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História Destinos Entrelaçados - A Qualquer Momento


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Mais uma vez, muito obrigada por todos os comentários, mensagens, favoritos e seguidores/leitores novos!

Pretendia ter atualizado mais cedo, mas tenho tido dias bastante complicados em termos de trabalho e demasiada gente com festas de aniversário x)

Nota: Nesse capítulo há referência a uma música que é uma versão da música 'Crazy in Love' da Beyoncé adaptada para o filme - Fifty Shades of Grey (50 tons de cinza). Gostei bastante da adaptação da música e por isso, usei uma pequena referência a essa música nesse capítulo.

Capítulo 62 - A Qualquer Momento


A qualquer momento

 

Poucos dias, tinham passado desde a morte de Hitch e desde então, nem sinal do banqueiro ou de Kenny. O que poderia ser encarado como um alívio ou na perspetiva de Levi era algo inquietante. Os pesadelos com as memórias distantes pararam subitamente depois daquela noite em que pôde ver na íntegra os acontecimentos que ocorreram no dia em que Eren o deixou e também as horas subsequentes.

Depois disso, não conseguia deixar de pensar na imagem do rapaz nos seus braços sem vida, coberto de ferimentos horrendos e ensopado com o próprio sangue.

Considerou aquele pesadelo como mais um aviso do que poderia acontecer, se não agisse com cautela, se não fizesse tudo ao seu alcance para o proteger.

Mais do que nunca, não estava disposto a passar por uma situação daquelas. Reviver aquilo seria sem dúvida ditar a sua sentença.

Com a eminência de que algo terrível pudesse ocorrer a qualquer momento, Eren passou a ir para casa com o professor e a passar lá as noites. Mikasa e Armin também ficaram na casa de Nanaba que após a morte de Hitch concluiu, depois de ter acesso ao computador pessoal da estrela de cinema e do mundo da moda que esta enviou de facto, os piores emails acerca do amigo que circularam pela escola.

Portanto, os jornalistas e curiosos tentaram de diversas formas obter mais informações sobre o que teria levado àquela estrela, supostamente com tudo para ser feliz, acabar morta.

Mais uma vez, servindo-se dos conhecidos e dos contactos que possuía, Nanaba travou a fuga de informações e processou severamente todos os que tentaram saber mais do que aquilo que a polícia deixou passar. Os processos complicados e que colocavam carreiras em risco amedrontaram a grande maioria dos curiosos.

Contudo, sabia que mais do que nunca, o cerco tendia cada vez mais a fechar-se e era uma questão de tempo até um dos bisbilhoteiros, como os classificava, chegasse até Levi e quisesse explorar a história dos dois em várias revistas.

Uma coisa dessas poderia levantar alguns problemas nos outros processos que tinha em mãos relativos ao banqueiro. Sob circunstância alguma, mesmo que fossem falsos testemunhos seria conveniente que Levi tivesse algum tipo de problema com a justiça ou rumores estranhos à sua volta.

 

 

 

*_Armin_*

Era a primeira vez que via Nanaba sair de casa com algo que não estivesse diretamente relacionado com o trabalho dela. Para dizer a verdade, depois do que aconteceu com Hitch, a história do banqueiro e o assassino Kenny ela esteve bastante atarefada. Em casa estava sempre de telemóvel na mão, computador na frente e trocando impressões com várias pessoas diferentes. Saía de casa para ir ao escritório, falar diretamente com juízes e colegas investigadores e regressava cansada. Só que em vez de descansar, tanto eu como Mikasa testemunhámos como bebia café nos últimos dias para manter-se acordada e dar resposta a todos os problemas que tinham surgido e que poderiam surgir. Sim, ela trabalhava bastante por antecipação e posso dizer que admirava isso nela. A forma como o raciocínio era rápido e como conseguia encontrar diversas formas de moldar a lei era impressionante.

De certo modo, era como se aquela advogada deixasse a casa dela a nosso cargo.

Como não sabia ao certo quanto tempo duraria aquela situação, liguei à senhoria da casa que o meu avô tinha alugado há anos atrás e avisei que embora estivéssemos fora por algum tempo, pretendíamos regressar.

- Vamos ver um filme lá dentro, queres vir? – Perguntou Mikasa, acompanhada por Annie.

- Fiquem à vontade. – Respondi, vendo as duas entrarem no quarto enquanto esperava por mais uma chamada de Jean.

Durante o dia, trocávamos algumas mensagens e por norma, à noite conversávamos horas a fio. Ainda bem que tínhamos um tarifário que nos permitia chamadas de horas sem custos, desde que tivéssemos mesmo tarifário e ligássemos apenas a partir de uma hora específica, ou seja, depois das nove da noite.

Depois de ter ido para a casa dos pais do Levi notava-o diferente num bom sentido.

Apesar de ainda pensar em tudo o que fez e essa ser a razão para não termos voltado a falar em compromisso, podia dizer que me sentia novamente cada vez mais próximo dele. A distância não estava a atenuar sentimentos, mas a intensificá-los.

Não podia dormir sem ouvir a voz dele todas as noites e pedia que em breve pudesse regressar e pudéssemos estar juntos de novo. Talvez não logo à partida como um casal, mas recomeçar de novo.

Revirei os olhos sozinho.

A quem queria enganar? Em momento algum, deixei de amá-lo.

Fiquei magoado. Ainda sinto um aperto cada vez que penso em tudo o que descobri, em tudo o que ouvi da boca dele, mas não conseguia afirmar que estava tudo terminado. Mesmo depois de ter feito coisas que jamais julguei que pudesse perdoar, continuava a querer ficar do lado dele.

Não obstante, ter aceitado tudo isso na minha cabeça, continuava a não dizer-lhe que era isso o que pensava. E quem sabe, essa fosse a razão para que na última vez que lá estive de férias da Páscoa, ele limitou-se bastante à minha volta.

Quando pensei que me fosse beijar, ele desviava os lábios e deixava um beijo no meu rosto ou na minha testa. Provavelmente com receio que o recusasse e eu como idiota, não lhe disse que não recusaria e que esperava que ele voltasse a tocar-me como antes.

Quem fala na importância dos sentimentos numa relação, acima de qualquer outra coisa, sobretudo acima da tensão sexual definitivamente não sabe do que está a falar.

Não digo que ultrapasse, mas é um elemento bastante forte que a continuar com esta situação, vou acabar a subir pelas paredes.

O telemóvel tocou e ao ver o nome dele sorri.

- Ligaste mais tarde hoje. – Comentei ao atender enquanto me recostava no sofá.

- Boa noite para ti também. – Brincou do outro lado. – O Santiago estava a corrigir uns exercícios que tinha feito e como falhei nos dois últimos, pedi que me explicasse de novo.

- E que tal estão as coisas no geral? Achas que consegues acompanhar as aulas no próximo ano?

- Acho que sim. O Santiago e a Catherine parecem bastante satisfeitos com o progresso que tenho feito.

Sim, os pais do Levi conseguiriam convencer o Jean a repensar as escolhas que tinha feito. Coisas que ainda podia corrigir e dar uma nova oportunidade a ele mesmo. Por essa razão, no próximo ano iria inscrever-se novamente na escola e terminar o último ano do Ensino Secundário que lhe faltava.

Pouco me importava que ainda não tivesse ideia do que pretendia fazer depois. Já tinha ficado muito orgulhoso por ver que ele ia tentar recomeçar de novo. Pude testemunhar enquanto estive durante a Páscoa com ele, como estava empolgado com as aulas dadas sobretudo por Santiago.

Notei a admiração cada vez mais crescente por ele e penso que também passei a compartilhar do mesmo sentimento, não só por ele, mas também por Catherine. Eram sem dúvida pessoas maravilhosas, capazes de tocar de uma forma especial em cada pessoa que conheciam.

