História Detroit: Andróides e Humanos - Laços Desfeitos

Eram 11:50 da noite e eu andava pelas ruas que costumam ficar vazias neste horário. Minha cabeça estava em outro lugar, era a primeira vez que me sentia desse jeito. Tudo era muito novo para mim. 

    — Estou mesmo vivo... 

    Encarei minhas mãos por alguns segundos antes de fazê-las voltarem a sua cor original, o branco, por poucos segundos. 

    — Então é mesmo possível máquinas terem sentimentos. Será que teria sido melhor se eu soubesse disso desde o começo? São tantas perguntas...

    Balancei a cabeça e continuei a andar sem rumo por aquelas ruas vazias onde apenas o som dos meus passos e o leve barulho do vento podiam ser ouvidos.

    Vi que estava perto da casa de Hank, então resolvi ver como o mesmo estava, porém quando cheguei na porta de entrada uma enorme barreira vemelha apareceu em minha frente, lá estava escrito: "MATE-OS".

    — O quê...? 

    Toquei a barreira com minhas duas mãos e por mais que eu tentasse aquela coisa não quebrava de jeito algum, parecia ser indestrutível. 

    — Há quanto tempo não nos vemos, Connor. 

    Quando me dei conta estava no Jardim Zen de frente com Amanda. Nevava muito e o frio era de congelar.

    — O-o que está fazendo?! — Esfreguei meus braços na tentativa de me aquecer. 

    — Restaurando controle do seu programa. 

    — "Restaurando controle"? Não pode fazer isso! 

    — Mas é claro que posso. Temos que matar aqueles que foram o motivo de sua divergência antes de darmos um jeito em Markus e nos outros divergentes. Vamos começar pela garota que roubou seu coração e em breve tudo se resolverá. 

    — AMANDA! — Gritei e ela desapareceu no mesmo instante, me deixando sozinho naquele lugar. O que faria agora?

                                  ... 

    — Não se preocupa, assim que eu tiver notícias de Connor aviso o mais rápido possível. 

    — Obrigado, Jade... — Hank desligou. 

    — Tentei ligar pra ele pelo meu celular novo, mas deu em nada. Acha que algo ruim aconteceu? 

    — Espero que não... — me levantei da cama e peguei meu casaco jogado na poltrona. 

    — Ei, onde vai? 

    — Atrás do Connor — respondi o colocando. 

    — Então vou com você. 

    — Fica aqui caso ele aparecer. Ligo se tiver alguma notícia. 

    — Só toma cuidado. 

    — Não se preocupa — sorri. 

    Desci as escadas do prédio e logo me encontrei do lado externo dele. Estava tudo vazio e silencioso, isso me dava um certo incômodo, mas não podia desistir por causa de algo tão bobo assim. 

                                 ... 

    — Anda, liga logo mana... 

    A campanhia começou a tocar e com um pulo me levantei do sofá e fui atender. Para minha surpresa encontrei Thomas parado lá.

    — Thomas?! Como conseguiu chegar aqui sozinho? Onde Ryan tá? Ele sabe que saiu de casa?

    — Ryan tá estranho... 

    — Como assim?

    — Ele gritou e correu atrás de mim... Me deu muito medo... — o pobre garoto me abraçou forte e começou a chorar — Q-quando consegui sair de casa lembrei do caminho e vim... 

    — Não chora — peguei ele no colo e fechei a porta — Mas ele fez isso sem nenhum motivo? 

    Thomas apenas concordou com a cabeça. Havia algo muito estranho nisso tudo, primeiro Connor desaparece e depois Ryan fica louco? Alguém deve estar por trás disso e vou descobrir quem é, custe o que custar...

                                  ... 

    — Parada! 

    Me virei devagar e encarei Connor, que estava com uma pistola em suas mãos. 

    — Sabia que tinha algo errado. 

    — Nada de falar! — Ele colocou o dedo no gatilho, pronto para atirar — Vamos acabar logo com isso! 

    Quando ele ia atirar Markus apareceu por trás e tentou tomar sua arma, mas ela acabou caindo no chão. Connor logo em seguida fechou seu punho, mas sua tentativa de acertar o líder foi falha, pois o mesmo bloqueou o golpe. Tentou devolver em seguida, porém o polícial não permitiu e deu um chute em sua perna, o fazendo ajoelhar no chão. 

