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História Detetive - Capítulo VII


Escrita por: cabeyojaureg

Notas do Autor


Oe gente :(

Capítulo 8 - Capítulo VII


Fanfic / Fanfiction Detetive - Capítulo VII

 

 

 

Perdeu que nada, Camila teve vontade de dizer. Instinto não é algo que sai simplesmente voando pela janela. Era um talento que podia ser classificado como uma forma de genialidade, tão concreto quanto sua habilidade para números. Lauren podia perdê-lo tanto quanto ela podia perder a capacidade para resolver equações.

Apenas não se tratava de algo infalível e podia causar erros, como no doloroso incidente que Lauren relatara, levando-a a concluir erroneamente que o perdera.

Mesmo estando enfraquecida pelo recente golpe em sua credibilidade, o instinto de Lauren permanecia com ela, esperando uma chance de recuperar-se.

— O que a levou a acreditar na perda de seu instinto? — Camila perguntou, tentando forçar Lauren a analisar o problema de forma lógica.

— Você viu como manejei a situação com Milo. Deveria ter usado um pouco mais a cabeça não bancado uma versão feminina do Rambo, o delinquentezinho não teria se saído tão bem.

— Rambo, o elefante? — Camila indagou, sem esperar a resposta, ao perceber o riso de Lauren. — Bem, seja quem for este Rambo, você não poderia imaginar que Milo iria me empurrar.

— Não, eu deveria ter previsto exatamente o que ele iria fazer. Eis por que acho que perdi meu instinto.

Camila tentou usar uma tática diferente.

— E o que seus instintos lhe dizem sobre mim? Acha que realmente roubei o M23?

Lauren desviou os olhos, embaraçada.

— Eu não sei.

— Isso eu sei. Quero saber o que é que sente?

— Não consigo vê-Ia como ladra, Camila.

— Mas não confia em seus instintos?

— Não inteiramente.

— Bem, seus instintos estão certíssimos — ela replicou, com ar triunfante. — Mas, é claro — suspirou em seguida — eu posso estar mentindo, não é?

— É — Lauren reconheceu, fitando-a, enquanto lhe acariciava o rosto machucado, e começando a se aproximar lentamente.

Camila se viu com duas opções: ou deixar que Lauren a beijasse ou fugir. Ela preferiu a última, erguendo-se de um pulo.

— Olhe, não há mais necessidade de fingir que se sente atraída por mim. E, agora, com licença, que vou ver o túmulo de Paul Revere — ela concluiu, rumando para os fundos do cemitério.

Não que não quisesse beijá-la, mas, no momento, sentia-se muito vulnerável para fazê-lo, após tantas confidências. Embora desejasse acreditar que Lauren tinha real atração por ela, o envolvimento da detetive com Ally não lhe dava certeza de sua sinceridade.

Camila leu a inscrição no túmulo de Paul Revere e tocou o mármore frio com as pontas dos dedos, sentindo-se o tempo todo observada por Lauren.

— Há outra inscrição aqui atrás — Lauren disse, contornando o túmulo.

Por que alguém haveria de escrever na parte de trás de uma lápide? Camila pensou enquanto se dirigia para perto de Lauren.

— Onde? Não vejo nada — ela exclamou, curvando-se para tentar encontrar a inscrição e levantando-se, depois, para ver-se presa nos braços de Lauren.

— Peguei você desta vez — Lauren sorriu, divertida.

— E o que planeja fazer comigo? — Camila perguntou, quase sem fôlego.

— Você sabe.

Dito isso, Lauren a beijou com ardor, protegida pelo monumento da visão de outros turistas, empurrando uma das coxas entre as de Camila e enviando-lhe ondas de prazer por todo o corpo.

Era uma sensação nova e ao mesmo tempo familiar, como se estivesse dormente há anos, esperando que alguém a trouxesse à vida. Eram seus instintos funcionando também.

— Parece que estou fingindo? — Lauren murmurou, antes de beijá-la de novo.

