer até sentir que a voz começava a falhar enquanto arqueava as costas e arranhava ou cravava as unhas nos ombros e costas daquele que lhe impunha um ritmo tão intenso como tinha pedido.

Em poucos minutos, atingia o seu limite e Levi também não ficou muito atrás, sendo incapaz nos primeiros momentos de evitar cair sobre Eren, ouvindo a sua respiração agitada.

- Levi…

- Temos que ir tomar banho. – E logo ouviu Eren rir.

- Não era bem isso que tinha em mente.

Levi ergueu-se ligeiramente para encará-lo.

- O que querias que dissesse? – Sorriu de lado. – Devias ver-te agora… completamente ruborizado, despenteado e…

- Estás a descrever-te a ti também?

- Não posso estar assim tanto como tu. – Falou, levantando-se da cama. – Quem visse, pensaria que não fazias mesmo ideia do que é estar dentro de alguém, embora deva dizer que à semelhança do que devia acontecer contigo, só conheço essa perspetiva. – Viu o rapaz corar ainda mais. – Certo? – Perguntou desconfiado. – Só para confirmar, não eras… - Viu o rapaz esconder o rosto com o lençol. – Puta que pariu, Jaeger não me vais dizer que nunca tiveste sequer com uma mulher? Uma miudinha da tua idade? Estás a brincar, certo? Elas andam atrás de ti como se estivessem no cio quando estás naqueles malditos bares.

- Vais rir-te de mim porque nunca fiz uma coisa destas? – Perguntou, escondendo parcialmente o rosto atrás do lençol, deixando apenas os olhos visíveis.

- Como é que é possível?

- Não sei. Não é que elas se queixassem porque fiz bom uso da minha boca em algumas e para minha infelicidade, a última fez-me desistir por completo disto. Ela tinha algo que tu devias detestar, uma certa aversão pela higiene pessoal.

Levi arqueou a sobrancelha, fazendo um ar de desagrado.

- E tu tiveste coragem mesmo assim? Não sei se és corajoso ou burro. Credo, Jaeger, como é que chegando a esse ponto, nunca tiveste curiosidade em ir mais além?

- Não é que não tivesse curiosidade, mas… acho que… - Fez um ar pensativo. – O tesão acabava só de pensar nisso.

- E disseste que eu é que era mais homossexual do que hétero, não deves estar a ver bem como são as coisas para ti. Tu sim, és definitivamente talhado para o mesmo sexo se até perdes o tesão com uma mulher.

- Sim, atira-me à cara com quantas mulheres já tiveste… - Revirou os olhos.

- Ao menos, o meu lado hétero ainda se manifesta, embora deva dizer que… - Deixou escapar um sorriso repleto de malícia. – Isto foi melhor contigo do que com qualquer outra mulher ou homem com quem alguma vez estive. – E após deixar mais uma vez o adolescente embraçado, entrou na casa de banho.

Virgem… quase com dezoito e nem ao menos esteve com uma mulher. Este pirralho ainda teve o descaramento de me dizer que eu não aproveitei a minha juventude quando ele tinha a intenção de entrar na vida adulta como um virgem”, abriu o chuveiro. “Se bem que o fato de saber que fui o primeiro, nesse aspeto, deixa-me com uma certa satisfação”.

Depois de um duche rápido, mal entrou no quarto viu Eren à espera para entrar e ainda visivelmente embraçado, não disse uma palavra antes de entrar. Levi por seu lado, decidiu que ia voltar para a cama, mas ao ver o estado dos lençóis da sua cama, concluiu rapidamente que seria incapaz de dormir ali.

Por conseguinte, optou por deitar-se na cama de Eren com a certeza que este não se incomodaria de dormir na mesma cama. Encostou-se num dos cantos e esperou pacientemente que o rapaz regressasse. Assim que o fez, foi inequívoca a surpresa na sua expressão ao vê-lo na cama dele.

- Recuso-me a dormir em lençóis que não estejam limpos.

Finalmente, esta mania de limpezas funciona a meu favor. Assim posso dormir com ele”, sorriu e deitou-se animado com a ideia.

- Posso? – Perguntou um pouco hesitante ao ver que o professor se tinha encostado num canto da cama.

Levi sorriu algo divertido por ver que o rapaz lhe pedia autorização para se aproximar.

- Podemos dormir como na última noite, se prometeres que te controlas quando acordares porque senão asseguro-te que voltas para casa sem andar.

Eren apenas assentiu e colocou o braço sobre a cintura do outro que relaxou um pouco mais o corpo. Trocaram apenas mais um “boa noite”, antes de se deixarem levar por um sono tranquilo e profundo. Os pesadelos passaram a ser coisa do passado e ainda que pudesse ter cedido mais uma vez à tentação de dormir até mais tarde, o fato de saber que tinham que regressar, fez o professor acordar cedo. A viagem seria longa e era necessário escolher uma boa hora para deixar o adolescente em casa. Não podia ser visto com ele a qualquer hora sem levantar suspeitas.

- Sai da cama, Jaeger.

- Já vou! – Disse irritado ao ver os cobertores a serem puxados. – Não sei para quê tanta pressa! – Começou a levantar-se. – Ainda sã… ah, foda-se! – Caiu de joelhos no chão e então, começou a aperceber-se da dificuldade em fazer alguns movimentos.

- Consegues andar? – Perguntou claramente com vontade de rir.

- Estás aí quase a rir-te e estas podem ser as minhas últimas palavras.

Levi não aguentou e riu abertamente.

- Últimas palavras? Não exageres, Eren. É apenas a primeira de muitas vezes em que te vou deixar assim. Não te preocupes… o hábito acabará por te deixar mais resistente. Espero eu.

- Esperas tu…

- Até lá, sexo durante a semana está proibido.

- Huh? – Balbuciou sem perceber.

- Não quero que faltes às aulas por não conseguires andar por isso, assim que voltarmos à escola, isto só voltará a acontecer aos fins-de-semana.

- Se eu não morrer até lá… - Falou e queixou-se mais uma vez ao levantar-se e andar com dificuldades até à mala que tinha perto do sofá.

- Não sejas exagerado. Até que nem coxeias muito, pode ser que não notem quando passares na receção ou não te tenham escutado durante a noite.

- Quero um buraco para enfiar-me lá para sempre… - Murmurou desanimado. – Não te rias, por favor. O teu riso podia até ser mais agradável, se eu não estivesse prestes a morrer de vergonha.

 


Notas Finais


Desta vez não há preview porque ainda não comecei a escrever o próximo capítulo >.<


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