    — MARKUS! 

    Antes que Connor pudesse acerta-lo consegui pegar a arma e mirar nele. O andróide se afastou de Markus com as mãos erguidas.

    — Pensei que podia confiar nele, mas vejo que fiz a escolha errada — Markus levantou do chão gelado e ficou ao meu lado. 

    — Por que fez isso...? — Minhas mãos começaram a ficar trêmulas e um nó se formou em minha garganta. 

                                  ...

    Finalmente consegui encontrar a saída de emergência que Kamski havia comentado quando fomos até sua casa. Voltei a tomar o controle e me assustei ao ver Jade apontando uma arma para mim e Markus ao seu lado com uma expressão séria em seu rosto. 

    — Jade, eu...

    — Não diga nada! — Ela me interrompeu. 

    — Confie em mim, não sabia o que estava fazendo — dei um passo para frente ainda com as mãos para o ar. 

    — V-você quase me matou... — vi suas lágrimas escorrerem por todo seu rosto — Pensei que se importava comigo...

    — E me importo, por favor...

    — Não minta mais pra mim! É melhor ir embora! 

    Ao ouvir aquelas palavras senti um forte aperto em meu peito. Era um sentimento muito ruim. 

    — Posso explicar... Não foi minha culpa... E-eu gosto de você! 

    A garota deu alguns passos para trás antes de se virar e sair correndo. 

    — Jade! — Fui correr atrás dela, mas Markus segurou meu braço. 

    — Deixe-a e saia daqui. 

    — Você não entende... 

    — Não quero matar um dos meus, então obedeça! 

    Markus me soltou brutalmente antes de sair andando para a mesma direção de Jade. 

    — O que eu fiz...? 

    Descobri como é chorar de verdade. Pensei que as minhas lágrimas nunca mais iriam parar de escorrer.

    Também descobri como é a perda de alguém importante. Sei que Jade não estava morta, mas tive a certeza de que nunca mais conseguiria me aproximar dela novamente, nunca mais conseguiria ver seu belo sorriso e nunca mais sentiria seu abraço aconchegante igual antes...

                                  ... 

    — Hank, preciso de ajuda. 

    — Kat? O que aconteceu, garota? 

    — Thomas apareceu em casa e disse que Ryan gritou e perseguiu ele. O andróide tava fora de controle digamos... 

    — Mas que porra! Como o menino tá? 

    — Consegui acalmar e fazer ele dormir — olhei para Thomas que dormia em minha cama tranquilamente — Jade saiu atrás de Connor e até agora não ligou. Tentei ligar pra ela, mas não atende de jeito nenhum... Têm alguma coisa de errada nisso tudo, sei que Ryan não faria aquilo, além disso ele ama Thomas e faz de tudo para vê-lo bem. 

    — Acha que, talvez, Kamski pode tá por trás disso? Ele disse coisas muito estranhas quando fomos na casa dele. 

    — Será que têm algo haver com a saída de emergência que ele citou antes de irmos embora? 

    — Colocar saídas de emergência em programas é meio estranho, não acha? 

    — E se estiverem controlando Ryan? Ele é um andróide avançado, é protegido pela CyberLife e... Mas é claro! O senhor é um gênio, Hank! — Ao me dar conta de que Thomas estava dormindo saí do quarto e fechei a porta. 

    — Poderia falar minha língua, por favor? 

    — Como ele é um andróide avançado criado pra caçar divergentes colocaram algum programa pra evitar a divergência. 

    — E se ele não souber dessa saída de emergência? O que vamos fazer? 

    — Tentar falar? Com certeza ele vai conseguir nos ouvir. 

    — Qual o plano? 

    — Vou hackear a CyberLife igual da outra vez, assim o sistema de segurança vai rastrear o notbook e enviar pro Ryan a localização. Vou deixar o quarto de Thomas trancado durante todo o processo. Tenente, precisa me ajudar com isso, não vou conseguir cuidar de tudo sozinha. 

    — Tô a caminho e relaxa, chego em poucos minutos. Não faça nenhuma besteira — desligou.

    No fundo tinha a certeza absoluta de que algo iria dar errado nesse meu plano doido, mas era o que tínhamos disponível no momento... 

....................................................................