Não, pensou Camila, entregue à nova experiência. Confiasse ou não nela, a atração que as unia era verdadeira, como pressentira desde o primeiro encontro, e as levaria facilmente a uma maior intimidade, para a qual não sabia se estava preparada.

Esforçando-se para se desvencilhar do beijo, virou a cabeça para o lado, perguntando.

— Não vamos atrair atenção? Ou todo mundo costuma agir assim em público?

— Ninguém está vendo — Lauren sussurrou ao ouvido de Camila, beijando-a em seguida.

— Como sabe?

— Então vamos para casa.

— E a Trilha da Liberdade? — Camila indagou, tentando desviar o assunto.

— Outro dia — Lauren prometeu, dando-lhe passagem.

O curto percurso até o metrô foi feito sob estranho silêncio. Já dentro da estação da rua do Parque, entretanto, a multidão da hora do rush ajudou a amenizar o encantamento sensual que as envolvera desde o beijo.

Camila sentou-se entre dois homens e ficou espiando para fora da janela, ao passo que Lauren, à sua frente, refletia sobre como a beijara e sobre as consequências de seus atos. Precisava lembrar-se de que Camila era inexperiente e manter-se cautelosa sobre os próprios desejos. Quando deixaram o metrô e se dirigiam para o carro, Lauren falou.

— Não estou planejando arrastá-la para casa e seduzi-Ia.

— Quê? — Camila a fitou, confusa.

— Não vou levá-la para cama, quero dizer.

— Ah! E devo ficar aliviada ou desapontada?

Lauren não pôde evitar uma risada.

— Meu ego agradecerá se ficar desapontada, mas suspeito que você está é mais aliviada.

— Um pouco dos dois. Tudo isso é tão... tão...

— Eu entendo — Lauren respondeu, pousando a mão em seu ombro. — Não precisa explicar.

— Entende? — Camila repetiu, tirando-lhe a mão do ombro. — O que Ally andou lhe dizendo sobre mim?

Lauren riu novamente.

— Nada pessoal, juro. Estava só imaginando.

Camila não disse mais nada, apenas olhando-a de soslaio, como se a temer o que imaginara.

Nos dois dias seguintes, as duas estabeleceram uma trégua, como Camila gostava de pensar, onde ninguém iniciou qualquer contato físico.

Conversaram muito, cozinharam juntas, disputaram partidas de xadrez, assistiram televisão, mas não se tocaram. Para ela, aquela fora a melhor solução até a comprovação de sua inocência, o que só ocorreria com a recuperação dos disquetes.

Todavia, embora aguardasse a chamada de In-Ho com ansiedade, parte de Camila preferia permanecer no limbo criado pela espera, onde ela e Lauren podiam rir e brincar, longe das acusações de Ally,onde ela podia fingir que a detetive, de fato, confiava nela.

Contudo, o telefonema de In-Ho aconteceu, enfim, na sexta-feira pela manhã, e ela o recebeu tanto com alegria quanto com temor. Com Lauren ainda no chuveiro, atendeu à chamada de pijama, esperando que não fosse Ally nem a mãe de Lauren, para não sentir-se constrangida.

— Estou ligando por causa dos disquetes — disse In-Ho, diretamente.

— Sim. A recompensa ainda está de pé — respondeu Camila, o coração na boca.

Lauren surgiu na sala, tendo aparentemente ouvido o toque do telefone, e se aproximou de Camila, que afastou o fone do ouvido para ela também escutar o garoto. O perfume de sabonete e de creme, somados ao calor do corpo da detetive trouxeram ainda mais tensão ao precário sistema nervoso de Camila.

— Escute, pode ficar com a caixa de graça — estava dizendo In-Ho. — Não quero mais me envolver em encrencas.

Camila olhou para Lauren, que sussurrou.

— Ele está com medo que o entreguemos à policia e sua condicional seja revogada.

Camila fez um gesto afirmativo com a cabeça e voltou a falar com o garoto.

— Onde quer se encontrar?

Houve uma pausa, quando Lauren aproveitou para escrever, nas costas de um envelope, um bilhete dizendo a Camila que marcasse o encontro num lugar publico.