Ouvi durante longos minutos como falava do que tinha feito na companhia do pai do professor por quem a admiração também crescia, embora estivesse preocupado com os acontecimentos recentes. Nem o banqueiro, nem Kenny tinham dado sinais de atividade e se ele estava preocupado não o demonstrava. Aliás, notava-o estranhamente calmo.

- E tudo continua na mesma?

- Sim. – Confirmei. – Nem sinal do banqueiro ou do tal Kenny, mas não sei por quanto tempo.

- Essas coisas fazem com que queira voltar o mais depressa possível. Quem sabe, pudesse ajudar.

- Não, Jean. Tens que ficar onde estás. – Falei de imediato. – Aquele homem é completamente doentio e se tem outra oportunidade de te ver novamente, não sei o que poderia fazer.

- Não nos podemos esconder para sempre.

- Eu sei, mas… quero ter um plano, quero ter alguma ideia do que fazer quando alguma coisa acontecer e se estiveres aqui, não penso que isso se torne mais fácil para mim. – Admiti. – Prefiro saber que estás longe, mas estás bem.

- E como está o idiota e o Sargento?

- O Eren tem passado estes últimos dias na casa do professor Levi e ele… - Suspirei. – Não sei explicar, é como se estivesse bastante calmo.

- E falas como se fosse uma coisa má.

- Porque não é calma que atribuirias a estar confiante e tenho medo de que a nossa última conversa sobre tudo isto o tenha influenciado a agir sem cuidado algum pela própria vida.

- Aconteça o que acontecer, a culpa não é tua, mas não comeces a desenhar cenários de catástrofe na tua cabeça. Não gosto de pensar nisso. Gosto de pensar em algo que também é bem plausível.

- Que é? – Indaguei.

- Ele ter algum plano. Pensa bem, o Sargento não é cabeça quente. Não age impulsivamente sem ter algo em mente. Não acredito que esteja calmo sem motivo.

- Nisso tens razão. – Comentei. – Impressiona-me muitas vezes que consiga ver tantos cenários possíveis em tão pouco tempo. A velocidade do raciocínio é algo que nunca deixa de me espantar.

- Vês? É óbvio que ele não está preocupado porque já tem algo em mente.

- Espero que sim… ou que consiga ajudá-lo de alguma forma, a ele e ao Eren.

- Vai ficar tudo bem. – Ouvi-o dizer e sorri, notando como essas pequenas palavras faziam com que se evidenciasse algo que antes não ouvia dele. Pensamentos positivos. A certeza de que tudo acabaria por se resolver.

- Hoje a Nanaba não está por aí? E nem estou a ouvir a Hanji.

- A professora Hanji está no quarto dela a preparar as aulas. Não tem feito outra coisa desde que veio passar estes dias aqui. Penso que ainda não voltou a falar normalmente com o professor Levi mesmo que ele ligue todos os dias para saber se ela está bem e se tem descansado e dormido como deve. – Falei, recordando bem o tom de voz algo preocupado de Levi. – E a Nanaba hoje surpreendeu-me. Acho que tencionava ter mais um serão em torno de papelada por causa dos processos, mas o médico… lembras-te do Mike?

- Sim.

- Veio buscá-la para jantar.

- O médico e a advogada? – Perguntou surpreso. – Nunca me tinha passado pela cabeça.

- Também ainda não tinha parado para pensar nisso, mas os dois até ficam bem um com o outro e além disso, ela estava a precisar de uma pausa. Têm sido dias intensos para ela. – Comentei.

- Imagino e a Mikasa? Está com a Annie?

- As duas estão no quarto e antes até me convidaram para ver um filme, mas não quis ficar no meio das duas e além disso, estava à espera que ligasses.

- Pois, ias fazer de “vela” no meio das duas.

- Ou assistir.

- Armin!

Ri-me divertido por ainda conseguir arrancar dele exclamações como aquela.

- Ora, como se também não gostasses de ver. Quem não gostaria? Não estou a falar em participar, estou a falar em observar e bater uma provavelmente.

- Oh meu Deus, o Eren tem razão foste abduzido por algum ser extraterrestre e trocaram-te por outra pessoa! – Disse e ri-me mais um bocado.

- Tens razão, provavelmente não me importaria de participar. Continuo a ter dois olhos na cara e elas…

- Oh não, não vamos ter esta conversa! É a irmã do teu melhor amigo e a namorada dela de quem estás a falar!

- E então? – Perguntei sem entender a razão para tanto alarido. – Olha que não é por falta de convite. As duas já me disseram que podia ver se quisesse.

- Estás a brincar…

Ri-me novamente.

- Não, não estou. Queres que chame uma delas para confirmar? Ou então vou até lá e se estiverem ocupadas, aproveito a boleia e até te deixo ouvir um bocado.

- Não! Eu acredito em ti e… agora vou ficar a pensar nisto. Vamos mudar de assunto.

- Porquê? Se quiseres, posso inspirar-te mais um pouco. Estás sozinho?

- Por agora sim, mas não, é melhor não. – Disse num tom nervoso que só me divertia ainda mais. – Vamos deixar isso para…

- Ok, ok, senhor inocente. – Ironizei e revirei os olhos. – Então, do que queres falar?

 

*_*_*_*_*_*_*

 

- Professor Levi?

Virou-se para trás, pois tinha acabado de apagar a resolução de alguns exercícios no quadro. Momentos antes tinha questionado se havia alguma dúvida, mas como nenhum dos alunos se manifestou nesse sentido, teve receio de ter agido de forma errada ao apagar tudo.

- Alguma dúvida? – Questionou.

- Ah, sim. – Admitiu à aluna. – Mas não sobre a matéria… e sim, ah… - Hesitou, mexendo nervosamente as mãos sobre o caderno. – Gostava de saber se podia tirar um bocadinho da aula para explicar algumas coisas sobre a faculdade ou cursos profissionais. É que… muitos de nós temos dúvidas nessas coisas e ouvimos que ajudou a Anabela. – Apontou para a colega que assentiu. – Ela já sabe para onde vai e como vão ser as coisas.

- Sim, o professor Levi ajudou-me juntamente com a professora Petra a descobrir quais eram os passos para concorrer a uma faculdade no exterior e assim, conseguir ser professora de inglês. – Disse Anabela sorridente. – Desculpe, professor ter contado, mas… eu vi muitos dos meus colegas com dúvidas e achei que o senhor também podia ajudar.

Levi encostou-se à própria secretária, observando os alunos.

- É bom ver que as coisas mudaram. – Comentou, recebendo olhares confusos. - Quando no início do ano perguntei o que pretendiam fazer no futuro, a grande maioria para minha surpresa respondeu com um “não vale a pena pensarmos em carreiras que não podemos ter”. Achavam-se impossibilitados de sequer ambicionar algo assim e por isso, é bom ver que isso mudou. – Sorriu ligeiramente. – Tenho o programa bem adiantado e por isso, não há qualquer problema em dedicar parte do tempo a esclarecer dúvidas. Além disso, sabem que podem falar comigo por email ou ir diretamente ao meu gabinete. – Afastou-se da secretária. – Ora bem, vou repetir a pergunta que fiz nos primeiros tempos nesta escola. Quem aqui está a pensar ir para a faculdade ou seguir qualquer curso profissional?

Ao contrário da primeira aula em que fez essa questão, desta vez, as mãos no ar espalharam-se por toda a sala e portanto, o professor com mais algumas perguntas tentou perceber quais os alunos que teriam percursos semelhantes para que se organizassem em pequenos grupos.

De zero mãos no ar, cabeças baixas ou desinteresse e descrença total, passou a alunos que aspiravam ser enfermeiros, professores, jornalistas, engenheiros, entre tantas outras profissões num leque se alargava, quando decidiu repetir a mesma pergunta nas outras turmas que tinha a seu cargo. Descobriu que também havia dúvidas entre outros alunos e tentou orientá-los o melhor possível, chegando a comentar na sala dos professores com alguns colegas no sentido de fazerem o mesmo.