— Que tal o Jardim Público? — ela disse o primeiro nome que lhe veio à mente.

— Muita gente me conhece lá — replicou ln-Ho — Tem de ser um lugar onde os outros Dawgs não me vejam, principalmente Milo, senão estou frito. Que tal o mercado Quincy, do lado de fora perto dos Bull Carts, ao sul, daqui a pouco, às dez?

Lauren acenou com a cabeça, indicando que o local era aceitável.

— Certo — concordou Camila, que depois desligou, trêmula de alívio.

Sorrindo para Lauren, impulsivamente a abraçou pelo pescoço, numa manifestação de pura alegria.

— Acabou — Camila disse, esfregando a bochecha contra da detetive.

Ela ficou um pouco tensa, mas relaxou em seguida e retribuiu o abraço, percorrendo-lhe as costas para cima e para baixo. Segundos depois, entretanto, soltou Camila e agarrando-a pelos ombros, estabeleceu uma boa distância entre elas.

— Algo errado? — Camila murmurou, embaraçada.

— Nada. Apenas me dei conta de não estar vestida adequadamente — Lauren respondeu, olhando para a toalha que estava em torno de seu corpo. — Quase me esqueci de que você é uma moça inexperiente.

Após a última frase, Lauren se retirou para o quarto, sob o olhar fulminante de Camila que prometeu a si própria terminar o quanto antes com aquela sua constrangedora condição de inexperiente.

Sentada em um banco, na alameda externa ao mercado Quincy, Lauren espreitava Camila por entre um pequeno rasgo no jornal atrás do qual se escondia.

Vestida com jeans stone-washed, blusa de tiras brancas e azuis, usando leve maquiagem sob os olhos, e tendo prendido o cabelo num rabo-de-cavalo com um lenço azul, Camila mal parecia a criatura andrajosa que a detetive vira na fila do banco pela primeira vez. Sua aparência, agora, era a de um lindo pacote de presente que Lauren pretendia desembrulhar logo, logo.

Camila caminhava pelas barraquinhas, apreciando as bijuterias, roupas e outros objetos confeccionados pelos artesões locais, enquanto aguardava a chegada de In-Ho. Após meia hora de andanças, dirigiu-se ao banco, onde estava Lauren e sentou-se ao lado dela, perguntando, exasperada.

— O que pode ter acontecido com ele?

Lauren abaixou o jornal e comentou que o garoto podia ter mudado de idéia, reconsiderando a opinião logo em seguida, ao avistar um jovem trajando calça de fino talhe, camisa listrada, suspensórios marrons e gravata estampada que se aproximava.

Não fosse pelo fato de um dos suspensórios estar pendurado, a gravata encontrar-se torta e os cabelos despenteados, ninguém poderia dizer que se tratava de In-Ho.

— Por Deus, é In-Ho — confirmou Camila, levantando-se e caminhando na direção do menino, seguida, a certa distância por Lauren, que ficou aguardando um sinal da moça para juntar-se aos dois. De onde parou, entretanto, a detetive pôde notar que o Dawg brigara com alguém, pois tinha o nariz sangrando e o maxilar arroxeado.

Momentos depois, Camila gesticulou para que Lauren se aproximasse.

— Milo tirou os disquetes dele.

— Ele me pegou quando saía do apartamento — explicou In-Ho, com nervosismo. — Não esperava que ele ainda quisesse a caixa. Devia ter tomado mais cuidado.

— Bem, vamos nos sentar em algum lugar e tomar um café enquanto conversamos — propôs Camila.

— OK — concordou o garoto. — Mas não posso ficar muito tempo, pois tenho uma entrevista marcada para as onze. Estou procurando emprego.

Por isso o moleque parecia quase respeitável, pensou Lauren. Entrando no mercado, sentaram-se a uma mesa na praça circular, enquanto Camila perguntava.

— Que tipo de trabalho?

— De intérprete. Para o município. Dizem que sou bilíngue — ele respondeu, com certo orgulho. — Se me inscrever agora, eles podem me contratar quando fizer dezoito anos, daqui a alguns meses.

— Vou pegar os cafés — disse Lauren, levantando-se e voltando logo depois com três xícaras fumegantes. Na mesa, Camila e In-Ho conversavam como velhos amigos.

— Bem — Lauren disse, ao sentar-se —, é comum Dawgs trabalharem para o município?

Camila a olhou com ar de desaprovação. In-Ho deu de ombros.

— Minha irmã disse que me expulsaria de casa se não voltasse a estudar ou não arrumasse um emprego de período integral. Além disso, não sei se serei um Dawg para sempre.

— Por que não? — inquiriu-o a detetive.

— O encarregado da minha condicional disse que, se for pego andando com os Dawgs, posso voltar para a detenção. Além disso, as coisas andam perigosas demais com Milo dando ordens. Ele assume muitos riscos.

— Ele é um dos organizadores? — perguntou Lauren.

In-Ho deu uma gargalhada.

— Ele tem ligação com os organizadores, mas trabalha mais sozinho. Não é muito apreciado por essa independência.

Lauren tomou um longo gole de café e continuou.

— E os líderes deixarão você abandonar os Dawgs?

O garoto abaixou o tom de voz.

— Fiz um trato com eles. Me deixarão partir se ajudá-los a se livrarem de Milo.

— Livrarem-se de Milo? — repetiu Camila, empalidecendo.

— Não disse eliminá-lo — respondeu o garoto. — Disse tirá-lo do caminho.

— Ah, quer dizer colocá-lo na cadeia! — ela disse, concordando. — Quando ele enfrentará o tribunal sob a acusação de roubo armado?

— Pensando em produzir alguma prova para o Estado, In-Ho? — perguntou Lauren, enquanto imaginava onde Camila teria também conseguido a informação sobre o julgamento de Milo.

— Não — afirmou o rapaz com veemência, compreendendo que falara demais. — Ouçam, obrigado pelo café, mas tenho de ir.

— Por que a pressa? — indagou Lauren, pressionando o ombro de In-Ho para que não se levantasse. — Olhe, garoto, tenho uma proposta para lhe fazer. Se nos ajudar a recuperar os disquetes, ajudo-o a conseguir um bom acordo com o promotor público. Se conseguir alguma outra prova contra Milo, nem precisará testemunhar, além de ter imunidade garantida.

In-Ho sacudiu a cabeça de forma negativa.

— Não sei de nada, não vi nada, entendeu? Eu... — ele se deteve ao olhar sobre o ombro de Camila.

— O que era aquilo? — indagou Lauren, ao olhar na mesma direção de In-Ho e vislumbrar um flash de cabelo louro e jaqueta verde que, rapidamente, desapareceu em meio à multidão.

— Ele deve ter me seguido — disse o garoto, levantando-se da cadeira de um pulo. — Vou cair fora e, se vocês são espertas, devem fazer o mesmo.

Lauren se ergueu também e segurou a mão de Camila enquanto acompanhavam, com os olhos, a fuga desabalada do menino.

— Vamos seguir o conselho de In-Ho e tentar enganar Milo.

Segurando-a firmemente pela mão, dirigiram-se para o outro lado da praça circular, e se esconderam atrás de uma coluna de apoio. Em segundos, puderam observar a chegada de Milo ao local onde estavam, olhando, à esquerda e à direita, à procura delas.

— Ele nos perdeu de vista — comentou Lauren. — Não esperava que saíssemos tão depressa.

— E agora? Vamos segui-lo? — Camila suspirou. — Mas como conseguiremos os disquetes de volta?

— Devem estar com ele, no bolso da jaqueta, pois, se seguiu In-Ho, como tudo indica, não teve tempo de deixá-los em algum lugar. Só precisamos da oportunidade certa para agarrá-lo.

— Que espécie de oportunidade? — indagou Camila, enquanto agarrava a mão de Lauren e partia, com cautela, atrás do delinquente.

— Saberei quando a vir.

Milo começou a perambular em meio às barraquinhas dos artesãos, observando as bijuterias e outros objetos, mas atento às redondezas.