Era importante que todos os professores contribuíssem um pouco e só esperava que os colegas pusessem os seus problemas pessoais com ele de lado e ajudassem os seus alunos da melhor forma possível.

- Entre. – Ouviu a voz do outro lado.

Empurrou a porta e dizendo um “boa tarde” quase inaudível deu alguns passos até à secretária do diretor.

- Aqui tens mais um relatório. – Falou, pousando a folha sobre a secretária. – Com licença. – Virou as costas para sair.

- Levi, espera.

- Precisas de mais alguma coisa? – Perguntou. – Relacionado com o trabalho. – Acrescentou.

- Não e por isso, tens o direito de sair se quiseres, mas gostava que me escutasses por alguns minutos. – Pediu e o professor parou por momentos, ponderando em sair da sala, mas em vez disso encostou a porta e cruzou os braços, olhando o diretor nos olhos.

- Estou a ouvir.

- Como está a Hanji?

- O que achas? – Perguntou num tom seco. – Mesmo que não se falem, não é preciso ser um génio. Até eu que sou considerado muitas vezes inapto socialmente, consigo a resposta a essa pergunta só de olhar para ela.

- Continuas irritado comigo. – Afirmou com um sorriso triste.

- Vais contar-me algo que eu não saiba ou já posso sair? – Perguntou Levi.

- Queria pedir-te desculpa pelas coisas terríveis que te disse e não espero que aceites o pedido de desculpa, mas quero que saibas que sou consciente que fui longe demais. – Falou, suspirando. – Não, não é apenas porque perdi a Hanji que concluí uma coisa destas, mas comecei a relembrar cada palavra que trocámos naquele dia e de facto, apesar de me teres ocultado a tua relação com ele, expuseste os teus sentimentos à minha frente quando te confrontei e… eu pisei nisso, disse coisas das quais me arrependo. Não pus a nossa amizade acima daquilo que julguei ser melhor para a escola e eu sei que errei aí. Errei nas coisas que te disse, nas coisas que também disse ao Eren. Errei ao não reconhecer o que realmente importava.

Levi escutou com atenção a cada palavra sem se mover e esperando que terminasse de falar para após um curto silêncio, responder:

- Perdoar-te pelas coisas que me disseste não é particularmente difícil, mas magoaste duas pessoas importantes para mim e isso é algo que não consigo deixar passar.

- Entendo… obrigado por me teres ouvido.

Deu as costas a Irvin e rodou a maçaneta, dizendo:

- Não teres o meu perdão, não devia fazer de ti um desistente e não estou a falar de mim e sim de outra pessoa, evidentemente. – Fechou a porta atrás dele.

Desculpa, Hanji mas não consigo dizer-lhe para desistir de ti… ele vai ser pai e tem que estar do teu lado, mais do que eu, mais do que qualquer outra pessoa”.

Distanciou-se do gabinete do diretor, ignorando por completo o ar surpreso que ficou no rosto do homem loiro que nunca esperou ouvir aquelas palavras do professor.

Depois de ter entrado no próprio gabinete, ouviu gritinhos histéricos acompanhados por uma voz bem familiar. Espreitou pela janela, vendo Eren sentado num muro com a guitarra nas mãos, rodeado pelos amigos e outros colegas que acompanhavam o sucesso mais recente da banda Hunters.

 

Got me looking so crazy right now, your love's

Got me looking so crazy right now

Got me looking so crazy right now, your touch

 

O fascínio não era por a música ser nova, mas era uma versão nova e dedicada a um filme baseado num livro com bastante sucesso. O professor não conseguia entender a razão para ser tão vendido e procurado, ou melhor até imaginava depois de ter lido o livro que Hanji lhe emprestou para que ele se mantivesse atualizado sobre a “cultura” jovem. O que apenas o deixou horrorizado. Não pelo conteúdo do livro, mas pela qualidade da escrita.

Contudo, teria que admitir que a versão daquela música, sobretudo na voz de Eren tinha sido a razão para que no fim do espetáculo, se agarrassem nos camarins à porta fechada com uma pequena ajuda de Armin que desviou as atenções pelo tempo que precisaram.

 

Flashback

O ritmo era intoxicante e os gritinhos histéricos davam lugar aos olhares vidrados e de luxúria sobre os dois rapazes fora do palco diante da aniversariante. Os dois entoavam em perfeita sintonia o ritmo banhado de erotismo e com Eren de costas para Bertholdt que se encontrava imediatamente atrás do jovem de olhos verdes.

Presos por um dos pulsos por umas algemas, roupas completamente desalinhadas com toques discretos nos braços, rosto ou peito.

 

Got me hoping you'll save me right now

Looking so crazy in love's,

Got me looking, got me looking so crazy in love.

 

Bertholdt estava vendado e com um chicote preso numa pequena corrente na cintura que Eren tocou algumas vezes, enquanto mordia o lábio nas pausas em que a sua voz não ecoava no espaço envolvido numa atmosfera quente que afetava a qualquer um que estivesse com o mínimo de atenção àquela performance.

- Puta que pariu, a ideia de vendar o Berth realmente resolveu o problema, professor. – Comentou Annie.

- A cara do Reiner. – Disse Armin divertido. – Aposto que gostava de estar no lugar de Eren. – Era uma parte em que Bertholdt encostava o nariz ao pescoço do moreno de olhos verdes que fechava os olhos, continuando a entoar a música insinuante.

- Wow, isto é mesmo… - Começou Christa.

- Quente. – Completou Sasha, bebendo um pouco da cerveja à sua frente.

- Eu que não sou grande apreciadora destas coisas, tenho que admitir que isto está muito bom. – Disse Ymir divertida.

 

It's the beat my heart skips when I'm with you

 

Aquela frase foi dita com uma troca de olhares entre Levi e Eren que logo voltou a atenção para a aniversariante.

Se antes não tivesse já pensado nisso, após aquela troca de olhares, soube que não iria aguentar chegar a casa para ter Eren nos seus braços e gostava de saber que não era o único a pensar no mesmo.

Fim do flashback

 

Subitamente, as lembranças daquela noite foram cortadas abruptamente com a entrada de Petra no gabinete. Por norma, ela era alguém que batia sempre na porta antes de entrar e se não o tinha feito, só podia imaginar que tivesse acontecido alguma coisa de grave.

- Levi vem comigo, por favor.

- O que aconteceu?

- É a Hanji. – Disse nervosa e de imediato o professor seguiu-a. – Parece que foi mais uma daquelas quebras de tensão. – Explicava pelo caminho. – Mas com os vómitos, tremores e tudo e mais, a enfermeira quis que fosse para o hospital e ela então, praticamente fechou-se na enfermaria. Está trancada e até ponderei chamar o diretor, mas sei que eles…

- Fizeste bem em chamar-me. – Respondeu. – Não te preocupes que vou tirá-la de lá e se for necessário, irei levá-la ao hospital.

Assim que chegaram, tiveram tempo de parar a enfermeira que estava decidida a chamar Irvin e deixar que ele se ocupasse da desequilibrada, como classificou, que estava lá dentro. Bastaram meia dúzia de palavras ríspidas e ameaçadoras para que a mulher concordasse em deixar que ele se ocupasse do problema.

Bateu na porta com cuidado, chamando pela amiga que apenas ouvia soluçar no interior sem qualquer sinal de que fosse sair. Bateu mais duas ou três vezes e vendo a negação dela em abrir a porta, ainda considerou em arrombar a porta.

Não obstante, essa ideia não se manteve por muito tempo na sua cabeça, pois sabia que atrairia atenções desnecessárias. Sendo assim, pediu a Petra que continuasse a falar com Hanji na porta, mas que assim que o ouvisse no interior que podia ir dar as aulas que ele ocupar-se-ia do resto.