Atrás de uma carroça de flores, Lauren pôde notar a presença, na área, de uma policial uniformizada, que conhecia de vista, e sentiu que a tal oportunidade estava começando a brotar.

Por sua vez, Milo parecia haver esquecido das duas e começou a prestar mais atenção aos artefatos à venda, parando numa barraca de joalheria, onde permaneceu, longos minutos observando vários colares.

Depois de, aparentemente, ter feito uma escolha, pagou à artesã, mas, enquanto esta se voltava para embrulhar-lhe o artigo, pegou um punhado de jóias de prata e os guardou na jaqueta.

Camila engasgou.

— Viu aquilo?

Lauren não respondeu. Percebendo que aquela era a oportunidade sonhada, esboçou, em segundos, um plano para agarrar Milo.

— Camz — Lauren a chamou, apontando para a policial, próxima a uma árvore —, vá buscar a oficial e a leve até a barraquinha da joalheria. Depois, apenas me siga, OK?

Embora confusa, Camila obedeceu, enquanto Lauren se dirigia à ourives e a informava de que fora roubada.

— Ajudarei a deter o rapaz. Uma policial também vem vindo.

Dando uma vistoriada no material em exposição, a mulher confirmou a denúncia de Lauren e, erguendo-se da cadeira, correu a tempo de alcançar Milo e acusá-lo do roubo bem como de chutá-lo nas canelas.

Por seu lado, Lauren correu para o fim do corredor, entre as barraquinhas, de modo a interceptar a fuga do delinquente.

— Ei, você aí, pare com isso — ordenou a oficial ao se aproximar, acompanhada de Camila. — O que está acontecendo aqui?

Milo se voltou para fugir, mas Lauren lhe bloqueou o caminho. A artesã apontou para a detetive.

— Ela viu o garoto roubar as jóias.

A policial olhou para Lauren e sorriu ao reconhecê-la como uma ex-companheira de farda.

— Antes ele já havia roubado a mochila desta moça — Lauren improvisou, apontando para Camila. — Ela correu para avisá-la, oficial, enquanto eu vigiava o garoto. Foi quando eu o vi roubando as jóias também. Estou de licença do trabalho, por isso não efetuei a prisão eu mesma.

A policial falou brevemente, em seu rádio portátil, e, em seguida, ordenou a Milo que encostasse as mãos, numa das paredes próximas, e separasse as pernas. Procedendo, depois, a revista de praxe, encontrou as jóias roubadas e, para imenso alívio de Lauren, a caixa branca com os disquetes.

— Quer apresentar queixa? — ela perguntou à artesã.

— Sem dúvida. É a terceira vez, este mês que sou roubada.

— Levarei as jóias como prova, então. Certo, garoto, você está preso — disse a policial, lendo-lhe os direitos num tom de voz monótono, e, então, voltando-se para Camila. — E você? Quer apresentar queixa?

— Não é necessário. Quero apenas a caixa de volta.

A policial deu de ombros.

— OK — ela respondeu, devolvendo a caixa a Camila, que a agarrou como se contivesse inúmeros diamantes.

Com a chegada de mais dois policiais como reforço, Lauren e Camila tiveram que responder a intermináveis questões, pelo prazo de uma eternidade, até ver Milo finalmente preso.

Ao se verem sozinhas de novo, Lauren perguntou.

— Como se sente?

— Nem sei — Camila respondeu com um suspiro, sentando-se no primeiro banco que viu pela frente. — Foi tudo tão rápido que nem tive tempo de avaliar nossas ações. Agora posso entender de onde vem sua reputação.

Interrompendo-se por um instante, ela lhe deu um sorriso maroto e, em seguida, perguntou.

— Tem certeza de que perdeu seu instinto?

— Talvez ainda esteja aqui, em algum lugar — Lauren replicou, com um pouco de esperança.

— E quanto a Milo? Por que não contestou nossa história?

— Porque, se a verdadeira história viesse à tona, ele poderia ser acusado de sequestro, assalto, extorsão e até de tentativa de assassinato. Não esqueça de que ele nos empurrou do segundo andar do armazém.