- Como pensas entrar?

- Não te preocupes tanto com isso e faz apenas o que te pedi. – Foi a resposta que recebeu e a professora simplesmente acenou afirmativamente.

Levi entrou na sala imediatamente ao lado, onde sabia que também teria uma das árvores a cobrir parte da janela. Assim, ajudaria a passar despercebido com o que pretendia fazer. Antes de arriscar-se a ficar no exterior sem muito apoio, confirmou que uma das janelas da enfermaria, como era o normal, encontrava-se aberta.

Ao certificar-se desse pormenor, subiu para a janela e com passos cuidadosos, caminhou por saliência de betão bem reduzida até alcançar a janela aberta.

Inclinou-se para poder ver o interior e viu Hanji sentada na cama de costas para a janela. Os ombros mostravam pequenos espasmos provocados pelos soluços que deixava escapar e com a intenção de parar tudo aquilo, entrou não se preocupando em não fazer ruído.

Os olhos castanhos repletos de lágrimas voltaram-se para ele.

- Levi?

O amigo acercou-se com passos cautelosos.

- Posso saber o que te deu para basicamente te barricares aqui dentro? Se a Petra não me tivesse ido chamar, terias que te explicar com o Irvin.

- Foram chamá-lo? – Perguntou alarmada.

- Não, eu não deixei que isso acontecesse, mas se mais alguém se apercebe da situação, não sei até que ponto vamos conseguir esconder esta situação. – Afirmou. – Posso saber o que aconteceu? Já sabes que estar tão nervosa não é bom para ti e pedi-te que me dissesses sempre que sentisses alguma coisa. Sei que tens andado a evitar-me desde que…

- O que queres que faça? – Interrompeu-o. – Não consigo deixar de pensar que a qualquer momento pode acontecer qualquer coisa e podes acabar na cadeia ou pior…

- Hanji, eu…

­- Disseste que ficarias ao meu lado sempre que precisasses, mas tencionas quebrar a tua promessa! Como queres que fique calma, sabendo que a qualquer momento posso perder uma das pessoas mais importantes da minha vida?

- Por favor, acalma-te. – Pediu, aproximando-se um pouco mais e tocando no rosto da amiga e além da tristeza e mágoa, detetou outro sentimento que logo se tornou evidente com as palavras que se seguiriam:

- A qualquer momento aquele homem pode aparecer de novo e… - O choro compulsivo estava de volta e ele abraçou-a. – Por favor, deixa a Nanaba tentar resolver… não faças nada arriscado, estou a implorar-te que não faças nada que… - Os braços à volta do corpo dele, apertaram-na com mais força.

Levi ouvia o medo nas palavras dela.

Kenny tinha conseguido mais uma vez, aquilo que nunca lhe resultava difícil com as pessoas a quem pretendia afetar. Ele tinha aterrorizado Hanji a ponto de ter passado todos aqueles dias envolvida numa atmosfera quase paranoica de a qualquer momento pudesse acontecer qualquer coisa.

- Escuta, Hanji. – Pediu. – O Kenny pretende que todos que o viram naquele dia não consigam esquecer o que viram. Quer que te sintas paranoica, pensando que a qualquer momento, ele pode aparecer e apagar pessoas das nossas vidas a seu bel-prazer. Acredita, eu conheço o raciocínio dele. Isso não vai acontecer.

- A que custo? – Perguntou, soluçando em seguida e Levi criou distância suficiente entre os dois para se verem olhos nos olhos.

- Eu não quero morrer, Hanji e acredita que farei tudo ao meu alcance para resolver a situação da melhor forma. Sabes que não sou um desistente e que mesmo que acabe atrás das grades, não terminaria com a minha vida. Só que não quero que penses em nada disso. Vou dar, aliás vamos dar o nosso melhor para que possamos olhar para tudo isto como más lembranças. – Viu a amiga assentir. – Ok, agora diz-me… tens comido bem? Estás pálida e não se sei será apenas da quebra de tensão que penso que tiveste, certo?

- Não tenho conseguido comer nestes últimos e o que como… não consigo manter no estômago e… - Mais lágrimas.

- Shh e? O que foi?

- Sei que mesmo que não nos tenhamos falado nestes últimos dias, sempre ligas e através da Mikasa, do Armin e da Nanaba fazes chegar a comida que preparaste, mas… desculpa, não tenho tido apetite e…

- E? – Insistiu.

- Talvez precise ver um médico. – Disse num tom choroso.

- O que aconteceu? Dores? Ou sang… Hanji? – Os olhos repletos de lágrimas apenas confirmavam as suspeitas. – Vou levar-te ao médico agora.

­A amiga nem contestou e apenas viu como o professor fazia uma chamada a Eren, onde o avisava que iria sair e sem entrar em pormenores, referiu somente que ia a uma consulta com Hanji e pediu que o rapaz não fizesse nada de imprudente enquanto estivessem longe um do outro. Eren lembrou o professor que tinha combinado que Reiner iria buscá-lo e que mais tarde, se Levi não pudesse, seriam os amigos a dar-lhe boleia e que não faria nada que o deixasse preocupado. Em troca, apenas pediu que lhe contasse a razão para aquela consulta médica repentina quando se encontrassem mais tarde.

Terminada a chamada, Eren não se sentia com muita vontade de assistir a última aula, mas tinha prometido que ia comportar-se e seguir a rotina habitual. Portanto, preparava-se para juntar-se aos seus amigos quando encontrou Irvin no corredor.

Contemplou a hipótese de o ignorar, mas existia a possibilidade de que o diretor desse pela ausência de Levi ou Hanji. Mesmo que eles não quisessem dar muitas satisfações sobre as suas vidas, sabia que Levi não tinha mais aulas para lecionar, mas por norma ficaria pelo menos mais uma hora no gabinete a adiantar trabalhar ou a receber algum aluno com dúvidas. Estas que ultimamente rondavam em torno de aconselhamento quanto ao futuro profissional.

No caso de Hanji, ainda tinha mais alguma aula e só podia contar que Petra que pelo que Eren percebeu, esteve presente na situação, inventasse alguma desculpa credível para a ausência da professora.

- Eren podemos conversar por alguns minutos?

- Ainda tenho uma aula.

Ok, não era nada disto que queria dizer. Devia pelo menos mantê­-lo ocupado para não notar os dois a saírem, mas parece que cada vez que o vejo, fico automaticamente irritado”, pensava frustrado com a resposta que tinha dado antes.

- Eu sei, mas se chegares um pouco tarde, podes dizer que estavas comigo ou eu mesmo acompanho-te à sala para evitar problemas.

Eren estranhou a insistência, mas achou melhor acompanhá-lo pois dessa forma, conseguiria a desculpa ideal para manter o diretor afastado dos acontecimentos recentes.

Foram até à sala do diretor que disse ao moreno que se podia sentar, mas este recusou-se, mantendo também uma certa distância da secretária e cruzou os braços, aguardando pela conversa que sairia dali.

Irvin podia ver a relutância do jovem em permanecer na sala, aliás no dia anterior, tendo em conta o distanciamento evidente, ficou surpreendido quando foi abordado por ele no meio do refeitório repleto de alunos e alguns professores. Em poucas palavras e com uma guitarra nas mãos disse que tinha acabado o hino que lhe tinha pedido e disse que não era justo que apenas ele avaliasse e portanto, todos os presentes naquele local presenciaram a performance.

Teve que admitir que ficou surpreendido pela positiva com o que Eren tinha criado para a escola. A opinião geral era a mesma. Era um hino à altura e quem sabe, até mais bonito e imponente do que aquele que tocava sempre que Sina entrava em competições. Se dúvidas ainda restassem, não teve escolha senão em concordar com os rumores que classificavam o rapaz com um artista talentoso.