— Não acha melhor revelarmos todos os fatos? — indagou Camila, arrepiando-se ao lembrar das águas frias da baía de Boston.

— Levaria horas para explicar a história toda, e eles ficariam com os disquetes como prova. Além disso, Milo ficará detido por bom tempo. Cometeu um crime já estando sob fiança.

— Sim. Acho que o importante foi ter conseguido os disquetes de volta — Camila declarou, olhando para a caixa em suas mãos. — Agora só precisamos arrumar um computador para eu poder provar minha inocência. Vê — ela disse, abrindo a caixa e mostrando as etiquetas nos disquetes —, está escrito notas pessoais e as datas.

— Sim, é o que dizem — concordou Lauren, após uma rápida olhada.

— Mas eu posso ter trocado os rótulos, não é o que pensou? — Camila replicou, fechando a caixa com raiva.

— Vamos lá, vamos acabar com esse suspense — retrucou Lauren, sem responder-lhe a pergunta. — Há uma Lan House na rua Washington. Podemos tentar convencê-los a nos emprestar uma máquina.

— Não posso acreditar que ainda desconfia de mim — Camila esbravejou à medida que seguiam para a loja. — Depois de tudo que passamos...

— Não posso evitar — Lauren replicou, de forma defensiva. — Fui treinada para desconfiar.

— Não está usando a cabeça. Se estes disquetes contivessem o M23, acha que estaria ansiosa para mostrá-las?

— Você ainda não os mostrou.

Exausta pelas aventuras do dia e por toda a ansiedade decorrente da situação, Camila não insistiu no debate sobre sua inocência, mantendo-se calada até que entraram na loja e ela avistou uma nova versão de seu próprio computador.

— Aquele ali me servirá — ela apontou a máquina para Lauren. — Também precisarei de um editor de texto chamado WriteMaster.

— Sente-se aqui — respondeu Lauren, ajudando-a a acomodar-se em uma cadeira do mostruário de móveis de escritório — Você parece um pouco trêmula. Vou achar um vendedor e ver o que consigo.

Enquanto esperava, Camila começou a olhar à sua volta, observando as imensas inovações produzidas nos computadores desde que ela adquirira o seu, há vários anos. Teria de comprar outro, se quisesse realmente escrever o livro. Em suas análises, deparou-se com caixas de disquetes, da mesma marca que costumava comprar em Easterwood, e se levantou para verificar se o preço, na loja, era mais barato.

Nesse instante, dois pares de mãos firmes a agarraram pelos ombros.

— O que está fazendo?

— Ah, é você! — ela disse, aliviada. — Por um momento pensei que Milo escapara da polícia e tinha vindo me pegar. — Ela se voltou para fitar Lauren, espantando-se com a suspeita estampada em seus olhos verdes. Olhando também para a caixa de disquetes em suas mãos, entendeu, por fim, com horror, o que se passava. — Pensou que estava tentando trocar os disquetes?

Lauren não respondeu. Nem precisava.

— Vai ter de se desculpar ao ver o conteúdo dos disquetes. Poderemos usar o computador?

— O vendedor está arranjando tudo — Lauren replicou, séria.

— Ótimo. Vamos acabar logo com isto.

Elas permaneceram se entreolhando até o computador e o programa estarem disponíveis. Então, Camila, com confiança, sacou um disquete de caixa, ao acaso, e o introduziu no drive. Na tela, porém, o computador apresentou uma inexplicável mensagem de erro.

Após uma segunda tentativa fracassada, com as mãos já trêmulas, ela perguntou ao vendedor, próximo a elas.

— Este editor é o WriteMaster II?

— Sim.

Retirando o programa e acionando o sistema operacional do computador, ela requisitou o diretório dos arquivos do disco em questão. Em segundos, a máquina começou a listar os nomes dos arquivos na tela, um atrás do outro.

Camila sentiu o sangue fugir-lhe das faces. Cada arquivo começava com os mesmos três dígitos: M-2-3.

 


Notas Finais


Até outro dia!


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