- É sobre o hino? – Falou incapaz de manter-se em silêncio por mais tempo.

- Também podemos começar por aí e devo dizer que estou muito surpreendido pela positiva. Tens um talento admirável.

Os olhos verdes desviaram-se momentaneamente.

- Obrigado. – Murmurou.

- Mas o verdadeiro motivo para te ter chamado aqui é para pedir desculpa pelas coisas terríveis que disse naquele dia, tanto na frente do Levi como quando te chamei para conversarmos aqui. Sei que o meu pedido de desculpas não vai reparar automaticamente os danos das palavras que proferi, mas acho que tinha que começar por algum lado.

Ok, o pedido de desculpas não estava sequer na lista do que pensei que fosse ouvir aqui dentro”, pensou.

- Demorou, mas finalmente reconhece que agiu mal?

- Não me orgulho das minhas atitudes. Não me orgulho de ter ouvido da boca do Levi, alguém que não expressa facilmente o que sente, a declarar sem receio o que sentia e além de não valorizar algo assim, ainda o chamei de… nem gosto de lembrar e mesmo as coisas que te disse aqui. – Suspirou. – Parece que em apenas um dia, consegui estragar tudo com as pessoas que eram e são importantes para mim. Sei que não mereço que aceitem o pedido de desculpas e…

- Estás a falar primeiro comigo ou já falaste com o Levi?

- Já falei com o Levi e agora contigo… só não sei se será tão fácil com a Hanji. – Olhou na direção do rapaz. – O que ela disse e outro bom amigo também conversou comigo, fez-me perceber que fiz tudo errado. Tudo desmoronou a partir do momento que magoei aquele que trouxe a prometida mudança a esta escola. Aquela em que eu mesmo deixei de acreditar… também nunca fui capaz de ajudar-te, talvez nem tenha tentado verdadeiramente porque… nem sei, Eren. Talvez seja um cobarde.

Era estranho para o jovem ver um ar tão derrotado na expressão do diretor.

- Foi por isso que inicialmente pediu ao Levi que se aproximasse de mim?

- Não lhe pedi diretamente que fizesse isso, mas soube à partida que ele saberia lidar contigo. – Sentou-se na secretária, olhando para o exterior com um sorriso triste. – Quando o entrevistei pela primeira vez, tive a impressão errada de que era um simplesmente competente, inteligente e que se movia e orientava apenas em torno da lógica ou conhecimento. No entanto, a meio da entrevista, uma pergunta de resposta mais aberta em que pretendia ver como ele responderia, veio o que não esperava. Ele era um aspirante à mudança, inconformado com a estagnação, um sonhador. – Riu ligeiramente. – Não pensei que a razão e os sonhos pudessem conviver numa só pessoa de forma tão harmoniosa, mas ele provou o contrário.

- Eu sei… eu também pensava que ele não passava de um idealista que não trazia mais do que mentiras bonitas.

- Julguei que o entusiasmo dele fosse esvair-se com o tempo e que a realidade acabasse por derrubar as ambições que tinha, mas nunca se deixou abater e foi ele que me recordou que tal como em outras ocasiões da minha vida para ter o que quero, não posso esperar que as coisas aconteçam, tenho que lutar por elas. – Seguiu-se uma pausa em que ouviram o toque da campainha sem que nenhum dos dois se movesse. – Sabes Eren, eu herdei esta escola do meu pai. Na verdade, licenciei-me e fiz um Mestrado em Gestão e Administração de Empresas e não pensava acabar numa escola, mas aqui estou eu. Sempre lidei melhor com os números e acho que a certa altura, deixei de ver como isso afetava a vida de todos os alunos e funcionários da escola. Devo dizer que ter o Levi responsável pela contabilidade foi quase como regressar à faculdade novamente. Foi como aprender tudo de novo. – Sorriu de leve. – Além disso, desde do início tive alguma afinidade por ele, apesar do jeito quase antissocial que leva, mostrou em várias ocasiões que se importava comigo ou com os outros à sua volta. Aliás, é graças a ele que vi também como cresceste nestes últimos meses. De um rapaz ausente, maioritariamente desinteressado pelas aulas e pela escola, tornaste-te alguém que praticamente não falta a uma aula e tem tido notas que te podem levar longe no futuro, se assim quiseres.

- Eu…

- E ele foi o grande responsável por finalmente, ter conseguido encaminhar as coisas com a mulher que queria ter ao meu lado o resto da minha vida, mas infelizmente… estraguei tudo num período de meia dúzia de horas.

- Se tudo isto é verdade, se está arrependido e reconhece e sabe por que razão está errado, então… - Fez uma pequena pausa. – Não desista dela e lute em vez de cruzar os braços. Se acha que é mesmo quem quer ter ao seu lado, então prove através de algo que não seja só palavras. – Afirmou e pediu licença para sair, deixando para trás um olhar incrédulo de Irvin que ouvia da boca do rapaz, algo muito semelhante ao que Levi lhe tinha dito antes.

Por muito que não merecesse o perdão de nenhum dos dois e que nenhum deles tivessem referido nada sobre aceitarem ou não o pedido de desculpas, a verdade é que ambos se preocuparam em dizer-lhe uma coisa: para não desistir de Hanji.

Quanto a Eren entrou na sala de aula, onde Petra apenas pediu que se sentasse e começasse a fazer os exercícios que tinha acabado de passar aos restantes colegas.

A aula decorreu normalmente e no fim, Mikasa e Armin ficaram para trás porque precisam de ir à Associação de Estudantes resolver alguns problemas, mas prometeram que depois apanhariam boleia com um dos colegas até à casa de Nanaba, onde ultimamente ficavam.

Eren por seu lado encontrou o carro dos amigos que já o esperavam. Bertholdt ia no lugar ao lado condutor que era Reiner que sorriu e acenou ao moreno que se apressou a ir ao encontro dos dois.

- A Annie não veio hoje?

- Teve um turno extra para fazer. – Respondeu Bertholdt.

- Eren como está um trânsito de merda pelo centro, vamos dar uma volta maior, mas prometo que estamos lá a horas no café.

- Ok, por mim desde que cheguemos a horas, não interessa por onde vais. – Disse, acomodando-se no banco de trás e vendo que havia uma mensagem de Levi a dizer que tinha saído da consulta e estava a ir para casa com Hanji. Afirmou que estava tudo bem, mas que conversariam melhor mais tarde.

- Aconteceu alguma coisa? – Perguntou Reiner.

- Huh? – Balbuciou Eren.

- Praticamente suspiraste de alívio, depois de leres a mensagem. – Explicou Reiner.

- Ah, é que o Levi saiu com a Hanji. Pelos vistos, não estava a sentir-se bem e fiquei preocupado, mas ao que parece não era nada de grave. – Respondeu.

- Ainda bem que não era nada de grave. – Comentou Bertholdt e tentando mudar um pouco o assunto. – Já falta pouco para as aulas terminarem, já sabes se vais para alguma Conservatória de Música aqui perto ou vais arriscar no exterior?

- Ainda não tenho a certeza, mas gostava definitivamente de seguir algo relacionado com música.

Se tiver essa oportunidade”, Acrescentou na sua cabeça.

Manteve esse pensamento em privado e prosseguiu a conversa com os amigos e para frustração do loiro que ia ao volante, mudar o percurso não ajudou a evitar o trânsito. Em vez disso, viram-se quase parados numa via que supostamente não deveria ter qualquer tipo de paragem.

Abriu os vidros do carro e apoiou o cotovelo, avançando vagarosamente cada vez que os carros à frente se movimentavam. Bertholdt e Eren ainda conversavam quando Reiner notou que havia um carro avariado na berma mais adiante e essa era a razão do trânsito que não deveria existir naquele percurso.

- Berth, vens até ao volante e andas com o carro se for preciso?

- Claro, mas… onde vais? – Perguntou.

- Parece que há um carro avariado ali mais adiante, vou ver se posso ajudar em alguma coisa. Já não seria a primeira vez que resolvo algo que podia poupar-nos tempo.

- Ok, mas tenta não demorar muito. – Disse, vendo o namorado sair, este acenou e caminhou por entre alguns veículos até alcançar aquele em que havia um problema.

- O Reiner já fez isto? – Perguntou Eren curioso.

- Sim, ele percebe bastante de mecânica dos carros. Aliás, tudo o que for tarefas que exijam reparar coisas, ele é bastante bom. Lembras-te do problema elétrico que tivemos em casa? Ou mesmo quando quis arranjar a porta da cozinha na vossa casa?

- É verdade. – Afirmou Eren pensativo. – Agora que falas nisso, ele sempre teve muito jeito com estas coisas e além disso, não deixa de ser muito fixe da parte dele que saia assim no meio do trânsito para dar uma mãozinha a desconhecidos.

Bertholdt sorriu.

- Sempre foi assim. Se puder ajudar, sempre é dos primeiros a oferecer-se para fazer alguma coisa.

Esperaram pouco mais de dois minutos até que Reiner regressou com uma das mãos sujas e pediu a Eren que fosse com ele. O moreno não entendeu a razão, pois não entendia nada de mecânica, mas enquanto caminhavam o loiro explicou que não pretendia que o ajudasse com o problema do carro e sim que ajudasse o motorista que parecia completamente perdido visto que não entendia uma palavra do que diziam as pessoas que estavam com ele no carro.

- Alemão? – Murmurou Eren ao ouvir o homem que de costas para ele falava com aquele que devia ser o motorista e estava com aquele ar de que não estava a entender uma só palavra que estava a ser dita.

- Eu sabia. Reconheci algumas das palavras estranhas. – Comentou Reiner. – Será que podes dizer ali ao Senhor Dono do Universo que posso resolver o problema do carro, se parar de berrar com o motorista e quem sabe, possas estabelecer ali contacto entre eles porque claramente não está a funcionar.

Contudo, o amigo de cabelos dourados omitiu a outra razão para ter chamado Eren e essa era a semelhança quase assustadora que por momentos julgou ver entre os ocupantes do carro e o rapaz. E por semelhança, não se referia aos traços físicos no geral, mas a algo que chamou a sua atenção assim que viu a mulher que se dirigiu a ele. Os olhos vibrantes. Aquela tonalidade verde que não se recordava de ter visto em outra pessoa além de Eren. A mesma mulher que se mantinha no interior do carro, enquanto o suposto marido falava não de uma forma muito calma com o motorista.

- Guten Tag, Kann ich Ihnen helfen? (Boa tarde, posso ajudar?) – Perguntou Eren e o homem de cabelos castanhos curtos, olhos castanhos, trajes formais de cor negra e gravata azul escura olhou para trás.

Reiner testemunhou a surpresa nos olhos do homem que respondeu, provavelmente explicando qual seria o problema, mas à medida que Eren continuava a conversação, podia ver como o homem parecia ter visto um fantasma.

- Podes ir ver o carro, já expliquei que só estamos aqui para ajudar. – Disse Eren com um sorriso e com um ar descontraído que demonstrava o quanto não notava o olhar estranho do homem que não parava de observá-lo.

Reiner recomeçou o arranjo do carro enquanto escutava como Eren sem dificuldade ajudava o motorista e aquele homem misterioso finalmente começarem a entender-se.

E se ainda tivesse dúvidas quanto à forma estranha como aquele homem observava o amigo, assim que a mulher visivelmente aborrecida saiu do carro também viu Eren. Ela empalideceu de imediato.

- Wie alt bist du? (Que idade tens?)

- Ich bin achtzehn Jahre alt (Tenho dezoito anos).

- Achtzehn (dezoito)… - O homem repetiu, ficando igualmente pálido.

- Grisha… - Murmurou a mulher, levando uma das mãos à boca para tentar abafar um soluço que escapou juntamente com as lágrimas.

Diante da reação um pouco assustado, Eren aproximou-se da mulher e Reiner concluiu que devia estar a perguntar se estava tudo bem, mas a mulher acabava de entrar num choro quase compulsivo.

Assim que o loiro terminou a reparação e ouviu os agradecimentos do motorista que pedia a Eren que o acompanhasse, pois pagaria caso o fizesse. Porém, o moreno depois de ajudar a mulher sentar-se novamente no carro, pediu desculpa e disse que não os podia acompanhar pois já estava atrasado para o trabalho.

Não obstante, mesmo antes de distanciar-se por completo, o homem ainda o chamou e pela resposta do rapaz, Reiner deduziu que lhe tivesse perguntado o nome.

- Eren. – Respondeu. – Eren Jaeger. – Sorriu e acenou, puxando Reiner para que regressassem ao carro e fossem rapidamente para o trabalho.

- Eren ficaste a saber por que razão a mulher estava a sentir-se mal?

- Hum, não. Ela basicamente só repetia o nome Grisha. – Disse pensativo. – Espero que tenha ficado bem.

- E o nome do homem… sabes?

- Maximilian.

- Refiro-me ao apelido de família. – Insistiu Reiner, recebendo um olhar desconfiado de Bertholdt que não entendia a razão para que o namorado parecesse tão pensativo.

- Não perguntei. – Respondeu. - Acho a senhora chamava-se Johanna, mas também não faço ideia do sobrenome. – O carro parou. – Obrigado pela boleia. Vemo-nos depois, estou super atrasado!

Assim que o moreno entrou no café, Bertholdt olhou para o namorado e este disse:

- Preciso ligar ao professor, mas depois explico com mais detalhe o que aconteceu.

Como já esperava, o professor não demorou em atender a chamada.

- Reiner? Aconteceu alguma coisa?

- O Eren está bem. – Esclareceu de imediato. – Já está no trabalho, mas queria falar de outra coisa que aconteceu a caminho do café. Encontrámos algumas pessoas que me fizeram pensar nas coisas que o Armin contou durante as férias na casa do professor. Segundo o que disse, o Sr. Arlert investigou o passado dos três e…

- Vai direto ao ponto, Reiner. Quem é que viram?

- Não sei ao certo porque dos três, o Eren foi o único que sempre me pareceu menos interessado no passado dele e por isso, não tenho a certeza de quem eram aqueles dois, mas era um casal que parecia ter chegado à cidade há pouco tempo. Só falavam alemão e o carro deles avariou no meio da estrada e eu fui tentar ajudar… mas assim que vi a mulher dentro do carro, acho que se chamava… Johanna? – Olhou para Bertholdt que assentiu, confirmando que esse era o nome. – Ela tinha uns olhos praticamente iguais aos do Eren e nunca tinha encontrado ninguém com os olhos exatamente iguais ao dele, quer dizer… não com aquela cor tão viva e intensa.

- Um casal alemão… - Ouviu Levi dizer. – O nome do homem seria Maximilian?

- Sim, como é que…?

- Reiner não vais dizer nada ao Eren sobre isto porque como é tão cabeça no ar, não deve ter notado as semelhanças. Pelo que disseste, podem ter-se cruzado com os avós paternos dele.

- O quê? Então… então é verdade que ainda tem família viva?

- Sim, mas não é um assunto fácil por isso, estou a pedir que tanto tu como o Bertholdt não falem desse assunto.

- Ok, nós não vamos dizer nada.

- E mais uma coisa? Eles notaram?

- Os dois agiam como se tivessem visto uma assombração, a mulher até passou mal.

- Puta que pariu… - Ouviu praguejar do outro lado. – Algum deles disse alguma coisa sobre querer vê-lo depois? Tentaram ficar com algum contacto? Algo do género?

- Não, mas a última coisa que o homem perguntou foi o nome dele e por isso, acho que só por aí, não deve ser… oiça, eu peço desculpa, a culpa disto tudo é minha. Eu chamei-o para vir tentar fazer de intérprete, mas ao mesmo tempo quis confirmar se a semelhança que via entre eles era só mesmo uma impressão minha ou tinha algum fundamento. Se não o tivesse chamado, talvez…

- O que está feito, está feito. – Interrompeu Levi. – Não te culpes ou martirizes por isso. – Ouviu um suspiro. – Obrigado por teres ligado para avisar e logo não precisas de ir buscá-lo, eu faço isso.

- Ok…ah, qualquer coisa que precise, professor… é só dizer.

- Digo o mesmo.

Terminada a chamada, Levi por um lado sentia-se mais aliviado por não ter acontecido nada que envolvesse o banqueiro ou o Kenny, mas por outro lado, os avós de Eren era algo que já nem equacionava. Com os acontecimentos mais recentes, esqueceu-se completamente que Mike o tinha alertado da visita do Dr. Jaeger à cidade para a conferência que duraria pelo menos duas semanas. Durante esse período, existia a hipótese de que se pudesse cruzar com eles.

Nunca lhe ocorreu que Eren pudesse encontrá-los primeiro. Se bem que o facto de não ter visto nenhuma semelhança entre os avós e ele próprio não surpreendia o professor.

Aquele idiota felizmente ou infelizmente tem sempre a cabeça nas nuvens e é muito ingénuo em certos aspetos”, passou uma das mãos pelos cabelos. 

Honestamente, esperava que os avós o ignorassem como tinham feito até então, mas a julgar pela reação deles, essa ideia não lhe parecia muito plausível. Ou quem sabe, apenas tivessem ficado chocados com a situação, mas não fossem fazer nada no sentido de se aproximarem do neto.

Só que quanto mais pensava nessa possibilidade, mais pressentia que não era totalmente provável e assim que Eren soubesse com quem tinha falado, não estava seguro de que a reação fosse das melhores. Não se soubesse que eles podiam ter mudado a vida dele se não tivessem negado a sua existência.

- Vais tentar falar com eles? – Perguntou Hanji com quem o professor conversou sobre esse assunto.

- Estou a pensar seriamente em fazê-lo, porque prefiro ser eu a tentar encontrá-los primeiro do que eles irem à procura do Eren.

- Não o podes proteger de tudo e acima de tudo, negar-lhe o direito de conhecer a família.

- Como achas que vai reagir quando souber que os avós não quiseram saber dele? Sinceramente, não vejo nada de bom numa conversa dessas e nem penso que seja justo que lhe contem uma mentira qualquer e queiram fazer parte da vida dele agora.

- Nisso tens razão. – Hanji acabou de comer o que ainda restava no prato.

- Terei que falar com eles, mas deixando isso de lado por agora… estás bem? Não estás enjoada? – Perguntou.

- Não. – Sorriu. – Acho que estava com saudades da tua comida preparada na hora.

- Saudades? Só estiveste fora daqui uns dias. – Disse, apoiando o queixo na mão, olhando para a miga que riu um pouco.

- Saudades sim. Foram dias complicados, mesmo com toda a atenção que a Nanaba, o Armin e a Mikasa tentavam dar.

- Hum, estás satisfeita? Posso fazer mais qualquer coisa, se quiseres.

- Acho que vou deixar a sobremesa para depois. Vamos ao Kitten, certo?

- Sim. Podes comer qualquer coisa lá enquanto esperamos pela hora do fecho.

Era bom ver a amiga sorrir mais tranquilamente e notar que a palidez de antes desvanecia. A ida ao médico acalmou a preocupação de ambos, ainda que o doutor tenha alertado que as situações de estresse poderiam se perigosas dali em diante. Não considerou uma gravidez de risco, pois apesar do pequeno sangramento ao que tudo indicava, tudo estava bem com a criança.

No entanto, aconselhou repouso e passou uma medicação leve para ajudar a combater as náuseas para que assim, se pudesse alimentar como deveria. Repetiu mais do que uma vez que para o bem dela e do bebé deveria evitar situações que lhe trouxessem impactos emocionais fortes.

Ouvidos os conselhos do médico e palavras que lhe traziam o conforto e a confirmação de que tudo continuava bem com o bebé, os dois saíram muito mais aliviados do hospital. Logo de seguida, Levi passou pela farmácia e levou a amiga para o seu apartamento, onde preparou uma refeição bem variada e nutritiva.

Os dois conversaram como se a nuvem que os tinha cercado nos últimos dias não passasse de uma má recordação e o professor sentia como se um peso tivesse saído do seu peito. Por muito que falasse da boca para fora que queria distância da amiga insana, a verdade é que aquele distanciamento de poucos dias, apenas o fez entender como aquilo o afetava.

O que não esperava é que depois de ir buscar Eren ao trabalho, tanto o rapaz como Hanji estivessem claramente a cair na insanidade.

- Não. – Repetiu o professor.

- Mas Levi… - Os dois disseram em uníssono.

- Fora daqui… - Fez uma pequena pausa. – Os dois.

Foi o último a entrar no quarto para encontrar, não Eren, mas ele e Hanji com almofadas na cama dele.

- Pensam que isto é uma festa do pijama? Quantos anos é que julgam que tenho? Dezasseis? E mesmo que tivesse dezasseis, isto é completamente ridículo.

- Mas o Eren não se importa e diz que é bom dormir com amigos. – O ar de Levi não se alterou. – Sim, eu sei… não vais poder fazer coisas pecaminosas com ele.

- Hanji! – Exclamou Eren.

- Ou até podes, eu prometo que não atrapalho, mas vá, deixa-me dormir aqui convosco.

- Não, já disse que quero os dois fora daqui!

- Eu… - Eren parecia estar a tentar ganhar coragem para dizer aquelas palavras e decidido a convencer, Levi deixou-as sair. – Se não deixares, faço greve de sexo!

Levi arqueou uma sobrancelha e respondeu:

- Espero que te divirtas bastante com a tua mão. Fora daqui os dois.

- Não estou a mentir, Levi!

- Eu sei, eu também não. Espero que a tua mão seja capaz de te satisfazer, o que aqui entre nós, sabemos que não é verdade. – Sorriu de lado e viu o rapaz ruborizar-se.

Agora só tenho que convencer esta louca a sair daqui também”, pensava Levi quando viu um sorriso vitorioso no rosto de Hanji, algo que se misturava com um brilho estranho no olhar e isso estava a dar-lhe um mau pressentimento.

A amiga esticou o braço até pegar no telemóvel que tinha sobre a mesinha de cabeceira e após deslizar o dedo no ecrã algumas vezes, uma voz com respiração agitada, temperada com álcool e em francês soou no quarto silencioso.

Horrorizado, Levi reconheceu o conteúdo daquela que era uma gravação de uma das suas chamadas de quando estava em Paris.

- Ok! Ok! Pára a gravação!

Hanji deslizou o dedo sobre o ecrã e disse:

- Oh, e estávamos a chegar à melhor parte da chamada. – Olhou para Eren que estava visivelmente curioso e ainda ruborizado. – Ele estava a sentir muito a tua falta, aqui entre nós, aqueles dias em Paris devem ter sido bastante acompanhados pela mão dele.

- Mais uma palavra, Hanji e eu… - Foi puxado pela amiga para a cama. – Não vou dormir no meio dos dois. Isso está fora de questão.

- Ah não, já combinei com o Eren. Ele é que fica no meio.

Porque é que estas coisas acontecem comigo?”, perguntava-se enquanto virava as costas para Eren que era abraçado por Hanji que o chamava de adorável, entre outros adjetivos que faziam o professor revirar os olhos.

- Podes abraçar o Eren também.

- Já estamos os três na mesma cama. Não abusem da minha boa vontade. – Retrucou, mantendo-se de costas para os dois.

- Mas não é boa vontade, só aqui estás porque não queres que o Eren oiça as tuas chamadas quentes de Paris.

- Está calada, Hanji.

- Boa noite, Levi! – Disse, provavelmente abraçando Eren mais uma vez pois ouviu-o rir enquanto falava que ela estava a fazer-lhe cócegas.

Ainda que estivesse a manter o papel de irritado com a situação, parte dele sentia um alívio por saber que bastaria virar-se e encontraria as duas pessoas que tanto tinham mudado a sua vida. Bastava que se virasse e eles estariam bem e a dormir tranquilamente, afastando qualquer preocupação que o tivesse assolado nos últimos dias.

Desde da morte de Hitch e acima de tudo a aparição de Kenny, embora não o demonstrasse, temia o que poderia acontecer. Conhecia aquele homem. Sabia que não tomaria qualquer medida nos dias imediatamente a seguir, pois a diversão e adrenalina dele alimentavam-se da paranoia que causava nos visados da sua caçada.

Portanto, esforçava-se apenas por não se deixar levar pelos sentimentos de que a qualquer momento tudo pudesse desmoronar. Permanecia atento a qualquer movimento suspeito e tentava de forma subtil, confirmar que não só Eren, Hanji, Armin, Mikasa e Nanaba estavam bem, mas também os outros amigos deles que também corriam algum risco.

A ansiedade estava de volta e com isso, acabou por voltar-se na direção dos dois que já dormiam. Hanji com o rosto encostado aos cabelos de Eren que tinha o rosto virado na direção de Levi. Este sorriu ligeiramente e aproximou-se do rapaz, aconchegando-se ao seu lado. A mão direita pousada sobre o peito do moreno que exibia uma respiração tranquila e os batimentos que sentia mesmo debaixo da mão afastavam as imagens dos pesadelos de um passado distante. Os mesmos que não regressaram desde da primeira vez que os teve, mesmo dormindo ao lado de Eren.

Talvez não precise mais daqueles pesadelos porque eles apenas me recordavam de algo que eu já sabia. O teu corpo deve estar quente, como estou a sentir agora, a tua respiração deve ouvir-se como oiço neste momento, o teu coração deve bater… eu prometo que te vou proteger e hás de viver a vida que sempre mereceste”.

Na manhã seguinte, acordou primeiro que os outros dois ocupantes na cama. Aproveitou que era bastante cedo e saiu para a corrida matinal e teve tempo inclusive de tomar banho e começar o pequeno-almoço quando ouviu os primeiros movimentos na casa além dos dele. Só quando sentiu o cheiro familiar do shampoo se apercebeu que provavelmente, Eren já devia ter acordado um pouco antes, se teve tempo de tomar banho antes de entrar na cozinha.

- Bom dia. – Murmurou o moreno, abraçando o professor por trás e esfregando o rosto carinhosamente nos cabelos negros.

- Bom dia. – Respondeu Levi, pousou a faca que estava a usar para barrar a manteiga nas torradas e deixou de estar de costas para Eren, puxando-o pela gola da camisa para beijá-lo.

O moreno pôs uma das mãos na cintura do professor e inclinou ligeiramente a cabeça, deixando passar a língua do outro entre os lábios. Sentiu de imediato o gosto do café que o professor já teria tomado e ainda que não fosse admirador daquela bebida, não se cansava daquele gosto desde estivesse na boca que beijava com cada vez mais vontade.

A mão que antes segurara a gola da camisa, passava para o seu braço, acompanhando-se a outra. Ambas massajam com alguma firmeza os ombros e braços de Eren que se arrepiava com aquele toque. Só que tentava sempre lembrar-se que não estavam sozinhos em casa e que se quisesse controlar-se, devia terminar aquele beijo nos próximos segundos.

Porém, quando Levi prendeu o lábio inferior dele entre os dentes e chupou-o por alguns instantes, Eren agarrou o outro pelas coxas e sentou-o na banca da cozinha. Mesmo após a surpresa inicial, o professor optou simplesmente por enlaçar o pescoço do moreno com os braços e manter aquela troca de beijos e carícias.

- Levi? – Sussurrou, interrompendo a sucessão de beijos e olhando o outro nos olhos.

- Hum?

- Como a Hanji está lá dentro…

- Está no banho, eu sei, mas não vamos passar disto por muito que tenhas fantasias de ser prensado contra a parede, quando a qualquer momento alguém pode ver.

- Neste caso, estava a falar de ti.

Levi encarou-o por alguns momentos em silêncio e bateu na testa do rapaz, quebrando totalmente o clima que se tinha instalado antes.

- Nem pensar.

- Mas porquê? Se formos rápidos e tu dizes que és mais controlado, por isso ela nem ia…

- Já disse que não. – Empurrou Eren, descendo da banca e ajeitando a roupa.

- Queres dizer que aquela noite do meu aniversário foi única? – Perguntou desapontado. – Isso não é justo.

- Deixei-te fazer o que quiseste e aproveitaste… até demais. – Disse, continuando a barrar as restantes torradas.

- Não ouvi queixas.

- E pensas que é com esse tipo de respostas que me convences a ficar de quatro para ti outra vez? Oh, Eren pensa duas vezes porque a julgar pela forma como achas que basta quereres, para teres o que queres… lamento informar as tuas hormonas, mas não volta a acontecer.

- Tu mesmo disseste que foi bom.

- Não ponhas palavras na minha boca. – Replicou, aproveitando o facto de estar de costas para esconder o rubor que chegou ao seu rosto por alguns instantes.

- Então… desapontei-te tanto que é por isso que não queres repetir? – Perguntou com alguma tristeza no tom de voz.

Essa forma de perguntar não é justa! Puta que pariu, desde que quando é que ele aprendeu a ser um manipulador?! Ok, calma. Basta não responder. Afinal, eu deixá-lo a falar sozinho nada é nada de novo. Já fiz isso tantas vezes que mais uma, não fará diferença”.

- Leva o sumo para a mesa.

- Desculpa, Levi. Não pensei que aquela noite tivesse sido tão…

- Tch, puta que pariu esta merda… - Praguejou. – Ok, não, não me desapontaste agora leva a merda do sumo e tira esse sorriso estúpido da cara!

- Sim, Levi! – Disse sorridente.

O professor levou a mão ao rosto.

Isto é mau. É pior do que pensava. Não posso ver aquele ar de cachorrinho abandonado que acabo por fazer ou dizer o que ele quer”.

 

*_*_*_*_*_*_*

 

- Bom dia, Armin. – Disse Mikasa, colocando o copo de leite com café na frente do amigo.

- Bom dia, Mikasa. – Bocejou. – A Nanaba já saiu? Não me lembro de a ouvir chegar a noite passada.

- Se calhar, saiu outra vez com o Mike e desta vez, passaram a noite juntos.

- Talvez. – Comentou o loiro pensativo e olhou para o telemóvel. – Normalmente, ela costuma sempre ligar.

- Hum, vamos esperar mais alguns minutos e ligamos nós para ela, pelo menos para que saiba que está tudo bem e que já estamos a sair para as aulas.

 

*_*_*_*_*_*_*

 

- Dr. Zacharius!

O homem que acabava de tirar a bata, olhou para os dois enfermeiros que foram ao seu encontro com um ar muito agitado.

Outra urgência logo no fim do meu turno? Que falta de sorte”, pensou enquanto pedia que lhe dissessem qual era a situação e por que razão, não havia outro médico a cobrir a vez dele, “Polícia? O que…?”.

Havia um aparato considerável perto da zona das urgências e ao entrar na sala, ignorando as perguntas dos agentes a quem não tinha respostas para dar, viu algo que gelou o seu sangue.

 


Notas Finais


Não há preview porque ainda não tive tempo de iniciar o próximo capítulo :/


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